Serena

Blair conversa com Serena de uma forma que não fazia há muito tempo. – Amizade (Chair, Serenate).

XOXOXO

Blair acordou com um sobressalto e sentou-se ereta na cama. Sua respiração estava desregulada e ela sentiu as lágrimas, que chorou durante o sonho, caírem por seu rosto de forma silenciosa. O seu movimento repentino acordou Chuck, que até aquele momento encontrava-se dormindo de forma calma. Ele esfregou os olhos, observou a namorada e sentou-se ao lado dela.

- Hey. – Ele disse suavemente, e envolveu seus braços ao redor de Blair. – Teve outro sonho ruim?

Ela fez que sim com a cabeça, e Chuck beijou o topo de seus cabelos castanhos.

- Quer me contar como foi?

Blair permaneceu em silêncio por alguns vinte ou trinta segundos, até que engoliu em seco e começou a falar.

- Eu e ela estávamos no saguão de entrada da Constance. A gente conversava, dava risada, até que ela disse que precisava ir embora. Eu perguntei o porquê... – Blair pausou por um instante, e continuou – e ela respondeu que se arrependia de tudo que tinha feito para mim, e que eu a perdoasse, porque ela precisava ir embora... Saiu correndo, eu fui atrás, mas quando cheguei na calçada ela sumiu, e do nada eu estava sozinha.... Sem ninguém por perto... Meu Deus, Chuck, eu ainda não acredito.

- Tudo ficará bem, meu amor, shhh.... – Ele a abraçou, e Blair escondeu seu rosto no ombro de Chuck para chorar.

No início daquela semana, Blair recebeu uma ligação inesperada de Nate. A voz dele estava estranha, e com muita dificuldade ele contou o que havia acontecido com a melhor amiga dos dois desde a infância. Serena sofreu um acidente de carro voltando de Toronto e não resistiu aos ferimentos, vindo a falecer dois dias depois de ficar internada no hospital Linux Hill. Blair e Chuck, que estavam passando uma temporada com Harold na França, pegaram o primeiro avião de volta para Nova York o mais breve possível para estar perto dos amigos e dar um último adeus à Serena.

Os Van der Woodsen estavam inconsoláveis: Lily era mantida sedada por remédios anti-depressivos para não cometer nenhuma loucura, como suicídio, e ninguém sabia do paradeiro de Eric, que foi para algum lugar desconhecido logo após receber a notícia da morte da irmã. Nate confidenciou à Blair que planejava pedir Serena em casamento logo que ela voltasse de Toronto, e mostrou a caixinha de veludo preto da Cartier que era enfeitada com um lindo top branco em cima.

- Eu só vi o anel que está aqui dentro uma vez, que foi quando o comprei na joalheria da quinta avenida. Agora a lembrança ficará na memória, porque não tenho coragem de abrir a caixinha para vê-lo novamente. – Ele murmurou, e guardou a caixa em um dos bolsos da calça.

No dia do funeral, no cemitério do New York Park, o vento gelado chicoteava o rosto das pessoas e as folhas secas das árvores ao redor faziam um barulho calmante ao serem pisadas por aqueles que chegavam ao local. Eric finalmente havia reaparecido e estava de mãos dadas com a mãe, que chorava em silêncio ao observar o caixão da filha ali no meio, exposto como uma última lembrança. Blair havia deixado o cabelo solto e posto um óculos escuro redondo para esconder os olhos inchados, mas qualquer um podia ver as lágrimas escorregando por baixo das enormes lentes escuras.

Enquanto o padre proferia palavras de conforto, Blair observava o rosto de Serena que aparecia através da pequena janelinha de vidro do caixão de mogno branco. Nem mesmo um acidente violento como o que ela sofreu conseguiu macular o lindo rosto que Serena tinha: as pálpebras estavam fechadas, escondendo os olhos azuis que Blair tanto admirava, mas a pele branca parecia intocada e os cabelos louros serviam como moldura para destacar os traços suaves das bochechas e os lábios.

