Mulheres estavam fazendo o seu trabalho. Se é assim que os homens querem, será feito. Mas não exatamente assim, eu não gosto de ser obrigada a fazer o que eu não quero, então eu subi em uma árvore e fiquei as olhando lavar roupa.

Minha atenção se desviou para Carl e Shane, aparentemente brincando, na água. Lori os olhava de maneira estranha, completamente estranha. Eu comecei a cantarolar uma música qualquer, enquanto todo mundo estava ocupado com alguma coisa. Logo uma gritaria surgiu.

Rapidamente algumas pessoas se juntaram e começaram a gritar com Ed, o marido de Carol. Eu desci rapidamente da árvore.

— O que aconteceu? — Perguntei a Carl, que estava um tanto molhado.

— Não faço a menor ideia. — Ele respondeu, me encarando e depois desviando os olhos, prestando atenção na briga.

Ed gritava com Carol e algumas mulheres foram para cima dele. Andrea e ele estavam “conversando” de maneira arrogante. Ed bateu no rosto de Carol, fazendo com que Shane saísse da água rapidamente e fosse em direção a ele. Shane bateu em Ed com muita vontade, fazendo com que Carol gritasse com ele pedindo para ele parar. Era uma cena terrível.

— Crianças, saiam. — Falou Lori

Eu sai, fui procurar meu pai, que provavelmente estava com Rick. A sensação de andar por ai, era tão estranha. Você simplesmente não sabe o que vai acontecer enquanto pisca, ou enquanto pisa.

Eu sai rapidamente do local e logo encontrei Jeffrey, que me puxou para falar alguma coisa.

— Hope, o que aconteceu ali?

— Eu não sei, acho que Carol e Ed brigaram...

Ele assentiu com a cabeça, quase um “tá, tchau”. Continuei meu caminho, chutando algumas pedras até chegar na porta de casa. Daryl estava perto da moto, olhando para sua arma. Ele começou a apontar para alguns lugares, e sem perceber a apontou para mim.

— O que você está fazendo aqui? — Falou Daryl, abaixando sua arma e arqueando uma sobrancelha.

— Eu só queria saber como meu papai querido está. — Tentei fazer manha, fechando os olhos de maneira fofa.

— É sério, o que você quer?

— Pff, eu só quero saber quando eu vou poder usar uma arma.

— Nunca, de preferencia. — Ele colocou sua besta, nas costas.

Eu cruzei os braços e fiz bico, ele continuou calado. Minha relação com meu pai é algo completamente estranho. Nós ficamos em silêncio a maioria das vezes, nós gostamos das mesmas coisas, nós somos estranhos. Muito diferente de minha mãe, uma mulher extrovertida e segura. Eu queria ser como ela.

**

A noite estava boa, todos reunidos e sorrindo e eu encolhida, junto com minha mãe. Eu tirei minha blusa de couro da cintura, e a vesti. Todos felizes, na mesa, reunidos comendo feijões enlatados, saladas e algumas coisas. Como uma família normal, em um mundo normal.

Eu estava comendo, adultos conversando, Sophia e Carl conversando e algumas trocas de olhares estranhas entre Shane e Lori, aconteciam.

Logo Amy — que estava inquieta — pediu para sair, mas minha mãe a acompanhou. Elas passaram pela porta com uma arma na mão e um sorriso nos lábios de Amy. Depois de alguns minutos elas voltaram, Amy ficou parada na porta, com os braços abertos e algumas flores na mão e sorrindo para Andrea.

Tudo estava bom de mais. Quando algo está muito bom, algo errado vai acontecer. Anote isso.

Amy foi mordida. Andrea começou a gritar, juntamente com Amy , que foi parar no chão.

— Eles são muitos — Minha mãe gritou, enquanto atirou no zumbi que mordeu Amy, à pouco.

Daryl, rapidamente me puxou para trás dele, eu ainda escutava o choro de Andrea e alguns gemidos de dor. Quando eu me dei conta, estávamos do lado de fora e eu estava sendo arrastada até a moto de Daryl, que não estava tão perto quanto deveria estar.

— Vamos. Rápido! — Ele me deu uma faca. Carl brotou do meu lado, junto com Sophia.

— Rápido, crianças! — Carol falou, nos apressando.

— Vocês, para o carro — Rick apontou para nós.

— Onde está minha mãe? — Perguntei, desesperada. Eu a procurei no meio da confusão entre errantes e humanos. Eu a achei.

— Pronto, ela está vindo. — Daryl colocou a mão em minha testa, como sempre fazemos para nos acalmar.

A confusão me deixou nervosa, eu queria chorar e tudo colaborava para isso. Meu olhos se encheram d'água, mas eu os limpei rapidamente. Ela continuou andando e mexendo os lábios: “se acalme, a mamãe está aqui”, foi o que eu entendi. Ela estava com uma mochila nas costas e estava recarregando sua arma quando um morto-vivo apareceu e pulou em cima dela, mordendo seu ombro. Ela lutou com ele até conseguir atirar em sua cabeça.

Eu não enxergava nada, tudo estava vermelho e eu tremia, e por instinto eu corri até ela.

— Oh, meu amor. — Ela me beijou, colocou a mão em minha testa que agora estava suando frio. Seu ombro estava jorrando sangue enquanto ela se levantava. — Leve essa bolsa até Carol e seja uma boa garotinha. — Ela me beijou na testa e no nariz.

— Vamos, mãe! Precisamos de você! EU PRECISO DE VOCÊ! Vamos! — Eu tremia e chorava, colocando a mão em minha própria testa.

