Da nuca do Titã Colossal, Ysabel surge ainda presa por fios de carne ao corpo de seu titã. Vendo dali, ela parecia minúscula, e realmente era se comparado ao maior dos nove titãs originais. Semicerrou os olhos e respirou fundo, olhando para o centro da cidade de Valle.

— Espero que isso signifique uma vitória.

Era a única coisa que podia desejar. Seja lá quem estivesse no raio daquela enorme explosão - cuja fumaça se erguia por grande parte da cidade - dificilmente sairia com vida.

E dentro da enorme cortina de fumaça, o corpo cadavérico da Titã Fêmea evaporava. Desgrudando-se da nuca, uma Lisa abatida, com metade do rosto carbonizado e muito vapor saindo por todo corpo. Com os olhos cansados, reconheceu: só sobreviveu porque, no último instante, usou as mãos cristalizadas para proteger a nuca.

Cambaleou para fora, caiu no chão e se levantou com dificuldade. Foi aí que um pensamento veio na cabeça, apesar de ter sobrevivido por pouco, Ellie nunca foi lá uma pessoa sortuda. Os olhos se arregalaram de preocupação, chamou pela Solastra e seguiu firme numa das fontes de vapor entre o caos.

É, talvez tenha subestimado a nova fase de Ellie. O corpo do Titã de Ataque estava de costas para o chão, assim, protegendo a nuca. Lisa suspirou aliviada, vendo que o estrago havia descolado o tronco do titã de Ellie das pernas, o dano sem uma proteção na nuca seria irreversível.

De repente, ouviu passos. O alívio virou temor, e a guarda teve que se manter alta mesmo não estando em condições alguma de um segundo embate.

A fumaça foi se dispersando, e Dylan surgiu. Desde cedo esteve com a nuca cristalizada, por isso, para ele, os danos haviam sido poucos. O olho era regenerado pelo vapor junto ao que restou de uma das mãos, mas nada muito mais grave que isso. Lisa deu um passo para trás, o barbado a olhou no fundo dos olhos e... ignorou.

— Adeus, meu pai. — disse, de frente aos destroços da igreja. Sobre uma das tábuas, havia o sobretudo militar que colecionava medalhas, pertencente a Azulon.

Dylan novamente olhou para Lisa, mas novamente mostrou que nada queria com ela. Seus passos calmos foram direcionados para fora dali, e sumindo entre a fumaça, seus objetivos se tornavam mais confusos do que antes.

No cenário caótico, muito provavelmente Emma era uma das poucas que tinha alguma chance de sair dali com vida, mas o espaço encurtava e a pressão aumentava aos poucos.

— Resiste, por favor! — gritou com os olhos cheios de lágrimas. Aldrich sangrava muito, e apesar do coração bater, não respondia aos chamados da loira. Estava inconsciente.

Emma precisava sair dali o quanto antes, mas como? Dos portões da frente um exército tentava invadir, e nos portões detrás o corpo do Colossal tampava a saída. Não existia rota possível para uma carroça, não tinha como sair dali com Garric e Aldrich...

Respirou fundo. Ia dar um jeito, precisava dar um jeito. Assumiu os cavalos e se juntou aos soldados. Não sabia como, mas ia sair dali.

No portão dianteiro, caos, sangue e muita morte. Oleg subiu os muros assim como muitos outros soldados subiam aos poucos, ergueu o mosquete e disparou contra um dos homens que tentavam conter o arrombamento do portão.

— Resistam! — ordenou Thomas, segurando os portões com toda força que tinha.

Os ferrolhos já estavam rompidos, as tábuas de madeira partidas e a fresta da porta já estava abrindo, deixando alguns tiros e lanças aparecerem.

— Resistam! Resistam!

Suou frio. Não podia morrer ali, mas parecia inevitável.

Olhou para cima, um barril de pólvora com o pavio prestes a estourar vindo em sua direção. O que fazer neste momento? Thomas não se entregou, nunca vai se entregar. Tentou gritar, avisar seus companheiros, mas foi tarde.

Uma explosão tomou a vida de vários de seus companheiros, e particularmente Thomas foi muito afetado. Voou longe, dando de cara com o chão enquanto os detritos de madeira eram fincados em sua carne, desde o rosto até a barriga. Cuspiu sangue. Esse era de fato seu fim?

Ah... como o pequeno Ivar deve estar agora? Sim, apesar de ter o nome do avô, Thomas não queria que ele seguisse este caminho, o caminho sanguinário. Era uma criança e se comportava como uma, mas Thomas estava cansado de vê-lo na miséria, ele merecia mais, e estava lutando justamente por esse direito.

Vomitou sangue no gramado, tentou sustentar o próprio corpo com os braços mas fracassou. Os primeiros soldados invadiam os portões, executando todos os homens de Thomas.

"Não posso morrer aqui...

Meu filho pediu um sapato."

Tentou abrir os olhos, mas doía muito. Talvez pelas farpas de madeira que atravessavam seu globo? Não importa. Respirou fundo, era filho de um guerreiro lendário. Devia fazer jus.

Tinha uma mulher, um filho e um cachorro mal humorado. Precisava manter isso. Precisava lutar pela sua família.

Com toda força de vontade que tinha, se ergueu mesmo que cambaleando, cego. Tudo que ouvia eram os gritos de seus homens, o tilintar das armas e armaduras, o sangue caindo pelo chão. No entanto, uma voz angelical invadiu-lhe os ouvidos:

— Pai... — Era seu filho!

Não conseguiu conter as lágrimas, agora misturadas ao sangue. Com um sorriso, foi caminhando em direção à seu filho. Ia vê-lo, poderia abraçá-lo uma última vez!

Mas tudo acabou num instante.

Não estava correndo rumo seu filho, e sim rumo à morte. A lâmina de Laxus cortou-lhe o pescoço e fê-lo cair.

— Ivar...

Chamou pelo seu filho. Ou talvez fosse pelo seu pai? Não importa. Sua perspectiva estava destruída.

Um cavalo passou por cima de seu corpo quase morto. Os ossos foram partidos, os órgãos esmagados e atravessados pelos fragmentos de sua própria costela.

No vida real, não existem romantizações e nem milagres. Thomas se vai.