Molly olhava para as pessoas nas ruas do taxi que estava enquanto mordia o polegar, era tão estranho voltar ao normal se é que ela poderia voltar a ser o que era antes do episódio com Sebastian Moran. Já havia recebido alta do hospital e lhe foi receitado apenas um remédio para a dor de cabeça que poderia afetá-la por um tempo. Ela sentiu uma mão quente sobre a sua e seus olhos se encontraram com o de Sherlock, ele parecia entender exatamente o que se passava pela cabeça dela e fez uma tentativa de conforta-la apenas com aquele gesto. Quando o carro parou ele pagou o motorista e os dois desceram do carro em frente ao edifício onde Molly morava.

Você está nervosa – Sherlock disse enquanto a analisava.

Quer parar com isso? – a legista suspirou – não é legal ficar me deduzindo agora.

Como posso saber o que tenho que fazer se não analisa-la? – ele levantou uma das sobrancelhas.

Cala a boca – Molly disse quando viu um sorriso brotar dos lábios dele pois sabia que ela não tinha resposta para aquilo.

Não precisa se preocupar – o detetive segurou nos ombros dela os apertando de leve – eu estou com você, se isso fizer diferença.

Faz sim – Molly sorriu e tocou uma das mãos dele – estou pronta vamos lá.

Enquanto subiam de elevador até o andar do apartamento de Molly estavam em silêncio. Sherlock queria tornar a volta dela para casa, para sua vida normal, algo prazeroso com uma sensação de vitória e alívio. Ele sabia que ela estava preocupada de não conseguir voltar ao normal depois de tudo o que fez. A maior preocupação de Sherlock era de ela não conseguir esquecer de quando matou algumas pessoas a mando de Moran.

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Jane estava acompanhando John até a casa dele e então o ajudou a descer do carro em direção a sua casa. Ao abrir a porta Rose correu e pulou no colo do pai que a abraçou forte sentindo todo o conforto que ela trazia para ele. Sra. Hudson estava lá também e beijou o rosto do Watson.

Seja muito bem vindo – Sra. Hudson disse.

Obrigado – John sorriu só queria aproveitar a folga ao lado da filha.

Vou até o mercado comprar leite que acabou – Sra. Hudson pegou seu casaco e saiu pela porta.

Bom tudo acabou bem e eu espero que vocês demorem para pegar outro caso – Jane disse enquanto colocou água para ferver.

Conhecendo o Sherlock como conheço amanhã ele vai estar entediado procurando outro caso – John riu lembrando do amigo.

Bem agora que Molly e ele estão juntos pode ser que demore um pouco não? – Jane sorriu travessa.

Pode até ser, mas eu não acho não – o Watson começou a brincar com a filha enquanto Jane os observou.

Ela queria fazer parte daquela família, não substituindo Mary, mas sim conquistando seu próprio lugar ao lado de John. Ela sentia que ele correspondia seus sentimentos só que ele nunca havia tentado sair com ela ou algo do tipo era como se alguma coisa o impedisse.

John – a loira se aproximou.

Sim? – ele disse e sua atenção se voltou para ela.

Que tal se nós dois saíssemos juntos para jantar hoje à noite? – Jane resolveu ser direta antes que perdesse a coragem.

Um jantar? – John repetiu.

Um encontro – Jane retrucou e desviou o olhar constrangida, ela queria muito aquilo.

John arregalou os olhos surpreso com as palavras dela e um tanto assustado. Levantou rápido do chão e andou de um lado para o outro visivelmente desconfortável e Jane notou isso e sentiu que ele estava relutante.

Jane eu – o Watson a encarou – desculpe, mas eu não posso sair em um encontro com você.

John pegou Rose no colo e foi para o quarto da pequena deixando Jane na sala com uma expressão triste e decepcionada, ela não poderia mais ficar ali. Pegou sua bolsa e seu casaco e saiu pelas ruas de Londres procurando um refúgio e ela sabia para onde deveria ir e seus pés a levaram até lá.

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Senhor Moran – Mycroft disse enquanto entrava na prisão.

Sebastian estava na prisão de segurança máxima na qual Mycroft tinha acesso devido a sua rede de contatos. Não era um problema para ele ir até lá e ter acesso aos prisioneiros e o homem à sua frente parecia destruído.

Mycroft Holmes – Sebastian disse enquanto soltava uma gargalhada – tão rápido?

