Capitulo 2: Segunda Hora: Eles conheceram o que não podiam conhecer.

Se passaram alguns meses e absolutamente todos, se acostumaram com a menina, e ela com sua natureza vampírica. A perda de seus pais ainda a afetava, mas foi preenchida pela companhia dos Sakamaki. Porém algo estava errado. Todos moravam juntos, mas não conversavam entre si, não interagiam. Entendia que as esposas não se dessem bem, porém até as crianças eram indiferentes. Não são irmãos? Onde estava a união? Uma coisa raríssima ali é um simples jantar em família!

Como pode? Holly se espantava. Em sua antiga residência, só haviam três pessoas e suas condições, um pouco precárias pois nem mesa eles possuíam, todavia, estavam juntos em todas as refeições. Nesta mansão, alguém sempre se ausentava. Sem falar do clima extremamente tenso que pairava no ar, especialmente se Karl decidia aparecer. Outro fato esquisito. Ninguém via o patriarca. Era impossível chamar aquilo de lar, pelo menos para a loirinha.

Então... Nada melhor do que mudanças. Holly estava determinada a fazer todos se divertirem.

— Ayato? — Holly se aproximou devagar de onde o menino estava. Numa mesa do jardim estudando. Parecia estar sendo forçado. A cara dele, mais do que emburrada; frustrada.

— O que você quer, pombinha? — Pergunta Ayato mal-humorado. Deu esse apelido pelo fato de ela adorar pássaros, mas como o menino adora inventar nomes engraçados, o que escolheu foi esse mesmo para a irmã.

— Vamos brincar? — Holly pediu, cansada de todo aquele tédio.

— Não posso. Não vê que minha mãe quer que eu estude matemática? — Responde Ayato tentando se concentrar.

— Ah, não sabia que o Ore-sama tinha medo de garotas. — Holly o provocou sarcástica. A atenção do ruivo se voltou para ela imediatamente.

— Como é? — Ayato se empolgou e sorriu entendendo o desafio.

— Por que não prova seu poder, Ore-sama? Ou será que é um bobão? — A menina provocou e mostrou a língua. Foi o bastante para que Ayato pulasse da cadeira.

Uma correria sem fim, começou. Com toda a energia infantil que tinham, desbravaram o pátio e o jardim de cima a baixo. Holly prestou atenção na cara do irmão. Desde que chegou nesta casa, era a primeira vez que o via sorrir tão alegre. Seu sorriso ia até as orelhas e nunca abandonou sua expressão. Chegava a ser doce. Cordelia era muito rígida com o menino. Nas poucas vezes em que se divertia, ela já intervia trazendo a tristeza no lugar. Holly queria saber o porquê, visto que quando esteve assim, sua mamãe a obrigava a dar pelo menos um sorriso. Sendo assim, é mais fácil vê-lo entediado e bravo do que feliz.

Ayato pula e ambos caem rolando pela grama meio pinicante, como dois cachorrinhos. Ele ficou por cima dela e estavam ofegantes.

— E aí... Eu sou o Ore-sama? — Ayato indaga brincalhão.

— Não... — Holly continuou a provocação.

— Diga! — Exigiu o ruivinho e ela negou, como os pequenos sempre fazem. — Então vai falar por bem ou por mal! — Ayato se pôs a fazer cócegas na irmã incessantemente. O tempo todo perguntando quem ele é. Kanato e Laito se aproximaram da dupla. Deviam tê-los visto e quiseram brincar também.

— O que estão fazendo? — Laito pergunta curioso. Os irmãos se levantam e recuperam o fôlego.

— Ei, querem invadir a cozinha? — Holly se pronuncia como se acabasse de ter uma ideia genial. — Soube que tem uns cupcakes deliciosos.

— Cupcakes? — Kanato se mostra muito interessado e dá um passo à frente.

— E cookies... Com muitas gotas de chocolate. — Holly continuou atiçando Kanato. Os olhinhos dele cintilavam; provavelmente tinha água na boca. Um ponto para Holly, descobriu que o roxinho ama doces.

— O que temos que fazer? — Indagou Kanato.

— E o que você quer dizer com invadir? — Ayato questiona arqueando a sobrancelha.

— Simples, meus caros irmãos. — A loira rodeia os braços ao redor dos três os aproximando como se tramasse algo que não podia fazer. — Vou ensinar pra vocês a arte da travessura.

❣ ✿ ❣

A cozinha é o local; a missão, o pote de cupcakes e cookies; os obstáculos: a cozinheira chefe, sua ajudante e o mordomo; a rota mais fácil é pela porta dos fundos, que dá direto do lado da despensa onde se guardavam os mantimentos.