- Você sempre será linda. - Ela murmurou baixinho, com a voz trêmula. Chuck deu um aperto delicado em sua mão, certificando-se de que Blair estava bem, mas ela não respondeu o toque. Não, ela não estava bem.

O caixão foi baixado até a cova de terra macia e as pessoas jogaram flores no buraco que ainda não havia sido coberto. A maioria dos convidados ia embora após prestar sua solidariedade, e Nate foi um dos últimos a deixar o funeral. Ele estava prestes a largar a caixinha com o anel de noivado na cova, junto de Serena, mas desistiu no último segundo e tornou a guardar a joia consigo mesmo. Lily teve de ser amparada por outros familiares e foi levada de volta para casa junto com Eric, e após o caixão ter sido completamente enterrado e coberto com terra, sobraram apenas Chuck e Blair ali.

- Você quer ficar mais um pouco? – Ele perguntou.

- Sim, por favor.

- Tudo bem. – Ele lhe beijou os lábios carinhosamente – Vou esperar por você na limusine.

Eu penso em você todos os dias, e sempre que eu vejo o seu rosto, eu acordo e isso me traz lágrimas.

Blair concordou e esperou que Chuck se afastasse completamente para soltar a respiração que estava entalada em sua garganta. Ela encarou a pedra de cristal que continha o nome, a foto e a data de nascimento e falecimento de Serena e deixou que as memórias corressem por sua cabeça. Lanches nos degraus da escada do Met; festas na cobertura de algum colega rico; brigas idiotas por causa de garotos; viagens para outros países...

Ela respirou fundo e tirou os óculos escuros para falar de verdade com a melhor amiga, coisa que não fazia há mais de um ano e meio. Ela sentou-se em linha reta de frente para a pedra e acariciou a terra fresca.

- Eu estava pensando em você na semana passada, antes disso tudo acontecer. Fazia algum tempo que não nos falávamos, mas seu nome sempre voltava à minha cabeça de vez em quando. Seja na sua loja favorita, ou no meu café favorito, eu enxergava você sentada ao meu lado, contando sobre algum cara bonito que viu em uma das suas viagens... Nate estava bravo porque você tinha ido embora após vocês dois terminarem e você ficou com um estrangeiro qualquer. – Blair riu baixinho, e continuou - Nós crescemos e nos separamos, não? Engraçado como isso acontece com as pessoas. Elas saem do ensino médio, assumem suas responsabilidades e começam a ser diferentes do que eram antes. Nós brigamos no final do verão passado, e desde então nos falamos poucas vezes por mensagens... Ainda tenho aquela mensagem que você me mandou pedindo desculpas, e eu nem lembro porque brigamos.

Nós crescemos e aprendemos outras coisas.

Blair pausou e olhou a foto de Serena. Esta era a hora que a loura relembrava o motivo da briga das duas, que costumava ser alguma coisa estúpida, e elas ririam e se abraçariam. Agora isso não era mais possível. Ela engoliu o nó em sua garganta e seguiu em frente.

- Tenho tanta coisa para contar, e realmente me arrependo de que as últimas palavras que falei diretamente para você foram “no próximo mês estarei em Nova York, falo com você mais tarde”. – As lágrimas caíram de seus olhos castanhos – Eu me arrependo muito, S. Me desculpe. Meu Deus, me desculpe.

Mais uma pausa. Desta vez, Blair imaginou a voz de Serena em sua cabeça, dizendo como elas nunca iriam se separar novamente. Ela chorou mais.

Eu tenho fotos nossas, uma ao lado da outra, para mostrar pra você.

- A gente costumava conversar na escada do Met, lembra? Todas aquelas meninas olhavam pra gente como se fossemos as rainhas do mundo, e eu adorava aquela sensação. Você achava idiota, mas eu sabia que no fundo você também gostava quando as garotas apareciam com um casaco igual ao seu no dia seguinte. Teve também as férias nos Hamptons... Eu estava tão chateada com Chuck, e a gente saia para tomar alguma coisa e espairecer a cabeça, com você sempre tentando me fazer esquecê-lo, mas eu nunca conseguia, não é? Mesmo assim, você tinha o melhor ombro para eu chorar e o melhor abraço para eu me confortar. E as melhores margueritas para eu esquecer por pelo menos uma noite.

