Sete dias de natal

You make feel like christmas


A voz de Michael Bublé ecoava pela casa se misturando as vozes das conversas animadas. Barry se sentou nos degraus da entrada esperando que o frio daquela noite o ajudasse a ignorar a sensação ruim que tomava conta de seu corpo. O encontro com o homem do traje amarelo não havia sido exatamente encantador, saber que o assassino de sua mãe estava vivo fazia seu corpo entrar em um processo de negação que virava raiva extrema. Mas ele não podia negar que também havia sido um alívio saber que não estava louco, que o homem que matou sua mãe não havia sido seu pai e que ele falará a verdade durante toda a vida.

Observando a casa do outro lado da rua, uma casa iluminada por luzes coloridas e brinquedos espalhados pela grama, Barry começou a imaginar como era ter um natal normal, com sua mãe e seu pai. A sua memória do último natal que teve com eles era nublada e fragmentada, lembrava do chocolate quente, de algum filme antigo sobre o natal, do cantarolar de sua mãe ao preparar a ceia e da alegria de abrir os presentes na manhã seguinte. As memórias eram melancólicas e distantes como sempre.

Ele olhou para cima, para o céu estrelado, não havia neve ou qualquer fenômeno natural que o lembrasse que era noite de natal. Se não fosse pelas músicas natalinas, White christmas tocava em replay atualmente, Barry mal estaria lembrando que dia era aquele. Embora tivesse muito o que comemorar, principalmente pelos últimos meses daquele ano, ele não sentia aquela felicidade avassaladora que todos diziam que o natal trazia. Era uma inquietude calorosa que fazia seu coração bater mais rápido. Mas essa sensação não provinda do natal, ele sabia muito bem quem culpar.

Ele não abaixou o olhar quando ouviu a porta da casa se abrindo ou quando os passos se aproximaram dele, somente tirou os olhos das estrelas quando sentiu os lábios dela tocaram sua bochecha, seu coração se aqueceu e deu um pequeno sorriso para a mulher que havia feito seu natal parecer um natal.

—Um moeda pelos seus pensamentos. - Caitlin cantarolou em um sussurro se sentando ao lado dele não parecendo se importa com o frio de dezembro, Barry cogitou se levantar e levá-la para seu quarto onde os dois estariam aquecidos e sozinhos, porém seu corpo parecia pesado demais para ser arrastado escada acima e ele também não estava com vontade de ficar ouvindo as piadinhas que os outros iriam fazer quando os vissem juntos. Principalmente porque ninguém sabia que eles estavam juntos.

Eles eram bons em esconder isso, talvez não tão bons assim, mas o suficiente para ninguém desconfiar logo de cara.

—Como você está? - ele indagou lembrando do que havia acontecido mais cedo sobre Ronnie. Caitlin deu de ombros passando o braço ao redor do dele e entrelaçando seus dedos.

—Eu não sei. Com raiva, um tanto descrente e muito frustrada… eu não sei ao certo o que sentir. E você?

—Também não sei. - Barry a encarou esperando poder dar uma resposta melhor do que aquela, mas parecia impossível. Era natal, a época mais deprimente do ano, e isso era um fato comprovado cientificamente, já que a taxa de suicídio aumentava durante dezembro. Barry sempre se sentiu triste quando chegava o natal e ele não podia estar com seus pais, ele tinha Joe e Iris, mas eles não podiam ou deviam ocupar o lugar que era de Henry e Nora. - Ninguém deveria passar o natal triste.

—Eu sei. - Caitlin sussurrou deitando a cabeça no ombro dele. Barry então lembrou que Caitlin havia lhe contado que também tinha perdido o pai quando era mais nova e consequentemente a mãe, mesmo estando viva sua mãe não era mais tão presente em sua vida. Barry sabia o que era sentir falta de alguém que estava tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe.

—Eu comprei um presente para você. - ele disse, Caitlin ergueu a cabeça e o encarou com um olhar confuso.

—Não sabia que estávamos trocando presentes. Por que você não me falou? Eu não tenho nada para você!

—Não se preocupe. Eu não preciso de nada. - Barry assegurou dando um sorriso para ela, mas Caitlin não pareceu relaxar, ao contrário disso, ela se manteve tensa enquanto ele puxava a caixa que estava ao seu lado e entregava à ela. - Só abra na manhã de natal.

—Você vai realmente me deixar ansiosa por isso? - Caitlin riu apertando o presente contra si. - E como você vai saber que eu só o abrirei amanhã?

Barry pensou um pouco sobre como responder aquilo. Havia apenas uma resposta que ele queria dar, porém sentia que estaria pressionando-a. Eles estavam juntos há apenas duas semanas e não haviam dando nenhum passo além do ponto que estavam. Barry temia que caso fizesse o movimento errado Caitlin se assustaria e perdê-la era a última coisa que ele queria.

—Eu confio em você. - ele disse. Caitlin sorriu deixando o presente em seu colo, Barry se aproximou colocando a mão sobre a lateral do rosto dela, Caitlin olhou ao redor se certificando de que eles estavam à sós, então deixou que ele continuasse e a beijasse.

Barry adorava beijar Caitlin. Era como estar flutuando pelo oceano, tão calmo e tranquilo, cercado de grandes possibilidades. Ele gostava como as mãos dela se moviam sem saber onde parar, gostava do sorriso que ela dava no meio do beijo por lembrar de algo e gostava principalmente do suspiro que saia de sua boca quando eles se separavam.

