Acordei bem cedo pra dar tempo de tomar café antes de sair.
Hoje me mudo para o apartamento do meu irmão mais velho, Zayn. Vou para universidade e meu pai acha que é perigoso pra mim morar em um dormitório, como qualquer garota normal faria. Zayn cursa engenharia mecânica no mesmo lugar que eu vou cursar literatura. Ele é adulto o suficiente pra arrumar um emprego e pagar o aluguel do apartamento, mas ao invés disso prefere levar uma vida de folga e ser sustentado pelo meu pai.

Os meus pais estão eufóricos com o fato de sua filha mais nova estar saindo de casa, eles são as melhores pessoas que eu conheço, não medem esforços quando o assunto é Zayn ou eu. Não somos as pessoas mais ricas do mundo, mas somos donos de uma micro-empresa, temos uma boa casa, um bom carro, meu irmão tem uma moto e o meu pai paga o aluguel do apartamento onde agora eu vou morar, temos dinheiro o suficiente pra ter uma vida estável.

Colocamos minhas malas no bagageiro, entrei no banco de trás do carro, encaixei os fones nas orelhas e escolhi uma playlist na qual nomeei Recomeço. Não que eu não esteja satisfeita com a minha vida nessa pequena cidade, porque eu fui muito feliz aqui, tive um namorado legal, uma melhor amiga fantástica e uma família que me deu todo amor que eu precisava, apesar de um acontecimento que me marcou de forma trágica, eu fui muito feliz em RiverCity.

Zayn está em Seattle a um ano e meio, e desde então eu só vi ele uma vez, no feriado de ação de graças, quando ele veio nos visitar, ele estava diferente, mais adulto, não contei a ele sobre o acontecimento, e os meus pai decidiram que era melhor ele não saber, ou ele surtaria, porque ele tem essa coisa de irmão super protetor.

Quatro horas mais tarde meu pai estacionou em frente a um prédio de dez andares, desci do carro, estiquei as pernas, alonguei os braços e girei um pescoço de um lado pro outro, meu corpo estava começando a ficar dolorido por causa da viagem.

— Cadê o Zayn? Ele disse que estaria esperando aqui. — indagou minha mãe

— Estou aqui — Ouvi a voz rouca do meu irmão e me virei para olha-lo, ele aproximava-se de nós, os cabelos bagunçados e os olhos inchados, provavelmente estava dormindo. — Que bom ver vocês.

Ele abraçou meus pais e depois veio até mim, envolveu seus braços fortes e tatuados ao redor do meu pequeno corpo e me ergueu do chão. Zayn é totalmente o contrário de mim, com seus cabelos negros, olhos castanhos, e setenta quilos de sensualidade era uma versão masculina da minha mãe. Enquanto eu uma versão feminina do meu pai, possuo cabelos castanhos claros, olhos azuis e um corpo pequeno.

Pegamos minhas malas e subimos os vários lances de escadas que haviam até o oitavo andar, meu irmão pegou as chaves e abriu a porta, me espantei ao ver o quão limpo estava o lugar, não era de jeito nenhum como eu imaginava, esperava ver meias espalhadas pelo chão, cobertores desdobrados em cima do sofá, garrafas de cervejas vazias e poster de mulheres semi nuas nas paredes, mas era o contrário do que eu imaginava. Colocamos minhas malas no chão, próximo ao sofá e eu olhei ao redor pra observar melhor.

A sala grande possuía um sofá cinza de frente pra uma estante com uma televisão de tela plana e espaços vazios que em breve estaria com os meus livros, ao lado sul do apartamento havia uma janela com vista para o estacionamento, no lado norte um corredor, uma porta cinza, e a cozinha ficava ao lado da porta de entrada.

— O dinheiro que eu pago nisso aqui vale a pena, esse lugar é incrível — disse meu pai.

— Vocês querem tomar café? Tem uma padaria fantástica aqui perto, dá pra ir andando se quiserem. — perguntou Zayn.

