Shiver

Darkest Sun


Ao chegar em casa, não contou nem dez minutos antes de apagar na cama. Acordando na manhã seguinte, mal se lembrava de o que havia acontecido na noite passada.

O sábado estava com uma cara feia e sem graça. O céu cinza-escuro desanimava qualquer um, e as ruas estavam úmidas pela chuva que havia acontecido na madrugada.

Mesmo que estivesse com um ótimo humor e grande disposição a qualquer atividade, preferiu continuar na cama por algum tempo. Ligou sua TV e deixou em um canal qualquer, enquanto se divertia com jogos sem objetivo no seu celular.

Pouco antes do almoço, saiu da cama, tomando um banho quente e vestindo roupas frouxas para ficar em casa. Sua mãe cozinhava algo e Luka não estava em casa.

Foi para a cozinha, pegar algo quente para comer.

– Bom dia. – sua mãe sorriu, mas Miku não sorriu de volta. Ainda estava desapontada por sua mãe já está noiva novamente, e não fazia questão em esconder isso de ninguém.

Pegou restos de canja de galinha que estavam na geladeira e os requentou no fogão. Saiu da cozinha ouvindo sua mãe resmungando algo.

Foi para a varanda de trás da casa, sentando-se ao degrau e soprando sua canja. Os fundos davam para parte da reserva, e por algum motivo, aquilo a incomodava. Era como um convite para que o inimigo entrasse quando quisesse.

Perdida em devaneios, tomou sua sopa enquanto vetava a mata densa e quase caiu do degrau quando ouviu algo a chamando.

– Miku! – a voz de Rin estava próxima e ela se assustou ao ver que a amiga estava praticamente ao seu lado. Ela mal havia a notado ali. – Dormindo acordada de novo?

– Mais ou menos. – deu um sorriso um pouco sem graça, colocando o prato ao seu lado e sinalizando para que Rin se sentasse com ela. – E aí?

– Hoje é um dia especial por que... – Rin sentou e fez uma cara de expectativa. Miku esperou que ela continuasse, e quando viu que não, deu de ombros. Rin fechou a cara e cruzou os braços – Faz um mês que nos conhecemos, criaturinha nojenta!

– Ah. Você liga pra essas coisas?

– Ligo. E para comemorar, vamos para um caraoquê na Korea Town, eu, você, Len, Luka e o namorado estranho dela.

– Empolgante. – Miku forçou uma expressão entediada, apenas para provocar. Rin a empurrou e as duas começaram a rir. – Que horas?

– Oito. Passo pra pegar você e a Luka aqui, e espero que sejam pontuais.

O relógio marcava oito e vinte quando uma 4X4 preta parou na porta. Era o carro do Len, e várias explicações para que Rin e ele estivessem no mesmo carro brotavam na mente de Miku. Poucas delas puritanas.

Miku, Luka e Gakupo entraram no carro. O som que ouviam era alto e um estimulador para o caraoquê, mesmo que não necessário.

Ela reparou que, sobre a marcha do carro, Len segurava a mão de Rin. Ao seu lado, Gakupo abraçava Luka. Perguntava mentalmente se algum dia teria algo do tipo.

O carro parou cuidadosamente na frente de um caraoquê.

Rockby Robin era o nome exibido em tons neon, e o lugar tinha um astral alto. Era colorido por fora e o som era alto. Dentro, era ainda melhor. Quente e confortável, tinha um bar logo na estrada, várias mesas e um palco para os covers. À esquerda, várias máquinas de fliperama como jogos de dança e até mesmo os mais clássicos como Pacman.

Escolheram uma mesa lateral com sofás acolchoados, ao lado de uma janela fosca. Uma garçonete velha e asiática com cabelos acinzentados e verruga preta estilo Monroe foi atendê-los.

– O que vão querer.

– Um Martine com extra gin, por favor. – Gakupo foi o primeiro a pedir.

– Dois, por favor. – Len completou.