Devo dizer que o fracasso em derrotar meu irmão o afetou – o Holmes mais velho disse olhando cada detalhe do outro.

Então me diga – Moran ignorou o comentário – o que o traz até aqui?

Você e Moriarty tinham uma proximidade – Mycroft tirou uma agenda e caneta do bolso – eu quero os nomes dos antigos membros maiores da rede de Moriarty.

E por que eu os daria a você? – Sebastian se inclinou na mesa para olhar nos olhos dele.

Sugiro que me ajude porque não tem mais nada a perder – Mycroft suspirou – para um homem que já perdeu tudo estou lhe dando uma chance de obter benefícios.

Quer me presentear como fez com Eurus? – Sebastian sorriu de canto estava adorando ver a veia que pulava do rosto do Holmes quando cutucava-o.

Aceita ou não? – Mycroft se controlou.

Sebastian sorriu e então assentiu com a cabeça porque Mycroft estava certo o que mais ele poderia perder?

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Molly respirou fundo quando girou a chave na fechadura da porta de sua casa e ao destrancá-la girou a maçaneta. Tudo estava no mesmo lugar do jeito em que ela havia deixado antes de sair de férias, seus livros, roupas, louças. Sherlock analisava o local procurando alguma ameaça visível, mas tudo parecia normal.

Nem parece que aconteceu tudo aquilo – Molly disse tocando o balcão da cozinha – é como se meu apartamento nem imaginasse o que eu passei.

Sherlock sorriu, naquele momento não havia muita coisa que ele poderia fazer a não ser estar ali para ela. Molly sentiu seus olhos marejados quando viu a agenda que estava em cima de sua mesa de centro na sala, como aquilo foi parar ali? Caiu de joelhos enquanto chorava copiosamente.

Molly – Sherlock a abraçou e notou a agenda lembrando do conteúdo dela.

Porque eu sei que apesar dos trabalhos que faz, você não mata inocentes – ele a analisou – você anda com o celular e um caderno com anotações e suponho que sejam de suas vítimas, todas as coisas ruins que fizeram e isso torna mais fácil para você puxar o gatilho. Senso de justiça.

Não foi culpa sua – o Holmes pegou a agenda e a jogou para longe da vista dela – ele mexeu com sua mente e te fez fazer essas coisas.

Mas que diferença isso faz? – ela apertou mais Sherlock contra seu corpo – eu ainda me lembro de cada um que eu matei e saber que eles eram pessoas ruins não faz eu me sentir melhor.

Molly por favor – Sherlock a olhou nos olhos – você nunca mataria alguém eu sei disso todos sabem e você também sabe, quem os matou foi Kate e não você.

Mas e se ela for parte de mim? – a legista fechou os olhos lembrando de tudo aquilo.

Se ela for uma parte sua então você sabe que ela apenas protegeria seus amigos e família – o detetive encostou sua testa na dela – eu sei quem você é então você não pode duvidar da minha palavra já que eu sempre estou certo.

Molly riu do último comentário dele e aquilo era de fato verdade. Ela não iria deixar Moran estragar sua vida já bastavam os últimos meses e se for contar eles só estavam ali mesmo porque tudo tinha acontecido e ela se sentia mais forte e a altura do homem à sua frente.

Que tal pedirmos comida? – Molly sussurrou enquanto Sherlock acariciava seu rosto.

Claro – ele disse e aproximou seus lábios lentamente dos dela.

Suas respirações estavam perto uma da outra e o roçar de seus lábios fez com que o corpo de Molly estremecesse enquanto Sherlock descobria um mundo novo de sensações com a legista. Sempre achou essas demonstrações de afeto uma tolice, mas fazia alguns dias que apenas sonhava em ter os lábios de Molly colados nos seus e dessa vez ele comprovou que a sensação era melhor vivida do que sonhada. Ele inalou o perfume dela que tanto sentia falta e a puxou pela nuca colando seus lábios enfim. Molly era quente e ele adorava a sensação de beijá-la e quando aprofundaram o beijo com suas línguas sentiu seu corpo todo responder aos toques de Molly, quando ela capturou seus cabelos cacheados em suas mãos Sherlock se sentiu dominado pela mulher a sua frente. As mãos dele agarraram a cintura dela com força e a legista sentiu o quanto aquele homem tinha controle sobre ela e estava tão feliz em estar ali com ele, com o homem que amava.

