Disfarçado na multidão, um homem encapuzado movia-se pelas periferias do império eldiano, entre asiáticos, mussoumanos e marleyanos, desabrigados de guerra. Ao seu lado, um homem alto, bem arrumado e carregando uma maleta preta consigo, utilizando um jaleco hospitalar.

Não muito à retaguarda, um segundo encapuzado movia-se pelos becos mais estreitos, aproveitando a sombra para camuflar-se. Utilizava um grande manto verde escuro, e cobria o rosto com uma máscara preta que deixava apenas seus olhos amostra.

— Chegamos? — indagou o aparente médico, quando o primeiro encapuzado parou de frente a uma das residências humildes.

— Sim. — O homem respondeu, abaixando o capuz. Os cabelos longos saltaram imediatamente para fora, revelando uma identidade surpreendente: era Garric Tybur. — É aqui.

Dois toques contra a porta e finalmente foi aberta de dentro pra fora, revelando uma identidade também muito familiar: era Freydis. A morena, com naturalidade, olhou para os dois cantos e permitiu tanto Garric quanto o doutor entrarem.

— Isso basta. — O encapuzado de manto verde disse, com frios olhos determinados. Agora estava mais explícito, aquele soldado era Eivor. — Os Tybur são traidores e se aliaram à Marley. Mas... por quê?

Estava escondido atrás de uma casa, olhando de relance a movimentação dentro daquele lugar. De repente, uma respiração funda chegou aos seus ouvidos, e quando se virou, deparou-se com uma lâmina de frente a seu pescoço.

— Quietinho. — Uma voz abafada soou, e lá estava uma entidade assustadora. Era uma pessoa com uma máscara de madeira, trajada dos pés à cabeça com um manto, mantendo os cabelos escondidos no capuz. Era muito alto. — Se você se mexer, estará morto. — era definitivamente uma voz masculina.

Eivor manteve-se inerte, olhando para frente de maneira inexpressiva. Respirou fundo e finalizou:

— Tudo bem, eu já vi o suficiente.

E de repente, moveu-se com tanta agilidade que passou por baixo da lâmina antes mesmo que o homem pudesse fazer um simples movimento de corte. No entanto, quando puxou sua espada da bainha e subiu imediatamente em direção ao rosto do inimigo, ele refletiu com sua própria espada com tanta agilidade quanto o Ackerman.

Quase que imediatamente, Eivor ergueu seu dedo anelar – que tinha um anel preso a uma corda, que por sua vez se perdia dentro do manto – e puxou o fio com força. Desta maneira ativou o mecanismo de gás preso a seus calcanhares, dando corda para o motor e imediatamente se ejetando dali, batendo contra a parede até finalmente chegar em altas altitudes.

Após ágil, dobrou seu corpo e reativou o mecanismo, se ejetando pelas residências com velocidade. Mantinha-se em frente, acelerando pela comunidade. Um grande riacho dividia a comunidade em duas partes, passando entre elas. Foi exatamente em cima dali que Eivor viu ao fundo, mais uma vez, a figura mascarada; voando também com o mecanismo.

— Só pode ser brincadeira. — Estava chocado, o mecanismo desenvolvido pelos Gestova só era distribuído por eles, e também apenas um Ackerman conseguia usá-lo sem se quebrar em regiões como aquela – cercada por casas por todos os lados. — Só se...

Não teve tempo para nenhuma conclusão. Erguendo um grande mosquete com uma mão e uma espada na outra, o mascarado efetuou um preciso disparo. Por muito pouco, Eivor moveu os calcanhares e se refletiu para o lado, esquivando-se do disparo mas lidando com uma queda bruta: perdeu o equilíbrio e caiu em uma feira, numa bancada de laranjas.

— Merda... — A verdade era que a tecnologia Gestova ainda era muito limitada, e mesmo um Ackerman também tinha dificuldades em manter-se equilibrado (como Eivor e Akira).

Mas aquele homem... era diferente.

Ele avançava em alta velocidade, distribuindo o peso do corpo com graciosidade. Ele era maior até mesmo que Akira e Eivor, dois Ackerman e a elite do exército de Eldia.

