She Looks So Perfect
Capítulo 6 - Shit destiny
Capítulo 6 – Shit destiny
Por fim, acabei atendendo o telefone antes que meu pai desligasse. Não podia deixá-lo esperando para sempre.
— Oi, pai! – disse, na minha melhor voz alegre, o que não foi muito difícil de conseguir depois da vista de Luke Hemmings e Ashton Irwin à minha casa.
— Oi, princesa!— ouvir a voz do meu pai depois de tanto tempo era relaxante e emocionante ao mesmo tempo. – Como estão as coisas por aí?
— Princesa não, pai! – reclamei, mesmo sabendo que não adiantaria de nada. E que quase podia visualizá-lo revirando os olhos. – Estamos cansadas, o fuso horário é de matar, aqui faz mais calor que no Brasil, mas estamos vivas, ainda.
Meu pai riu; eu tinha a capacidade incrível de sempre reclamar quando nos falávamos. Mesmo quando não era verdade, mas ele já estava acostumado comigo. Aliás, ele mesmo sempre me ensinou a nunca deixar de me expressar, diferente da minha mãe. Meu pai e meu tio me ensinaram a tocar violão e guitarra para que eu pudesse compor e baseando-me nos sentimentos e instintos. Minha mãe disse que se deve sempre ter uma máscara para esconder seus sentimentos na frente dos outros e não derramar uma lágrima por quem não merece. Então eu simplesmente aprendi um pouco com ambas as famílias.
— Aposto que Allison não compartilha de seus resmungos.— ele disse e eu olhei rapidamente para Allie.
Sentada no sofá e com o notebook no colo, estava me deixando assustada com sua expressão de maníaca, enquanto eu via a tela ligada no twitter e no seu site favorito sobre 5 Seconds Of Summer. Eu ri. Com certeza ela não compartilhava.
— É, ela está mais ocupada stalkeando uma banda aqui. – respondi, rindo.
Ele riu comigo; já tinha passado pela experiência assustadora de ser stalkeado por ela.
— Diga a ela que espero que esteja gostando da hospedagem. É simples, mas é o que eu já tinha aí em Sydney.
— Você está brincando, né, pai? Simples?! Isso aqui está parecendo mais uma mansão de Hollywood! – exclamei, olhando ao meu redor para os móveis modernos na grande sala de estar. – Só a sala deve ser maior que minha casa no Brasil!
— É exagerada igual sua mãe.— rimos. – Seu tio já passou aí para ver como estão indo?
Revirei meus olhos. Meu pai era desleixado, mas preocupado.
— Sim, saiu já tem um tempo já. – ouvi um barulho de fundo, que eu quase tive certeza de reconhecer como um ônibus. Mais especificamente o ônibus da banda. A banda tinha uma mania de só viajar pela Europa de ônibus. Diziam ser melhor para apreciarem vistas e tudo mais. – Onde você está? – perguntei.
— No ônibus, indo para Veneza, filha. – ele respondeu e eu ouvi um grito a fundo. – Phill está mandando um abraço para você.
Abri um sorriso. Fazia um tempo que não via meu padrinho.
— Mande outro. – alguns segundos de silêncio depois e eu finalmente me toquei de um detalhe importante. – Pai, espere... Você já fez o show de Florença?
— Já, por quê?— ele respondeu, um leve toque de confusão em seu tom de voz.
— Mas ele não seria no dia 22? – perguntei, franzindo o cenho em desconfiança.
— Querida, ele foi ontem.— ele disse, calma e tranquilamente.
Arregalei os olhos e dei um pulo do meu lugar à mesa da cozinha. Não, não, não! Não podia ser! Corri até o calendário digital pendurado ao lado da geladeira e chequei o dia de hoje. A data de vinte e três de junho brilhava no visor na luz verde, seguida do horário em vermelho – meio-dia e quarenta e nove – mostrando que conversamos durante a manhã mais do que o planejado. Droga, droga, droga!
Tirei o celular de perto do ouvido apenas o suficiente para gritar. – ALLISON, LARGA A DROGA DO NOTEBOOK E VAI SE VESTIR, TEMOS UMA FILA PRA ENFRENTAR!
— Desculpe, papai, tenho que ir! – disse, de volta ao celular.
Ouvi-o rindo do outro lado. – Esqueceu do show que você iria, não é?
Corri escada acima, por onde Allie acabara de passar.
— É, algo por aí. – respondi, equilibrando o celular no ombro e abrindo uma das malas de roupas que eu tinha ao lado do guarda-roupa embutido.
