SeuSegredo. Com
Proposta
É como se um tijolo estivesse entalado na minha garganta me impedindo de respirar e falar.
A pessoa que estive atrás nos últimos quatro anos e me fez percorrer quilômetros em buscas de pistas, que me desafiou publicamente e propôs uma aliança está bem diante de mim com a expressão mais neutra que já vi na vida jogando na minha cara meu maior segredo como se fosse nada.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!O que posso dizer? O que fazer? Devo negar ou aceitar? Fugir?
Meu corpo não segue nenhum comando além de respirar enquanto minha mente pensa em mil possibilidades por segundo.
Ícaro não é um garoto sorridente, ele é fatal e perigoso.
— Você está louco.
Minha voz sai fraca e quase gaguejo, não tem nada da confiança que gostaria. Estou me sentindo pequena e frágil como um coelho inocente diante de um leão faminto.
Droga, isso não deveria acontecer assim.
— Não acusaria se não tivesse certeza.
Acho que a última vez em que me senti tão abalada assim foi quando a Hannah Montana tirou a peruca e revelou sua identidade.
Sigo meu primeiro instinto.
— Pelo contrário, você não assumiria sua identidade para a Secret – retruco – Vocês são inimigos.
— Assumiria se quisesse vê-la quieta sem buscar por mim – ele suspira – Não adianta negar ou fugir, Anna. Eu observei cada movimento seu desde que entrei no Saintine, consegui até ver quando você recebeu as mensagens do Bill.
A lembrança dele na sala de aula debruçado sobre o livro de história me vem a mente. Ícaro não pode ser o Bill ou teria percebido quando ele me mandou a mensagem.
— Se eu fosse a Secret, teria percebido quando você digitava as mensagens.
Um minúsculo sorriso se forma no canto da boca dele.
Repasso minhas palavras na mente. O meu “se” estava na frase então por que ele parece satisfeito?
— Nunca disse que o Bill era apenas uma pessoa.
Se isso é um blefe tenho que assumir que ele é muito bom nisso. O clima está tenso e hostil, exatamente como nos documentários do Animal Planet onde uma onça encurrala uma capivara.
Ergo meu queixo e o olho de forma confiante e desafiadora como já vi tantas garotas fazendo. Lucca chama isso de cara de vadia. É quando você cerra seus olhos como se estivesse com muita raiva e pressiona os lábios antes de dar um sorriso vitorioso ou jogar o cabelo e ir embora.
Está na minha hora de ser uma onça.
— E qual a certeza você tem de que eu sou a Secret e não uma ajudante dela?
Algo se ilumina no olhar dele.
— Uma ajudante não seria tão petulante quanto você.
Eu sou a capivara.
— Acha que a Secret seria tola de se deixar ser pega tão fácil? Você está errado, Ícaro.
Viro-me pronta para ir embora daquela maldita estufa perfumada e correr até a minha casa onde posso me trancar na segurança do quarto e pensar com calma no que fazer.
Talvez eu fuja para a Bolívia compre uma lhama, uma flauta e vire uma andarilha.
— Nicole Anna Kaulitz, nasceu no dia primeiro de abril e é do signo de áries – travo no mesmo lugar – Sua cor favorita é roxo e é apaixonada por Gossip Girl desde sempre. Você gosta de pizza de muçarela, mas tem vergonha disso porque acha um sabor muito comum. Seus pais se separaram e sua irmã te abandonou sozinha com a sua mãe porque foi abortar uma criança no exterior – sinto como se estivesse sendo sufocada, não consigo respirar enquanto assimilo cada verdade sobre mim que ele usa a seu favor – Você usa dois celulares iguais com as mesmas imagens nas telas de bloqueio, mas um deles tem um aplicativo externo que bloqueia o acesso a sua galeria e o outro não. O celular com o aplicativo possui lascas descascadas nas laterais, presumo que seja pela queda causa por mim.
Eu odeio ser a capivara. Odeio ser a presa. Sou uma caçadora, droga!
Como ele sabe sobre o aborto da Cath? Ninguém deveria saber disso, nem os meus pais sabem disso.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Não tente esconder o seu segredo de mim – ele murmura.