— Vamos, meu amor. Você sabe o que acontece quando uma pessoa é mordida, ela é infectada e logo virará uma dessas coisas nojentas. Simplesmente vá e cuide de seu pai por mim. Deixe-o na linha, como eu tenho que fazer todos os dias. — Ela colocou alguma coisa no meu bolso, beijou minha mão e me deu um empurrãozinho. — Vá!

Eu a obedeci, corri olhando para trás e ela me deu um tchauzinho e mexeu os lábios, falando “boa noite”. Ela foi embora, levanto metade de mim consigo. Agora eu já chorava como um bebê.

— O que aconteceu? Onde está Ella? — Daryl perguntou, desesperado. Eu continuei a chorar, dessa vez soluçando. Eu o abracei, e ele retribuiu com um beijo na testa e no nariz. Coloquei minha arma em seu coldre e subi em sua moto, ajeitando minha mochila. Eu só queria um pouco de paz, e era para eu ficar mais calma enquanto estava na moto, mas tudo só me deixou mais triste.

Ao amanhecer, Daryl parou a moto bruscamente, enquanto todo o resto fazia a mesma coisa. A coisa estava feia, talvez ali estavam alguns quilômetros de engarrafamento. Carros completamente vazios de pessoas. Todos estavam reunidos, falando sobre alguma coisa que eu não quis prestar atenção. Carl parou do meu lado e me lançou um olhar de tristeza, um olhar que eu receberia por algum tempo.

Ele continuou me olhando por mais alguns segundos, talvez um minuto. Ele me abraçou quando todos viraram, um abraço rápido, porém confortante.

— Eu lamento. — Ele murmurou no meu ouvido, me causando arrepios.

— Dizem que tudo tem um motivo. Talvez Deus queira sua companhia, ou sei lá.

— Oh meu Deus, uma livraria! — Sophia falou, me tirando dos pensamentos ruins. — Podemos ir? — Ela perguntou para sua mãe.

— Acho que é melhor não, podem haver errantes lá.

— Deixe-me ir com eles, eu preciso de livros novos. — Disse Glenn, se colocando na nossa frente.

Nós entramos na livraria — que não ficava tão longe da reunião que estavam fazendo —. Tudo parecia estava bem, os corredores estavam limpos e os livros em prefeito estado. Glenn fazia caretas enquanto olhava alguns livros, como praticamente todo mundo fazia.

Eu achei alguns livros interessantes e os peguei e os coloquei na mochila. Um livro de capa um tanto diferente, me chamou atenção. Lolita... hm..., pensei. Eu o peguei e coloquei na mochila. Ficamos mais alguns minutos lá dentro.

Eu era a ultima da nossa fila, andei em direção a todo mundo. Alguém gritou, de forma alegre:

— Isso é o paraíso!

Eram fileiras de caminhões, carros e outras coisas, recheadas de itens bons. Um paraíso. Pode ter certeza.

Eu peguei aquela coisa que minha mãe deixou em meu bolso. Uma mini bolsa, com alguns papéis e anotações. Eu me sentei no chão e comecei a abrir alguns papéis. Algumas anotações escritas com a letra terrível de minha mãe, algumas fotos e um papel estranho. Uns papéis de seu antigo diário.

Eu acho que estou grávida. — 20/08/2014” “Como eu vou contar isso a todo mundo? — 21/08/2014” “Positivo! — 30/08/2014” “Espero que seja um menininho, e que tenha a cor dos meus cabelos, pelo menos desta vez. — 31/08/2014” “Eu não estou entendendo o que está acontecendo — 05/09/2014” “Eu perdi meu pequenino — 12/09/2014”

Por isso ela andava tão triste a um tempo?, pensei, fazendo cara de duvida. Minha mãe andava muito estranha, alguns dias estava tão feliz que colocava flores no cabelo, e dias tristes que não saia do quarto. Eu pensava que isso era algum tipo de bipolaridade, ou a famosa TPM.

Eu continuei a procurar coisas na mini bolsa, um papel estava no fundo, bem escondido. Eu o abri e era um texto não muito grande. Eu li em voz baixa.

Seja quem for que esteja lendo isso, por favor, fale com a Hope. Fale o quanto eu a amo e a amei. Eu realmente não sei o que fazer quanto ao que está acontecendo, eu só quero proteger minha garotinha. Eu não sei se eu perdi esse papel, ou se eu morri, ou sei lá. Só por favor, fale para minha garotinha que eu a amo. Eu realmente a amo mais do que eu amo pudim! E Hope, se VOCÊ estiver lendo isso, saiba que a mamãe sempre te amou, e que eu só queria te falar do seu irmãozinho ou irmãzinha, então se você estiver lendo isso, provavelmente viu aqueles papéis.

Conte para seu pai, ou não conte. Eu não sei o que você deve fazer. Eu estou tão confusa.” O papel estava manchado de café. No fim tinham alguns rabiscos e uma carinha feliz, e um coração bem grande. Eu limpei meus olhos e guardei os papeis na mini bolsa, e a coloquei no bolso do meu moletom.

Eu devo ou não, contar para meu pai?, pensei, batendo o dedo indicador no meu lábio inferior. Eu andei em direção a todos, até que Rick começou a correr. Ele mexeu os lábios, falando: “para baixo do carro, vocês”. Eu me abaixei, e do meu lado estava Carl. E tudo que eu conseguia pensar era “merda”. Alguns mortos-vivos, se rastejavam do meu lado, e do lado de Carl também. Eu tentei fazer o minimo de barulho possível, mesmo estando em choque. Eu não entendi mais nada, minha visão estava embaçada, eu só escutei alguém gritando e a voz do Rick. Eu olhei para os lados e lá estava Carl, e do lado Sophia. Do outro lado Lori e Carol. Eu não estava entendendo mais nada.