Sesshomaru - Luz E Escuridão

Capítulo 45 - Tudo Normal...?


Estavam todos despedaçados e separados pelo Templo depois da morte de Hikari. Rin estava a procurar alguma coisa para a filha usar no funeral, Sesshomaru continuava no quarto com Hikari e Yoru limitava-se a olhar para o céu, à porta do Templo.

Passados alguns minutos, Sesshomaru pegou na filha, levantou-se e foi ter com filho, parando ao seu lado. Yoru queria olhar para a irmã, mas não conseguia vê-la sem as orelhas e as marcas…sem vida. Por isso, olhou para o horizonte.

— O que é que estás aqui a fazer? – perguntou Yoru, um pouco chateado com o pai – Já vamos para a aldeia do cachorro para enterrar a Hikari? Mesmo sem a mãe?

Sesshomaru inspirou e expirou fundo. – Se eu morrer, Yoru, és tu que vais ter de enterrar a tua irmã.

— O quê!? – perguntou Yoru, olhando para o pai que lhe entregou imediatamente Hikari – O que é que estás a fazer?

— O que faço melhor. – murmurou Sesshomaru, com os olhos vermelhos – Matar.

Yoru afastou-se um bocado quando sentiu rajadas de vento a erguerem-se à volta do pai e depois viu porque é que o pai estava a transformar-se e pensava que podia a morrer.

Chronos e Aion aproximavam-se do Templo vagarosamente, o que ainda devia estar a irritar mais o pai. Yoru teve que se afastar ainda mais, quando a transformação do pai estava a terminar e a destruir parte do Templo no processo.

Yoru gostou de ver Chronos e Aion a aumentarem o passo, quando viram a transformação do pai. Ele mesmo estava com medo de estar tão perto do pai.

Pelo que sabia, o pai nunca se tinha transformado desde que a mãe tinha ficado grávida com Hikari, por isso não sabia o quanto é que ele podia controlar-se. Não se lembrava de mais nada a partir daí, porque Chronos parara o tempo. No entanto, Sesshomaru começou a correr na direção deles.

A expressão de Chronos mostrava surpresa e, quando Aion preparava-se para saltar no tempo, Sesshomaru saltou e prendeu-o ao chão com a pata, o pescoço de Aion no meio das suas garras.

Sem se mexer, olhou para Chronos de lado e rugiu. Os dois “deuses” estavam mais do que surpreendidos. Até agora, pensavam que tinham de estar preocupados com Yoru porque ele era literalmente um ponto de interrogação no que tocava aos seus poderes, mas os anos que Sesshomaru tinha treinado para ser o melhor de todos os daiyokais não tinham sido para nada.

Ele abanou a cauda, ainda com Aion debaixo da sua pata, e atirou Chronos com uma força extrema contra uma árvore que quebrou e caiu por cima dele.

Quando olhou outra vez para Aion e abriu a boca, ele fechou os olhos, prevendo uma morte dolorosamente lenta.

— Espera… - murmurou Chronos, preso debaixo da árvore – Nós pudemos…ajudar-te. – ao ver Sesshomaru rugir outra vez, ele sabia que não estava a ser levado a sério – Nós pudemos…trazer a Hikari…

Chronos cuspiu sangue, mas ficou contente por Sesshomaru ter parado quando a sua boca estava a centímetros de distância do braço de Aion. O daiyokai estava a pensar em desmembra-los lentamente.

— Sim! – exclamou Aion, a transpirar quando Sesshomaru olhou para ele – Também pudemos devolver a memória a Rin!

Sesshomaru pensou durante alguns segundos mas, para Chronos e Aion, pareceram horas. Quando Aion viu Sesshomaru a voltar à sua forma humana, fechou os olhos e suspirou mas, mesmo assim, Sesshomaru levou um mão à garganta de Aion e levantou-o até ele estar em bicos de pés e começou a apertá-la…devagar.

— Como é que conseguem trazer a Hikari à vida? – perguntou Sesshomaru, olhando para Chronos, que ainda estava debaixo da árvore.

— Eu posso…restaurar o tempo de vida dela. – disse Aion, tentando pensar – Sim! Eu posso fazer isso!

— Como? – perguntou Sesshomaru, continuando a apertar a garganta de Aion.

— Ele podia saltar no tempo até ao momento em que a Hikari é atingida por a flecha e salvá-la. – explicou Chronos, já que Aion estava a ficar sem ar – A atual Hikari, que está morta, desapareceria e terias a tua filha e a tua parceira de volta.