– Um cocktail com tudo de estranho que você tiver. – Rin pulava sobre a cadeira animadamente. Estava bastante ansiosa. Luka balançou a cabeça negativamente, dizendo que não queria nada. A garçonete voltou os olhos para Miku.

– Um suco de laranja, por favor.

Olhares surpresos de todos na mesa voltaram para ela. A verdade é que, desde sempre, Miku era a que sempre bebia mais. Só que não tem mais graça agora que não dá pra ficar bêbada.

Uma garota desafinada saltava no palco, achando que cantava bem. Rin fazia alguns comentários maldosos sobre a roupa dela, e todos riam. Ela fazia isso sem malícia, apenas para descontrair. Quando a garota saiu do palco, Rin levantou.

– Agora eu! – ela gritou para o DJ, e olhou para Miku. – E você vem comigo!

Agarrou-a pelo pulso, e antes que Miku pudesse protestar, pulou no palco, arrastando a amiga junto.

Todos riram da cara que Miku fez quando o homem responsável pela iluminação colocou um holofote sobre ela.

Respirou fundo e tomou coragem. Já havia feito tantas coisas, grande parte delas apenas nessa última semana. O que era uma simples música de caraoquê comparada a virar lobisomem?

Rin olhou para ela com expectativa. Miku sorriu, e gesticulou a música que cantariam. Rin não segurou a risada. Essa era a música que as duas cantavam desde que se conheceram.

O cover de violão da música Summertime Sadness começou a tocar, e Miku esqueceu que estava sendo assistida por várias pessoas. Cantou com a mesma facilidade que cantava quando estava no chuveiro, e tinha que dizer, nunca havia se divertido tanto.

Quando a música acabou, as duas se sentaram ainda estonteadas pela adrenalina. Riam como idiotas, assim como quem as aguardava na mesa.

Ficaram lá por algum tempo, e se surpreenderam ao ver que Luka sozinha havia tomado iniciativa para cantar. Levou com ela Rin, e pareciam duas bêbadas tentando falar grego.

Na mesa, Miku, Len e Gakupo conversavam sobre como estava sendo divertida a noite. Miku ia responder, quando um calafrio percorreu seu corpo e ela travou como um gato assustado. Viu que Gakupo também havia se enrijecido sobre o assento.

Pela porta passaram quatro homens e duas mulheres. Miku sentiu várias descargas de adrenalinas seguidas serem disparadas em seu sangue, e sua mente automaticamente deduziu. Todos eram lobisomens, e estavam ali. Não era coincidência.

Ela e Gakupo se encararam, e pela própria música Miku percebeu que Luka também havia notado a presença deles.

– Talvez devêssemos ir agora. – ela falou, tentando evitar contato visual com o grupo recém-chegado.

– O que? Por quê? Está tudo ótimo! – Len protestou sem saber o que acontecia.

– É, já está ficando tarde. É uma boa ideia ir agora. – Gakupo concordou, quando a namorada e a amiga voltaram para a mesa.

Luka não falava nada, e estava completamente apreensiva. Rin estava em nuvens, parecendo nem saber em que mês estava.

– Certo, então... Vou pedir a conta. – o louro parecia chateado, mas era por uma boa causa.

– Porque não leva a Rin com você? – Gakupo completou, apontando com a cabeça para ela.

Os dois foram para o caixa, e sem perder mais tempo, Gakupo começou a falar.

– Precisamos sair daqui agora. Evitem passar perto deles e não façam nenhum gesto que possa ser considerado um desafio. Esses são lobos dispersivos, e a última coisa que queremos agora é uma briga com um grupo deles.

Quando saíam do estabelecimento, Miku teve cuidado para fazer exatamente como Gakupo havia instruído. Abaixou a cabeça e passou o quão longe podia. Porém, em um último instante, ela ousou levantar os olhos, e acabou vendo um dos homens. Ele a olhou com raiva mal escondida e naquele momento, Miku soube. Algum dia, eles iriam atrás dela.