— Isso são horas de café, Zayn? — perguntou minha mãe em tom de irritação e olhou no relógio de pulso — Meio dia, e você querendo tomar café.

— Eu acabei de acordar — disse meu irmão em tom defensivo.

Minha mãe deixou a bolsa sobre a mesa de centro e entrou na cozinha, Zayn jogou-se no sofá e eu me sentei ao seu lado, meu pai nos encarou com os olhos brilhando e sentou-se ao nosso lado.

— Vai ser uma droga viver longe do vocês — disse ele — Babi, você promete que vai ligar, sempre? E Zayn, prometa que vai ficar de olho nessa pequena, porque você sabe, né? Saímos por dois minutos e os lobos caem matando.

— Sei pai, vou ficar de olho, ninguém vai nem olhar pra ela.

Revirei os olhos. O Zayn era de longe o melhor irmão do mundo, quando eramos mais novos e estudávamos no mesmo colégio ele sempre me levava pra sair com ele e seus amigos, odiava me deixar sozinha em casa, por isso cresci no meio de gente mais velha, quando ele começou a sair com as garotas da cidade e me deixava em casa pra ir ao seus encontros a primeira coisa que ele fazia ao voltar era ir falar comigo e me contar sobre sua noite, ele é super ciumento e me lembro quando ele bateu em um garoto da escola quando ele disse que estava doido pra me levar pra cama. Amo o meu irmão e esse jeito de fiel escudeiro dele.

Minha mãe estava preparando o almoço, enquanto meu pai, Zayn e eu assistíamos televisão. Uma hora mais tarde quando o almoço ficou pronto, nós quatro nos sentamos no sofá e assistimos um filme, depois minha mãe lavou a louça e Zayn guardou.

— Barbara, vamos arrumar suas coisas no guarda-roupa? — perguntou minha mãe.

Assenti, meu irmão nos ajudou a levar as malas na direção do corredor, haviam duas portas de madeiras, a primeira Zayn indicou como o quarto dele e a segunda o quarto que seria meu, abri a porta, o quarto era grande, possuía uma janela na extremidade, uma cama de ferro preta com a cabeceira encostada na parede enquanto os dois lados ficavam livres, um criado mudo ao lado direito, um guarda-roupa grande branco com um enorme espelho na porta e o chão era coberto por carpete cinza chumbo.

Minha mãe e eu guardamos as minhas roupas, enquanto conversávamos, quando terminamos uma grande parte do guarda-roupa ficou desocupada. Voltamos para a sala, o dia lá fora ja estava chegando ao fim, o começo da noite aproximava-se, meu pai olhou para a janela e uma expressão triste tomou conta de seu rosto.

— Temos que ir, ou então vai ficar muito tarde, não quero dormir no volante — disse meu pai levantando-se do sofá. — Vamos Diane?

Minha mãe assentiu e pegou sua bolsa, Zayn e eu acompanhamos eles até o estacionamento, meus pais me abraçaram forte enquanto deixavam umas lágrimas escorrerem de seus olhos, sem me conter chorei também, ao imaginar que agora seria apenas Zayn e eu, ao imaginar que meus amigos mais fiéis estariam a quilômetros de distância de mim. Mas isso era preciso, o meu futuro dependia disso. Eles entraram no carro e eu via o carro ficando cada vez mais distante, até as luzes dos faróis se tornarem apenas pequenos pontos na fundo negro.

Zayn me abraçou e voltamos lado a lado para o apartamento, ele deitou-se no sofá, assistindo alguma coisa na televisão, eu estava cansada, havia acordado cedo e não dormi durante a viagem, avisei ao meu irmão que iria tomar um banho, caminhei para o quarto peguei um pijama, toalha e minha necessaire e fui para o banheiro que ficava ao lado da sala. Lá dentro era maior do que eu esperava ser, havia uma banheira, uma cortina de plástico ao redor do chuveiro, um espelho grande na parede próximo a pia e um armário em baixo dela. Liguei o chuveiro, despi minha roupa e entrei em baixo da água, lavei meu corpo, enquanto tentava imaginar como seria minha vida daqui pra frente, dez minutos depois desliguei o chuveiro, me enrolei em uma toalha, e abri a porta pra sair do banheiro.

