Sete Vidas

vida 7 epílogo capítulo 1


Gabriel observa fascinado aquela realidade sendo reescrita.

No exato instante em que Sam desperta com a firme intenção de rechaçar a proposta do demônio Azazel, a linha do tempo que passava pelo acidente que deixou Dean tetraplégico e mutilado; seguia por seu cruel assassinato em um quarto miserável de motel de beira de estrada; e terminava com um Sam de olhos escurecidos, agora amante de Ruby, libertando Lúcifer do Inferno, se APAGA.

É como uma onda se propagando pelo tempo-espaço a partir de Stanford, três anos antes, mudando os destinos, inicialmente de poucos, depois de milhares e finalmente de todo o planeta. A libertação de Lúcifer - e a subseqüente guerra entre anjos e demônios - levaria à total e definitiva extinção da vida no planeta. Nem mesmo as baratas sobreviveriam. Esse futuro ainda não estava completamente afastado, mas deixara de ser inevitável.

De seu ponto de observação, fora do tempo, Gabriel seria o único que não seria afetado pela transformação em curso e que ainda lembraria de como seria aquela realidade se ele não tivesse interferido, trazendo Sam para ver as conseqüências futuras de seus atos. Mesmo o Paraíso e o Inferno seriam afetados, e nem ao menos suspeitariam que o destino de toda aquela realidade fora um dia alterado.


Gabriel vê a cena mudar diante de seus olhos. Sam, ainda estava com o Colt fumegante na mão e recebia um beijo de recompensa de Jessica, quando a onda de mudança os envolve. A realidade é retorcida até quase a ruptura e então tudo volta ao normal. Mas, ao mesmo tempo, tudo mudou. As pessoas e suas histórias não são necessariamente as mesmas. Nascimentos, mortes, encontros, amores, carreiras, casamentos. Alguma coisa estava diferente na vida de milhões de pessoas, em todos os lugares do mundo.


O quarto de motel ainda é o mesmo, mas não há mais qualquer sinal da presença de Jessica. Ao invés disso, há um túmulo bem cuidado na sua cidade natal. Uma garota boa e estudiosa que morreu cedo demais e deixou saudades. Uma alma boa que encontrou o seu lugar no Paraíso.


Sam tem o Colt na mão e olha contrariado o irmão esticado sobre a cama. Em momentos como este, sente vontade de matá-lo. Mas, tudo que faz é pousar o Colt sobre a mesa de cabeceira entre as duas camas de solteiro e balançar o irmão pelo ombro, para acordá-lo.

– Dean, acorda. Já tenho a informação. Já sei onde fica o ninho dos vampiros.

– Droga, Sam. Eu fui dormir tarde.

– Eu também. Só que eu fiquei aqui pesquisando e enquanto você estava lá se divertindo com a garçonete peituda.

– O que prova que mereço dormir mais um pouco. Acha que foi fácil apagar o fogo da peituda. Ela não se contentou com umazinha só, não. E olha que foi serviço completo. Veio de novo para cima de mim, querendo mais. Duvido que alguém como você desse conta do recado.

– Tá bom, Dean. Eu já entendi. Não precisa entrar em detalhes. Podemos, então, voltar ao que interessa. Os vampiros, lembra. A gente vai lá, faz o serviço, volta e você dorme o quanto quiser. De noite, a gente pega a estrada de novo. O Bobby descobriu a ação de uma bruxa em Iowa. Tem ainda um caso provável de fantasma vingativo numa cidadezinha do Oregon.

– A bruxa vai ter que esperar, Sam. À noite, eu tenho um novo encontro com a peituda. Mulher desta categoria não é fácil de encontrar servindo mesa nas espeluncas que a gente freqüenta.

– Eu só espero que você nunca esqueça de usar preservativo, para não ter uma surpresa bem desagradável.

– Ciúmes, Sam?


Gabriel sorri, satisfeito. A relação dos irmãos voltara a seguir o padrão da maioria das realidades que visitara. Isso aumentava as chances de sucesso. Estava esperançoso. Aquela realidade, que batizara de realidade 7, é a que sofrera com maior intensidade o Apocalipse. E bastara intervir em um único ponto para que o pior cenário fosse definitivamente afastado. Isso aumentava sua certeza que o destino do mundo seria decidido por aqueles dois humanos. Para o bem ou para o mal, o destino do mundo, em todas as realidades, dependia das ações dos irmãos Winchester.

O Trickster ainda tinha muito trabalho pela frente.