Sesshomaru olhou para Chronos de lado, enquanto espetava as unhas na pele de Aion e o sangue começava a escorrer.

— Vocês acham que podem brincar com a vida de quem quiserem. – disse Sesshomaru – Deviam pensar antes de escolherem com quem é que vão brincar a seguir.

— Por favor. – pediu Chronos, vendo Aion a perder a consciência.

Sesshomaru atirou Aion para o chão com força, dirigiu-se até Chronos e levantou a árvore facilmente, o que fez Chronos sentir-se envergonhado.

— Façam-no. – disse Sesshomaru, ouvindo Aion a tossir – Agora.

Podiam sempre tentar fugir, pensou Chronos, mas tinha a certeza de que Sesshomaru nunca ia parar de persegui-los se eles o fizessem, por isso decidiram fazer o que ele pediu.

Tal como tinham dito, quando os dois conseguiram pôr-se de pé, voltaram atrás no tempo e pararam-no antes da flecha acertar na perna de Hikari. Aion desviou-a para que fosse contra uma árvore e, mesmo depois de reporem o tempo, ficaram até se certificarem que Hikari, Sesshomaru e Yoru estavam em segurança antes de irem ter com Rin e devolverem-lhe todas as memórias.

Depois de se lembrar da sua família, Rin sentiu-se terrivel pelas coisas que tinha dito aos filhos e ao Sesshomaru-sama.

Quando acabaram o trabalho, suspiraram…até sentirem uma presença forte…mais forte do que Sesshomaru ou Yoru…atrás deles. Quando se voltaram, foi com surpresa que viram uma humana. Seria uma sacerdotisa? Mas tão poderosa?

— Por muito que mexam no tempo ou espaço… - disse ela, olhando para eles com as sobrancelhas franzidas – Já deviam saber que eu consigo lembrar-me de tudo.

Ao mesmo tempo, Chronos e Aion deram um passo atrás. – Reia?

— Vocês já se divertiram o bastante. Eu tenho seguido esta família desde que o Sesshomaru nasceu. – disse ela, dando um passo em frente – Sabem o quão difícil é estar no corpo de um humano?

Ela teve de parar quando uma súbita dor de cabeça atingiu-a. Reia fechou os olhos, encolheu-se e soltou uma onda de poder que se espalhou pela floresta, deitando Chronos e Aion ao chão. A ofegar, ela endireitou-se e limpou o sangue que tinha a escorrer pelo nariz.

— Mas depois de saber que vocês tinham vindo para esta dimensão, eu tomei a forma de uma humana e tentei integrar-me com eles para vos vigiar. – explicou Reia – Olhando num todo, não me reconhecem? Nunca sentiram o meu poder até agora?

— A sacerdotisa que tornou a Rin imortal! – exclamou Aion, vendo Reia levantar a mão, como se ele estivesse a fazer a chamada – Mariah?

— E agora, que tal voltarem para a vossa dimensão e pararem de brincar com a vida dos humanos? – aconselhou Reia – Aquela família é minha e eu vou protege-la.

— Não temos de fazer nada do que tu dizes, Reia. – disse Chronos, sorrindo – O teu corpo humano não aguenta o teu poder e está a morrer aos poucos. Não falta muito para teres tu de voltar para a outra dimensão.

— Eu não vejo a outra dimensão há centenas de anos. – disse Reia, tirando o sorriso a Chronos – Eu não vos disse que tenho acompanhado o Sesshomaru desde que ele nasceu. Mesmo que perca este corpo humano, vou apenas continuar a caminhar nesta terra como uma deusa. Mas não precisam de preocupar-se com a vossa irmã mais velha. A Rin está a cuidar do meu corpo humano e ela tem força suficiente para conter o meu poder dentro dele.

— Estás maluca! – exclamou Chronos – Tencionas mesmo ficar com esta família para sempre?

— Mariah?

Chronos e Aion viraram-se quando ouviram Rin a chamar por Reia e viram Sesshomaru e os filhos ao seu lado.

— Estás bem? – perguntou Sesshomaru, olhando com desconfiança para Chronos e Aion.

Chronos e Aion olharam para a irmã, que agora tinha medo e pânico espalhados pela cara.

— Eles apareceram do nada. – disse Mariah com as lágrimas nos olhos.