Blair ouviu a risada de uma moça em algum lugar ao redor de onde ela estava sentada e poderia jurar que aqueles risos eram de Serena. Ela olhou em volta e viu uma garota loira passando pela portões do jardim do cemitério, rindo enquanto falava no celular com alguém. Blair sentiu um aperto no coração, mas voltou a conversar com a melhor amiga.

Se eles estão prontos para dizer adeus, eu sei que eu não estou.

- Sabia que Chuck e eu vamos ter um bebê? Descobrimos no início deste mês, quando viajamos para visitar meu pai. – Ela pousou a mão sob a barriga ainda lisa – Eu me senti mal, fui ao médico e descobri lá mesmo. Chuck ficou radiante... Nunca o vi tão feliz quanto no dia em que contei as novidades. Meu pai chorou de alegria e Roman estourou uma garrafa de champagne para comemorar, mas me deu água na hora do brinde. Nós já estamos pensando em nomes, sabe, e temos algumas opiniões formadas. Lembro que um dia você me disse que se eu tivesse uma filha menina, eu deveria homenagear a minha inspiração e dar o nome de Audrey... Eu gosto de Brianna também, mas Chuck concordou que se tivermos uma menina o nome pode ser Audrey. Se for menino, nós gostamos de Henry. Eu dormia à noite e imaginava você segurando o meu bebê, e me dizendo como ele parecia comigo ou com Chuck. Também imaginava você sendo a madrinha no batizado e minha dama de honra no casamento... Porque vamos casar também, mas depois que o meu filho nascer. – Ela enxugou os olhos – Eu queria contar tudo isso pra você, mas fiquei com medo de você não se importar mais comigo, já que fazia tempo que não nos falávamos mais. Eu queria a sua ajuda para decorar o quarto do meu bebê. A sua opinião na hora de montar o enxoval. A sua mão para segurar quando chegasse a hora do parto. O seu abraço quando eu pensasse não ser capaz de ser mãe... Eu só queria a sua presença.

E isso não parece certo, será que realmente era a sua vez?

O vento bateu suave contra as árvores, e Blair fechou os olhos.

- Apesar de eu desejar que você estivesse aqui, se tornou claro que a terra não é o lugar para um anjo como você. Eu fui tão sortuda por tê-la em minha vida, me amparando em momentos difíceis sempre que pôde, e só tenho a agradecer por tudo que fez por mim. Eu espero que agora você possa ficar em paz onde quer que você esteja e pensar em mim, assim como eu penso em você à cada segundo desde o momento que a escuridão bateu em nossas portas. Você sempre será perfeita, e eu não sei se serei capaz de um dia deixar você ir. Não sei se vou conseguir.

Blair se levantou e inclinou-se em direção à pedra do túmulo. Ela passou a ponta dos dedos sob o nome em alto relevo de Serena e deixou um beijo em cima da foto, tirada na viagem à Toronto que a melhor amiga fez antes do acidente. Nela, Serena sorria feliz para a câmera, e Blair a imaginava dizendo para o fotógrafo que a foto ficara feia e queria que a mesma fosse deletada. Ela simplesmente não entendia que era uma das garotas mais lindas do mundo.

- Eu amo você. – Blair murmurou, e virou-se de costas para voltar para a limusine onde Chuck a esperava para que pudessem voltar para casa. Quando ela estava perto do carro, Blair deu uma última olhada para trás e imaginou a figura de Serena acenando um adeus, lhe dizendo que estava tudo bem. Ela sorriu e acenou de volta, mesmo que estivesse acenando para uma imagem de sua imaginação. Serena sempre estaria ali, perto de seu coração.

XOXOXO

Our Love lies with you, our souls fly with you.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.