Que tal hambúrguer? – Molly disse enquanto tentava recuperar o fôlego.

Eu vou ligar – Sherlock sorriu animado por estar em uma nova fase de sua vida e descobrir tudo aquilo com a Hooper estava sendo mais do que satisfatório.

A campainha do apartamento tocou e os dois se olharam. Já estava tarde e não esperavam companhia então aquilo os deixava em estado de alerta. Sherlock fez sinal para Molly ficar para trás e ela pegou uma faca na cozinha ficando atrás da porta enquanto Sherlock a abriu de uma vez só assustando a loira.

Oh meu Deus! – Jane deu um grito ao ver Molly com uma faca.

Jane – Molly respirou fundo e guardou a faca.

O que pensam que estão fazendo? – a loira entrou no apartamento.

Estar preparado é um pré-requisito para a vitória cara prima – o Holmes estreitou os olhos para encará-la – porque não está na casa do John?

Bem – Jane estava com a expressão triste e estendeu a sacola com comida para Molly – eu trouxe comida e pensei em passar uma noite das meninas com a Molly se não se importar primo.

Hum – Sherlock olhou para a sacola e para Molly – não me oponho á isso, mas Molly podemos ir no seu quarto um minuto?

Claro – a legista estranhou mas assentiu – Jane tem pratos no armário e vinho também.

Jane assentiu e tratou de arrumar as coisas e Sherlock fechou a porta do quarto quando Molly entrou.

O que foi? – Molly estava confusa com a atitude dele.

Você não notou é obvio – Sherlock suspirou – ela está fugindo do John.

Por que ela fugiria do John? – a legista sentou na beira da cama para encará-lo melhor.

John deve ter feito algo pra desencorajar a afeição dela por ele – Sherlock andou de um lado para o outro – ao julgar a face triste e o restaurante de onde comprou a comida que foi o primeiro que encontrou no caminho do seu apartamento, ela estava desesperada por uma desculpa para não passar a noite lá e também porque ela não trouxe roupas veio apenas com a do corpo.

Sherlock – Molly fechou os olhos os esfregando – para com isso tá bem? Ela vai me contar tudo isso agora você estragou tudo.

Como assim estraguei? – ele estava confuso.

Vai pra casa que eu resolvo isso – Molly o empurrou para fora do quarto – dê tchau para a Jane e até mais.

Mas eu – Sherlock pegou o casaco que Molly lhe entregou e quando se deu conta estava do lado de fora do apartamento – Molly.

Tchau Sherlock – Molly sorriu e piscou para ele fechando a porta.

Mulheres – o detetive balançou a cabeça e foi rumo ao 221B.

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Sra. Hudson volta para a casa do Watson com as compras do mercado. Viu o silêncio na casa e tratou de ir procurar por John. Passou no quarto de Rose e viu que a pequena já dormia como um anjo. Quando foi até o escritório viu que John estava sentado em sua cadeira olhando pela janela com um copo de Whisky na mão.

John – ela atraiu a atenção dele – onde está Jane?

Eu não sei – ele encarou a mulher e sorriu fraco.

O que aconteceu? – Sra. Hudson sentou na cadeira a frente da mesa onde ele estava.

Eu não sei – ele fechou os olhos – eu só, ela estragou tudo querendo ser mais que uma amiga.

E o que tem de mal nisso? – Sra. Hudson disse firme – você é um homem adulto e solteiro e ela uma mulher livre e desimpedida e é obvio que os dois sentem algo um pelo outro.

Eu não posso – John sentiu seu coração se apertar.

Por causa da Mary? – Sra. Hudson estava se controlando para não dar uma bronca nele – por Deus John Watson o que mais a Mary iria querer era que você e Rose fossem felizes! Não ponha as suas inseguranças na desculpa de que Mary é o problema.

John arregalou os olhos e entendeu o que estava acontecendo. Mary não era o problema, mas sim ele. John sabia que ele que estava com medo e era mais fácil dizer que não podia seguir em frente devido a memória da mãe de sua filha do que assumir que estava apavorado em ter outra vez alguém ao seu lado.

Obrigada Sra. Hudson – ele levantou da cadeira e deixou o copo em cima da mesa.

Onde você vai? – ela perguntou com um sorriso no rosto pois já sabia a resposta.

Eu vou atrás dela – John disse por fim e saiu de casa atrás da loira que conseguiu lhe devolver a fé no amor.