— Seus ingressos já estão reservados, é só dar seu nome completo na entrada VIP.— papai disse, e eu engoli em seco.
Se fôssemos na área VIP, eles nos reconheceriam. E era tudo o que eu menos queria.
— Papai, eu disse que não ia precisar me arranjar isso.
— Um presente de boas-vindas, princesa, aproveite. — e desligou, simples assim.
Bufei, mas mesmo assim corri até o quarto de Allison, do outro lado do corredor.
— Me empresta sua maquiagem depois? – perguntei a uma Allie confusa em meio a suas roupas espalhadas pelo quarto.
— Tudo bem, mas pra quê tudo isso? – ela perguntou.
— Hoje é o dia do show do 5SOS, lembra? Aquele que a gente planejava ir?
Allie arregalou os olhos. – Corre, negada! – e correu para seu banheiro.
Eu ri, voltando ao meu quarto para me ajeitar e pensar em algo para não nos reconhecerem.
~*~
— Charlie, me explica como vamos entrar pela área VIP e passar despercebidas? – Allie falou, pela décima terceira vez só naquela hora.
Bufei, pela décima terceira vez só naquela hora.
— Allison, eu já disse que tenho um plano! – disse novamente, já sentindo a adrenalina percorrendo meu corpo.
Ficar quase duas horas na fila não era para qualquer um. E era ainda fila da área VIP. Eu teria pena da fila quilométrica para a pista comum se eu não estivesse tão nervosa. Não apenas por ser o primeiro show que eu ia do 5 Seconds Of Summer, mas porque esse fato se tornou uma questão pessoal. Quando descobri que minha mãe me mandaria para a Austrália, não para a Holanda, eu precisei fazer uma nova pesquisa. E nessa pesquisa, eu descobri que a banda, já famosa pela Oceania e parte da Europa, iria fazer um show na Acer Arena, em Sydney, ainda naquele mês. Então implorei ao meu pai que me mandasse alguns dias antes do show. O que eu não esperava era conhecer os integrantes antes do show que marcaria minha vida. E que eu seria obrigada a esconder que sou fã e minha árvore genealógica.
— Claro, porque duas perucas serão de muita ajuda, Mckinnon! - ela resmungou.
— Olha, Benson, estou gostando disso tanto quanto você, mas não há nada que posso fazer se os conhecemos e seria melhor não contar quem sou. – exclamei de volta.
— Me desculpe, eu sei que é complicado, mas às vezes complica demais. – ela torceu a boca em sinal de desgosto.
Às vezes eu esqueço que acabei arrastando minha melhor amiga para isso também.
Suspirei.
— Tudo bem, eu só não quero brigar com você. – sorri fracamente.
De repente Allie abriu um sorriso largo, um brilho incomum nos olhos.
— Chega de depressão, vamos ver esses australianos no palco! – ela gritou, chamando a atenção de pelo menos vinte pessoas próximas a nós.
E a expressão delas não foi de muito agrado, mesmo as que estavam na fila para ver o mesmo show.
— Credo, as brasileiras são mais animadas que isso. – Allison disse, franzindo o cenho de desgosto.
Apesar de concordar, acabei rindo da birra dela.
— Vamos, praga, é a nossa vez. – disse, ainda rindo e a puxei pelo cotovelo até o segurança que, meus deuses, era enorme.
— Ingressos? – ele pediu.
E agora?
— Deixamos comprados e reservados no nome de Charlotte Mckinnon Young. – eu disse, rezando para que meu pai estivesse certo.
Ele arqueou uma sobrancelha, mas mostrei minha carteira da identidade e ele checou as informações e fotos numa prancheta que tinha em mãos e fez sinal para que seguíssemos. Suspirei, aliviada, e segui adiante com Allie.
— Pensei que eles não nos deixariam passar. – ela comentou, enquanto andávamos pelos corredores.
— Eu também pensei. Agora precisamos achar um banheiro. – eu disse, arrastando-a pelos corredores dos bastidores, à procura de um banheiro para colocarmos as perucas.
— Melhor mesmo. – ela concordou.
E continuamos a andar, até que ouvimos uma voz na virada do corredor.
— É sério, cara, podia jurar que ouvi a voz delas aqui. – era a voz do Luke.
— Mas você mesmo disse que elas não pareciam ser nossas fãs.— não tinha certeza, mas essa me pareceu ser a voz de Calum.
E elas pareciam mais próximas do deveriam.
— Eu sei, mas posso ter me enganado com elas. – Luke respondeu, e eu pude aprender algo importante.
Aprendi como o destino podia ser filho da puta.
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