Isso só pode ser uma piada!

Certo, certo, certo! Vamos analisar novamente o que diabos está acontecendo com você, Kazemaru!

Ok, eu saí com ela como sempre fazemos todas as tardes. Compramos umas coisas e acabamos nem comendo tudo... Não, antes disso...!... Chegamos lá e começamos a conversar, então... O que?! Meu coração tá acelerado de novo?! Mais que droga! O QUE TÁ ACONTECENDO?!

— Ichirouta!

— Hã? S-sim professor...?

— Não está me ouvindo? Venha resolver está questão no quadro, por favor.

Álgebra, que droga!

Eu errei a questão, pra falar a verdade, eu nem tinha respondido ela no caderno ontem quando cheguei em casa, e pra fazer a correção na lousa eu precisaria ter prestado atenção na explicação da matéria, o que eu também não tinha feito, e não conseguiria nem se tentasse. Eu estava, digo, estou ocupado demais tentando parar de pensar em certo alguém.

*vmm vmm*

O mesmo alguém que está me mandando mensagem agora.

“O que foi? Eu to no meio da aula!”

Fala serio, não basta ela estar na minha cabeça desde ontem, ainda me manda mensagem, tsc, tsc...

“O professor de Química faltou! VAMOS FICAR DE AULA VAGA O/ TuT”

Isso!

“Serio?!”

“Sim, acabei de perguntar pro tio! *-*”

Ótimo, era tudo o que eu precisava para pensar melhor no... Oh não, ela é da minha turma de Química! Com certeza vai ficar comigo na aula vaga, tsc, não vou conseguir desvendar o que está acontecendo comigo se ela estiver por perto... Espera, por que eu estou tão preocupado com isso? Deve ser só... Coisa da minha cabe...

— Aaaaii! Max! Quer parar de puxar meu cabelo?!

— A culpa é sua por ficar tão distraído. –Me virei com tanta raiva dele, que faltou pouco pra mim não enforca-lo com as cordinhas daquela touca surrada que ele amava usar. Ah, esse é o Matsuno Kuusuke, um ser que eu tento aturar na sala. Ele é legal, eu admito, só é um pouco desleixado e preguiçoso, além de ter uma fixação enorme em puxar meu cabelo.

— Não sabe me chamar sem tocar meu cabelo?!

— Eu te chamei, mas você tava com uma cara engraçada, nem parecia ter me ouvido. Então eu o puxei.

— Tá, fala logo antes que o professor encha o saco.

— Vai fazer dupla com quem na aula de Química? –Olhei para ele incrédulo, ele sabe a resposta. –Ah não, você vai fazer de novo com aquela garota?! Aff Kazemaru, você é muito chato.

— Talvez nós vamos ficar de aula vaga, então pode-se dizer que eu não vou ficar com ela hoje.

—... Você tá bravo? –Eu mereço.

— Não Max, eu só quero pensar um pouco. Posso?!

— Ai pode, que garoto mais ignorante... Ou garota...

— Max!

— Tá bom, parei!

Ahh... Ele virou-se de volta para sua própria mesa e eu fiz o mesmo, tentando prestar atenção na lousa e entender a explicação, mas não adiantou. Ela ainda estava na minha cabeça e não queria sair. Tentei puxar na minha memoria se alguma vez eu tinha ficado assim, mas a imagem do pôr do sol, o vento, as folhas caindo ao nosso redor... Os cabelos dela voando e aqueles olhos brilhantes... Grrr... Que saco! Eu odeio essa sensação de não saber o que está acontecendo!

— Cara feia pra mim é fome.

Era o Handa, eu não entendi o porquê dele ter dito aquilo pra mim, mas logo percebi que estava com uma cara de bravo. Sorri sem graça e me desculpei com ele, agora ele fazia parte da minha turma nas aulas de matemática, o que não seria tão ruim já que ele também era amigo da Yasmin e era da mesma sala que ela em quase todas as matérias. Talvez eu até pudesse perguntar pra ele sobre o tal carinha que ela tá afim... Isso, você é um gênio, Kazemaru.

~*~

Só havia três salas de aula vaga, sendo uma a minha e a outra a da Yasmin. Isso era bom, pois não teria tanta gente chata e fresca perto de nós, mas também tinha seu lado ruim, já que ela iria ficar perto de mim o tempo inteiro, e é exatamente o que ela estava vindo fazer agora. Desviei dos olhos castanhos dela e fiquei jogando no celular enquanto ela se aproximava, sentou ao meu lado suspirando pesadamente e debruçou a cabeça sobre os joelhos cobertos por uma meia calça fina. Engoli em seco, o que será que ela tem?