Quero fazer algo contra ele. Talvez deva denunciar a polícia dizendo que a tia dele tem uma plantação de maconha nos fundos da casa e com essa quantidade de plantas eles nem perceberiam se eu jogasse uma muda no meio das rosas.
Ah, a vingança pelos espinhos.
Quero acertar um soco nos belos olhos acinzentados dele.
— Que se foda – desarmada, essa é a palavra que me define nesse momento.
Sem escolha ou saída, ele pesquisou sobre mim e soube o que dizer para me desestabilizar e deixar sem pensar com coerência.
Por que quando eu quero fico sem argumentos? Por que minhas palavras somem quando preciso delas para me defender?
— O que você disse?
— Que.Se.Foda – repito quase gritando – Eu sou uma garota venenosa, o que vai fazer sobre isso?
Por um momento ele fica sem reação, acho que não esperava que eu fosse assumir. Na verdade, nem eu esperava.
Sinto algo substituir o medo inicial. Ele descobriu quem eu sou? Que bom, assim sabe o rosto de quem deve temer.
— Não posso fazer nada contra você, nem ameaça-la. Ninguém acreditaria que a Secret é alguém tão...
—... Invisível? – completo por ele. Cruzo os braços diante do busto e o encaro frente a frente.
Olá novamente confiança.
— Sim, essa é a palavra que eu queria.
— Então por que teve tanto trabalho para descobrir quem eu sou?
— Preciso de ajuda, Secret.
É como ver um anjo fazendo pacto com o Diabo.
O sorriso no canto do meu lábio não expressa perfeitamente como isso é engraçado.
— Ajuda da garota veneno que merece um trono de espinhos? Quem sabe – descruzo os braços – Como me descobriu?
— Não peça para um mágico revelar seus truques.
Ora, ele quer fazer joguinhos agora? Não devia querer esconder algo de mim logo após revelar meu maior segredo.
— Então não peça ajuda para um demônio.
Jogo o cabelo quando me viro e caminho da forma mais confiante possível para fora da estufa. Caramba, pareço até uma modelo!
Nunca imaginei que fosse possível dar uma saída glamorosa, vou tentar mais vezes.
— Espera! – ele grita, interrompendo minha saída digna de modelo da Victoria Secrets – Sempre tive alguém te vigiando aqui em Oasis. Eu morava em Sparks com meu irmão e vinha apenas para o dia dos namorados por as rosas nos armários. Quando tive a certeza que você era a Secret pedi para morar com a minha tia e descobrir formas de te pegar.
— Por que sair da sua cidade para entregar rosas aqui?
— Eu não sou o primeiro Bill – ele desvia o olhar para uma rosa e depois foca em mim – Meu irmão foi o primeiro Bill, quando teve que ir para a faculdade deixou isso a meu encargo e quando eu tive que ir para outra cidade...
—... Deixou um ajudante aqui – completo – Então, sempre foi mais de um Bill.
— E só uma Secret. Como conseguiu fazer isso sozinha? Você praticamente manda na cidade usando um site.
— Da mesma forma como o Bill conseguiu ser idolatrado – respondo – Cativando as pessoas.
— Você as conquistou pelo medo.
— Às vezes é melhor ser temida do que amada. Agora continue com sua chata história de vida.
Ícaro me olha surpreso e devo dizer que eu também estou. É como se eu não fosse a Anna, mas sim a Secret.
— Minha ajudante se aproximou ao acaso e realmente se apegou quando soube quem você era. Contudo, você se protegeu bem demais. Pensei que podia tentar iludi-la criando uma paixonite para que ficasse ao meu lado e tive que desistir quando a vi com o Lucca.
Isso explica o comportamento forçado dele. Resolvo ignorar o que ele quis dizer citando o meu melhor amigo.
— É, foi um plano terrível.
— Pelo menos deu certo, por um tempo. Consegui derrubar seu celular ao ponto de danifica-lo para reconhecer quando você trocasse de aparelho, comprovei minha teoria e comecei a seguir a estrada de migalhas até sua identidade.
— Você me derrubou de propósito? Sabia que aquilo doeu muito?
Ele ri sem ânimo.
