Ważanü bate na porta, e de lá de dentro, sai uma senhora muito bela, com aparência jovem, porem percebia - se que o tempo de moça passara já para ela. Mesmo assim ela trajava - se com belas roupas e belos penteados. Com um sorriso no rosto ela fala com Wazanu.

- Wazanu, quanto tempo - diz a senhora com um semblante de boas vindas.

- Saudação senhora Yuke, diz Wazanu sorrindo.

- O que lhe traz aqui? Pergunta

- Eu sei que és falta de educação para com sua presença, mas estamos sem comida em nossa carroça, e gostaria de lhe perguntar: há mais pratos?

- Claro, sem problemas. Entrem - diz ela.

- Até esqueci de lhe apresentar, perdoai - me. Este és Wander, parceiro meu de meu trabalho. Um rapaz muito honesto, diz ele sorrindo.

- Entendi, prazer lhe conhecer, Wander.

- Prazer, senhora Yuke.

Eles entram na casa e Wazanu logo se prontifica a falar bastante com Yuke, enquanto Wander fica calado e apenas observa a casa, visto que ele era muito observador.

Algo que Wander percebera era que Wazanu e Yuke possuíam uma amizade de tempos. Era obvio, visto que Wazanu, além de namorado, foi amigo de infância de sua filha e Yuke era amiga da mãe de Wazanu, fazendo possuir uma amizade de tempos. Evidentemente, isso deslocava Wander.

- Eu vou preparar a comida, já volto.

- E onde está aquela mocinha? Pergunta Wazanu

- Ela está na perto do riacho - faz uma pausa - não sei se virá para o almoço - Diz Yuke olhando para a janela

O tempo passa e Wander começa a criar uma certa curiosidade para conhecer Mono. "nem a conheci e já estou pensando nela?" pensava Wander. Seu desejo de conhecer uma moça a fim de se apaixonar era tamanha, que seus interesses românticos surgiam antes mesmo dele conhecer a pessoa. Afinal, isso acontece com muitos.

- O almoço está pronto rapazes - diz Yuke

Eles saem da sala e ficam na sala a fim de almoçar. A comida nem se comparava com a que tinha nas carroças. Era um belo banquete, com amimais frescos, frutas conservadas. Tudo do bom e do melhor para se saborear. Os três passam uma hora almoçando ao mesmo tempo em que conversam.

- Fale mais sobre você, Wander. Estás tão quieto - afirma Yuke.

- Está bem - responde Wander - tenho 18 anos, vivo na aldeia Korota todos esses anos e é primeira vez que pessoas bondosas como você, Ważanü e Lorde Emon aparecem na minha vida.

- Obrigado, Wander. Que gentileza. E seus pais? Como estão?

Ważanu percebe que não foi uma boa idéia perguntar isso a Wander. A ferida que esse rapaz guardava consigo ainda estava bem aberta, mesmo após muitos anos.

- Meus pais morreram. Não se sabe exatamente do que - responde Wander com a voz baixa, mas suficiente para que Yuke escutasse.

- Sinto muito. Me desculpe pela pergunta. Eu não sabia.

- Tudo bem - se cala ele

Wander continua se alimentando e um clima de silêncio predomina entre todos na mesa. Ainda em silêncio, a refeição é finalizada e Ważanü se prontifica a voltar para o trabalho, evitando o clima.

- Muito obrigado, Yuke. O banquete foi excelente, mas nós temos de ir. O dever nos chama. Certo Wander?

- Claro

- Então está bem - levando as mãos a cintura e sorrindo ao mesmo tempo - Bom trabalho para vocês, rapazes - diz Yuke olhando para Ważanü, sabendo que Wander não estava bem.

Eles se dirigem para fora da casa de Yuke, e em frente a porta se despedem dela e agradecem por tudo.

- Eu ti agradeço novamente Yuke por tudo – Diz Wazanu

- Que nada, eu que lhes agradeço. Talvez vocês vão encontrar Mono. Se a virem, diga que a quero que venha para casa.