— Vamos decorar outra vez. — Ordena Holly, indicando um papel desenhado por ela com a planta do plano infalível. — Kanato chama a atenção da cozinheira e os outros, esperamos todos saírem e entramos pelos fundos. Ayato fica na porta principal vigiando, e avisa quando alguém chegar. Eu subo nas costas de Laito e procuro o pote de doces da prateleira mais alta. Depois só sairmos correndo. Alguma dúvida?

— Por que eu tenho que vigiar? — Ayato refuta indignado. — O Ore-sama precisa de um trabalho importante!

— Porque Laito é mais alto que você! — Responde a loirinha. Ayato por vezes é irritante com essa história de Ore-sama.

— Então por que VOCÊ não vigia e eu subo nas costas do Laito? — Retruca o ruivo mandão.

— Porque só EU sei onde estão os doces. — Holly o convence, mas aturando a cara emburrada do menino. — Ah! Provavelmente só temos cinco minutos até que percebam tudo. Vamos então? — E com as mãozinhas unidas em um círculo, iniciaram tudo.

Perto da cozinha, Kanato começou a gritar e a pedir socorro enquanto os outros estavam mais ao longe dali como se não ligassem pra nada. O mordomo e as cozinheiras vieram acudir o pequeno às pressas. Essa agora era a parte crucial para os três. A porta dos fundos estava trancada. Algo que não previram, porém Holly foi rápida e conseguiu abrir a porta dos fundos com um grampo de seu cabelo, surpreendendo os dois.

— Você devia ser uma ladra antes de morar aqui. — Ayato ressalta. A loirinha o ignora e ambos se dirigem às suas posições. — Pelo menos uma vez, os gritos histéricos de Kanato serviram pra algo sem ser me deixar surdo.

Holly riu divertidamente e Laito lhe ofereceu as costas. A loirinha procurou em toda a prateleira, na verdade em todas. Seu plano é infalível, mas além da porta que tinha esquecido, a Sakamaki não contou com um pequeno problema.

— Ai, vai logo! Você é pesada. — Resmunga Laito sentindo os ombros doloridos. — O que está fazendo?

— O pote não tá aqui! — Holly se desesperou um pouco. Levariam uma bronca de Cordelia. E era o que ela menos queria.

— Certeza? — A menina confirma e volta a procurar. Laito olhou para cima tentando ver se achava o objeto, mas acabou vendo uma coisa que o fez rir.

— Do que está rindo? Eles devem estar vindo! — Holly se indignou. Não é hora disso.

— Sua roupa de baixo é engraçada. A calcinha parece uma cueca! — Holly corou e lhe deu um tapinha na cabeça.

— Não se olha a saia de uma garota! — Avisou a menina brava. Até achar o objetivo deles. — Ah! Finalmente! — Exclamou tão empolgada, que fez ambos se desequilibrarem e cair. O pote quase se quebrou.

— São eles! — Ayato avisa. Porém bem à tempo de correrem pra saída.

— Yeah! Somos demais! — Holly comemorou. Já estavam longe de todos. — E graças a mim, podemos comer antes do almoço. Viu, precisam aprender mais comi... — A menina acabou se entusiasmando tanto que ergueu o pote para cima, que escapou de sua mãozinha e caiu no chão, se quebrando em milhares de cacos.

— AH! — Os quatro gritaram. Holly catou os cupcakes e cookies rapidamente e os colocou na barra de seu vestido.

— Idiota! Que inteligente você é! — Ayato a repreende querendo esganá-la. Kanato começou a chorar. Queria muito os doces. — Viu o que você fez?

— Calma! Calma! — Pediu a loira.

— Como calma? Todo esse trabalho pra nada! — Laito reclama massageando os ombros.

— Regra de três segundos! Ela diz que se uma comida cair e você pegar antes dela ficar no chão três segundos, os germes não a contaminam. — Assegurou ela, comendo um cupcake. — Confiem em mim.

Os trigêmeos degustaram tudo, um pouco com nojo, mas confiaram na irmã. Depois do almoço, o qual ninguém desconfiou das travessuras dos quatro, a noite caiu. Holly nunca pôde brincar depois quando o céu estava escuro. Isso não era nenhum problema para seres noturnos, portanto, os meninos a chamaram para caçar morcegos, já que era vez deles a ensinarem algo.

A menina não capturou um sequer. Tinha medo de ser mordida e do barulho das asas deles. Até Kanato que é mais baixo que Holly, conseguiu manter um monte em sua rede.

— Sabe, aquele que não pegar nenhum, vai arrumar o quarto dos outros por um mês! — Avisou Ayato zombeteiro. Holly estava se divertindo apesar do medo.

