Ele me olhava com aquele olhar cheio de cinismo, mentindo para mim novamente. Eu sabia que ele estava mentindo, sabia que novamente iria acontecer a mesma coisa.

Ele se aproximou de mim e mais uma vez disse que me amava. Tocou com sua mão o meu rosto e o puxou para si, dando-me um selinho. Meus olhos estavam sem expressão com essa troca de falso afeto.

–Então, já estou indo – disse ele por fim, abrindo o guarda-chuva e me deixando para trás. Enquanto ele caminhava para o seu destino, eu ainda permanecia no mesmo lugar, só observando a distância entre nós aumentar,ou talvez essa distância sempre havia estado ali.

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A campainha da minha casa toca. Fui atendê-la secando meus cabelos ainda úmidos; a fria chuva de inverno que eu tinha pego acabou me fazendo tomar um banho escaldante.

–Cheguei – ele sorriu após eu abrir a porta.

Dei espaço para ele entrar, continuando indiferente. Fechei a porta e girei uma vez a chave que estava na fechadura.

Ele começou a mexer na televisão e no DVD, com total liberdade; liberdade essa que eu tinha permitido, mesmo que silenciosamente.

Estendi a minha toalha em uma cadeira perto da janela da sacada, que permanecia fechada. Voltei e me sentei no sofá, abraçando-me para tentar me esquentar. Mesmo com a casa toda fechada e usando um suéter e uma calça de moletom, eu ainda sentia muito frio; talvez seja o frio que emanava daquela criatura a minha frente que fazia todo meu corpo continuar tremendo.

Fiquei observando ele mexer naquele aparelho que ele mesmo havia me dado até que finalmente conseguir fazer o filme rodar. Ele se aproximou do sofá e se sentou perto de mim, com um sorriso ainda estampado no rosto. Quem não o conhecesse não saberia que aquele belo e aconchegante sorriso não passava de uma ilusão. Ele me abraçou e aninhou a minha cabeça em seu peito. Eu simplesmente olhava com um olhar sem vida para um filme que era sobre cavaleiros medievais. De vez em quando ele soltava algum comentário sobre o filme, e eu continuava imóvel, gélida. Qualquer um até me confundiria com um cadáver, sem vida nenhuma em meu semblante.

Depois de terminar o filme nos separamos por um tempo para ele se espreguiçar. Logo após ele se voltou contra mim e me beijou. Um beijo de verdade, com muita ternura, com os sentimentos dele parecendo muito visíveis. Seria bom se essa fosse a realidade.

Afastei-me dele com a desculpa de ir para a cozinha, não precisava realmente dessa desculpa, mas parte do meu ser realmente estava faminta.

Quando ia retirar o meu misto-quente da sanduicheira, ele chegou por trás e me abraçou. Com agilidade ele me virou e colocou as minhas costas contra a parede. Ele estava novamente me mostrando aquele sorriso, o sorriso de deboche, o único tipo de sorriso que eu via nele. Ele se aproximou do meu ouvido e ainda segurando sem nenhum esforço as minhas mãos que não relutavam, sussurrou:

–Adoro esse seu jeito de se comportar, mas você sabe que pertence a mim, só a mim.

–Sim, eu sei – afirmei mecanicamente.

Quando ele se afastou de mim, eu o beijei. Senti o ar de satisfação dele quando fiz esse movimento, e rapidamente ele me retribuiu, mantendo firmemente as suas mãos na minha cintura e fazendo-me permanecer junto a ele, impedindo qualquer tentativa de escapar de suas garras.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.