- Claro. Diremos sim. Até mais

Com uma certa reverência a Yuke por ela ser mais velha, os rapazes se retiram da frente da senhora e vão andando no caminho onde Mono se encontrava. Uma parte do trabalho seria feito no riacho que cortava Karizoa. Havia algumas caixas esperando por Wander e Wazanu. Enquanto isso, Wazanu conversava com o rapaz de cabelos vermelhos.

- Eu vi que você não estava num bom momento para falar sobre seus pais.

- Tá tudo bem. Não se preocupa.

- Me preocupo sim. Você parece sofrer muito com isso tudo Wander.

- Que nada. Besteira. Já passou há tanto tempo – Desconversa Wander. Ele sempre ignorou a dor de perder os pais.

Os homens chegam às margens do riacho que cortava Karizoa e esperam o horário para iniciar o expediente da tarde. O almoço na casa de Yuke fora rápido e sobraram meia hora antes dos homens de halito horrível e aparência pior ainda chegarem, para retomar o trabalho. Wander fica calado e se dirige para debaixo de uma grande árvore, aproveitando a sombra dela e descansa, pensando na vida.

"Como isso tudo foi acontecer comigo? pensa Wander. Minha vida nunca está em sincronia. Não consigo me lembrar dos meus pais, mas sinto a falta deles. Por favor, Deus. Me ajude. Eu preciso lembrar dos meus pais. Eu sinto um vazio. Cadê vocês pais? Eu procuro vocês mas não encontro. Nem nos meus sonhos os vejo. eu sinto que não estou completo. sinto como se faltasse uma parte de mim, uma parte da minha história. Sinto um vazio que jamais será preenchido"

Os pensamentos de Wander são cortados, quando ele avista se aproximando duas figuras. Uma masculina e uma feminina. Ele logo trata de limpar as lágrimas e se levanta rapidamente.

- Wander, quero lhe apresentar uma pessoa. Essa é Mono – diz Wazanu apontando para a jovem.

- Prazer, Wander.

- Prazer é todo meu.

No primeiro momento em que vê Mono, o rapaz sente um certo calor passando por todo o seu corpo. Sensação que ele jamais sentira em toda a sua vida. Um tremor nas pernas e um embrulho no estomago. Também não era para menos. Mono era linda! O cabelo preto e liso como uma seda. A pele era perfeita e branca como a neve. Seus olhos

escondiam um certo mistério e romantismo, mostrando ser uma pessoa de personalidade um tanto forte. Possuía um olhar profundo e apaixonante.

- Então é você a filha de Yuke? Pergunta Wander.

- Sim. Sou eu sim. E você é o novo amigo de Wazanu, certo?

- Exato.

- Mono é uma grande amiga. Eu havia dito a ele que nós dois éramos grandes amigos.

- Ainda somos amigos – afirma Mono sorrindo ao mesmo tempo em que olha para Wander.

Era claro que havia um certo interesse da parte de ambos. Mono olhava de forma romântica para Wander e vice versa. Mas ele sempre foi uma pessoa do tipo que não gosta de um sentimento romântico. Via as pessoas felizes vivendo a dois e sente uma pequena inveja por não ser assim. Com o tempo, ele pegou antipatia pelo amor, pelo simples fato de que não sabia amar e que não fora amado novamente, desde a morte dos pais. Diferente de Mono, que sempre foi uma jovem apaixonada que busca a felicidade de um dia formar uma família.

- Bem, não tenho tempo para conversa. Tenho que voltar ao trabalho – interrompe a conversa.

- Certo. Vocês vão dormir aqui não é? Pergunta Mono a Wazanu, notando que Wander havia cortado o momento ‘romântico’

- Sim. Nós vamos dormir aqui sim.

- Então está bem. Nós nos falamos mais tarde. A aldeia terá uma pequena reunião com alguns membros e vamos nos divertir um pouco. Será na floresta, ao final da noite. Conto com vocês lá.

- Vou tentar ir sim.

Mono abraça Wazanu e nem se despede de Wander, que naquele momento estava concentrado no trabalho, tirando e colocando caixas de uma carroça para outra.

- Por que você a destratou? Pergunta Wazanu se aproximando de Wander.

- Não tenho tempo para conversar. Vim aqui para trabalhar e não desejo que aqueles idiotas gritem comigo novamente.