No fim, acabou que ela realmente perdeu. Os trigêmeos libertaram os bichinhos capturados. Entretanto um morcego caiu. Tentava voar de todo jeito, mas permanecia no solo.

— Qual o problema desse? — Laito questiona.

— Sua asa está quebrada. — Responde Holly com pena. Amava animais. Ficou com medo daqueles vários morcegos, mas um só tinha coragem para lidar.

— ...Matamos ele então? — Kanato sugere, espantando a irmã.

— O QUÊ?! Não! Temos que cuidar dele até poder voar de novo! — Holly corrige brava. — Procurem uma caixa; ninho. Algo pra pôr ele.

— Isso não faz muito sentido. — Laito discorda. — Acho que ele quebrou mais do que a asa. Sem voar, vai ser comido por outro animal. É melhor morrer de uma forma rápida, do que dolorosa e devagar.

— Isso é um absurdo. Não percebe que ele quer viver? — Holly pega o animal com suas mãos e o mostra se debater. Em seguida o exibe para os meninos. — Ele quer voar, quer ir com os outros. Por isso se debate. Se não quiserem me ajudar, eu cuido dele sozinha.

Os trigêmeos refletiram sobre as respostas da irmã. Cada um com seus pensamentos e dúvidas. Os humanos tinham um modo de ver a vida tão diferente deles...

— Tudo bem. — Laito e os outros se aproximaram da menina e ajudaram a achar um ninho. — Mas não sabemos cuidar de um morcego.

— Pensem como se fosse um bichinho de estimação. — Instruiu Holly.

Os quatro irmãos acolheram o morceguinho até este poder voar melhor do que antes, por dias. Ficaram orgulhosos e felizes. Os trigêmeos não se arrependeram de deixá—lo vivo.

— Então é isso que andam fazendo esse tempo todo? Que ridículo! — Era a voz debochada de Cordelia. — Ayato! Devia estudar ao invés de se dedicar a idiotices! — A mulher vocifera e ordena que o filho a obedeça. Laito e Kanato são dispensados e ela se vira para Holly. — E quanto a você, mocinha, a trouxemos aqui para ajudar esses meninos, não pense que é um passeio à um parque. Ajude Ayato a estudar ao invés de ensiná-lo inutilidades, garota!

Holly segurou as lágrimas. Aquilo era tão errado assim? Só queria ver os irmãos alegres. Porém tratou de esquecer a bronca e teve uma ideia.

— Já que sua mãe quer que você estude, por que não fazer isso de um jeito legal? — Sugeriu a menina para Ayato, pegando algumas maçãs e frutas.

Sua maior dificuldade era na parte de divisão. Sendo assim, Holly encarnou uma professora e usou a comida para explicar as regras da matemática. Isso acabou tornando uma lição chata, um pouquinho mais legal na visão de Ayato, que por mais incrível que seja, conseguiu aprender de um jeito fácil. Até Kanato e Laito mostraram interesse. E os quatro tiveram outro momento alegre juntos para guardar na memória. Cordelia, que estava ao longe com Ritcher, vistoriou a cena com desdém e desaprovou os atos da menina. Ayato tinha que ser o melhor e aquela pirralha estava o tornando um humano. Não gostou nada disso.

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Os dias se passavam e Holly se perguntava como deixar os outros irmãozinhos felizes. Ela avistou Shu deitado na grama do jardim, olhando para o céu. Parecia triste e emburrado. Holly foi até ele e se abaixou a seu lado.

— Você quer brincar? — Convidou a menina com um sorriso angelical.

— Minha mãe não permite. Disse que estou de castigo.

— Por quê? — Holly indaga. Sua mamãe não era tão mandona assim.

— Porque um amigo me deu um cachorrinho e ela não deixou eu ficar com ele. — Responde o menino frustrado e Holly se espanta lembrando de algo.

— Aquele?! — Há alguns dias atrás, ela encontrou um cachorrinho perdido e o alimentou. — Vem comigo!

E puxando o irmão, o levou até onde deixou o bichinho. O cachorro que demonstrou uma expressão tristonha o tempo todo que estava com Holly, se alegrou como nunca. Abanou a cauda, lambeu o menino, parecia até que Shu era sua mãe.

— Parece que ele gostou de você. — Holly também notou a felicidade de Shu. — Que tal ficarmos com ele?

— Eh? Não podemos. — Shu a relembrou, se preparando pra se despedir do bichinho.

— Eu sei o que a tia Beatrix disse, mas... Ela não precisa saber! — Holly assegurou, não estavam fazendo uma coisa tão errada assim. — Vai ser um segredo. O nosso segredo. Que tal?

