Enquanto a guerra se instaurava no sul das muralhas, ao norte, o exército eldiano e os cinco titãs originais – incluindo o Fundador – permaneciam inertes, em silêncio. Já era de se estranhar, afinal, a guerra já estava acontecendo e muitos civis escapavam dos titãs irracionais.

Foi quando finalmente Karl Fritz saiu da nuca do Titã Primordial, preso pelos arredores dos olhos à nuca.

— Avancem. — ordenou, abalado fisicamente. Não tinha vigor para manter o Titã Fundador em seu auge.

Ellie, em sua forma titânica, abrigou Akira Ackerman em suas mãos, fechadas em cima do peito para protegê-lo. Eivor, um pouco mais bruto, fincou suas duas espadas próximo a nuca do Titã Mandíbula, que atravessou a pele titânica com uma estranha facilidade.

— Se segura. — comentou o Mandíbula, e Eivor assentiu com a cabeça.

Um dos soldados da retaguarda cavalgou até a frente do agrupamento, elegantemente. De forma vagarosa, apanhou um berrante e tocou.

Era a ordem de ataque.

Os soldados gritaram e começaram a avançar com seus cavalos, espadas e mosquetes. Junto a gritaria, o Titã Martelo de Guerra ergueu sua enorme lança que imediatamente se tornou um tipo de martelo, honrando seu nome. Com um movimento abrupto e intenso, bateu o martelo contra o chão e, a partir dali, uma onda de raios amarelos foi se movendo no subsolo, se aproximando mais e mais da muralha.

— Cuidado! — gritou um dos soldados em cima daquele pedaço de muralha, ao sentir um forte tremor.

Os relâmpagos dourados emergiram do chão no formato de inúmeras colunas pontiagudas, que atravessaram e abalaram aquele pedaço do muro.

— Agora!

Um dos eldianos gritou, e imediatamente todos avançaram. O Mandíbula assumiu a frente, saltando em alta velocidade em direção à muralha enquanto Eivor se mantinha com dificuldade em cima dele, balançando de um lado para o outro. Com as palmas cobrindo Akira, o Titã de Ataque movia-se junto a Titã Fêmea e o Martelo de Guerra.

Quando finalmente se aproximaram, Ellie usou seu próprio corpo como arma e se jogou contra a muralha de pedras, que desabou como Helos previu. Os titãs invadiram: Garric se aprofundou na cidade, a Titã Fêmea investiu contra as torres de defesa e o Mandíbula iniciou uma série de saltos entre as casas da favela, deixando um rastro de destruição por onde passou.

Ellie, por sua vez, deixou Akira sutilmente em cima de uma das casas mais altas, o olhando com pena.

— Não se preocupe, eu estou bem. — afirmou o Ackerman, um pouco tonto e com os cabelos despenteados.

Ao fundo, Eivor voava em direção à dupla. Sim, voava. Por baixo do manto, um mecanismo de gás passava por trás de suas costas, com tubos que se ligavam a um tipo de "motor" e cilindros de gás, ainda muito tribal. Os tubos, por fim, ficavam na altura do calcanhar e liberavam o gás, que ainda muito instável, não poderia ser mais desequilibrado, por isso só um Ackerman usava aquele mecanismo até então – que mais tarde se tornaria o DMT.

— Ficou tonto, Akira? — indagou, provocantemente, mas sem expressão alguma no rosto.

— Cale a boca, Eivor. Eu estou bem. — respondeu, tão frio quanto. Apanhou suas espadas na mão com firmeza, preparando-se para procurar Pietro. — Pode ir, Ellie.

O Titã de Ataque acenou com a cabeça, e imediatamente deu meia volta para destruir as torres de defesa junto a Lisa.

— Tudo sob controle? — indagou Helos, acompanhando e guiando a multidão ao sul.

— Sim, senhor. — disse, um soldado ao lado — Estamos guiando-os ao nosso forte em Astrud.

Mas algo deixava Helos inquieto, mais especificamente, duas coisas: onde estava Derick? E onde estava Emma, que sumiu de repente?

A pergunta era respondida, distante dali. Enquanto a Titã Fêmea derrubava mais uma série de canhões, Ellie matava inúmeros soldados e detritos voavam para todos os lados. No meio deste bombardeio Emma caminhava, esquivando dos grandes pedaços de concreto e pedra que caiam pela cidade.