- Nem por isso, Ela precisava ser ignorada por você.

- Eu não a ignorei. Apenas não me agradou a presença dela – retruca Wander soltando as caixas.

- Você está fazendo um pré julgamento dela só porque as moças daqui são interesseiras – afirma Wazanu, irritado.

- Eu não importo para o que você acha.

As pessoas começam a observar a discussão dos dois e ficam horrorizadas com as coisas que Wander dizia a respeito de Mono. Todos sabiam o triste passado da jovem. Inclusive a própria Mono, que estava por perto escutando a discussão de ambos.

- Quer saber, Wander. Pra mim já chega – diz Wazanu friamente – Você está sofrendo pelo seu passado, mas nem por isso tem que descontar seus problemas nas outras pessoas. Todos nós temos um problema na vida, mas nem

por isso nos devemos nos sentir o centro das atenções e que todos têm de estar conosco 24horas por dia porque passamos por dificuldades. Você tem que saber procurar a resposta para a morte dos seus pais e se conformar com isso – aconselha – Eu sei que não é fácil. Sinto o mesmo que você. Perdi meu pai de forma trágica e violenta, mas mesmo assim não me fiz de centro das atenções. Preste atenção nas suas decisões, ou você pode acabar sofrendo sozinho na vida.

Wazanu se afasta e deixa Wander refletindo no que havia escutado de seu amigo

***

Apesa da noite que amedrontava a todos naquela aldeia, um grupo de pessoas se reuniam nas proximidades da floresta noturna. Todos cantavam felizes e conversavam bastante. Precisavam disso para poder se socializar e ter um certo bom humor.

A figura de dois rapazes se aproxima daquela roda de pessoas. Mas, ao invés de ficarem felizes por mais duas pessoas chegando, todos ficam balançando a cabeça de forma negativa para o rapaz mais jovem.

- É melhor você ficar calado aqui. Já causou muita confusão – sussurra Wazanu, segurando no braço de Wander - E o pior é que vamos trabalhar nessa aldeia nas próximas semanas. Então, fique quieto.

- Eu já entendi – sussurrava de volta

Todas as pessoas olhavam de forma negativa para Wander. Ele havia magoado uma das meninas mais queridas da aldeia e era claro que o rapaz não sairia impune de tal

coisa. Wander se senta um pouco distante do povo e de Wazanu que estavam perto da fogueira, cantando e se divertindo. Apenas observa tudo e fica quieto, meditando sobre o que havia feito e que era preciso consertar aquilo tudo. Logo depois, Wazanu se aproxima novamente do jovem e tenta ajudá - lo a consertar o erro feito.

- Parece que você está um pouco arrependido do que fez - afirma Wazanu, sentando ao lado de Wander, no qual se encontrava encolhido, com um olhar tristonho.

- Você estava certo. Eu não devia ter feito o que eu fiz - reconhece o rapaz - Eu nem conheço a Mono e fiz o que fiz.

- Maravilha você reconhecer seu erro. Mas por que você deu aquele 'ataque'?

- Você não sabe o que é sentir um ódio quando alguém toca no nome de seus pais.

- Vai por mim, eu sei sim. Eu não tenho pai, lembra?

Wazanu passou por problemas piores aos de Wander. Após a morte do pai, passou por diversas situações que não é melhor nem falar. Apenas saibam que foram coisas tristes.

- O que eu tenho que fazer agora? Pergunta Wander

- Eu acho que você sabe o que é o certo e o errado a fazer - responde Ważanü dando um leve tapa nas costas de seu amigo e se afastando logo em seguida.

O rapaz sabia do que Ważanü estava falando. A mente de Wander fica imersa em pensamentos sobre como iria se desculpar como Mono e como limpar sua imagem perante a donzela e a aldeia.

Exatamente, durante esses pensamentos que o rapaz tinha, Mono aparece distante, entrando na floresta. "enfim. Acho

que agora é a hora" pensa Wander. Ele se levanta e vai atrás da moça.

Mono estava se direcionando para a floresta Käşhinšo, justamente próximo as moitas, que eram consideradas tão perigosas. Ela para perto de duas grandes moitas e começa a meditar, falando sozinha. Wander que a havia perseguido, pode ouvi-la e tirar suas próprias conclusões.

