So Far Away

Jimmy is back (?)


28 de dezembro de 2019 - Huntington Beach, Califórnia.

Quatro homens estavam parados em silencio ao redor de uma pequena placa de granito preto com letras em alto relevo.

James Owen Sullivan. Filho amado, irmão, melhor amigo. 1981-2009.

Eles fitavam a lápide que agora estava rodeada de flores, cartas, fotos e velas – que não paravam acessas de jeito nenhum devido ao forte vento - Parecia que os fãs já haviam visitado o tumulo mais cedo.

Fãs. Todos os dias aqueles homens pensavam em como agradecer os fãs que sempre tiveram os apoiando.

O céu de Huntington Beach estava nublado, embora tudo indicasse que a chuva daria uma trégua e o sol brilharia durante, pelo menos, o resto da semana.

Era o ultimo sábado do ano. Muitos agora estavam perto de suas lareiras tomando vinho enquanto as crianças faziam bonecos de neve em frente a suas casas ou até mesmo brincavam com os seus presentes de natal. Mas para aquelas quatro pessoas inertes naquele local, o dia havia amanhecido triste e sem cor, exatamente como a lápide que agora simbolizava o melhor amigo de todos ali presentes.

Nenhuma palavra era pronunciada, nem mesmo o menor dos ruídos era produzido por algum deles – até porque todos precisavam daquele silenciopara refletirem -, mas lembranças vinham com tanta facilidade... era como se eles fossem transportados para uma outra época e estivessem revivendo tudo novamente.

E se analisássemos os pensamentos de cada indivíduo, encontraríamos peculiaridades um tanto quanto curiosas.

Matt - como se implorasse ao amigo que o escutasse - pensava em tudo o que havia acontecido nos últimos 10 anos. A separação de Valary, o nascimento do pequeno Owen – que havia desenvolvido uma habilidade ímpar para bateria. - a entrada de um novo baterista, Arin Ilejay... a nova saga de filmes chamada “A revolta do Stallion Duck”, as bebedeiras depois das turnês, as dançarinas gostosas que substituíram as antigas já um tanto fora de forma...

“Você iria gostar de saber disso, não é?”, o vocalista pensou rindo pelo nariz.

Já Brian, pensava na primeira vez em que ficou bêbado com o seu amigo. Cada detalhe daquele dia parecia vir como fogos de artifícios. Ele podia ver o céu nublado dando lugar à noite quente de verão, as estrelas brilhantes, o cheiro da bebida que exalava dos dois.

O barulho do motor do carro, o barulho das risadas do Jimmy... as garotas com os corpos avolumados que passavam rebolando com os seus shorts apertados... Lembranças presentes mais uma vez...

E como quem começa a sonhar, Brian se viu dentro do velho Chevette junto a Jimmy.

–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Gritava Jimmy enquanto rodava com o carro em torno da praça de formato circular – Me diga, quem você é gatãoooooooooooooooo?!

–EU SOU O SYNYSTER GATEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEES! – Brian gritava completamente alterado, com os braços para cima – E VOOOOOCÊ VIAAAAAAAAAAAADO???

–EEEEEEEEEEEEEEEEU SOOOOOOOOOOOOOU O THE REEEEEEEEEV!... O REEEEEEEEEEEEEEEEEEEEV! – Sua voz falhava um pouco devido a embriagues.

Brian sorriu involuntariamente, pensando nesse dia e antes que se desse de conta, a imagem se dissolveu e então estava de volta ao cemitério.

Zacky parecia o mais são de todos ali. Ele mantinha em sua memória todos os conselhos, frases, gestos do amigo que muitas vezes havia salvado a sua vida – principalmente depois das brigas que arrumara depois de ter bebido pelo menos cinco doses de whisky.

Ao contrário de Zacky, Johnny relembrava – e muitas vezes chegava a quase babar sozinho – de todas as mulheres que ele e James haviam pegado nas boates. Ele riu lembrando-se da vez em que Jimmy disse a uma stripper que era gay.

