— O que está acontecendo aqui?!

Gritou Stella, a Ackerman que procurava pelo príncipe Karl. O chão do corredor estava sujo de sangue, tanto de Akira quanto de Ellie e Wilhem. Por outro lado, apenas ambos os Ackerman estavam lá, um com a cabeça fraturada e outro com uma espada no abdômen.

E é claro que ela correu em direção à Wilhem primeiro. Com cuidado, analisou seus ferimentos com certa preocupação – bem atípica para o clã Ackerman, diga-se da passagem.

— Como isso foi acontecer, pai? — Pai? Akira ficou surpreso. Mesmo sendo nitidamente mais velho, Wilhem não tinha cara de ser pai de uma mulher já quase adulta. — Quem fez isso?!

— Ah... é uma história complicada. — Wilhem disse, mais tranquilo do que deveria, olhando de canto para Akira com um sorriso irônico.

— Não acertou nenhuma área vital, mas se você não se cuidar-...

— Não temos tempo para isso.

Wilhem simplesmente tirou a espada dali, grunhindo de dor. Sua filha, Stella, apanhou o próprio manto e começou a enrolar na ferida do próprio pai, que pouco depois já estava de pé – mesmo que com o apoio de sua filha. Definitivamente, é um homem diferente mesmo sendo um Ackerman, sua resistência física certamente supera qualquer outra entre os humanos (com exceção aos portadores de titãs).

— Espere... — Akira mal se mantinha de pé, e por isso se arrastou até segurar no pé da garota esbelta. Olhou para ela com a face coberta de sangue; definitivamente estava sem nenhuma energia restante, e diferente de Wilhem, não tinha ninguém para socorrê-lo ou dar apoio. Suas últimas energias eram usadas para apelar. — vocês não podem sair daqui.

Enquanto isso, na caverna titã, surgia Ellie, com a respiração ofegante e sangue transbordando de sua ferida. Desceu as escadarias com velocidade, e só parou quando de frente à família real, que a encarava com espanto.

— Estão tentando um golpe de estado...! — exclamou Ellie, pausadamente pela respiração ofegante. Se aproximou e segurou nos ombros da princesa Ingrid, antes que os Ackerman's a confundisse com uma invasora. — Você precisa pegar o Titã Fundador, agora!

— O que está dizendo, Solastra? Esá sujando o vestido de minha filha! — a madame disse, erguendo o tom de voz. Não entendia o que Ellie dizia, mas sua prioridade era o vestido da filha manchado com o sangue da ferida da garota.

— Espere, mãe. — interrompeu Ingrid. É realmente uma garota esperta. — Seja mais clara, por favor.

Ellie ia começar a dizer, quando...

— Não ouça esta mulher, minha irmã. — Uma voz masculina ecoou, surgindo das escadarias da entrada da caverna. Era o príncipe, bem trajado e com uma imponência assustadora. Leopold Gestova caminhava com um mosquete em mãos logo atrás. — Ela é uma golpista.

Ellie sabia o que fazer, quando fazer e como prevenir mais desastres – que têm ocorrido frequentemente, um atrás o outro. Com força, puxou Ingrid pelo vestido e a jogou para trás de si, o que a fez desabar contra o chão. Simultaneamente, todos os cinco Ackerman's tiraram suas espadas da bainha e a mãe da rainha deu um grito, enquanto o restante da família Fritz se abraçava com medo.

A Solastra ergueu o braço sem a mão, exibindo a ferida. Era a ameaça perfeita, se se transformasse ali, danos irreparáveis ocorreriam à família e, mesmo se tratando de um blefe, era o suficiente para todos hesitarem em atacá-la.

— Droga, não se aproximem! — gritou, e todos ficaram inertes. — Rainha, siga em frente e encontre os sacerdotes! Você precisa pegar o Fundador antes que-...

— Ellie Solastra, eu ordeno que pare! — exclamou Ingrid, furiosa para surpresa de Ellie. — Seus crimes se somam há cada instante. Como ousa levantar as mãos contra a família real?

Era óbvio, entre Ellie – uma conhecida de rosto – e sua própria família, Ingrid escolheu acreditar na segunda opção por fatores mais que óbvios. Ellie estava desarmada, sendo tratada como a errada e cercada de inimigos. Um passo em falso e não só morreria como seria a responsável pelo fim do Império Eldiano como é conhecido hoje.

— Rainha, espere!

Ellie se desesperou por um único instante, e aquele único instante foi sua maior falha. Um tiro certeiro atingiu-lhe as costas num ponto que qualquer humano morreria imediatamente, mas ela não era normal. Fumaça saia do cano do mosquete de Leopold, que num tiro certeiro, silenciou a garota.

Estava quase se transformando quando de repente um dos Ackerman saiu da formação e pôs sua espada sobre o pescoço da garota.

— Regenera! — gritou, a ameaçando de morte.

Ingrid ainda estava muito perto, e por isso, mesmo se quisesse, nada conquistaria se transformando. Com lágrimas de frustração, vapor começou a sair de onde o disparo atingiu-lhe.

— O que está fazendo? Nós servimos à rainha! — gritou um dos Ackerman's. Os outros pareciam concordar.

— Eu sirvo ao verdadeiro rei: Karl Fritz II! — gritou em resposta o outro.

Os Ackerman nasciam para um único objetivo: proteger a família real e em raras ocasiões servir ao exército. O príncipe sabia disso, e por isso articulou os mais próximos de si – um pouco mais que meia dúzia – e gerou força suficiente para um golpe de estado. É, Karl Fritz é mais inteligente do que todos pensavam.

— Meu filho, o que está fazendo?! — gritou a madame, mãe do príncipe Karl.

Os Ackerman restantes – que compõem a guarda do príncipe, fora os que ficaram para conter Ysabel – foram surgindo em posição muito superior àqueles que protegiam a família real. Por isso, não tiveram dificuldades para amarrá-los e afastá-los, assim como fizeram com a própria família Fritz.

— Me desculpe, mãe. Estou fazendo o necessário.

Ellie também foi sendo arrastada para o canto da caverna.

— "Me desculpe, Akira. Você lutou bem, mas mesmo assim eu fracassei... me desculpa..."

Já Ingrid se recusava a ir embora, e por isso ficou se debatendo com força nos homens que tentavam levá-la. A maquiagem já estava borrada e o vestido sujo, e o momento que era pra ser de felicidade, foi pura frustração e raiva.

— Eu te odeio! Seu traidor! — gritou a irmã, mas o príncipe virou o rosto tristonho e seguiu em frente.

Karl Fritz II assumiu ali o fardo de ser odiado por tudo e todos, e por mais que a maioria discordasse de suas decisões, sua força de vontade para chegar ali era incontestável.

Apanhou um frasco e uma seringa, despejou o líquido amarelado dentro e levantou a manga da blusa. Todos estavam afastados demais, então bastava o titã seguir o faro em direção ao pai, que estaria no fundo da gigantesca caverna.

— Está na hora...

De repente, uma sensação estranha lhe invadiu o corpo assim que a agulha transpassou sua veia, ainda sem ejetar o líquido ali dentro. A espinha congelou, uma sensação de frio invadiu-lhe o corpo e o medo também.

Na medida que passos vagarosos mas com seu peso se aproximavam, mais forte se tornavam aquelas sensações.

E assim, com a mesma pergunta que o capítulo começou, ele termina:

— O que está acontecendo aqui?! — indagou o atual portador do Titã Fundador, o rei Karl Fritz.