Shadows

Capítulo 1


Não. Aqui não, cheguei longe demais pra falhar aqui. Aquela espada flamejante apontada para o meu coração era a única coisa no mundo que podia me derrubar, mas provavelmente você não deve estar entendo nada.

Meu nome é Nicholas, mas ninguém, ninguém mesmo me chama assim. Me conheça então por Nikki. Eu nunca tive nada na vida que fosse normal, nem eu mesmo era normal, ou o que chamavam de normal. Faça minha imagem: Alto, magro e extremamente branco, cabelos na altura do ombro muito lisos e oleosos de cor preta, um preto tão preto que chegava a beirar o azul, assim também como os olhos, tinha um começo de barba no queixo que não crescia muito, no auge dos 17 anos. Faltava pouco mais de dois dias pros 18 anos e eu não precisaria voltar praquele maldito abrigo nunca mais na minha vida, eu não sou e nunca fui nenhum revoltado por não ter uma mãe ou um pai e morar num abrigo sujo nos arredores de Nova York, tinha tudo pra ser viciado, revoltado ou qualquer coisa assim, mas não, não era. Eu queria provar pra minha mãe, que eu não conhecia, que eu era melhor que isso.

Um dia antes dos 18, enfim. Sai do abrigo com uma mochila nas costas, com algumas roupas que gostava mais e sorrindo, cara, eu podia andar livre e fazer o que quisesse nessa vida. Ia procurar um apartamento do governo para morar, arranjar um emprego e subir aos poucos nessa vida. Andei um pouco pelas ruas, e eu era livre pra fazer o que quisesse. A luz queimava meus olhos, o que nunca tinha acontecido, acho que era de tanta felicidade acumulada no peito, queria poder gritar algo como “SOU LIVRE ENFIM!”.

Andei mais uns metros, a luz começou a queimar meu rosto bem mais, coloquei o capuz por cima da cabeça, pra bloquear a maioria dos raios solares. Isso se repetiu por algumas horas, eu só queria saber de andar. Entrei em um bar a noite, já sem luz, queria beber sozinho pra comemorar meus 18 anos. Sentei-me junto ao balcão e pedi uma simples cerveja, fiquei olhando o relógio no meu pulso, esperando meia noite pra poder abrir. Sorria feliz às 23:59, faltava pouco, e... MEIA NOITE! Ri sozinho e abri a cerveja, tomei o primeiro gole e uma garota sentou ao meu lado, ela não era uma garota qualquer, ela era A garota.

Vamos fazer a imagem dela também: estatura média, um vestido branco até metade das coxas, e que coxas... cabelo loiro que caia em perfeitos cachos até metade das costas, olhos verdes, a pele dela parecia ser feita de nuvens, as unhas estavam pintadas como unhas de noivas. –Oi...- ela disse, e a voz dela soava como de anjos. Nunca ouvi um anjo falar, mas deve ser parecido.

-Ahn, oi.- Disse engasgando com a cerveja, cara, não era nada normal uma garota delas em um bar, e menos ainda falando comigo. Era engraçado, ninguém mais no bar olhava pra ela, e estava lotado de caminhoneiros estranhos.

-Dezoito então?- OK, ISSO foi estranho, eu juro por tudo que nunca tinha visto aquela garota antes na minha vida. Olhei estranho pra ela, matei a cerveja.

-Eu conheço você?- Perguntei, levantando da cadeira e pegando meu casaco. Não sei, aquilo tava muito esquisito.

-Não, mas eu te conheço, Nikki. Espero que tenha aproveitado bem seus dezoito anos de vida, acabou aqui, filho das trevas!- Ela vinha andando em minha direção como uma modelo, e me dava vontade de ficar parado ali pra ela chegar até mim, fiquei. Ela ergueu dois dedos, como se fizesse uma arma. Vi algo brilhando na ponta de seus dedos, minha sombra se soltou do chão e pulou na minha frente, desviando o que parecia ser um tiro de luz. Eu não tinha bebido demais, juro.
Os caminhoneiros corriam assustados do bar, a garota estava virando um garoto. Um homem loiro, de cabelos longos e presos num perfeito rabo de cavalo, usava uma armadura prateada, doía olhar para ela, os olhos continuavam verdes, mas eram um verde opaco. Minha sombra continuava na minha frente, me protegendo, eu só podia estar sonhando.

-Não adianta, ele é meu!- O homem de armadura lançou outro tiro daqueles, novamente desviado pela minha sombra. Me pus a correr, mas senti minha sombra debaixo de mim e abrindo um buraco. Tudo foi ficando escuro, senti um pedaço do meu cabelo queimando com outro tiro de luz. Eu não sabia o que estava acontecendo, eu não sabia mesmo.