A mesa do castelo real estava cheia, com um banquete muito maior do que aquele trio poderia comer, e numa mesa gigante, muito mais do que a família Fritz precisava.

O jovem rei visivelmente estava diferente, o cabelo estava mais bem cortado e o fardo da coroa já dava sinais precoces de amadurecimento: seus olhos verdes ficavam mais fundos com o passar do tempo, assim como o de Karl Fritz. O cavanhaque loiro dava a sensação de que anos haviam se passado, e Karl II se tornou um verdadeiro rei.

Ingrid está calada, no outro canto da mesa. Desde aquele dia, ficou muito mais quieta e cabisbaixa, sempre guardando tudo para dentro de si. Seus fios de cabelos loiros estavam presos a um coque sofisticado, adornado por fios de ouro. A mãe, ao lado, também estava quieta – e não mudou nada.

— Senhor Karl Fritz, o representante Azumabito chegou. — disse a empregada da família, se aproximando elegantemente.

— Certo. Eu já estou indo. — Karl parou tudo que fazia, dando uma última garfada e limpando a boca com um guardanapo.

— Karl Fritz está morto. — interrompeu subitamente a mãe, quebrando o silêncio familiar — Chame-o pelo nome: Karl Dominic Fritz II. É quem ele é.

A empregada surpresa, respondeu com a cabeça e dobrou levemente a coluna, obedecendo.

— Não, Ster. Chame-me de Karl Fritz, é quem eu sou. — O rei disse, parecia estar provocando sua mãe. A situação estava tensa na família real. — Na verdade, avise aos jornais, estou tomando para mim o nome de meu pai. No futuro, os feitos dele serão esquecidos, e serei o primeiro e único Karl Fritz, o rei que parou a Grande Guerra dos Titãs.

Ingrid e sua mãe se incomodaram visivelmente, mas enquanto surpreendentemente a mais nova nada disse, a mais velha apertou com força o talher, rangeu os dentes e disse:

— Os seus feitos serão lembrados por afundar Eldia, você suja o nome do seu pai sendo o rei menos popular em eras e continua se orgulhando como se estivesse arrasando! Seu pai nunca apoiaria o que você está fazendo!

— "Karl Fritz está morto". — O rei repetiu o que sua mãe havia dito, e a mais velha se calou. Deu as costas e foi se afastando da mesa de jantar.

Karl Fritz continuou entre os corredores, deixando a família para trás. Muitas discussões familiares se tornaram frequentes nesse meio tempo, e o motivo é mais que óbvio. Suspirou fundo e continuou seu percurso, até que finalmente chegou ao salão e se sentou no trono real.

Acompanhado por soldados, a porta se abriu e um homem surgiu. Era alto, tinha vestes elegantes, um cabelo preto jogado para o lado e o emblema Azumabito marcado na manga de sua blusa. Como já era de se esperar, tinha olhos levemente puxados com traços orientais, e um sorriso contagiante.

— Já faz muito tempo, Karl. — disse, despertando um olhar surpreso e um sorriso de canto do rei.

— Eu não imaginei que seria você, Shinki. Há quanto tempo! — O Fritz se ergueu, cumprimentando o Azumabito como se já fossem conhecidos.

— Tem razão. Muita coisa mudou desde a nossa infância, e aparentemente está realizando todos seus sonhos, e eu fico feliz por isso. — O asiático pôs a mão nos ombros do rei — Mas suas atitudes estão refletindo em minha nação, e esse não é o mundo que sonhei ao seu lado, Karl. Temos muitos problemas a resolver.

Karl ficou calado. É verdade, na tentativa de criar um mundo que proliferasse, iniciou guerras paralelas que estouraram em Xing e agora em próprio território nacional, com os Tybur se unindo aos Becker. Respirou fundo, tinha os melhores estrategistas do continente – ou o que sobrou deles – consigo, e já estava disposto a continuar lutando.

— Não se preocupe, Shinki. Eu vou arrumar isso, eu juro.