Seven

Terça-Feira!



01/06/2010 – Terça-Feira 8:30 AM



De novo tive aquele sonho e eu pude ver aquela mulher morena. Seu corpo magro e muito fino estava coberto com roupas comuns: uma camisa branca e uma calça de pijama cinza. Ela estava com os cabelos molhados e segurava alguma coisa dentro do que parecia a mesma banheira que há no meu banheiro. Tudo estava exatamente igual, a cor azul, as saídas da hidromassagem, e o suporte para xampu e sabonete. Eu posso ter certeza de que é mesmo meu banheiro pelos azulejos no chão e parede; exceto pelos itens de higiene que são as únicas coisas que mudam. De repente, eu me assusto, desviando a atenção da mulher e observando que de dentro da água sai uma mão, logo depois um pé emerge também, o que me faz ter certeza de que há um menino de mais ou menos 10 anos se debatendo para sair dali.



Gotas de água respingam violentamente para todos os lados enquanto a criança se debatia tentando lutar pela própria vida. Mesmo não podendo vê-la direito, percebi que estava com as roupas encharcadas. Cheguei à conclusão de que não poderia ficar ali parado assistindo aquela criança ser afogada até a morte a sangue frio: resolvi ajudá-la.

Tentei gritar para que ela parasse, mas minha ação foi reprimida por uma mão que surgiu do nada. Sem desistir, persisti no grito, mas, assim como antes, fui impedido por aquele mesmo membro do além que tapava minha boca e me impedia de gritar. Deixando minha voz de lado, tentei correr até o garoto para ajudá-lo, mas novamente fui impedido de continuar – desta vez por um braço que me puxou bruscamente, fazendo-me ficar parado. No momento em que a água havia se acalmado e que o garoto parecia estar morto, tudo ficou escuro e pude notar que misteriosamente me encontrava, agora, embaixo de uma cama... A minha cama. Não pude deixar de reparar nos pés úmidos daquela mulher que iam passando ao redor do móvel. As gotas que escorriam iam deixando um rastro, denunciando para onde ela estava indo.

No momento que ela saiu do quarto eu acordei, em minha cama. Olhei para o lado e, pude ver aquela banheira. Acho que, esta noite será a última que vou dormir com a porta do banheiro aberta. Só de pensar em usar esse banheiro eu arrepio; imagine usar a banheira. Eu questionei meus vizinhos sobre os antigos inquilinos da casa, mas ninguém me comentou ou falou sobre eles. Parece que é um segredo ou uma história que ninguém quer se lembrar.

Enfim, o resto do meu dia foi como sempre, trabalho e estudo, minha rotina. Falei com a Nina pela internet, o que é de praxe quando estou fora do trabalho. Usando falsos nomes e criando personagens que não existem, acho que me encaixo perfeitamente nesse mundo, sozinho, com amigos imaginários e sendo quem eu sempre quis ser... Às vezes me pego rindo sozinho desse tipo de situação. Pelo menos sinto um certo conforto fazendo isso.

Fernando Martins