O plano era o seguinte: Harley daria um jeito de chegar até o psicopata e num momento de vulnerabilidade dele – coisa que raramente acontecia – ela implantaria nele o mesmo microchip que estava em si própria, assim ele seria rastreado via satélite para todo canto e seria obrigado a se entregar para as autoridades.

Um pouco antes de ser oficialmente liberada para cumprir sua parte no acordo, Kara e Harley tiveram um breve diálogo:

— Você entende o que vai acontecer se não voltar em três dias, certo? — perguntou Kara, certificando-se.

— Eu não sou idiota, claro que entendo. Vou estar aqui tão rápido que mal vai ter tempo de sentir saudades — a ex doutora respondeu, fazendo Kara revirar os olhos.

— Não se preocupe com isso.

Com uma piscadela, Harley saiu pelas portas do DOE, deixando atrás de si a super-heroína que parecia registrar cada um de seus passos. Alex, que observava de longe a cena, aproximou-se para provocar.

— Se não tomar cuidado pode transformar a garota em cinzas, não esquece da visão de calor. — Empurrou levemente a irmã com os quadris.

— Do que você está falando? — questionou Kara, confusa.

— Você não gosta disso, não, é? — A expressão da mais nova ficou ainda mais confusa. — Não quer que ela vá atrás dele porque acha que o plano vai falhar e vai ser como reviver tudo de novo. Aquela história que você me contou.

— Não é... Não tem nada a ver com isso, Alex, eu já disse que não me importo. Só me preocupo com o fato de ela saber sobre este lugar, sobre vocês. Não sabemos o que ele pode fazer com essas informações.

— Ela vai contar, não vai? — perguntou retoricamente Alex. Kara apenas assentiu e colocou uma das mãos no ombro da irmã. — Não se preocupe, temos tudo sob controle. Vai dar tudo certo.

Kara gostaria muito de acreditar nisso, mas estavam falando sobre um assassino impiedoso, um psicopata que mata seres humanos como quem esmaga formigas e é o grande chefe de uma rede criminosa que não poderia ser abrigada no prédio da CatCo. Como se não bastasse, tinha o coração de sua ex amiga nas mãos, sob pleno controle.

O jeito era esperar para lidar com as consequências do plano tão arriscado, fossem elas boas ou ruins.

Três dias depois

Um dia antes do combinado, Harley havia ligado para Kara, marcando a hora e o lugar em que se encontrariam para atualizarem-se do andamento do plano. Então, lá estava a super-heroína, praticamente mastigando as próprias unhas pela ansiedade dentro daquele carro. Esperava Harley, mas também esperava uma explosão, um tiroteio, um terremoto talvez. Mas permitiu-se acalmar um pouco quando viu a garota atravessando a rua do outro lado, caminhando em direção ao carro. Ela olhava para os lados com certa frequência, parecia ansiosa também. Kara conseguia ver suas mãos agitadas, mesmo que elas estivessem dentro da jaqueta nada discreta que ela usava.

— Um abraço para matar a saudade? — provocou Harley entrando no carro. — Tudo bem. — Ergueu as mãos em rendição diante da indiferença da outra.

— Pule as gracinhas, por favor, só me diz o que você tem que dizer e cai fora.

— Ei, alguém está extra nervosinha hoje, hein? Bom, eu sei que vocês disseram para achá-lo e pegá-lo, mas não vão acreditar no que eu consegui descobrir!

Kara imediatamente pegou seu celular e ativou o gravador, depois o posicionou estrategicamente entre elas.

— Pode começar.

— Bom, primeiramente tentar prender o pudinzinho agora é a maior burrada que vocês podem fazer — começou Quinzel.

— E por quê? — E a desconfiança já começava a dar sinais.

— Porque ele tem toda uma segurança. Não só aqui, mas em Gotham, se alguma coisa acontecer com ele, os capangas dele estão todos instruídos para dar continuidade ao plano maligno!

— Que seria?

— Ele pretende emitir esse gás tóxico pela cidade, que vai reduzir os cidadãos daqui em marionetes. Gente que vai fazer o que ele quiser, quando ele quiser. Eu sou imune, mas seus amiguinhos não terão a mesma sorte. Vai fazer isso usando as tubulações de água, aquecedores, ares-condicionados e tudo mais que ele puder.

A vontade de Kara era socar a primeira coisa que estivesse na sua frente, mas como essa coisa, no momento era um ser humano, ela se conteve.

— Mas que grande... — praguejou.

— Filho da puta, né? Eu sei. Enfim, o que eu queria dizer é que, se vocês me derem mais tempo, posso dar um jeito de descobrir mais, descobrir um jeito de como impedir isso tudo.

— E você faria isso a troco de quê?

— Duh! Vocês implodiriam meu crânio!

— E como explicaria se um dia ele nos visse?

