Shadow Trinity

Espada de aluguel


–Ei, elfo. Acorda aí, estamos chegando.

Galadrei coça seus olhos e levanta o seu tronco, olhando para o céu azul e ensolarado, e embora incomodado por ter sido tirado de seu sono, estava bastante feliz por ter finalmente chegado ao seu destino.

A maior parte do incômodo era mais pelo fato do cocheiro ser um anão. Havia algo na voz deles que o deixava nervoso. Provavelmente não na voz, mas algo relacionado a eles serem anões em geral. Mas pelo menos já estava acostumado com aquele.

Afinal, passou muito mais tempo do que havia planejado na sua companhia. Quando pegou aquele trabalho, não achava que seria tão longo. Havia saído de Deheon fazia quanto tempo? Três semanas? Um mês e meio? Mais? Não conseguia lembrar. Ele devia ter seguido os conselhos de seu empregador, Lauffrey.

Se quisesse ter algum lucro para ele mesmo, teria de dormir na rua no caminho de volta, ou ir andando pelas estradas entre as cidades, e como em ambos os casos ele provavelmente seria morto, roubado ou ambos, isso estava fora de questão.

–Ah, são só duzentas e trinta milhas! Não pode ser tão longe assim.

–Galadrei, você sabe muito bem que você não é bom com números.
Dizia o halfling rechonchudo. Lauffrey era um homem de meia idade, e tinha muita experiência com negócios e administração. Galadrei trabalhava na sua agência de mercenários já faziam dois anos.

–Eu não preciso ser bom com números para saber que isso vai nos dar lucro. São quinhentos tibares. Quinhentos! Com o dinheiro que sobrar, eu acho que até consigo ficar de folga por umas duas semanas.

–Até que poderia, mas pedidos tão caros vindos de tão longe geralmente são muito perigosos. Você pode não ser o mais inteligente, mas ainda é o mais competente por aqui. Você tem noção do prejuízo que eu teria se você morresse?

Apesar de ofendido pelos repetidos insultos ao seu intelecto, Galadrei mantinha o entusiasmo.

Tenho sim. E é por isso mesmo que você vai mandar o seu melhor, mais competente e mais bonito mercenário para cuidar desse trabalho tão absurdamente perigoso- disse o elfo, em um tom sarcástico.

–Não, eu não posso deixar você fazer isso.
Essa decisão foi alterada depois de uma hora e meia de insistência constante do elfo.

Se bem que agora ele desejava não ter nascido tão teimoso.

Galadrei aproveita a posição da carroça no topo de um morro para observar o lugar onde chegava, e não era uma cidade como havia pensado.

Estava mais para uma vila grande. Seus muros eram de madeira com estruturas de pedra segurando os troncos, o que contrastava com a grade levadiça do portão. Atrás do muro conseguia ver um grande templo de pedra com vitrais amarelos e brancos.

Uma igreja de Azgher? Não sabia muito sobre deuses, mas achava o esquema de cores próprio para o deus do sol. A igreja se encontrava no centro da cidade, com várias casas ao seu redor. Não pôde observar mais.

A carroça diminuía de velocidade, havia chegado.
Reunindo seus pertences, checando sua bolsa de moedas e encaixando a bainha da espada no cinto, Galadrei sai de dentro da carroça e dá 5 tibares para o anão.
A carruagem começou a andar para leste depois dele ter dado o dinheiro.

–Já vai?

–Vou sim. Tenho de chegar em uma cidade na fronteira de Yuden daqui a uma semana. Até mais, elfo.

E assim a carruagem partiu. Apesar de Galadrei não gostar muito de anões, haviam conversado sobre coisas interessantes durante a viajem.

Ele o contou sobre lendas de heróis anões e o elfo contou algumas que conhecia de sua própria raça. E também aprendeu coisas interessantes. Por exemplo, que existem mulheres anãs! Quando viu a expressão de surpresa na cara do mercenário, o cocheiro riu por uns vinte minutos. Mas como ele devia saber?

Lhe contou que anãs as vezes até tem barba.

Mulheres.

Com BARBAS.

Enquanto lembrava das conversas que tiveram, a sua única companhia constante nas ultimas semanas foi embora.
Estava sozinho. De novo. Era um sentimento que ele já havia se habituado a sentir, por ser um mercenário. Mas não ficava menos incômodo com o tempo.

Galadrei nunca fez parte de nenhum grupo fixo. Como trabalhava para Lauffrey, ele geralmente fazia serviços sozinho ou com outros mercenários, mas nunca chegava a passar mais do que duas semanas com seus colegas de trabalho.
Não tinha amigos na sua cidade natal. Os que havia tido morreram jovens ou se mudaram para um lugar melhor. Galadrei havia cresido em um bairro pobre, e perigoso. Aprendeu a sobreviver e se defender por necessidade, e nunca havia gostado disso. Sua família, bem...

