Estava empolgada e amedrontada quando cheguei na casa de Renan. Bati na porta do apartamento e aguardei. Ele abriu com um sorriso e me pediu que entrasse, confesso que minhas pernas bambearam um pouco. Me recompus e entrei.

O apartamento era um pequeno studio. Entretanto, ele havia conseguido fazer a divisão dos cômodos com a disposição dos móveis. A paleta de cores alterava entre cinza, branco, preto e marrom, e tudo parecia ter seu devido lugar.

Me sentei numa cadeira alta encostada em uma bancada branca com vidro. Ele sentou ao meu lado. Respirei fundo e comecei:

–Falei com Lara hoje de manhã. Aparentemente, ela soube desde o primeiro dia da viagem. -Ele riu.

—Acho que sua prima é mais esperta do que você imaginava. - Ficamos em silêncio por um tempo. - Mas na última noite, você me disse que não era apenas por isso que não poderíamos ficar juntos. Você chegou a refletir sobre isso? - Perguntou ele.

—Sim. Acho que está na hora de começarmos de novo. - Ele sorriu e me beijou. Aquele sorriso que ficara gravado na minha memória durante sete anos. Agora era meu sorriso.

Começamos a conversar e realmente colocar o assunto em dia. Descobri que ele havia se formado em engenharia mecânica, no final do ano passado, assim como eu e que trabalhava em uma fábrica de carros. Eu contei que trabalhava em uma emissora de televisão como parte da equipe de produção de um programa matutino. Contei também de meus irmãos, já que falava muito da minha irmã no passado e ele não sabia da existência de Cauê.

Comemos e nos divertimos bastante. Quando estávamos arrumando as coisas, ele foi ao banheiro e um celular tocou. Achei que fosse o meu e olhei. Erro meu.

Era uma mensagem de uma mulher chamada Layla:

“Você está bem? Não gosto de brigar com você. Você saiu tarde daqui ontem e até agora não deu o ar da graça.”

Ontem. Eu havia combinado com ele que nos veríamos ontem, mas ele me disse que estava preso no trabalho. Ele tinha mentido, estava com outra garota.

Rapidamente comecei a organizar as minhas coisas para ir embora. Coloquei tudo dentro da bolsa e chamei o elevador. Ele apareceu correndo no meio do apartamento:

–O que foi? - Ele questionou. Meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas. Como eu podia ser tão idiota tantas vezes seguidas?

—Layla te mandou mensagem. Disse que não gosta de brigar com você e que está preocupada já que você saiu de lá tão tarde ontem. - Ele se aproximou quase sorrindo. Canalha.

—Vamos conversar, por favor. Não é o que você está pensando.

—Uma frase tão de praxe? Jura, Renan? - Nesta hora a porta do elevador se abriu e eu entrei. Apertei o botão do térreo e a porta começou a fechar, mas algo a impediu. Ele me olhava nos olhos enquanto segurava o elevador.

—Pare de fugir, por favor. - Ele pediu com olhar suplicante. - Só uma vez, me escuta e para de fugir. - Eu estava ofegante e olhei em seus olhos.

Ele me pegou pelo punho e me puxou para fora do elevador, deixando a porta fechar atrás de nós. Eu estava com as costas contra a parede e ele me prensava contra ela, com a respiração bem próxima da minha. Ficamos pelo que pareceu horas naquela posição. Próximos, e com os olhos colados um no do outro. Quando ele percebeu que eu não me moveria, ele se pronunciou novamente:

–Porque você sempre foge de mim, Lorena? - Questionou ele.

Eu não conseguia responder, não conseguia explicar. Abri a boca e fechei logo em seguida varias vezes enquanto tentava formar uma frase. Por fim falei:

–Tenho medo. Medo de deixar você partir meu coração. - Ele riu sarcástico, sem tirar os olhos dos meus.

—E nisso você parte o de nós dois. -Ele respondeu e não soube o que dizer. Ele tinha razão.

—Me desculpe. - Disse apenas, abaixando os olhos. Ele pegou meu queixo e levou meu olhar ao seu novamente.

—Tudo bem, acho que estava na hora de eu correr atrás de quem eu realmente quero alguma vez. - Ele aproximou.

Nos beijamos. Foi um beijo intenso e lento ao mesmo tempo. Nenhum dos dois parecia querer correr mais. Quando nos afastamos, ele continuou:

—Layla é minha chefe no trabalho. Brigamos ontem por conta da carga horária maluca que ela está me obrigando a cumprir. - Ele piscou. Eu fiquei envergonhada.

—Me desculpe. Eu realmente pensei… - Ele sorriu.

—Eu sei o que você pensou, Morena. Tudo bem. Eu tenho um histórico que não me favorece.- E me beijou novamente.