Ergueu uma de suas lâminas, deitou o corpo no ar e avançou como um foguete, enquanto as pessoas mais pobres gritavam e temiam aquele homem, o único que sofreria as consequências era Eivor. Ágil, o mascarado passou pelo Ackerman em alta velocidade, que defendeu a espada que vinha em sua direção. Não contava, entretanto, que naquela única fração de segundo o mascarado tirou uma adaga da mão livre e fincou-a no abdômen do Ackerman, no flanco destro.

Eivor grunhiu de dor, arrancando a adaga com suas próprias mãos. Fitou o mascarado com ódio e fúria, hesitando em fugir dali sem infringir um único dano no oponente.

— Sem dúvidas você é um Ackerman. Não... você é melhor que qualquer um que eu tenha visto. Quem é você?! — indagou, em voz alta.

O mascarado respondeu com gargalhadas, tirando uma segunda espada da bainha enquanto prendia o mosquete em suas costas, se aproximando vagarosamente de Eivor, que ergueu sua guarda.

Num movimento ágil, tudo que os civis viam eram atritos entre as lâminas e quase nada com precisão. Eivor moveu as lâminas pra cima e quase acertou o mascarado, que esquivou para trás e respondeu com o descer de suas lâminas, refletidas pelas de Eivor. O mascarado respirou fundo e deu um chute contra os joelhos do soldado, que perdeu o equilíbrio mas continuou lutando; após, o inimigo sem identidade tentou um golpe direto contra o abdômen, mas Eivor refletiu mais uma vez com suas espadas.

— Nada mal. — sussurrou o mascarado, provocando Eivor.

Em fúria, Eivor tentou acertar um dos flancos do mascarado com ambas espadas, mas ele precisou de apenas uma para defender. Após, girou e acertou com precisão o abdômen do soldado, superficialmente.

Mais um intervalo. Eivor grunhiu de dor mediante a mais uma ferida. Seu inimigo não estava para brincadeiras.

Desta vez, o mascarado avançou e realizou um corte na altura das pernas de Eivor, mas aparentemente fracassou sozinho. Aproveitando essa brecha, o Ackerman subiu suas lâminas pelo rosto do mascarado, fazendo um corte que atravessou a madeira e atingiu desde a bochecha até um de seus olhos.

Eivor era estrategista, e sabia que não podia lutar contra aquele inimigo. Aproveitando a brecha que o movimento trouxe, ergueu sua perna e deu-lhe um chute, repelindo o mascarado para longe. Depois, acionou o mecanismo de gás e ganhou altitude, dando fuga.

— Infelizmente não posso perder tempo com você. — disse, em alta velocidade. — Ysabel e Lisa estavam certas... preciso contar a elas sobre a família Tybur! — De repente, começou a perder altitude — O quê?!

Quando Eivor olhou para baixo, notou que seus cilindros estavam com cortes fundos que faziam o gás vazar, e imediatamente foi perdendo mais e mais altitude.

Como estava em alta velocidade, Eivor caiu com agressividade contra o teto de uma casa, por pouco não no riacho. Grunhiu de dor e notou que havia deslocado o próprio pé, rangendo os dentes e cerrando os punhos.

— Merda! — Não conseguiria ir tão longe nessa situação.

Para piorar, o mascarado surgiu bem na sua frente, pousando também em cima do telhado. Eivor se ergueu com dificuldade, suando frio. Tentou escapar mas já estava na beirada do teto, prestes a cair.

— Parece que você falhou. — disse o mascarado, erguendo seu mosquete.

— Eu fiz o que pude. — respondeu Eivor, com um sorriso de canto. Imediatamente voltou a expressão de dor, sentindo os cortes, a facada e o pé deslocado.

O mascarado ergueu sua arma, apontada para Eivor. O Ackerman ergueu vagarosamente seus braços, e quando o mascarado estava prestes a disparar, Eivor se jogou.

Mergulhou no riacho e sentiu o impacto que agravava mais ainda sua situação. Com os olhos fracos e semicerrados, sua última visão foi a do mascarado o dando como morto, enquanto a água arrastava seu corpo sabe-se lá para onde.