— Na verdade, ele sabe de tudo. Ele acha que estou trabalhando com ele e vindo aqui para que vocês achem que estou contando coisas sobre o plano falso dele, mas na verdade é tudo uma grande mentira, enquanto isso, consigo informações úteis com vocês para que ele possa trabalhar no verdadeiro e mais mortal plano! — Ela parou um pouco para respirar e pensou. — Agora que notei o quão genial essa ideia seria se eu não tivesse estragado tudo e contado o verdadeiro plano dele para você. Mas não quero que implodam meu crânio.

— E como eu vou saber se esse é mesmo o verdadeiro plano e não toda essa história maluca que você acabou de me contar?

— Acho que vai ter que confiar em mim, princesa.

Num movimento rápido, Kara agarrou a jaqueta chamativa de Harley com força e a puxou para mais perto, olhando em seus olhos, disse:

— Para o inferno com essa de confiar. Eu não confio em você. Se estiver mentindo, é bom que consiga respirar fora da atmosfera, porque se alguma coisa de ruim acontecer com esta cidade, eu vou te jogar tão longe que você vai entrar em órbita, fui clara?

— Clara como cristal — respondeu com um sorrisinho sarcástico, mordendo o lábio inferior. — Ah, sobre isso, eu vou ficar por mais um tempinho. Ele precisa achar que estou investigando, certo? E também vou precisar de um lugar para ficar e um relatório com informações falsas para que eu tenha algo a dizer quando voltar.

— Certo.... Vamos cuidar de tudo isso. Agora sai do carro, espero não te ver até que tenha novidades.

Obedecendo, Harley saiu do carro, sem a mínima ideia do que fazer a seguir. Talvez fosse seguro esperar, para então poder ligar para o ‘pudinzinho’ e anunciar que havia feito tudo – ou quase tudo – como ele havia pedido. Ela estava do lado dele, este era um fato, mas não podia ignorar que havia um dispositivo em si, pronto para implodir ao apertar de um botão, então contou Kara sobre o verdadeiro plano. Mentiu falando a verdade, esta era a definição, afinal, por que dar informações falsas para o Joker quando as verdadeiras estavam ali na ponta de sua língua?

Já era tarde, passava de meia noite, o que fazia aquele dia ser um sábado oficialmente. Kara voltava de um bar junto a Alex – que já estava completamente a par do seu encontro com Quinzel, assim como o resto do DOE – e, por mera precaução, checou em seu GPS a localização de Harley. Ela não queria ter que ser acordada com notícias de que alguém tinha sido morto ou qualquer coisa do tipo. O pequeno pontinho vermelho estava parado numa rua não muito distante de dali. Uma rua. Não um hotel, não alguma construção qualquer. Imediatamente Kara processou todos os crimes a atrocidades que Quinzel poderia estar cometendo contra alguém naquele momento.

— Eu preciso ir — anunciou.

— Ir pra ond... — E antes que Alex conseguisse concluir, a irmã mais nova já havia ido.

Parou na esquina da rua onde seguiu o ponto até um supermercado, imediatamente tirou os óculos do rosto e se preparou para estar em seu uniforme e entrar ali como quem vai para a guerra, mas a voz daquela que ela procurava a impediu.

— Eu não consigo acreditar que as pessoas não te reconhecem por causa desses óculos. Sério. Pra ser sincera, eu acho que todo mundo já sabe quem você é e só finge não saber para não te magoar. Falando sério. É balela.

Ela estava sentada na calçada do supermercado, as pernas agitadas batiam no asfalto.

— Pensei que tivesse dito para você arranjar um lugar para ficar.

Kara colocou os óculos novamente, ignorando o comentário da ex amiga, e se sentou ao seu lado com uma distância segura de trinta centímetros.

— Eu não consegui nenhum hotel. Eles têm alguma coisa contra homicidas por aqui. E eu não conheço ninguém nessa cidade. Só você.

— Então você vai dormir nas ruas?

— Claro que não! Estou aqui esperando o mercado fechar. Eles têm comida lá dentro. E colchões.

Kara abriu a boca, pronta para protestar, mas aí se lembrou com quem estava falando. Ela não podia deixar Harley solta por aí. Era perigoso demais para a cidade. Pensou em pedir a Alex que a deixasse ficar em seu apartamento por pelo menos alguns dias, mas não queria arriscar a própria irmã. Só restava uma opção.

— Você vem comigo!

Pegando Harley pelo pulso, alçou voo até a janela de seu apartamento, já se arrependendo da ideia.

— Eu vou deixar você ficar, mas se eu encontrar uma poeira fora do lugar, você vai pro DOE, entendido?

— Uau! Que gracinha de apartamento. — Harley se jogou no sofá e direcionou um olhar com um sorrisinho para a heroína. — Nem vai notar que estou aqui.

— Excelente. Você pode comer, mas limpe tudo depois. E quero o banheiro livre antes das seis e meia da manhã.

Com uma continência debochada, a garota assentiu, depois voltou a repousar sua cabeça naquelas almofadas fofinhas do sofá de Kara Danvers enquanto esta ia marchando para seu quarto blasfemando a si mesma pela péssima ideia, mesmo que tenha sido o certo a fazer. Ela não ficaria por muito tempo, precisava cumprir a outra parte da bagunça que era esse plano.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.