— O que é que querem!? – exclamou Hikari, passando para o lado de Mariah.

— Nós… - Chronos olhou para a irmã e tinha a certeza que a viu sorrir durante alguns segundos antes de voltar à expressão de medo e confusão – Nós viemos dizer que vamos voltar para a nossa dimensão e avisar para que nunca mais nos chamem.

Sesshomaru achou que era estranho terem ido ali de propósito para dizer aquilo, mas ignorou a situação e disse a Hikari e a Mariah para se afastarem.

— Não vais conseguir controlar-te. – murmurou Aion, quando Reia e Hikari passaram por eles.

Reia não disse nada. Sabia que ainda não conseguia manejar aquele corpo muito bem. Afinal, tinha perdido as memórias de Rin quando a lhe estava a conceder imortalidade e tinha aqueles pequenos “ataques”. No entanto, se conseguira controlar a parte selvagem de Yoru depois de ele nascer, também ia conseguir adaptar-se àquele corpo.

As viagens para trás e para a frente no tempo não tinham influenciado a decisão do clã de tornar Hikari na sucessora de Sesshomaru. Reia também tinha tratado para que assim fosse.

Por isso, quando Hanna foi até à mansão de Sesshomaru, tinha um sorriso na cara. Mas, quando contou as novidades, deixou toda a gente feliz…menos Hikari, que se recusou a seguir o caminho do pai.

Reia olhou para a hanyou de lado, para ver qual iria ser o resultado daquela resposta.

— Durante bastante tempo, o clã queria que o Yoru fosse o sucessor do pai. – começou Hikari – Tenho a certeza que foi por causa da avó que eles reconsideraram.

— Isso…

— Durante muitos anos, eu era feliz por ter um futuro como sucessora do pai. – continuou Hikari, interrompendo a avó – Mas não é só o pai que precisa de uma sucessora.

— O que é que estás a dizer, Hikari? – perguntou Rin.

— A mãe também precisa de uma sucessora para continuar a linhagem da Midoriko-sama. – respondeu Hikari – O Yoru é um demónio completo. Mesmo que ele aceitasse ser o sucessor da mãe, iria demorar muito mais tempo para criar um humano completo.

— Hikari, este é o teu sonho. – disse Rin, com as lágrimas nos olhos – Não precisas de te esforçares só por minha causa.

— Não é só por sua causa. – disse Hikari – Eu gostei de estar no tempo da tia quando vocês me mandaram para lá. Por isso, vou voltar para lá e viver como uma humana, até achar alguém que me aceite como eu sou.

— Vais deixar-nos? – perguntou Rin, contendo as lágrimas.

— Eu posso atravessar o poço quando quiser para vos visitar sempre que tiver saudades. – respondeu Hikari, sentindo o coração a partir-se – Pai?

Ele olhou para ela, como sempre olhava, mas Hikari conseguia ver o rancor nos olhos dele.

— Ser uma hanyou num mundo de humanos não é fácil. – disse ele – Espero que aprendas essa lição da maneira mais difícil possível.

— Sesshomaru-sama! – exclamou Rin – O que é que está a dizer?

— Também não tens de ter o trabalho de nos visitares. – continuou Sesshomaru, vendo os olhos da filha a encherem-se de lágrima – Eu, a Rin e o Yoru vamos partir e juntar-nos ao meu clã o mais depressa possível. Apesar de saberes onde fica, só és bem-vinda se decidires ficar permanentemente.

Com isso dito, Sesshomaru saiu da mansão e deixando os restantes sozinhos.

— O que o meu filho está a sentir… - Hanna rangeu os dentes – Hikari, eu adoro-te, mas não vou perdoar-te por destroçares o coração do meu filho.

Hikari olhou para a mãe, que limpava as lágrimas, mas não conseguia conter os soluços.

— Mãe? – chamou Hikari.

Rin abanou a cabeça e foi levada para fora da mansão por Hanna, uma vez que não conseguia falar coerentemente.

— Diverte-te. – disse Yoru, secamente, saindo também.

Passados alguns segundos, Hikari seguiu a família e, surpreendentemente, viu o pai a abraçar a mãe, que chorava no peito dele.

Quando ouviu a mãe a dizer “A culpa é minha” repetidamente, Hikari teve de se lembrar porque é que estava a deixar a família, outra vez.

— Devemos despedir-nos, agora? – perguntou Hanna.