Será que era amor...

O primeiro dia de carnaval


—Lolo! - Lara disse se virando para mim. - Bom dia! Queria te apresentar, Renan, meu amigo. - Neste momento ELE se virou. Nossos olhos se cruzaram e ficamos nos encarando durante alguns segundos.

Eu fiquei imóvel, olhando aqueles olhos verdes que haviam assombrado meus sonhos durante todos aqueles anos. Eu não sabia o que fazer ou como explicar como nos conhecíamos. Foi então que ele tomou uma atitude:

–Muito prazer. - Disse extendendo a mão para mim.

Eu apertei sua mão de volta e acenei com a cabeça ainda sem palavras. Seu toque ainda causava uma certa eletricidade em contato com a minha pele. Neste momento, como se soubesse que eu precisava de ajuda, Sabrina entrou na cozinha, olhou para mim e para Renan e soltou:

–Mas que porra está acontecendo aqui? - Eu finalmente desvencilhei meu olhar do dele e saí da cozinha como um foguete, puxando Sabrina comigo.

–Preciso da sua ajuda. - Ela concordou com a cabeça.

Subimos até o quarto e tranquei a porta:

–EU.NÃO.ACREDITO. - Minha respiração era rápida e minha cabeça girava. - O que ele está fazendo aqui? Como ele acabou ficando com a Lara? Como ele conseguiu ficar ainda mais bonito? Porque ele fingiu que não me conhece? - Olhei para Sabrina. Ela apenas encolheu e soltou os ombros. - OK. - Respirei fundo. -Eis o que vamos fazer: Não sei porque ele não quis contar que me conhece, mas vamos entrar na onda. Eu não vou deixar ele partir o coração da minha prima. Não vou deixar que ele acabe com essa viagem. Combinado?- Sabrina assentiu.

Dito isso, me arrumei um pouco mais para descer novamente, o que me deu mais tempo para me recompor e colocar a cabeça no lugar novamente. Penteei o cabelo e coloquei o bikini, com um vestido por cima. Respirei fundo e desci as escadas. Não conseguiria comer naquele momento, então decidi tomar sol na beira da piscina. Não demorou muito para Lucca encostar na minha cadeira.

Com o tempo, eu tinha perdido o contato com meus outros amigos da escola de BH, incluíndo Igor. Lucca era meu melhor amigo e uma das pessoas que mais me entendia no universo. Ele puxou uma outra cadeira e encostou ao lado da minha. Como já o conhecia, sabia que haveria um interrogatório. Me sentei e olhei para ele:

–O que diabos aconteceu na cozinha mais cedo?- Ele começou perguntando. - Nunca te vi tão branca, achei que fosse desmaiar quando olhou pro cara. - Antes de descer já havia pensado no que falaria caso as pessoas achassem estranho.

–Confundi ele com uma pessoa do meu passado e gelei por um segundo. Nada demais, tudo resolvido. - Disse colocando meus óculos escuros e olhando para frente, sabia que se encarasse Lucca ele perceberia que eu estava mentindo, então o evitei.

–Ele devia ser muito parecido com essa pessoa então. - Disse ele me analisando. - Nunca te vi desse jeito.

–Uhum - Respondi apenas. Sabia que ele não tinha comprado totalmente a ideia e se falasse algo além poderia me entregar ainda mais.

–Bom, se precisar conversar, estarei aqui. - Olhei para ele finalmente.

–Você sempre está. E eu também. - Abaixei os óculos para piscar para ele. Ele se levantou sorrindo e saiu.

Sabrina apareceu alguns segundos depois com uma caipirinha e um shot de tequila:

–Acho que está precisando disso. - Disse me entregando a bandeja. Eu virei o shot sem limão ou sal e tomei um grande gole da caipirinha.

–Dessas e muitas mais. - Respondi apenas.

Depois que me mudei para São Paulo, quase nunca tinha me permitido falar de Renan. As poucas vezes que fizera isso, eram para Sabrina. Se tinha alguém que entendia que ele não saíra da minha cabeça nos últimos sete anos, era ela. Ela sempre repetia que eu não deveria ficar assim, já que fui eu quem terminei tudo, mas entendia ao mesmo tempo que eu e ele não havíamos resolvido nada, simplesmente paramos de nos falar. Então, ela sabia que aquele aparecimento repentino dele e, principalmente, ele fingindo que não me conhecia, não ajudariam em nada a organizar meus pensamentos e sentimentos em relação a ele.

Até o horário do almoço, eu já tinha perdido a conta de quantos shots de tequila eu havia tomado. Não me orgulhava nem um pouco disso, mas talvez, bem talvez, isso ajudasse a organizar a minha cabeça.

Lucca sentou ao meu lado e me ajudou a servir a comida do prato. Eu estava zonza e queria vomitar. Tentei fingir que estava sóbria, pois, depois de muitas horas, Lara e Renan tinham finalmente saído do quarto e lá estava eu encarando ele novamente. Eu senti seus olhos pesando sobre mim durante todo o almoço, e aguentei firmemente, evitando olhar de volta para ele. Lucca também me encarava, mas com olhar de preocupado. E as poucas vezes que olhei para Sabrina, ela estava brincando com a comida, evitando olhar para qualquer um.

Assim que terminei de comer, Lucca chamou Caique, falou alguma coisa no ouvido dele, que assentiu. Logo depois de Lucca, Caique era um dos meus amigos mais próximos. Ele veio até mim e falou no meu ouvido:

–Vem, Lolo. Você precisa descansar. - Eu peguei a mão de Caique e saí da mesa me levantando. Senti um olhar pesando sobre nós enquanto saíamos, mas não quis tentar identificar.

Assim que chegamos ao andar de cima, Caique abriu minha mala, pegou uma calcinha, uma roupa mais confortável, uma toalha e jogou tudo no banheiro. Abriu a torneira e olhou para mim:

–Você vai entrar nesse chuveiro, tomar um banho e se recompor. - Ele bufou. - E depois vai descansar um pouco.

–É carnaval e vocês não querem me deixar ficar bebebada. - Disse enrolando a língua. - Isso é injusto. Porque eu sempre tenho que ser a responsável? - Ele não me respondeu, apenas fez uma cara de bravo e apontou para o banheiro. Eu bufei, fechei a porta, tirei a roupa e entrei no box. - AH! ESTÁ GELADA.

—E você que não ouse mudar a temperatura desse chuveiro. Estarei aqui te esperando, mas leve o tempo que precisar. - Foi quando eu comecei a chorar e me sentei no chão.

Fiquei alguns minutos ali até a água gelada me despertar e eu me recompor. Então me sequei, me troquei e saí do banho. Caique estava do lado de fora do banheiro com um copo de água na mão. Eu virei tudo de uma vez e sorri para ele. Descemos as escadas abraçados e me sentei no sofá. Todos estavam jogando cartas sentados no chão a minha frente. Incluindo Renan. Ele levantou seus olhos para encontrar com os meus, mas eu rapidamente desviei para encarar o jogo.