— Isso é tudo? — indagou Karl.

— Sim, meu senhor. — respondeu Wilhem.

O porto da capital estava tomado por grandes navios de madeira, prontos para mobilizar milhares de pessoas rumo à Paradis. Vieram muito menos civis do que Karl esperava, mas seguiu com o peito inflado e um olhar cabisbaixo.

— Wilhem, confio esta cidade à você. Não tem ninguém que eu confie mais neste mundo. — Karl disse, se aproximando de Wilhem. Era como um segundo pai para ele.

— Minha alteza, permita-me acompanhá-lo...

— Não. Você será minha garantia de que tudo está bem. — finalizou o Fritz, com um sorriso no rosto. — Eivor, não faça nenhuma burrada.

Ao contrário de Wilhem, Karl não confiava em Eivor e tinha razões para isso, já que Eivor quem passou as informações para Ysabel, Lisa, Ellie e Akira e tentou intervir no golpe de estado. O Ackerman bufou e virou o rosto; apesar de obrigatoriamente devoto ao rei, faltava-lhe com respeito.

Stella, filha de Wilhem, deu um leve pontapé contra o calcanhar de Eivor apenas para provocá-lo, um aviso para não resmungar diante a realeza que tirou um sorriso de canto de Karl.

— Leopold. — Karl deu as costas, se aproximando do jovem Gestova. Leopold estava maior, mas o olhar sanguinário não mudou nada, na verdade, parece que toda aquela ausência de guerra o irritava. Sentia que merecia mais do que sentar ao lado do rei. — Sua ambição me preocupa, por isso eu jamais lhe daria o trono nem se fosse para esquentar para mim. — Leopold cerrou os dentes. — Mas sei que não fará nada contra Wilhem, nem se fosse capaz. Por esta razão, estou te dando um alto cargo no exército de Lago, cargo que um dia pertenceu a seu pai. Sua irmã irá atacar, e sei que seu orgulho as vezes é um bom combustível para mente.

— Pode deixar comigo. — A decisão de Karl surpreendeu a todos, despertando um sorriso macabro na face do Gestova. Wilhem suspirou fundo, sabe que aquilo trará dor de cabeça.

— Dylan já foi embora, certo? — indagou para Freydis. A mulata assentiu com a cabeça e engoliu seco, ainda era muita novidade estar diante o rei de Eldia, ou talvez ex-rei. Emma estava ao lado e também parecia hesitante, já Helos mantinha a coluna ereta e o peito estufado. — Lago será um território independente das oito casas. Eles são ambiciosos, eu sei mais do que qualquer um disso. As oito casas se destruirão daqui em diante, mas todas tem um alvo em comum: você, Helos. — Helos não moveu um músculo. — Atacarão Lago, talvez em conjunto. A família Erigon talvez resista, eu vou saber pelos Caminhos. Se for necessário, irei intervir à distância para capturar o Titã Quadrúpede, mas não contem comigo depois disso. — Karl Fritz suspirou fundo, tocando o ombro de Emma. — Vá ver Garric.

Emma arregalou os olhos, não se importou se estava diante o rei ou o herói Helos, apenas deu as costas e foi correndo para o calabouço onde o Tybur se mantinha cristalizado.

Karl olhou para cidade, mais pessoas estavam ali apenas para ver do que realmente para irem para ilha. Independente do porquê, todos olhavam torto, o viam como um rei falho.

Uma carruagem luxuosa chegou, e de lá, acompanhada de uma mulher mais velha, saiu uma bela donzela com um vestido dourado, um cabelo preto preso num coque e olhos azuis como o céu. Realmente era muito bela.

Karl deixou um sorriso de canto escapar, era sua futura esposa, uma prima de terceiro grau cujo casamento arranjado traria futuro para os Fritz numa ilha distante. Ao vê-lo, a garota não resistiu, largou o que estava fazendo e assumiu uma face tristonha, abraçando sua mãe. Não queria ir embora, não com ele.

Karl era odiado por todos.

— Um rei para todos, não é? — Um velho se sentou na beirada do navio, que agora zarpava. Karl estava logo ao lado, olhando o porto se afastando na medida que os navios iam embora. — Parece que você se tornou o rei de nada, Karl Fritz II.

Karl olhou para o velho encapuzado. Não era um homem físico, mas um fantasma do passado que só existia em sua cabeça, seu próprio pai.

— Você falhou, meu filho. Disse que protegeria essas pessoas, mas agora parece que está fugindo delas. Finalmente descobriu que a paz é uma doce ilusão? — indagou o velhote, provocando Karl.

— Eu não estou fugindo. Tudo que fiz foi pensando nessas pessoas. Mesmo que elas me odeiem, eu vi o olhar das crianças de Marley quando comeram uma fruta nativa pela primeira vez. Eu vi felicidade, mesmo que as pessoas ao redor não concordem com isso. Eu estou salvando esse mundo.

— Você não é respeitado, o único que o vê como herói é você mesmo. Ninguém concorda com suas ideologias senão um Azumabito tão rejeitado e traumatizado quanto você. — Referiu-se à Shinki, que continuou quieto e reflexivo durante todo caminho. — Você foge porque é fraco. Você afastou sua irmã, sua mãe e seu povo, e agora está fadado a criar uma família de mentirinha dentro de uma gaiola.

Karl descobriu que a melhor maneira de afastar os fantasmas do passado era a quietude, e funcionou. Mas, no fundo, sabia que era verdade. Talvez estivesse realmente fugindo, se enganando para mascarar sua fraqueza, mas precisa ir até o fim agora. Um mundo em paz... é um mundo sem Karl Fritz, sem rei, sem Eldia.

Correndo pelas ruas de Lago, Emma já estava suando e ofegante quando adentrou a prisão que um dia a manteve presa, até ser resgatada por Aldrich. Respirou fundo, era livre agora, o jogo virou desta vez. Se aprofundou no calabouço e finalmente adentrou a cela certa.

Não existia mais nenhum cristal, apenas Garric entre os destroços de endurecimento titânico e muita água ou seja lá que líquido era aquele. Tossiu como se acabasse de escapar de um afogamento.

Os olhos de Emma se encheram de lágrimas, e não se conteve: deu o primeiro abraço no Tybur.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.