Me preparava pra passar pela sala e ir em direção ao quarto, mas parei ao ver que havia um garoto na sala, e não era o meu irmão, corri de volta para o banheiro.

— Zayn — gritei, com a intenção dele vir correndo — Zayn, vem rápido.

Houve duas batidas na porta do banheiro.

— Que foi, Barbara? — perguntou assustado — Porra, quer me matar do coração?

— Tem alguém ai na sala, eu não sei como ele entrou — falei.

— Sai daí, preciso te explicar uma coisa — disse ele de maneira calma, abri a porta do banheiro e vi meu irmão parado em frente a ela, estava com os cabelos molhados e uma toalha ao redor da cintura, segurei firme a minha toalha ao redor do corpo e me coloquei atrás dele. — Esse é Justin, é um amigo meu. — Explicou ele.

Encarei o garoto que me olhava com um olhar de diversão, encarou meu corpo por cima da toalha, e deu um sorriso meio de lado, ato que me assustou.

— Babi, vai vestir uma roupa e volta pra cá, tenho que te contar uma coisa — Zayn disse e eu fiz, corri pro quarto, vesti um short jeans desfiado na barra, uma camiseta branca e penteei os cabelos e caminhei de volta pra sala. Zayn não estava lá, o garoto estava largado no sofá, eu da ponta do corredor o observei.

Ele não era muito alto, possuía pele branca, cabelos castanhos claros quase louro, olhos cor de mel, e lábios cor-de-rosa, era um lindo rapaz.

Zayn passou por mim e sentou-se no sofá ao lado de seu amigo, me encarou por alguns segundos e fez sinal com a cabeça pra eu me sentar, me aproximei lentamente e me sentei ao seu lado.

— Barbara, não fala nada, tá legal? Só escuta. Ele mora comigo — disse Zayn apontando para o garoto sentado ao seu lado.

Encarei meu irmão e meu queixo caiu, olhei em seus olhos, não dava pra imaginar meu irmão morando com outro garoto.

— Zayn, não acredito — falei num sussurro.

— Porra, não é nada disso que você está pensando, eu não sou gay — Zayn explicou e levantou-se do sofá, me encarou por alguns segundos antes de continuar. — Nós dividimos o apartamento, e ele me ajuda com o aluguel.

— Mas, e o dinheiro que o pai te manda? — questionei.

— Justin paga a metade, e eu a outra metade, o dinheiro que sobra eu uso pra outras coisas, tipo pra me divertir, ou pra pagar alguém pra limpar, entendeu?

Assenti, fazia sentido meu irmão querer dinheiro pra pagar alguém pra limpar o apê, porque desde que conheço, ele é uma pessoa que não liga para limpeza da casa.

Tudo bem, ele antes morava com esse amigo, mas agora eu estou aqui, eu poderia limpar tudo.

— E onde ele vai morar agora? — questionei.

— Como onde eu vou morar agora? — o rapaz falou pela primeira vez, o som de sua voz grave tomou conta da sala. — Vou continuar morando aqui.

— Você não pode morar aqui, eu estou aqui, agora. — falei séria.

— E eu estava aqui antes, então... — ele começou a dizer, mas de repente parou e olhou pro Zayn, — Cara, resolve ai, ela é sua irmã.

— Barbara, ele vai morar com a gente — meu irmão começou a dizer, e eu fiquei perplexa ao ouvir, como ele teria a coragem de me colocar no mesmo lugar que um estranho, — vai ser legal.

