O Titã Bestial caiu por terra, de joelhos contra o chão. O rosto estava completamente deformado, exibindo os ossos e a carne viva ainda com a boca aberta. Vapor saia de todo o monstrengo, gravemente.

— O que aconteceu?!

Indagou um dos soldados eldianos, se ergueu vagarosamente, nitidamente desnorteado.

— Ei, levante... — cutucou um de seus companheiros, de costas para ele, deitado no chão.

Quando o mexeu, viu que se tratava de um cadáver completamente deformado. Estava sem nariz e os olhos, com a boca em puro osso.

Se assustou e pendeu para trás, caindo sentado no chão.

— N-Não é possível...

Poucos soldados se levantavam, a maioria vindos da retaguarda, onde a explosão não foi tão potente. Muitos estavam gravemente feridos, e não tinham condições de continuar. Agonizavam e gritavam por estarem sem pernas, braços ou com os tímpanos estourados.

— Não se preocupe... — A voz de Dylan ecoou, e finalmente a nuca do Titã Bestial se abriu. O Shifter desgrudou aquelas duas cartilagens que ligava a área ao redor de seus olhos à carne do titã. — a essa altura, eles já chegaram.

No forte de Thalber, os soldados também gritavam, mas de alegria. Comemoravam a intensa vitória por cima dos Súditos de Ymir, sem se perguntarem de onde Helos tirou tanta pólvora – nem mesmo eles pareciam ter acesso a algumas informações. O herói Marleyano permanecia quieto, com os olhos semicerrados e os braços cruzados.

— Não nos atacariam por um só ponto e com um único titã... não com a família Gestova ao lado deles... — disse, com sua voz rouca, cortando o clima de alegria de seus companheiros.

E então a pergunta: o que exatamente o Titã Bestial estava fazendo quando se serviu de isca? Esta pergunta estava sendo martelada na cabeça de Helos quando finalmente se tocou.

— Atenção ao leste!

Os soldados se entreolharam um para o outro, com dúvida já que o inimigo estava ao norte. Helos caminhou até as barricadas da direita, visualizando uma única coisa, as trincheiras. Escavações de dois metros de profundidade e dois de largura, uma estratégia incomum para aquela época, especialmente no ocidente; foram feitas durante a ocupação do distrito pela Resistência.

E Helos estava certo, uma trilha de soldados caminhavam sutilmente pela trincheira, reaproveitando a estratégia que tomou Thalber para recuperá-lo de vez. Vinham da grande floresta ao norte e, enquanto os inimigos se distraiam, penetraram o lugar.

— Estou tão animado! — Um rapaz otimista tomava a dianteira junto a outros soldados. Era um jovem de uns quinze anos. Tinha cabelo preto e olhos grandes e castanhos. Parecia animado com sua primeira grande missão.

— Não faça nada desnecessário daqui pra frente, Pietro. — Continuou um homem, logo atrás dele. Tinha olhos e cabelos puramente negros, pele branca e leves traços orientais, aparentemente mestiços. Usava um longo manto e escondia seus pulsos com esparadrapos.

— Tá, tá! — respondeu o garoto.

— Não tá muito silêncio? — indagou a jovem Solastra, preocupada com alguma coisa. Os tiros cessaram, e as explosões também. — Será se Dylan está bem?

— Ahh, tanto faz aquele bode! Ele não morre nunca. Vi pessoalmente aquele diabo arrastando cidades, junto comigo, é claro. — O ruivo, também presente na reunião de outrora, estava logo atrás da jovem Solastra, com um bafo forte de álcool. Tirou uma pequena garrafa da alça e começou a beber o que provavelmente era mais vinho.

— Ei, solte isso! Estamos em campo de batalha, você é o Titã Encouraçado! Não pode ficar bêbado, não aqui! — disse a garota, virando-se para trás, tentando tomar a garrafa dele.

— Ah, cai fora! Não me enche... isso me inspira. — respondeu o homem, empurrando a bela garota para trás. A mulher rangeu os dentes, ia avançar nele quando de repente...

Um barril de pólvora, já com o pavio prestes a estourar, caiu logo atrás do ruivo...

E uma grande explosão acontece naquela trincheira apertada.