Ele manteve o olhar em mim durante algum tempo, mas o sustentei firmemente; ele não me assustava mais (até assustava, mas eu não estava mais sozinha). Depois de alguns longos segundo ele resolveu entrar de vez, passando frieza em seu semblante que agora nos ignorava.

De sua pasta ele retirou quatro folhas e veio em nossa direção.

—Vocês farão exercícios de matemática agora, que o Yamashita-sensei gentilmente preparou para vocês. Terão um prazo limite e logo depois que terminarem darei outra folha para vocês. Mas antes disso, você irá tirar cem xerox dessa outra folha aqui, Monami. Espero que seja rápida, pois o tempo limite de vinte minutos para resolver a sua própria folha acabaram de começar.

Fiquei espantada novamente, aquilo era definitivamente abuso de poder! Vi que Ryu já ia reclamar com o professor, que já se direcionava para a sua mesa do canto oposto ao da sala, mas o impedi silenciosamente com a mão.

Peguei as folhas que ele me deu, um lápis e uma borracha. Saí do recinto normalmente e ao fechar a porta, disparei, correndo.

Aquele desgraçado estava mexendo com um dos meus maiores pontos fracos: pressão. Nunca conseguia fazer nada sobre pressão, sempre errava as coisas mais idiotas e ainda sentia aquela sensação desesperadora. Porém, eu não iria perder para ele, se é guerra que ele quer, ele já tem uma inimiga para isso.

Cheguei arfando na micro salinha do xerox e como se fosse algo comum (e era, pois desde muito tempo ajudava os professores com esses tipos de tarefas), já comecei a programar a máquina e colocar a folha certa para ser copiada (verifiquei duas vezes a folha antes de ela ser copiada, não iria correr o risco de copiar a errada).

Enquanto a máquina fazia o trabalho dela, eu fazia o meu. Olhei a folha que me foi dada e comecei a praguejar baixinho.

Aquele ser havia passado exercícios de todo o fundamental. Eram cinco exercícios que, devido ao tempo que tomavam, pareciam o triplo das atividades normais. Comecei a vasculhar o meu cérebro por informações e fórmulas, que realmente eram muitas, já que eu estava lidando com matemática. Mas como era algo que visava o exato, as escolha só poderia ser duas: ou você achava o resultado ou ficaria sem resposta.

Comecei a fazer o exercício número um com a máxima calma que o meu cérebro conseguia ter, o que não era muita devido à pressão martelando na minha cabeça. Mas quando finalmente terminei e passei para o número dois, percebi que ia muito mais do que complexos exercícios de matemática. A verdade é que eles eram complexos exercícios de matemática que se interligavam!

Ótimo! Um número, um sinal, uma vírgula errada, resultaria no erro dos próximos exercícios. Diante desse desafio, respirei fundo e me concentrei em dobro. Eu tinha que confiar em mim e pensar positivo, afinal, era a única opção que ainda me restava.

Quando estava terminando o exercício cinco à máquina apitou, avisando o fim de seu trabalho. Terminei de vez o exercício e olhei a quantidade de tempo que foi utilizado para xerocar a folha: dezenove minutos e dez segundos.

Como se eu tivesse recebido uma grande descarga elétrica, todo o desespero me veio como a água de uma represa solta depois de ser contida, liberando toda a sua força. Depois de todos esses minutos eu não iria fracassar justamente agora, no final. Então,depois de fazer os exercícios, permiti-me ficar desesperada e voltar correndo para a sala.

Corri, corri e corri, aquilo já era uma questão de honra. Abri com todo o desespero do mundo a porta da sala e praticamente me joguei em cima da mesa do professor, olhando logo em seguida o seu relógio, que mostrava os meus cinco segundos adiantados. Respirei fundo e me deixei cair no chão, arfando. Depois de ter recuperado um pouco o meu fôlego, olhei para cima, demonstrando toda a minha força de vontade através do olhar e vi sua expressão, que estava um tanto quanto neutra.

Logo ele voltou-se para as folhas que joguei desleixadamente sobre a sua mesa. Pensei que ele faria alguma crítica, mas apenas organizou-as e se voltou para a minha folha. Após analisá-la, sem olhar para mim, apenas me entregou outra folha, com novos exercícios. Eu a peguei e sorri, um sorriso de triunfo.

Ao me encaminhar para o meu assento, logo percebi os olhares dos meus novos amigos, que demonstravam orgulho.

—Parabéns, Yumi-chan! – cochichou alegremente Ryu.

—Arigatou – agradeci em resposta, não conseguindo esconder o meu sorriso.

Ao direcionar meu olhar para Furederich, percebi seu sorriso e seu olhar em mim, então correspondi, um pouco encabulada.

E os minutos passavam, se arrastando cada vez mais e eu resolvendo folhas e mais folhas.

Era complicado explicar a minha determinação, eu só pensava em vencer, acabar com ele. Mas ao mesmo tempo, eu também sentia medo, receio do que poderia acontecer depois.

Ao final, o sol já estava se pondo e o professor não tinha mais desculpas para continuar nos mantendo em uma sala de aula. Então, ele se levantou e se encaminhou em nossa direção, com a irritação tomando-lhe a face sem preocupação em camuflá-la; provavelmente não esperava o nosso, principalmente o meu, ótimo desempenho.

