Seu lugar é ao meu lado

Único; Aceita sair comigo?


Droga!

Era só ir até ela e fazer uma simples pergunta, por que sempre complicava tudo?

Sua missão pessoal consistia em criar coragem e chamar Adora Grayskull para um encontro. Nada demais, não é mesmo? Errado, só o simples fato de tentar iria induzir Catra a quase ter um treco.

“Relaxa Cat, é só chegar na garota, olhá-la nos olhos e perguntar, simples assim! Se a resposta for ruim, o que acho difícil, você apenas concorda e, educadamente, lhe dê as costas”.

Scorpia fazia as coisas parecerem tão fáceis! — Revirou os olhos ao lembrar das palavras da amiga numa conversa mais cedo.

Independente da resposta, não iria deixar se abater, pelo menos não na frente dela, era orgulhosa demais para se submeter a isso.

A reunião do grêmio estudantil estava prestes a acabar, Glimmer terminava de recapitular o conteúdo da reunião. Catra, encostada no batente da porta, observava a loira, sentada entre Glimmer e Bow, brincando distraída com o enfeite de sua pulseira dourada.

Como descrever Adora Grayskull? Ela era maravilhosa, tanto fisicamente quanto como pessoa. Seus longos cabelos eram lisos, sedosos e brilhosos presos num rabo de cavalo alto com um icônico topete elevado na frente, seu sorriso era radiante como o sol e seu corpo não deixava nada a desejar.

Ela era perfeita, parecia uma princesa.

Elas estudavam juntas desde a sexta série e o passatempo preferido de Catra sempre foi implicar com a loirinha durante os intervalos e, principalmente, durante as aulas, fazendo ambas levarem sermões dos professores diversas vezes — para o desespero de Adora e divertimento de Catra. Teve uma época em que eram inseparáveis, onde uma ia a outra estava junto, porém a partir do momento em que Adora trocou de turma na oitava série e começou a ter amizade com Glimmer, Bow e o restante da corja, se distanciaram, as conversas cada vez mais se limitando. Esse foi o motivo de muitas discussões entre Catra e os “melhores amigos para sempre”, ela realmente não conseguiu entender por um bom tempo o porquê de ter sido trocada.

Um dia, num final de tarde, quando estava encolhida nas arquibancadas do ginásio, Adora se aproximou e puxou assunto, disse que sentia saudades e que não era sua intenção magoá-la, muito menos se distanciar, não foi escolha dela e sim de sua tia. Shadow Weaver não foi com a cara de Catra desde o primeiro momento, afinal “aquela pestinha é muita má-influência para a minha menina”. Relutou a princípio, entretanto não demorou muito a ceder e a conceder um caloroso abraço de reconciliação.

Assim que a reunião se encerrou todos se retiraram, ficando Bow, Glimmer e Adora por último, eles conversaram por alguns minutos até que se despediram, deixando apenas Adora para trás, concentrada, organizando de pé as papeladas na mesa. Aquela era sua deixa.

— Oi Adora. — disse chegando por trás com uma voz manhosa. A loira deu um pulinho de susto.

— Catra! — pôs a mão no peito. — Você quase me mata de susto!

— Muita papelada da reunião? Seus amigos costumam sempre deixar todo o serviço pesado para você? — soergueu uma sobrancelha.

— O quê? Não, a gente reveza. De segunda e terça sou eu. De quarta e quinta a Glimmer. E o Bow às sextas-feiras, mas sempre quando ele tá disponível ele vem dar uma mãozinha pra gente nos outros dias da semana.

— Oh, claro. Que bela dinâmica. — ironizou, esticando o pescoço para ver os papéis, ao notar isso, Adora guardou-os dentro da bolsa, a outra fez careta. — O que é de tão importante, hein?

— É uma surpresa. — Catra a olhou com o olhar pidão, a loira tentou não sustentar o olhar, mas fracassou. — É um novo projeto mirabolante pra escola, isso é tudo que posso dizer. — jogou uma mecha rebelde para trás da orelha.

— Mirabolante, hm... — fez um breve bico. —, estou contando com isso.

— É sério, se não fosse confidencial você seria uma das primeiras pessoas a saber.

— Não, tudo bem, eu acredito em você.

Adora suspirou e sentou-se à mesa, a bolsa a tiracolo. Abriu o notebook e começou a digitar.

— A Entrapta me pediu para organizar umas planilhas para as próximas aulas do clube juvenil de tecnologia pra ela. — voltou a dizer sem tirar a atenção do computador. — Vou demorar um pouco, se quiser ir embora na frente sem problemas.

— Fico aqui te esperando.

— Ok.

Catra deu-lhe as costas e começou a examinar a estante de premiações do grêmio. Todas as medalhas ganhas pela escola ficavam expostas ali, por segurança. Deparou-se com datas de eventos conhecidos, como quando Perfuma levou a conquista de melhor jardim e projeto ecológico para casa ou na vez que a veterana Mermista ganhou em primeiro lugar na competição interescolar de natação há dois anos. Riu baixo ao lembrar do dia em que o namorado excêntrico da veterana, Sea Hawk, colocou — acidentalmente em sua defesa — fogo na cabana dos avós. Catra era vizinha deles e assistiu em tempo real a correria dos bombeiros e dos policiais e o desespero e raiva nos olhares dos idosos. Ninguém se feriu. Aquilo rendeu altas fofocas entre ela e Scorpia no dia seguinte.