Preferia não ter que se lembrar de sua família. Saiu daquele lugar no momento que aprendeu a segurar uma espada e ganhar dinheiro por si próprio. E mesmo abandonando seus pais e irmãos, não se arrepende nem um pouco disso. Não com tudo que eles o fizeram passar.

Tirando a melancolia da cabeça, o elfo se dirige aos portões, e dois guardas em cima do muro, com bestas apontadas para cima e elmos fechados em suas cabeças, fazem sinal para ele parar.

–Alto lá, viajante. Não estamos deixando estrangeiros entrarem na cidade depois das notícias de Valkaria. Apenas comércio ou serviços.

Notícias de Valkaria? A cidade voadora? Galadrei não estava atualizado, passou a maior parte do tempo dos últimos dias na estrada.

–Eu sou um mercenário. Eu vi um anuncio pedindo ajuda de um tal de, hm...

Puxando o panfleto de seu bolso, que já estava meio rasgado pelo tempo que passou na sua calça, ele lê o nome na base do anuncio.

–"Algor Nalim."

Os guardas olham um para o outro, falam para o outro algo baixo demais para Galadrei ouvir , e então se viram para ele.

–Nesse caso, pode entrar. Se o clérigo da cidade quer falar com você, não iremos lhe impedir.

O elfo atravessa o portão, agora com a grade elevada, e logo depois a ouve caindo de novo.

–Mas estamos de olho em você.- Disse o guarda da esquerda.

Ah, claro que estão. Como se um aviso e uma voz engrossada fossem impedir alguém mal intencionado de fazer algo ruim, Galadrei pensou.

Ele olha para o panfleto, com letras padronizadas e retas. Essa "impressão" que os goblins inventaram é realmente muito boa. Estava escrito:

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PROCURA-SE SERVIÇO DE ALGUEM COM EXPERIÊNCIA EM COMBATE URGENTEMENTE EM NOVA LAMHAN, EM BIEFELD

QUINHENTOS TIBARES DE RECOMPENSA

ENCONTRE ALGOR NALIM N'O NOVILHO NEGRO

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Encontre um clérigo numa taberna? Estranho. Galadrei, mesmo desconfiado, continua andando na cidade ainda ensolarada.

Procura por um tempo o lugar demarcado pelo panfleto, e depois de uma meia hora vagando na cidade (bem vazia, já que não deviam ser mais de sete horas da manhã) ele acha o estabelecimento em questão. Havia uma placa de madeira com o nome do lugar, e uma pintura de um bezerro preto com o que parecia ser uma caneca entre os chifres.
Criativo, na melhor das hipóteses.

Estava vazio, apenas haviam mais duas pessoas no local fora o taberneiro. E não parecia nem um pouco um lugar frequentado por sacerdotes. Haviam ratos correndo pelo chão, um infiltramento de chuva perto do canto esquerdo, e um cheiro horrível vindo do que o elfo presumiu ser o banheiro. Havia um bardo tocando uma musica calma num bandolim, e um bêbado com a cara deitada na mesa que estava sentado.

Galadrei se senta numa mesa do canto direito, e resolve esperar até alguém entrar. Nenhum dos indivíduos presentes aparenta ser um clérigo.
E então, a porta do bar se abre.
É um homem humano alto, com pele escura e cabelos médios e ondulados. Estava vestindo uma camisa branca, aberta e sem botões, mostrando várias cicatrizes no seu peito e barriga. Usava um cinto de pano verde claro, segurando uma calça verde escura frouxa rasgada logo abaixo dos joelhos, com uma pochete de couro no lado esquerdo do quadril e um sabre embainhado no direito. Calçava botas de couro com fivelas de ferro enferrujadas.

O homem olha em volta um pouco, e se senta na cadeira na frente de Galadrei.

–Olá. Você não parece ser daqui, estou certo?

–Então temos algo em comum. Sua pele é escura demais para um nativo de Biefeld.

–Pois é.- O homem fala com um sorriso.- Eu deveria ser mais claro, mas um pirat- digo, marinheiro passa muito tempo no sol, heheh....

A preocupação no seu olhar esta clara. Para alguém que trabalha com assuntos ilegais, esse homem era bem pouco discreto.

–Não se preocupe. Eu realmente não ligo para leis. Acho a maioria inútil. O que te traz aqui? Estamos bem longe do mar.

O homem, muito mais relaxado, fala:

–Família. Voltando para casa depois de um ano com o capitão. E você?

–Trabalho. Tenho que encontrar um padre que frequenta bares mal cuidados, ao que parece.

O homem ri com o comentário, e pergunta:

–Seu nome?

–Galadrei. O seu?

–Osgardhil.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.