— Deu certo, isso que importa. Meu plano original era desmascarar você, Anna. Queria revelar a todos quem é a Secret e usar de exemplo para que parassem de maltratar e julgar os outros.
— Seu plano era— dou ênfase na última palavra – Por que não é mais?
— Depois que a Beth morreu minha visão sobre você mudou. Não é como se a Secret fosse alguém que você criou para causar o mal, é mais que isso. Eu percebi que você é uma boa pessoa Anna, só demonstra isso de uma forma ruim.
— Tenho certeza que alguém já falou isso pro Hitler – reviro os olhos.
— Existe humanidade na Secret e se chama Anna – Ícaro caminha até mim parando a menos de um metro de distância – Por isso decidi que você vai me ajudar.
— E por que eu deveria te ajudar? – ele segura uma mecha do meu cabelo – Ninguém vai acreditar se disser que a Secret sou eu e você não tem provas ou algo que possa usar contra mim.
Eu estou rindo na cara do perigo. É incrivelmente bom poder agir dessa forma, poder assumir quem sou. Agora sei como se sentiam as poderosas em Meninas Malvadas.
— Na verdade, eu tenho. Lembra que meu irmão era o primeiro Bill e foi fazer faculdade? Pois é, ele se tornou um grande hacker chamado Cyber, mas você deve conhecê-lo por outro nome. Talvez como Augusto, o pai do filho que a sua irmã matou.
As lembranças invadem meu cérebro como uma enchente. Cath chorando ao telefone, dizendo sobre a gravidez. O garoto nerd buscando ela todos os dias. Cath me contando sobre tudo e como era importante manter segredo. Ela sangrando no banheiro quando eu a encontrei, aquela tentativa de aborto que não deu certo. Cath fazendo as malas no meio da noite e indo estudar no exterior. O garoto procurando por ela. Cath me confessando que tinha conseguido tirar o feto.
Eu tinha apenas nove anos não devia saber de tudo. Não devia saber de nada.
Porém, ninguém nunca tentou esconder o segredo de mim.
— Cyber tinha algo pessoal contra a Secret... Contra mim...
— Meu irmão odeia a sua irmã por ter matado o filho dele.
— Como ele soube?
— Ela contou para ele e disse que ia tentar abortar com remédios. Augusto não acreditou até que ela disse que não tinha conseguido e estava procurando outro método. Acho que ela encontrou.
— Cath sempre foi esperta.
— Você também, Anna – a indiferença voltou – É por isso que vai me ajudar ou todos vão conhecer o segredinho da sua irmã. Não tenho nada para usar contra você, mas e contra quem você ama?
Antes de tudo quero esclarecer que não sou a mocinha. Criei a Secret para fugir da minha realidade e ajudar os outros foi um bônus que não previ. Aceite o fato de que se você torce ou torceu por mim em algum momento, estava torcendo pela vilã dessa história.
Lucca passa como um furacão pela porta do meu quarto e posso ouvir os gritos da minha mãe no andar debaixo sobre ele estar invadindo nossa residência.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Porra, Anna! – ele segura meus ombros e me balança – Que droga de mensagem foi aquela?
— Uma mensagem normal com informações de forma direta e bem organizada – arrisco.
— “Fui descoberta. Ícaro é o Bill. Preciso de absorventes” – ele encara meus olhos – Você não disse se com ou sem abas!
— Eu só gosto dos com abas.
Lucca solta meus ombros e joga a embalagem de absorventes em mim.
— O que rolou?
Conto brevemente a história e o pedido indecente que Ícaro fez pra mim.
— Ele quer que você ajude com as rosas? – Lucca repetindo isso torna ainda mais irreal.
— Exato.
Nunca quis ser uma mocinha, sempre lidei bem com meu posto de vilã.
Deito com a barriga para cima e encaro o teto.
— Por que ele teve tanto trabalho?
— Eram testes.
— Ele tem provas contra você?
— Não.
Sinto a cama ceder com o peso do Lucca.
— Vai ajuda-lo?
— Sim.
— Por quê?
Ele não esconde sua confusão. Fico virada de lado e o olho nos olhos avelã que sempre admirei.
— Estou cansada de ser a vilã.
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