Ele passou o dedos pelo rosto dela empurrando alguns fios soltos do seu cabelo para trás da orelha. Caitlin abriu um lindo sorriso

—Acho melhor voltarmos para dentro ou Cisco virá nos procurar. - Barry disse já se levantando e estendendo a mão para ela. Caitlin aceitou sem tirar o sorriso do rosto.

White christmas havia sido trocada por Baby please come home para a felicidade de Barry, porém esse sentimento durou pouco quando ele viu Eddie e Iris dançando no meio da sala. Haviam muitas emoções dentro dele lutando dentro para sair, mas a que se destacava era a tristeza por não poder dançar com quem ele queria.

[...]

O fogo na lareira ia aos poucos se apagando enquanto Cisco roncava no sofá. Barry observou Caitlin ajeitar uma manta grossa sobre o engenheiro que apenas se virou para o outro lado e voltou a dormir.

—Quem diria que ele aguentaria seis copos de gemada da vovó Ester. - Barry disse, Caitlin riu enquanto se afastava do amigo adormecido.

Depois da meia-noite Iris e Eddie se despiram, ela iria passar o resto da noite de natal com o namorado, apenas prometendo a Joe que estaria no café da manhã do dia seguinte. Cisco e Caitlin pretendiam ficar por um pouco mais de tempo, porém como Cisco havaianas adormecido no sofá, Joe ofereceu o quarto de Iris para Caitlin dormir. Barry sugeriu levá-la para casa em poucos segundos, mas Caitlin havia negado dizendo que ele merecia um descanso do logo dia.

—Vou te levar até o quarto. - Barry segurou a mão dela e a puxou em direção a escada, Caitlin porém o parou e se virou para pegar o presente que estava perto do sofá.

—Tecnicamente já é a manhã seguinte. - ela disse passando por ele e subindo os degraus. - Onde é seu quarto?

A mente de Barry parou por um segundo. Havia tantos pontos a serem analisados naquele momento, muitos positivos, mas os negativos eram bem mais preocupantes.

Talvez ele tivesse demorado demais para responder e seu inconsciente resolveu agir, pois quando viu já estava abrindo a porta de seu quarto para Caitlin entrar. Ela caminhou até a cama e retirou os saltos para se acomodar sobre o colchão. Barry se sentou ao seu lado, enquanto removia os sapatos, Caitlin abria seu presente.

Barry observou que os olhos dela iluminaram ao perceber a boneca na caixa. Era um presente ridículo para dizer no mínimo, mas ele não conseguia pensar em mais nada para dar a ela além de uma Betty Spaghetty. O presente de natal que ela nunca havia ganhado.

—Barry. - Caitlin sussurrou passando a mão pela caixa e observando a boneca de cores vibrantes. Havia sido um pouco difícil achar um Betty Spaghetty em perfeitas condições, embora elas tivessem voltado ao mercado, Barry sabia que Caitlin merecia uma original. Ela merecia o melhor. - Eu realmente não tenho nada para você.

Barry a encarou por alguns segundos imaginando como teria sido aquele natal ou aquele ano sem ela. As coisas entre eles ainda eram confusas e complicadas, haviam muitos fantasmas e "e se…", mas ele tinha percebido que não trocaria aquilo por nada. Caitlin fazia com que todo dia parecesse natal, aquela sensação de esperança e felicidade sempre pairando no ar. Era bom, bem melhor do que qualquer coisa que ele havia experimentado. Ele não queria de muita coisa naquele natal. O Papai Noel havia lhe dado apenas o que ele precisava de verdade.

—Não se preocupe. O fato de você estar aqui já é o suficiente.

Caitlin se inclinou sobre ele e o beijou como havia feito horas antes. Instintivamente ele passou o braço ao redor da cintura dela a puxando para si, Caitlin soltou Betty Spaghetty passando a perna ao redor dele para se sentar em seu colo. Barry se deitou na cama puxando-a consigo, Caitlin se afastou o encarando com seus olhos castanhos brilhantes como luzes de natal.

—Feliz Natal, Cait. - ele sorriu sentindo o coração bater forte quando ela sorriu de volta e sussurrou.

—Feliz Natal, Barry. - Caitlin deitou a cabeça contra o peitoral dele direto em seu coração. Barry deixou sua mente repassar os momentos daquele dia, todas as sensações e sentimentos, tudo de bom e ruim que havia acontecido. O dia não tinha saído como o imaginado, mas a noite havia sido bem melhor. Ter Caitlin e Cisco ao seu lado fazia com que o natal fosse mais… natalino. E ter Caitlin parecia fazer o natal ser mais mágico.

—Você quer dançar comigo? - Barry indagou depois de alguns segundos. Caitlin ergueu a cabeça e sorriu para ele.

—Pensei que nunca iria perguntar?

Barry sorriu enquanto eles se levantavam da cama, ele pegou o celular e o par de fones de ouvido, entregou um dos lados para Caitlin e selecionou uma das suas músicas de natal favoritas. Caitlin passou os braços ao redor do pescoço dele, enquanto Barry colocava os seus ao redor da cintura dela, eles se moveram lentamente pelo quarto com a melodia suave de I'll be Home for Christmas.

Caitlin deitou a cabeça contra o ombro de dele e fechou os olhos, Barry também fechou os olhos se deixando levar pela música e as batidas do coração dela. Ele se sentia dentro de um sonho de natal, mágico e espetacular. Mas para sua sorte, aquilo era totalmente real.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.