—Vocês já podem ir embora, Ryugamine e Furederich.

Ryu olhou para mim, apreensivo. Como resposta correspondi com um leve sorriso, indicando que estava tudo bem. Com isso os dois partiram, deixando-me sozinha, sem defesa exterior.

Como um leão que sente o medo de sua presa, ele se aproximou sorrateiramente fixando seu típico olhar gélido em mim, não restando outra opção a não ser fitá-los, mostrando indesejadamente todo o meu temor. Foi então que eu percebi que os seus braços estavam escondendo algo atrás de suas costas. Eu não conseguia ver o que era, mas um frio percorreu o meu corpo e o meu cérebro travou.

Finalmente, ele parou exatamente de frente para mim. Seu braço demonstrou movimento, anunciando lentamente o que estava por detrás. Senti minha alma congelando e meus olhos se arregalarem de medo a medida que ele revelava o que estava em suas mãos.

O meu temor havia se concretizado: ele estava com o meu casaco, ou melhor, o casaco de Furederich.

Ele então se debruçou sobre a minha mesa, aproximando o rosto dele ao meu, com uma mão apoiado na carteira e a outra mostrando o casaco para mim.

—Reconhece isso, Monami-san? – ele perguntou, mesmo já sabendo a resposta.

Mas a resposta não veio, eu realmente estava paralisada.

Ele se afastou abruptamente, dando as costas para mim, só me deixando escutar a sua voz com um incrível tom de ameaça.

—Se contar algo do que viu, a sua situação vai se tornar muito pior.

“É possível?” , pensei com os meus botões, porem resolvi me segurar, afinal, eu ainda dava valor a minha vida.

Depois de um breve tempo que parecia não ter fim e como ele continuava parado na mesma posição, resolvi me levantar. Fiz o maior barulho possível para avisar que eu estava me retirando e como ele não reclamou, resolvi ir embora.

A porta estava próxima, mas os segundos se arrastavam. Estiquei a minha mão para puxar a porta para o lado quando senti uma mão no meu braço, pegando-me de surpresa. Ele então me virou e me empurrou contra a parede, logo depois aproximou sua boca perto da minha orelha, sussurrando:

—Vá para a minha sala amanhã, depois da aula.

E com isso se retirou com passos rápidos, deixando-me pasma, ainda encostada contra a parede. De novo estava contra aquele monte de concreto, parece que havia algo que me conectava com ela, uma espécie de magnetismo. Não... o problema era com alguns homens ao meu redor mesmo, aqueles...

Fiquei alguns minutos processando aquele bruto aviso e no que havia acontecido, quando o sinal tocou. Naquele horário ele só podia significar uma coisa: o fechamento dos portões.

Como se me ligassem na tomada, eu comecei a correr para sair da escola.

Desci pulando os degraus, lembrando que estava escurecendo e isso era um sinal de perigo. Já estava chegando próximo ao portão principal quando vi a silhueta de alguém escorada no muro. Espremi os olhos e reconheci quem era.

Masaomi.

Ele me observava, esperando calmamente. Ao chegar arfando perto dele, respirei fundo e perguntei:

—Por que ainda está aqui?

—Que pergunta idiota essa, não?

É, ele tinha razão.

—Vamos logo – suspirou um irritado Masaomi – Como pode ver, já está escurecendo.

—Desculpa a demora – comentei, abaixando a cabeça –Mas não precisa fazer isso, você sabe. Mesma que seja uma promessa... – então fui interrompida, com ele puxando o meu queixo para cima.

—Faço tudo isso porque quero, ele não me influencia.

Ele se virou em seguida e começou a ir, sem mim.

Me apressei e fiquei ao seu lado, o silêncio reinando fortemente entre nós. Já estávamos quase chegando na minha casa, quando finalmente tomei coragem e perguntei:

—Por que está tão irritado?

Como a resposta não veio, arrisquei olhar para cima. Seu olhar continuava se dirigindo ao horizonte, indiferente, uma das maneiras que ele ficava quando estava irritado.

Abaixei a cabeça novamente, fitando os meus pés.

—A culpa é toda sua – ele respondeu, atrasado.

—Como assim?! – me espantei, parando de andar – A única pessoa que faz coisas assim é você!

Após eu me calar, ele também parou de caminhar. Masaomi virou e me encarou, observando-me de maneira ameaçadora e logo depois vindo em minha direção. Eu comecei a me afastar na medida que ele se aproximava, mas senti algo dura as minhas costas, avisando-me que eu estava encurralada. Novidade.

Suas mão ficaram cada uma apoiadas de um lado da minha cabeça. Como o sensei, ele aproximou sua boca do meu ouvido e sussurrou:

—Fica se engraçando com outros garotos e depois volta pra mim?

Eu ia revidar, porém, quando abri a minha boca seus olhos já estavam me absorvendo para si mesmos. Sorrindo com o efeito que conseguiu em mim, exclamou:

—Por causa disso, não vai ter beijinho de despedida.

E com isso se afastou, deixando-me chocada e com uma irritação crescendo a cada instante.

Quando terminei de processar o que havia acontecido, gritei de raiva, com Masaomi já quase sumindo no horizonte:

—MASAOMI NO BAKA!