A alegria que queria fazer o irmão sentir, ela finalmente conseguiu.

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Sentada na mesa, Beatrix lhe ensinava a bordar. Apesar de espetar o dedo algumas vezes, era divertido. Shu não estava, e Reiji tentava chamar a atenção da mãe silenciosamente, mas ela o ignorava cruelmente. Até que se retirou para ver onde se encontra o outro filho.

— Você não cansa de estudar? — Indagou Holly puxando assunto. Reiji não falava com ela nem uma vez. Talvez tivesse raiva porque até para ela, Beatrix dedicava uma mínima atenção. Reiji a ignorou. — Ai! — Espetou o dedo que sangrou levemente e derrubou o bordado.

— Você está fazendo tudo errado. — Corrigiu Reiji pegando o objeto do chão. O bordado estava todo torto na tela. E tirando um lenço do bolso, limpou delicadamente o sangue da irmã desviando o olhar meio tenso. Holly pensou que ele queria lamber seu dedo. — É assim que faz.

Reiji pegou sua mão e a guiou, ensinando direitinho do modo como via sua mãe apesar dela não lhe explicar. Holly agradeceu e esbanjou um sorriso singelo. Reiji era misterioso para ela, então qualquer momento que podia passar com ele era gratificante, pois podia o conhecer.

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Como iria interagir com Subaru se nem o encontrava direito pela casa? Sua única opção então, foi reunir todos os irmãos. Numa roda, Holly propôs uma nova brincadeira.

— Que tal uma caça ao tesouro? — Sugeriu com o clássico sorrisão que somente ela possui.

— Roubou a cozinha de novo? — Interviu Reiji. — Eu devia contar para a cozinheira. — Ameaçou. Era muito obediente e não gostava de ser rebelde.

— Espera! Er... Eu deixo você chupar meu sangue. — A proposta chamou a atenção de todos os vampiros ali. — Essa... Será a recompensa. Mas me obedeçam! Ou nada de sangue. — Pode parecer loucura, mas a menina só queria fazer os irmãos felizes. E se tivesse que passar por isso, tudo bem. E sabia que há algum tempo, via como ficavam perto da irmã.

A brincadeira foi de que ela escondesse as balas que tinha pego da cozinha, e os meninos procurassem, mas em pares. Contudo, fora a própria Holly que escolheu os parceiros. Ayato e Kanato; Reiji e Laito e Subaru e Shu. Desse modo, a família estaria mais próxima. Estava de noite. A lua cheia sorria gentilmente com seu brilho, iluminando o caminho para aquelas sete crianças que testemunhavam os sentimentos da verdadeira alegria. Holly sacaneou os irmãos, trocando o pote, de um lugar para outro. Pegou e correu pelo pátio quando perceberam. Indignados, os meninos reclamaram que ela tinha que dar seu sangue para eles, exceto Shu. Porém Holly se negou e acabou escolhendo a dupla que foi melhor e quase chegou perto: Shu e Subaru.

— Você é maluca. — Era a primeira vez que Subaru falava com Holly. Já era um começo. Estava com medo daqueles caninos. Tentou ser valente, eram seus irmãos agora, não a machucariam, certo? — Não se preocupe, não vou fincar muito as presas. Ah, é melhor escolher o lugar. — Sugeriu Subaru sendo o primeiro. Podia ser solitário, mas ouvira tia Christa dizer que era um menino gentil. Holly escolheu o braço como local, pois podia esconder as marcas para ninguém mais ver.

— Não quero. — Negou Shu quando foi sua vez surpreendendo todos.

— Tem certeza? — Indaga Holly. Shu ri.

— Você é maluca como Subaru disse. E não, não quero chupar seu sangue. Deve doer para uma menina tão fraquinha assim. — Explica e Holly faz biquinho. — Além disso, você é nossa irmã agora. Não se trata um membro da família desse jeito, não é?

Holly queria abraçar todos e pôr num potinho; guardá-los da maldade do mundo, a qual ela conhecia um pouco. E foi o que fez. Os meninos ficaram constrangido, mas retribuíram o gesto carinhoso, nem suas mães faziam isso.

Aqueles garotos vampiros, passaram a saber o real significado de uma família; de um lar. Aprenderam várias coisas, guardaram boas lembranças e momentos especiais. Conheceram o que lhes era proibido: o amor. Entretanto, infelizmente tudo o que é bom, dura pouco. E para se alcançar a felicidade, é preciso esperar a tempestade passar para o arco-íris reinar nos céus; cortar os espinhos das rosas. Mesmo assim, nem sempre o desfecho de uma situação na vida, é totalmente feliz.