–Vadia, por favor – James dizia a uma loira de farmácia avantajada, fazendo um gesto estranho com a mão – Eu sou comprometida... HEY, RUIVA – Gritou a mulher que Johnny trocava caricias um tanto quanto obscenas – NÃO MECHA COM O MEU MACHO, BITCH!

Johnny balançou a cabeça, eliminando a lembrança que percorreu o seu cérebro naquele dia.

Um dia eu vou matar o Jimmy por ter me feito perder aquela ruiva. – pensou e riu internamente.

Brian deu um longo suspiro enquanto observava Matt abaixar-se e depositar a ultima homenagem do ano ao amado baterista.

Matthew se agradeceu mentalmente por estar usando óculos escuros, o que impedia que os seus amigos vissem a vermelhidão de seus olhos que se encontravam rasos.

O buque de rosas vermelhas fora depositado ao lado de algumas cartas, dando mais vida a lápide preta e simples.

–Matt – Zacky o chamou fazendo com que o vocalista levantasse a cabeça – É hora de ir amigo.

–Tudo bem – ele sussurrou num fio de voz.

Matt apoiou as suas mãos no chão e tomou impulso para se levantar. Os seus joelhos rangeram um pouco.

Brian fixou seu olhar pela ultima vez na lápide que era rodeada por presentes de fãs e familiares.

O silencio predominava a caminhada dos homens pelo capim raso e verde.

–Lembram-se da vez em que Jimmy disse que uma colher dele mesmo estragaria o mundo? – disse Johnny cortando o silencio.

Zacky sorriu.

–E daquela vez em que ele disse a Michelle que o cabelo dela parecia um ninho de rato? – Porpeta disse olhando para o céu que aos poucos ia ganhando leves tons de azul.

–É, eu lembro – Disse Brian – Eu que tive que aturar aquela bruxa reclamando por horas a fio em frente ao espelho.

Matt riu.

–Mas nada disso se compara a vez que o Rev saiu correndo atrás daquele pato na lagoa, lembram?

Todos deram uma sonora gargalhada.


[Flashback on]

Olha o tamanho desse pato, caralho! OLHE QUE PATO! Jesus Cristo. Vem cá seu pato gigante! Ele não tem medo de nada! Ele não tem medo de nada!... Ele não está nem um pouco assustado! Essa é a maior merda de pato eu já vi na minha vida.

[Flashback off]


–Eu sinto a falta dele – Sussurrou Matt.

Nós sentimos – Corrigiu Zacky fitando o horizonte.

Os quatro homens saíram do cemitério e entraram no carro preto de Matt que estava estacionado no meio fio, na frente de uma banca sinistra de flores.

–E agora? Pra onde vamos? – Perguntou Johnny desanimado esticando o cinto de segurança pelo seu peito.

Matt girou a chave do carro antes de falar.

–Sei lá, podemos ir para a minha casa.

–Por mim tudo bem... – Disse Brian dando de ombros – Faço tudo para evitar a Michelle... além do mais eu quero ver o meu sobrinho.

Matt sorriu para Brian pelo retrovisor.

–Ele está cada dia parecido com o Jimmy. Sério, às vezes eu chego a me assustar.

Johnny riu pelo nariz.

– Vocês se lembram daquela foto em que nós estávamos na praia junto com o Jimmy? – perguntou Matt. Como ninguém respondeu, ele continuou – Aquela em que o Jimmy apareceu com cara de gay na foto em que a Leanna tirou... – insistiu.

–Ah, sim! – Brian exclamou – eu e a Michelle discutimos porque, segundo ela, eu fiquei secando uma brasileira gosto... –Brian parou – Uma brasileira.

Zacky riu alto.

–E você não ficou? – Disse.

–Ah, mas vamos combinar... ela era gostosa... – Brian riu e Matt revirou os olhos.

–Ok, nós vamos falar do Owen ou da brasileira gostosa? – Falou ao ultrapassar dois carros na pista.

–Desculpa! – Disseram Zacky, Johnny e Brian em coro.

–Vocês sabiam que o Owen aponta para aquela foto e diz que quer ser que nem o... que nem o J-Jimmy? – Matt gaguejou com os olhos marejados.