— Que foi? –Perguntei em um tom baixo.

— Nada... –Sua voz saiu suuuuuper manhosa, e eu fiquei com uma dó... Mas não fiz nada.

— Tem certeza?

— Tenho! –Que susto! Ela levantou a cabeça do nada e sorriu pra mim colocando um dos fones em seu ouvido. – Ah não...

Fiquei por um tempo a olhando e logo entendi o “Ah não”. Haruka se aproximava de nós com um sorriso ridiculamente presunçoso nos lábios. Ele era cheio de si, se achava só por ser um dos garotos mais cobiçados da escola. Humpf! Pra mim ele não passava de um babaca, filhinho de papai.

— Oi Min.

— Me chama pelo nome. –Ela respondeu sem o olhar, MUAHAHA eu estava rindo histericamente por dentro, deixei um risinho escapar, mas ele nem viu.

—... Eu queria falar com você... A sós.

— Pra que? Eu não tenho nada a esconder de ninguém aqui.

Ele olhou para mim e eu o encarei, isso teria continuado se Max não tivesse chegado bem na hora.

— Oiii gente!

— Oi Max! –Yasmin se levantou do meu lado e o deu um abraço demorado. Ela não era próxima dele, na verdade, hoje cedo tinha sido a primeira vez que os dois se falaram e tudo graças a um livro infantil que ela estava louca pra ler e por coincidência, o Max tinha. Haruka se afastou e parecia ter resmungado algo, mas me preocupei em saber o que, mas dava pra ver que ele estava bravo com a atitude dela, que além de abraçar meu amigo, ainda o olhou por cima dos ombros como se o provocasse, adoro quando ela faz isso.

— Por que não vamos a biblioteca? Eu quero ver se acho aquele livro, Max.

— Boa ideia, vamos lá.

Os dois começaram a andar em direção da sala e eu só tive tempo de sorrir ao ver Haruka se distanciar completamente derrotado. Como eu me senti vendo aquilo? EU ME SENTI ÓTIMO! Eu até descreveria essa sensação maravilhosa, mas precisava segui-los, ou então ia ficar pra trás. É, deu pra perceber que eu odeio esse cara!

~*~

Ficamos por muito tempo na biblioteca, até mais do que realmente pretendíamos. Acabamos não encontrando o tal livro, mas como havia algumas revistas sobre uma mesa próxima da gente, nos sentamos lá e cada um pegou uma para folear. Brincamos de escolher moveis para nossas futuras casas (eu sei, isso é bem coisa de 1° série, mas eu tenho que admitir que é... legal... Não me julgue!), também escolhemos carros, casas e quando estávamos ficando sem opção, escolhemos roupas também. Só paramos quando a Yasmin disse que subiria para o intervalo para comer, não tinha um dia em que ela fosse pra escola e não comesse na hora do intervalo, mais difícil ainda era ela não repetir o prato. Max e eu ficamos quietos por um tempo, e logo voltamos a conversar enquanto liamos os artigos da revista.

— Ela tá demorando... –O de toquinha disse e eu me lembrei de que ela ainda estava no intervalo.

—Verdade... Estranho, ela não costuma demorar assim... Deve ter se distraído com alguma coisa e esqueceu o caminho daqui. –Nós dois rimos e ele guardou a revista.

— É melhor ver já que é assim.

— Tsc... Ah tá bom, eu vou atrás dela. Fica aqui que eu já volto.

— Ok.

Subindo rapidamente as escadas que davam acesso ao pátio, eu já me encontrava no refeitório a procura de uma cabeleira longa e escura, não posso me esquecer que ela usava um moletom vermelho por cima da blusa do uniforme. Procurei por lá, mas ela não estava então voltei para o pátio e não tive muito sucesso também. Os alunos estavam espalhados por grupos e era ainda mais difícil de acha-la, até que vi Sammy, uma colega que às vezes andava com a Yasmin, atrás de uma arvore junto de mais duas garotas que eu não lembrava o nome. Elas riam abafado escondendo a boca com as mãos e olhavam para algo na direção da arvores, eu não fazia ideia do que era e então resolvi ir até lá, iria perguntar se elas sabiam onde minha amiga podia estar. Antes que pudesse ver para o que elas olhavam, vi os cabelos castanhos escuros e a blusa vermelha encostada ao tronco da arvore, eu já sabia que era ela, mas não deu para vê-la por inteiro então me aproximei. Quando estava prestes a chama-la, me arrependi de ter ido atrás.