Virou-se bruscamente e sua pulseira encostou em algo, o movimento a fez tilintar baixo. Ao observá-la, flagrou os arranhões em seu braço.

— Melog tá sentindo falta de suas visitas — confessou se referindo ao gatinho de estimação.

— Só o Melog? — Adora arqueou uma sobrancelha.

— Fazer o que, você o mimou tanto que roubou ele de mim.

— Não é minha culpa se ele gosta dos meus afagos. — deu de ombros. — Gatos lá no fundo gostam de carinho e atenção, por mais ríspidos que sejam.

— Falou a especialista. — bateu palmas.

Adora riu nasalado e balançou a cabeça em reprovação.

— Então… — começou se aproximando. — Como anda sua agenda para essa semana, vice-presidente? Muitos compromissos?

— Nada além de horas de estudos entediantes. — bufou. — Minha tia me sufoca até dizer chega.

— Credo! Ela deveria te deixar viver um pouco, garota. — declarou, o que fez a Grayskull revirar os olhos.

— Vocês deveriam parar de implicar tanto uma com a outra. — a olhou. — E isso que ela faz é para o meu bem. — acrescentou.

— Bem? Ficar trancafiada durante seu tempo livre no quarto sem direito a uma pausa, que belo bem então. — riu se encostando a mesa.

Adora torceu a boca e preferiu não refutar, porque sabia que Catra tinha um ponto. Sua rotina de estudos consistia em: acordar antes do sol raiar, fazer meia-hora de caminhada diária, se alimentar bem e ir pra escola, após a escola deveria ir para a aula de esgrimas às segundas, de hipismo com seu fiel companheiro Swift Wind às terças, de Mandarim às quartas, de natação às quintas e uma revisão de exatas com um professor particular às sextas. E todos os dias, deveria fazer um resumo de tudo que aprendeu nas últimas 24 horas, antes de dormir. Os únicos dias que poderia ter algo mais próximo de um descanso eram os fins de semana, mas chegava a vez das suas obrigações do grêmio escolar a atingirem. Apesar disso, incrivelmente conseguia dar conta de tudo, todavia precisava urgentemente de uma pausa.

Engoliu em seco, suspirou fundo e olhou nos olhos da amiga.

— Afinal... Qual é a dessa pergunta? — arqueou a sobrancelha. — O que está tramando Catra?

— Eu? Nada — respondeu risonha. —, apenas tô querendo chamar, você sabe, alguém pra sair.

— Bom, e quem seria esse alguém?

Catra a olhou incrédula.

— Caramba! Você é lerda mesmo. — comentou cruzando os braços. Adora piscou e pensou.

— Esse alguém seria eu? — arriscou perguntar e Catra bufou.

— Sério? O que me entregou? — falou sarcástica e era perceptível que Adora enumerava as pistas mentalmente. — Esquece, isso não tem importância. — deu de ombros. — Você toparia sair comigo domingo agora? — reencostou-se na mesa. — Sei que as probabilidades são mínimas, mas…

— Eu topo! — respondeu surpreendendo a morena.

— Sério, enquanto a Shadow e aos estudos?

— Para você eu tenho um espaço em branco. — piscou.

— Ótimo! — estendeu-lhe um bilhete dobrado que tirou do bolso dianteiro da calça legging. — Te encontro lá então — sorriu. — Até mais, Adora. — se retirou da sala com o coração disparado no peito.

— Mas você não iria me esperar? — Adora questionou, contudo não obteve resposta.

Sozinha na sala do grêmio, sentiu o rosto esquentar. Abriu o bilhetinho e viu nele o recado:

“Me encontre no parque Bright Moon às 19h15. Estarei próxima da fonte”.

Ainda encontrava-se fascinada com a facilidade que teve ao mentir a Shadow na hora de pedir permissão, justificando sua saída como “assuntos do grêmio”, quando chegou, próximo das 19h, perto da fonte. O sol se punha no horizonte e seus pelos se arrepiaram com o contato da brisa fria.

Bright Moon continuava linda igual a última vez em que esteve ali, sua fonte possuía uma água cristalina e o parque, como de costume, era iluminado por bonitas luminárias redondas em postes altos. A loira destacou-se no meio das luzes, vestindo um vestido vermelho cavado que batia nas coxas, o cabelo preso em um pompom rosa escuro, carregando consigo uma rosa branca que encontrou durante a trajetória até o local.

Em passos discretos, Catra se aproximou e seu coração alegrou-se no peito ao vê-la. A morena suspirou fundo e ajeitou o terno uma última vez.

— Você tá deliciosa nesse vestido. — elogiou ficando ao seu lado. Adora corou as maçãs do rosto.

— Você também não está nada mal. — respondeu sorrindo, após uma longa análise dos pés à cabeça. Ela definitivamente caía bem de terno.

— Vamos? — perguntou, sorrindo ladina, estendendo seu braço.

Adora o segurou e repousou a cabeça em seu ombro. Colocou a rosa dentro do bolso do terno da companheira e se encaminharam em direção a um restaurante que ficava nas proximidades.

A única certeza que tinham daquela noite era que ela seria inesquecível.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.