A situação não poderia ser mais estranha: os líderes das nações de Hizuru e Xing um de frente para o outro, a casa Becker tendo que lidar de frente com a consequência de seus líderes passados e, agora, o herói marleyano Helos de frente ao rei Fritz, que subjulga seu povo há séculos.

— Bem, creio que chegaremos num consenso para incluir Marley, embora sua presença não estivesse nos meus planos. — Karl coçou a própria testa, tinha que chegar numa conclusão logo. — Diga, herói Helos. O que é preciso para parar uma guerra?

— Equilíbrio. — Finalmente o herói quebrou o silêncio após longos segundos. Tinha uma expressão fria direcionada à Karl, passando tanta imponência quanto o próprio rei. Também finalmente estava de frente com o imperador de Xing, que tanto o ajudou com pólvora e canhões. — É inegável que Eldia tem um poder absoluto sobre as outras nações, e isso se deve aos titãs. Enquanto as nações estiverem temendo este poder, não haverá paz.

— Está pedindo um preço alto demais, Helos.

— Sim, eu estou. A paz não é barata, Karl Fritz. — O rei ficou em silêncio. — Se deseja paz, pelo menos um titã original deve ficar sob a guarda de Marley.

Emma se surpreendeu, na verdade, todos se surpreenderam. Helos não temia Karl, sabia que não precisava temê-lo.

— Eu... irei analisar com cuidado suas condições. — Karl pareceu abatido. Sabia que transferir um titã ao exército de Marley é comprar briga com uma das oito casas, coisa que tem evitado por muito tempo. — Emma, também cumprirei seus requisitos. Estou cansado de tudo isso.

A loira não conseguiu disfarçar sua imensa felicidade, mas Dylan apenas desviou seu olhar. O imperador xinguês olhava atentamente Azumabito, que resmungou algo e se levantou.

— Eu não aceito suas condições.

— Kurono, por favor... — disse Shinki.

— Não. A soberania de Hizuru não deve ser subestimada, o tratado de Karl custará caro tanto para Eldia quanto para nossa nação. Me diga, que tipo de paz é esta que arranca de um para dar para outro? É inadmissível. — Cerrou os punhos e olhou fixamente para Karl Fritz, que abaixou a cabeça. — A aliança Hizuru-Eldia acaba aqui. As consequências de um rei fajuto já estão chegando.

E Kurono deu as costas, saindo em fúria do grande salão. Achava Karl um rei fraco, e talvez fosse se comparado aos seus antecessores, tudo graças a um desejo imenso de buscar a paz. Mas, aos poucos, Karl percebe que este caminho é mais árduo e doloroso do que ele esperava.

— Eu sinto muito, Raghul. Eu falhei. — disse Karl ao imperador xinguês, cabisbaixo. Suspirou fundo e se levantou.

— Não se preocupe, Karl. Tenho certeza que entraremos num consenso numa reunião futura. — respondeu, estranhamente amigável.

O imperador foi-se embora em seguida. Emma se aproximou do rei e não falou nada, apenas fez uma breve reverência de agradecimento e foi embora.

— Será se eu posso voltar pra minha cidade? O moleque tá com a avó. — interrompeu Dylan. No final a única coisa que queria era seu filho e um banho quente.

— Sim. Você é livre.

E Dylan foi embora, restando apenas Helos e Shinki. O herói de Marley se ergueu, se aproximou de Karl e o olhou fixamente. Ainda tinha suas dúvidas, seus preconceitos e muita raiva daquela maldita coroa, mas ainda sim estendeu a mão.

Karl retribuiu, apertando a mão de Helos. Ali, sentiu uma sensação que arrancou-lhe um suspiro e o fez arregalar seus olhos, sentindo relâmpagos dourados escalando seu corpo.

— Helos, você...

De repente, quando piscou, mais tempo do que ele pensava se passou. Shinki estava ao seu lado no meio do grande salão vazio, e Karl resolveu deixar suas dúvidas de lado. Tirou a coroa da cabeça e a pôs sobre a mesa, encarando-se pelo reflexo das jóias.

— Algo te incomoda, Karl? — indagou Shinki. Parecia abatido, Kurono não o aceitaria mais.

— Sim. O peso da coroa... é muito grande. Eu tentei parar a guerra, mas o marleyano me pôs para pensar. Talvez o mundo não precise de um rei para todos, talvez o mundo não precise de um rei. Se houver equilíbrio entre as nações, sem uma interferência maior — respirou fundo — talvez consigamos a verdadeira paz.

Shinki ficou em silêncio. Um mundo sem um líder supremo é uma aposta alta, mas viável. Talvez as pessoas se dêem bem se estiverem na mesma altura.

— Bom... o que acha desta ilha? — indagou, tocando na grande ilha Paradis.

— Nada mal. — respondeu o rei, entre gargalhadas.

No meio da noite, horas mais tarde, o grande navio de Hizuru era responsável por levar Kurono de volta para casa, que não pretendia perder tempo em Eldia. Enquanto bebia o típico chá de sua nação, gritos ecoavam ao fundo.

Os navios de Xing se aproximavam, prendendo correntes e criando pontes com tábuas, deslocando seus soldados furtivamente. Os soldados do Azumabito reagiam, mas eram pegos de surpresa quando os infiltrados se revelaram – soldados de Xing entre os de Hizuru, camuflados para aquele momento.

Os gritos finalmente pararam, e agora o que restava era o som crescente de passos se aproximando. A porta se abriu com um chute, e lá estava o imperador de Xing, Raghul.

— Aparentemente, sabia muitíssimo bem que era sua hora, estou certo? — indagou Raghul. A frieza de Kurono durante toda invasão entregava, ele sabia do que se tratava e resolveu não reagir. O líder rangeu os dentes. — Procure a família Azumabito!

— Eles não estão aqui. — Finalmente Kurono se ergueu, de frente ao grande xinguês. Ele sabia muitíssimo bem que, enquanto existir um membro da família Azumabito, Hizuru vai resistir. — Você fracassou. Eu vim sozinho.

— Seu... — Todas armas foram apontadas para Kurono, que novamente não reagiu. — por que se entregar? Se sabia, por que veio?

— Um Azumabito nunca foge. Antes de vir aqui eu já passei o bastão, Raghul. — O imperador arregalou os olhos de surpresa — Sou só um homem comum agora, minhas palavras não tem poder e muito menos meu nome. Eu venci.

— Mesmo assim, nós estamos ganhando mais força a cada dia. Sua nação se despedaçará, Xing vai tomar seus territórios, e logo a rainha e seus parentes terão que se curvar perante nós.

— Talvez tome nossos territórios, talvez Hizuru perca força e tenha que se curvar, talvez tudo que diga se torne real, mas eu garanto que nada acontecerá à minha filha e à família Azumabito. — Eis o orgulho do clã Shogun, que arrancou fúria do líder da nação de Xing. Era a verdadeira face do xinguês, um homem competitivo e nem um pouco doce, o contrário do que fingiu ser para Karl. — Mesmo que percamos, já somos vitoriosos. Hizuru vai se erguer, mesmo que demore cem anos!

— Atirem!

E assim, Kurono Azumabito foi alvejado por dezenas de tiros, levando a sua morte. Akira, mesmo distante, acordou num susto. Sabia, no fundo do seu coração, que algo havia acontecido.