Acordei na manhã seguinte com uma dor de cabeça terrível. Merda, eu havia bebido demais. Merda. Merda. Merda. Eu havia beijado Renan. Merda, o beijo era ainda melhor do que me lembrava. Merda, isso não podia ter acontecido.

Me peguei lembrando das sensações que ele tinha me causado, como eu estremecia ao seu toque. Lembrava dos seus olhos verdes e seu sorriso e de como ele era gentil e carinhoso quando se dispunha a isso, mas não podia mais pensar nele. Ele agora estava com a minha prima, passando tempo com ela, dedicando atenção a ela, dormindo com ela.

Respirei fundo e me levantei devagar. Qualquer movimento só piorava a dor. Lentamente abri a porta do quarto. A luz fazia parecer que estavam enfiando agulhas diretamente no meu cérebro. Gemi de dor e desci as escadas para a cozinha onde todos tomavam café da manhã, menos Sabrina, que ainda estava dormindo:

–Parece que uma manada de elefantes pisou em você.- Disse Caíque. Eu olhei para ele com a pior cara possível.

—Eu acho que essa é a pior ressaca que já senti na vida.- Respondi. - Não me lembro de nada da festa de ontem e muito menos como cheguei em casa. - Menti. Renan estava na mesa e se entendesse aquilo como eu esperava, como se nada de ontem tivesse importância, o que teve, e muita, ele talvez não repetisse nada daquilo e focasse sua atenção em Lara, que era onde deveria estar.

—Bebe mais que passa. -Respondeu Fefo. Todos riram.

***

Conforme o dia foi avançando, fui me livrando da ressaca. Naquele dia havíamos decidido ficar na casa e aproveitar o sol e a piscina. Fizemos um churrasco envolvido com muita música e cerveja. Quase no final da tarde, dentro da piscina, presenciamos uma cena um tanto quanto incomum: Lara e Caique agarrados, se beijando. Todos ficamos em silêncio um pouco em choque, alternando os olhos do casal para Renan, que estava logo ao lado.

Ele demorou um pouco para perceber, pois estava vendo alguma coisa no celular enquanto tomava sol, mas o silêncio chamou a sua atenção e ele finalmente viu. Ele então encarou a cena por alguns instantes, e trouxe seu olhar até mim. Com uma leve mudança de expressão, entendi tudo que ele queria me dizer, assim como era anos atrás. Era como se só o seu olhar me dissesse: “Viu? eu te disse que ela não gostava tanto de mim assim. Podemos ficar juntos, se você quiser.”

Então se levantou e entrou pela porta que dava para a cozinha como se nada tivesse acontecido. Assim que ele sumiu do campo de visão de todos, uma pequena festa aconteceu. Sabrina olhava para a cena sem entender nada e eu fiquei de fora processando as informações enquanto todo o restante jogava água no casal gritando palavras como: “Finalmente” e “Não via a hora disso acontecer”.

Desde a época da escola, todos sabiam que existia um clima entre Caique e Lara, mas nenhum dos dois nunca havia se pronunciado. Ficavam com outras pessoas, namoravam outras pessoas, mas todo mundo percebia as faíscas que aconteciam quando eles se olhavam. Todos menos eles mesmos. A euforia era algo que inevitavelmente aconteceria no nosso grupo quando Caique e Lara finalmente ficassem, mas Lara ter trazido Renan para a viagem deixava a situação um pouco tensa e estranha.

Mas Renan, como sempre, não ia permitir que isso acontecesse. Poucos minutos depois ele voltou com alguns drinks em uma bandeja, colocou na borda da piscina, se serviu de um, e voltou exatamente para o lugar onde estava sentado antes, dessa vez participando um pouco mais ativamente da conversa, enquanto o casal que acabara de se formar se agarrava num local mais afastado do grupo. Por que ele tinha que ser assim?