- Pais, eu gostaria de conhecer vocês - dizia Mono - Eu sei que a Yuke é maravilhosa e cuida muito bem de mim, mas preciso de uma identidade. Alguém para me apegar e poder crescer na vida. Sem vocês, nada tem sentido - falava a jovem com a voz embargada.

Wander pôde ouvir tudo o que Mono disse e chegou a conclusão de que ela era como ele. Havia sofrido na vida, mas tinha uma diferença. Diferentemente de Wander, Mono não descontava sua dor nas outras pessoas. Ela se mantinha feliz, para que todas as pessoas de seu círculo de confiança, se sentissem felizes e tranquilas. Tudo aquilo que o jovem rapaz ouviu, o deixou amargurado por ter julgado a menina.

As dores de Mono são interrompidas, quando, incrivelmente, saem dois salteadores de trás das moitas. Eles viviam no Leste da terra do sol nascente e costumavam ir aos povos do sudeste caçar jovens donzelas para matá-las e outras coisas. Esses homens que haviam saído da moita, possuíam aparência horrenda. Roupas rasgadas e totalmente encardidas; cabelos sujos e ensebados; um hálito horrível que dentes podres e amarelados, além de andarem com armas brancas perigosíssima.

- Pobre orfã - Diz um deles saindo da moita - ouvimos todo o seu sofrimento.

- Quem são vocês? Pergunta Mono assustada, indo para trás.

- Somos saqueadores de estradas, mas isso não é supresa mais. Tudo mundo sabe o que fazemos. Vamos cortar as apresentações.

Um dos homens puxa Mono pela manga do vestido, e o empurra em seguida. Ela sai correndo, mas o outro homem que formava a dupla de salteadores a segura pelos dois braços, enquanto a moça balançava os braços e pernas para poder se livrar dos caras.

- Me soltem! me soltem! - gritava desesperadamente.

O outro homem, que foi empurrado, pega uma espada e aponta na frente da garota.

- Por que matar a garota? - pergunta o outro que segurava Mono.

- Ora, 'por quê?' Porque matando ela, podemos usar o seu desaparecimento para poder saquear a aldeia dela. Agora, cale a boca e segura-a bem.

Na hora que o cara vai fincar a espada na jovem donzela, ele sente uma tontura repentina seguida de dor fortíssima na altura da barriga. Quando olha para o chão, se depara com muito sangue saindo da altura do ferimento. Ele logo cai ao chão, morto. O outro saqueador solta Mono e puxa uma faca.

- Apareça.

Mas nem adiantava fazer isso. Ele leva uma espadada certeira na altura do peito, perfurando o pulmão, e caindo morto.

Mono se assusta com aquelas cenas de brutalidade e se esconde atrás de um arbusto.

- Por favor, não me mata - ela implora com a voz embargada.

- Não, está tudo bem.

A silhueta de Wander sai das sombras e aparece com uma espada na mão direita e a esquerda pedindo para Mono ficar calma.

- Calma, está tudo bem.

Mono fica olhando assustada para Wander, que coloca a espada no chão e tenta se explicar.

- Olha...eu vi você em perigo e quis..

- Como me viu em perigo? E por quê? - ela pergunta fazendo uma expressão bem séria.

- Eu tinha vindo aqui para falar com você.

- Falar o quê?

Wander ficou calado por um tempo e logo depois disse.

- Me desculpar com você. Por ter sido grosso hoje mais cedo. Quando eu estava chegando aqui para conversar com a sua pessoa, escutei você falando sozinha procurando onde estão seus pais, e pensei: "poxa, eu a julguei tanto e na verdade ela é igual a mim".

Enquanto Wander falava, Mono escutava e ficava bastante atenta, interessada no que o rapaz falava.

- Olha, se não quiser me desculpar eu vou entender. Ficaria feliz apenas se a gente podia se conhecer novamente. Mas se não quiser também, não tem problema.

Um silêncio perdura por alguns minutos e então Mono se manifesta.

- Prazer, meu nome é Mono.

Wander sorri e diz.

- Prazer, meu nome é Wander.