Olhou para o lado e viu inúmeros soldados invadindo pelo buraco aberto pelo Titã de Ataque, e teve que recuar. Penetrou os mais estreitos becos, se afastou o possível do centro até que encontrou "ele".

— Gary! — gritou com lágrimas nos olhos para o Martelo de Guerra, bem à sua frente.

Naquele instante, o Tybur destruía mais uma das casas da favela, vendo cabisbaixo o tanto de cadáveres abaixo de seus pés. Quando Emma surgiu, seus olhos fundos se arregalaram e se encheram de brilho, mas logo se desviaram de vergonha. Vergonha por ter enganado, por ter matado, por ter saqueado.

— Por que você me salvou?! — gritou ela, deixando as lágrimas escaparem de seus globos. Segurava firme o grande mosquete que carregava consigo.

O titã voltou a olhá-la. Apoiou a base do martelo no chão e foi se agachando, o que fez a loira recuar dois passos. Agora agachado – mas ainda MUITO maior que a garota – a armadura que cobria-lhe a boca começou a se descolar, deixando amostra os lábios e os dentes titânicos.

— Por que... — Para surpresa de Emma, o titã falava. De maneira rouca e assustadora — eu sou fraco.

A garota arregalou os olhos ao sentir uma estranha brisa quente. Com olhos profundamente azuis, Lisa Manifield se aproximava dos dois, fitando a humana com frieza.

Garric foi pego no flagra simpatizando com uma marleyana.

Distante dali, o Mandíbula saltava de casa em casa, fincando suas unhas para se estabilizar nas estruturas e se mover com liberdade.

De um dos pontos mais altos da comunidade, o titã finalmente teve em vista aquela cena inusitada: Derick estava cavalgando num equino e o mensageiro no outro. Atrás de Derick, preso por cordas, havia Pietro, em estado de quase morte.

— ACHEI! — a voz rouca do Titã Mandíbula ecoou por toda cidade, despertando os olhares de todos.

Derick apressou o cavalo, mas seria o suficiente? Ellie acelerou os passos, dando um forte tremor a cada passada. Pietro olhou para trás com os olhos chorosos, como se pedisse socorro.

— Vocês... — Ellie sussurrava dentro da nuca, com um tom raivoso. — eu nunca vou perdoá-los!

Um rugido saiu do titã, como se fosse inúmeras vozes em uníssono saindo de um único monstro. A garota deu um salto e preparou para esmagá-los, mas os cavalos entraram num beco e a deixou para trás, obrigando-na a rodear as casas.

— Vocês não vão fugir! — exclamou Eivor, suspenso no ar com o gás. Segurava firmemente as lâminas, se aproximando deles.

Akira surgiu no polo contrário, voando também com o gás por cima das muralhas. Semicerrou os olhos e olhou para frente: lá estava Helos, o líder da resistência, em solo firme.

— Virem os canhões!

Ordenou o herói Marleyano, ouvindo o rugido dos titãs. Não demorou muito e, de frente ao portão, viu os cavalos de Derick e o mensageiro saindo do beco, em busca da liberdade e a vitória.

Mas infelizmente a vida é muito mais dura.

O Mandíbula, com as garras saltadas e a bocarra aberta, surgiu de repente no céu. A palma surgiu subitamente em cima daqueles dois, esmagando o cavalo do mensageiro e repelindo Derick e Pietro para longe.

— Derick! — exclamou Helos, preocupado.

A nuvem de fumaça erguida foi aos poucos se dissipando, e então a visão horrenda do mensageiro e o cavalo esmagados foi exposta. O cavalo de Derick foi pego de raspão, mas estava no chão, também morto.

— Ninguém se mexe!

Uma voz saiu dali, e Derick estava lá, pouco a frente. Coberto de sangue, mas sem hesitação, estava com Pietro em seus braços, preso por um mata-leão e com uma espada em seu pescoço.

Ellie rugiu mais uma vez, e o Titã de Ataque ficou ali, logo à frente. Mandíbula também estava ali, parado, aguardando a negociação. Eivor ficou no chão, deixando o gélido suor escapar de sua testa.

Todos canhões da comunidade – que não são poucos – se viraram em direção àquelas pessoas e titãs. Mais soldados eldianos se aproximavam de um lado da muralha, e da outra, um monte de soldados de Marley guiados por seu líder.

O destino e a vitória de Eldia e Marley depende de quem ficará com a guarda de Pietro. Resistência ou Eldia, quem será, vitoriosa?