— Não...

Foi tudo o que eu disse ao vê-la ali, aos beijos com Haruka... Agora pula pra próxima parte antes que eu comece a chorar!

~*~

Eu desci pra biblioteca furioso, nem sei se aquelas garotas me viram ou não e eu também não ligava. Entrei na sala cheia de livros e vazia de gente, não vi Matsuno na mesa em que estávamos e fiquei aliviado por não precisar contar pra ele o porquê de eu estar com a maior cara de bunda que eu já tive. Corri até a mesa e afundei minha cara lá, me debruçando sobre ela, seria ótimo ficar sozinho agora. Ah cara, porque eu ela fez is...

— Kazemaru? Ué, não achou ela não?

Eu e minha boca grande.

Ouvi a voz dele atrás de mim e nem me ocupei em levantar a cabeça, só acenei um sim e permaneci imóvel.

— O que houve? Você achou ela ou não?

— Achei... Achei sim. Ela tava beijando aquele FILHO DA [censurado]! Satisfeito?!

— Quem, o Haruka?

— Hahahahaha não Max, magina, minha mãe... É! O Haruka! –Eu suspirei e engoli a vontade de gritar encostando a cabeça na cadeira. –Eu não acredito que ela fez isso, ela mentiu pra mim! Disse que não ia nem falar com ele e olha só agora, eles estavam se beijando!

— Calma cara, foi só um beijo.

— Não foi só um beijo, você tinha que ver como eles estavam! Parecia que ele ia engolir a cabeça dela. –Fechei os olhos e tentei me acalmar, assim que voltei a olhar para ele, percebi que ele me olhava de um jeito... meio estranho...

— Por que você tá me olhando assim...?

— Pensei que você só gostasse dela como amigo...

— Mas eu só gosto dela como amigo, é por isso que eu tô assim, eu me preocupo com aquela idiota! –Me inclinei de novo para frente, mas com tanta força e raiva que até senti meu ombro estralar. –Ai, minhas costas...

— Ah, qual é, olha só pra você, tá quase chorando por causa disso!

— Eu... E-eu não tô quase chorando! Eu só tô chateado, poxa... Eu sou o melhor amigo dela, ela não podia mentir pra mim assim... Ainda mais depois de... Depois de ontem...

Max arrastou a cadeira pra mais perto de mim com tanta rapidez que até me assustei, parecia uma grota querendo saber de uma fofoca.

— O que aconteceu ontem?

Não disse? Parece uma garota.

— Ah... Não é nada... –Tentei desvencilhar do assunto, só de lembrar ela ontem já senti meu corpo esquentar.

— Fala log Kazemaru. Você não vai ir muito longe se ficar escondendo as coisas assim...

Esse safado tá me ameaçando?!

— O-o que?!

— Fala logo!

— OK! ... Lembra de hoje que eu não estava prestando atenção na aula? –Ele confirmou. –Bom, desde ontem... Eu não consigo parar de pensar nela... –Fiquei unindo meus dedos indicadores um no outro e nem sequer encarei ele, mas assim que o fiz com a pouca coragem que me restava, vi na sua cara um sorrisinho safado. –Q-quer dizer, em como ela estava ontem, sabe?! E-eu não sei explicar, então não me peça pra dizer mais nada!

— Kkk você tá gaguejando.

— Me deixa! Virei a cara pra ele e mostrei –cofcof tentei- autoridade cruzando os braços, eu nem sei porque eu estou com tanta vergonha... Ele podia me implorar de joelhos, mas nada sairia da minha...

— Você tá apaixonado.

O QUE?!

— O que?!! Da onde foi que você tirou essa maluquice?!!

— Kazemaru... Você tá corado!

— É-é c-claro! Olha o que você tá falando!

— Nãaaao, você estava assim antes mesmo de eu insinuar alguma coisa! Na hora que você começou a falar dela você ficou assim.

Mas o que?! Isso é ridículo! Eu não posso estar tão... –pega celular do bolso e olha o reflexo de seu rosto totalmente ruborizado-... Minha nossa, eu tô muito vermelho...!

— É... Sinto muito, Kazemaru, mas você tá maluquinho pela sua melhor amiga.

Não... Isso só pode ser uma piada, isso definitivamente não pode estar acontecendo!

— Tem alguma coisa muito errada comigo!!!

..