She Is The Only One

Capítulo 3 - Meeting Valerie


Kurt chegara cansado do árduo dia de trabalho que tivera. Meio que se arrastando, jogou as chaves na mesa e caiu com tudo no sofá. Tirou o tênis preto e o suéter, já que em seu apartamente fazia mais calor que lá fora. Logo fechou os olhos e ficou meditando por alguns minutos, até se lembrar que precisava de um bom ''banho de uma hora'', para recarregar as energias. Respirou fundo e andou até o banheiro, onde foi se despindo aos poucos. Porém, sua mente estava longe... Havia algo que o perturbava, que o preocupava. Na verdade, seu hábito de se preocupar com as coisas não era nenhuma novidade para ele, mas a sensação que sentia era diferente. Estava talvez mais animado, mais estimulado... E nesse clima de não conseguir definir o que sentia, do nada uma letra já estava fluindo em sua mente.

''My heart is broke, but I have some glue... Help me inhale and mend it with you.''

(Meu coração está quebrado, mas eu tenho um pouco de cola... Me ajude a inalar e a consertá-lo com você.)

Essa frase ficou martelando em sua cabeça e por mais que nada além dela fluisse, Kurt terminou o banho e escreveu tudo num papel. Logo pegou o violão para criar uma melodia e até ficou uns minutos tentando, porém, lembrou-se de Valerie. Lembrou o convite que ela tinha feito a ele, mas devido à timidez, pensou em não ir. Estava com receio de aparecer lá, de parecer inconveniente... Entretanto, pensou em ser gentil e finalmente resolveu ir até lá.

Minutos depois...

Kurt se encontrava na porta do apartamento dela e resolveu apertar a campainha.

- Já vou! - Ouviu-a falar de lá de dentro.

Valerie olhou pelo olho mágico e deu um breve sorriso, secretamente. Correu até a mesa, recolheu a chave e a revirou na porta.

- Oi Kurt... - Disse ela com uma toalha pendurada no ombro direito.

- Oi... Por acaso vim em má hora?

- De jeito nenhum, acabei de tomar banho... Por favor, entra.

Ela deu espaço a ele que logo se sentou no sofá. Observou discretamente a sala de estar e esperou que ela se sentasse também.

- Foi trabalhar hoje? - Disse ela, secando os cabelos negros na toalha.

- Infelizmente. - Os dois riram. - Fiquei o dia todo ensaiando num estúdio... Eu definitivamente preciso relaxar.

- Já que você falou em relaxar... Aceita uma cerveja? Tá no ponto... - Ela sorriu docemente.

- Claro...

Valerie se levantou e logo trouxe as cervejas para os dois.

- E você, foi pra livraria?

- Se você quis dizer inferno... Sim, eu fui pra lá. - Kurt achou graça da piada. - É sério... Chegou uma leva de livros novos lá e... Aquilo tá enchendo de piralho...

- Pelo menos eles estão atrás de um livro... - Disse ele depois de tomar um gole da cerveja.

- Um livro de sacanagem? É o mesmo que nada... - Ele não conseguiu prender o riso. Nem ela.

Conversa vai, conversa vem, e aos poucos os dois se descobriam muito parecidos entre si. Ambos compartilhavam de mesmas opiniões, mesmas observações sobre o mundo... Kurt descobriu que ela era apaixonada por filosofia, cinema, artes, música... E foi na música que ele fez outra descoberta sobre ela.

- Vem comigo. - Disse ela, já se levantando.

A sala de estar era um tanto grande de mais para uma pessoa só e no canto esquerdo havia um lindo e reluzente piano vermelho. A iluminação da sala fora planejada e havia uma faixa de luz acima do piano, tornando-o ainda mais bonito.

- Nossa, eu nunca vi um piano vermelho... Ele é lindo. - Disse Kurt, maravilhado.

- É lindo mesmo... Quando o vi foi paixão a primeira vista. - Discursou ela deslizando a mão sobre o instrumento.

- Admiro muito quem consiga tocar um instrumento desses...

- Quer aprender uma música?

- Como assim?!

- É sério... Senta aqui.

Ela colocou a lata de cerveja sobre o piano e levantou a tampa do mesmo. Ficou um tempo explicando o que Kurt deveria fazer... É claro que ele errou várias vezes, o que provocou várias risadas de ambos.

- Kurt... Insista, homem... Essa é a música mais simples, até uma criança de seis anos consegue tocar...

- Eu não te dei permissão para me zoar desse jeito... - Os dois gargalharam juntos.

- Calma, é só questão de paciencia.

Ficaram mais um bom tempo naquilo e ele finalmente conseguiu tocar.

- Até que em fim... - Ele ria de si mesmo.

- Eu sabia que um dia você iria conseguir... - Zombou ela.

Depois que Valerie se levantou para atender o telefone, ela mostrou a coleção de discos que tinha. Ele mais uma vez ficou maravilhado. Aliás, tudo o que se relacionava à música o deixava assim.

- Sinto dizer isto, mas estou com inveja de você... - Brincou ele, tendo um raro disco do Jimi Hendrix nas mãos.

- E você que tem os melhores hits de Janis Joplin?

- Tudo bem, mas... Você vai ter que me emprestar este disco.

- Ok, ok... Como quiser.

Kurt olhou para o charmoso relógio de teto que estava na sala.

- Já está um pouco tarde... Eu já vou indo... Amanhã tenho compromisso bem cedo.

- É uma pena, mas eu também tenho que acordar cedo, infelizmente...

- Então... Obrigada pela cerveja.

- Que nada, quando quiser beber um pouco é só tocar...

Kurt levantou e abriu a porta.

- Boa noite... - Valerie acenou para ele.

- Boa noite.

Kurt entrou em seu apartamento ainda escuro e calmamente procurou pelo interruptor. Andou até a poltrona e ligou a tevê. Tinha o controle na mão, porém ele não estava ali. Sua mente ainda estava no apartamento ao lado e, a medida que lembrava de uma coisa ou outra que falou com ela, um sorriso se formava em seus lábios.