Javert pensou em uma única pessoa antes de mergulhar no Sena em direção às trevas:
Éponine.
Éponine, e mais ninguém.
Ele pensou se ela sentiria sua falta. Pensou se ela alguma vez sequer percebera o quanto ele a amava.
Javert pensou se ela choraria por ele, mesmo não amando-o.
Seu maior arrependimento naquela vida vazia e sem significado fora nunca dar uma chance ao amor.
Fora nunca confessar seus sentimentos para a única mulher que ele uma vez amara.
Ele sempre estivera muito ocupado para pensar no amor e nas mulheres, e não tinha tempo para ambos. Sua carreira exigia demais. Era isso o que ele pensava.
E esse era mais um de seus arrependimentos naquela vida.
Passara sua vida perseguindo um ladrão que no fim lhe deixara viver, justo quando tinha a chance de acabar com sua vida em um beco escuro atrás das barricadas. E enquanto sua perseguição psicótica pelo prisioneiro 24601 procedia, Éponine escapava-lhe dos braços.
"Não", pensou ele, com os olhos fechados, as lágrimas a escorrerem por seu rosto. "Ela nunca foi minha. Ela nunca me amou."
A verdade era tão dura como uma das pedras no fundo do rio no qual o Inspetor estava prestes á mergulhar.
Mas ele tinha de encará-la.
Éponine nunca fora realmente sua. Exceto em seus sonhos e devaneios mais profundos que nunca se tornariam realidade.
Ela não o amava, os estudantes nas barricadas estavam vencendo a Revolução, mesmo que fosse por pouco tempo, e ele nunca conseguira de fato prender Jean Valjean. Então para quem, ou melhor, porque, Javert continuaria a viver?
Já não havia resposta para isso.
Provavelmente escreveriam sobre o cruel Inspetor Javert no futuro. Escreveriam sobre como ele fracassou, como nunca conquistou sua amada e como viveu uma vida insignificante e vazia. Os estudantes com certeza zombariam dele após sua morte, e a comemorariam.
"Eu sou a lei, e não se zomba da lei", murmurou ele para si mesmo antes de mergulhar em direção à um mundo de escuridão e trevas, onde não havia amor, compaixão ou felicidade.
E principalmente, não havia Éponine.
Éponine era seu mundo, e ele a deixara escapar.
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