–Sério? – Disse Brian decepcionado – Achei que ele iria querer ser guitarrista como eu...

–“Como eu” Brian? – Perguntou Zacky maliciosamente.

Brian bateu forte no ombro do amigo.

–AAAAAAAAAAAAAAAAH BRIAN! – Gritou Vengeance alisando o local em que o guitarrista havia batido.

–Man, você está se machucando muito fácil... – Constatou Brian em meio as risadas que contagiavam cada um dentro do carro, menos a Zacky que estava vermelho que nem um tomate.

Zee mandou o dedo do meio ao amigo que estava ao seu lado.

A nova casa de Matt não era muito longe do cemitério, consequentemente, em menos de 5 minutos eles já estavam dobrando a esquina.

Matt apertou os seus olhos não acreditando no que via. Um ônibus com vários patos espalhados estava estacionado de qualquer jeito em frente à porta da casa de Matt.

Havia uma marca de freada no capim. Uma não, várias.

–Que merda é aquela? – Murmurou Matt diminuindo a velocidade do carro.

Imediatamente, todos os meninos pararam de rir e de falar e começaram a olhar a cena.

Matt estacionou o carro na calçada e desceu o mais rápido possível.

Os meninos fizeram o mesmo. Tiraram os cintos de segurança que estavam atravessado nos seus corpos e desceram quase indo de encontro ao chão.

Matt – assim como todos os outros - não sabia o que estava acontecendo, mas ele sabia que coisa boa não era.

A primeira coisa que lhe ocorreu foi: são apenas fãs malucos que descobriram onde eu moro.

–Matt... o que... quem? – Brian balançou a cabeça, reformulando os seus pensamentos – Matt...?

Sabe quando alguma coisa grande cai e um barulho estrondoso assume o lugar do silencio? Pois é, foi isso que aconteceu.

–Owen... – Disse Matt fracamente.

Eles despertaram do transe e começaram a caminhar pelo jardim que antes era bem cuidado e agora estava cheio de marcas de freadas.

–OWEN! – Gritou Matt mais alto – OWEN!

Ninguém respondeu.

–Ai meu Deus – disse Matt começando a correr – meninos, vejam de quem é esse ônibus.

Eles assentiram.

Brian foi o primeiro a caminhar em direção ao ônibus.

–Hey – Ele disse começando a bater na porta escura – Tem alguém ai?

Não obteve resposta.

–Sai da frente – Disse Zacky empurrando Brian para o lado – Eu que sei... Abra a porta... – Começou a bater com mais força ainda. – Anda, abra de uma vez que eu ainda tenho que almoçar...

Johnny revirou os olhos, cruzando os braços.

Enquanto isso, Matt começou a caminhar lentamente pela casa.

–Owen... filho, você esta ai?

A cada passo que Matt dava, mais o seu coração disparava.

–Filho?! – o chamou na esperança que o seu menino viesse correndo ao seu encontro de braços abertos.

Matt passava pela casa que estava toda revirada, o que era estranho, pois quando ele saiu mais cedo para ir ao cemitério, ele tinha certeza de que Nany – a empregada doméstica – havia deixado tudo no mais perfeito estado.

Os passos começaram a aumentar.

–Matt... – os gritos ofegantes começaram a vir da porta. Era Brian. – Ninguém quis “atender”.

Matt deu um longo suspiro.

Todos ficaram em silencio, cada um pensando em hipóteses diferentes para o que estava acontecendo.

–IIIIIIIIIIIIIIIIIÁ! – gritou alguém, imitando um chinês – Hey pessoal, o mestre das facas voltou!

Aquela voz ecoou por toda a casa. Só podia ser uma brincadeira de mau gosto, e era a única explicação plausível. Ao se viraram, tiveram todos a mesma reação: ficaram estáticos, perplexos;

O cabelo dele, a voz dele, o perfume dele... tudo nele continuava igual, sem nenhuma alteração nesses 10 longos anos.

–Tá, qual é pessoal, vocês vão ficar ai parados ou vão me abraçar?

Brian, com os olhos cheios de lágrimas, foi o único que consegui falar.

–Jimmy?

O homem sorriu ao grupo.