— Eu vou ligar e contar isso pro pai, ele não vai aprovar essa ideia de jeito nenhum — falei determinada, peguei o telefone sem fio que ficava em uma mesinha ao lado do sofá e comecei a discar o número da minha antiga casa.

Zayn aproximou-se de mim e puxou o telefone da minha mão, eu o olhei e ele me encarou, não havia sinal nenhum em sua expressão de que ele mudaria de ideia.

— Você não vai ligar pra ele, porque eles não chegaram em casa ainda, e quando tiver passado tempo o suficiente pra você ligar eu vou poder inventar uma mentira qualquer pra ele não acreditar em você — Zayn ameaçou. — Como por exemplo, dizer que você perdeu a virgindade na sua primeira noite aqui.

Recuei, eu não acreditava que no que havia acabado de ouvir, meu irmão mentiria sobre mim por causa de um amigo. Ele mudou, nos tempos mais antigo Zayn jamais faria isso, ele jamais colocaria alguém á minha frente. Senti uma lágrima escorrer do meu olho.

— Você mudou — falei e limpei com brutalidade a lágrima teimosa. — Você não era assim.

— Eu não mudei Barbara, mas você tem que entender.

— Tá, se ele vai ficar aqui, onde é que ele vai dormir? — Questionei.

— No quarto, segunda porta ao lado esquerdo do corredor — respondeu Justin, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Encarei meu irmão, ele me olhava sem dizer uma palavra sequer, então era isso, ele me colocaria no mesmo quarto que um amigo seu, ao imaginar isso, lembrei-me do que aconteceu comigo há um ano e meio atrás, e de repente fui dominada por uma sensação de náusea, Zayn confiava em seus amigos, colocaria a mão no fogo por eles, mas eu não, eu havia presenciado algo que me fizera confiar menos nas pessoas.

— Justin, dorme no sofá hoje, tá legal? Só até ela se acostumar — disse Zayn olhando meu rosto. — Barbara, pode ir pro quarto.

Levantei-me do sofá, e caminhei em passos lentos para o quarto, o chão de madeira do corredor rangia sobre os meus pés, abri a porta do quarto e entrei, quando me virei pra trancar a porta levei um susto ao ver que na fechadura não havia chaves. Onde meu irmão estava com a cabeça? Me colocar em um quarto sem chave, com um estranho qualquer na sala. Estiquei o edredom sobre a cama e me encolhi em baixo dele.

Eu queria dormir, tentar ignorar o que estava atormentando a minha mente, mas eu não conseguia esquecer o fato de que havia um dos amigos dos meus irmão deitado no sofá no comodo ao lado. Senti algumas lágrimas escorrerem pelos meus olhos, eu não conseguia relaxar, deixei um soluço escapar pela garganta e depois outro, quando me dei por contra estava chorando e fazendo muito barulho.

A porta do quarto se abriu, revelando meu irmão, ele aproximou-se da cama sentou-se na beirada, passou a mão de leve em meu rosto, com o polegar secou minhas lágrimas.

— Eu não mudei, Barbara — disse ele e tirou a mão do meu rosto, — vem comigo, vem pro meu quarto, mas só hoje, tá bem? — disse ele, segurou a minha mão, me ajudando a levantar da cama, me abraçou e me levou para seu quarto, me deitei em sua grande cama de casal, ele me cobriu com o edredom, e sussurrou próximo ao meu ouvido, — Na primeira semana é estranho ficar longe deles, mas você se acostuma.

Ele achava que eu estava chorando por saudades dos meus pais. Eu deveria contar ao meu irmão, ele entenderia o motivo de eu não querer que o amigo dele morasse conosco, e já estávamos longe de RiverCity pra ele tentar fazer alguma loucura.

Mas como eu abordaria esse assunto?

A última coisa que pensei antes de adormecer foi: Ele está aqui, agora, aquilo nunca mais vai acontecer, o Zayn me ama e vai me proteger, de qualquer coisa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.