September Song

Why does it break me down?


Tudo começou em setembro.

Estávamos todos muito bem. Tudo o que havia acontecido há dezenove anos era apenas o tipo de histórias triste que se lê em “Hogwarts, uma história – Edição Completa” com os detalhes que os mais velhos ocultavam de nós. Agora todos seguiam em frente, dando seu melhor para que o futuro fosse brilhante para as próximas gerações.

Passado é passado, mamãe dizia constantemente quando eu tentava entrar no assunto e, depois de alguns anos, passei a entender que algumas feridas não cicatrizam, mas continuam em carne viva, sensível a um simples toque. Ou um simples olhar, no caso de meu pai.

“Então aquele é o pequeno Scorpius” A voz do lendário Ron Weasley, conhecido por mim como pai, ecoou em minha mente – ainda que fosse baixa –, me lembrando que as borboletas causadas pela ansiedade da viagem para Hogwarts ainda estavam lá. Eu não conseguia conter meus sentimentos. Era a primeira vez dos próximos 6 anos.

Então eu olhei para o garoto de cabelos platinados. Com toda certeza cabelos daquela cor era problema genético. Não havia outra explicação.

E nesse momento você se pergunta: onde está a parte que o amor ou o ódio começa? Espere, meu amigo. Eu tinha apenas 11 anos e sabia pouco sobre os Malfoy. Além do mais, nunca acreditei em sentimentos a primeira vista.

Por outro lado, eu sabia de uma única coisa: Aquele seria o inicio dos meus problemas.

“Não deixe de supera-lo em todos os exames, Rosinha. Graças a Deus que você nasceu com o cérebro da sua mãe.”

“Ron, pelo amor de Deus.” Mamãe segurava a vontade de rir, tentando parecer séria diante as piadinhas de papai. “Não tente indispor os dois antes mesmo de entrarem para escola!”

“Você tem razão, desculpe.” Mas, incapaz de se conter, ele acrescentou algo que eu jamais esqueceria. “Mas não fique muito amiga dele. Vovô nunca perdoaria se você casasse com um puro-sangue”

Eu ri, mas aquela realmente não era minha intenção. Provavelmente eu havia corado. Ao menos, tive sorte de James ter chegado depois do comentário. Ele estava tão empolgado para contar sua descoberta que foi um alivio saber que não sofreria bullying no primeiro dia.

Logo estávamos no vagão, inclinados sobre a janela, dando um último beijo de adeus em nossos pais e prontos para iniciar nossas vidas de aprendizado e magia.

E agora, lá estávamos novamente. Mesmo dia, outro ano.

“Ei, Rose.” A voz de Albus me chamou pela segunda vez, me fazendo abaixar o livro. “Tudo bem se sentarmos aqui? Os outros vagões estão cheios.”

Levantei os olhos e o encarei. A única coisa que diferenciava meu primo de seu pai eram os olhos. Enquanto tio Harry tinha olhos esverdeados, Albus possuía os azuis de herança da tia Ginny. Ao menos algo lembrava que os Potter também eram Weasley.

E ao lado do meu amado primo, lá estava a última pessoa que eu gostaria de ver.

Não core, Rose. Não core. Implorei em minha mente. No verão haviam acontecido coisas entre nós dois que eu preferia que fossem esquecidas.

“Não posso impedir vocês.” Dei de ombros e subi o livro para meu rosto o mais rápido possível.

Rapidamente eles entraram e fecharam o compartimento.

Agradeci por ter ocupado todo um banco com meus pés, pois ambos sentaram-se a minha frente, mas eu tinha certeza de uma única coisa: ele estava exatamente na minha frente.

“Você não deveria ir para o vagão dos monitores?” Albus perguntou.

“Malfoy, você não deveria ir para o vagão dos monitores?” Joguei a questão para ele.

“Vão nos chamar mais tarde. Estão dando um treinamento para os novos monitores chefes.” A voz dele soou da forma melodiosa que eu já conhecia.

“Depois dessa resposta maravilhosa, vou procurar a velhota dos doces.”

“Vá em frente.” Incentivei enquanto minha mente gritava totalmente o contrário. Não queria ficar sozinha ali com meu arquinimigo.

Albus saiu. Minha respiração ficou pesada. Por que diabos fui deixar eles ficarem aqui? Eu deveria ter imaginado que Albus, por mais lerdo que fosse, sabia que havia rolado alguma coisa e nos deixaria sozinhos a qualquer momento.

Por favor, não fale comigo. Implorei mentalmente no momento que se seguiu.

“Hogwarts, uma história de novo?” Ele perguntou, quebrando o gelo.

“Algum problema?” Não ousei tirar meu rosto do livro.

Diga que eu sou o problema. Me agarre. Me beije. Você me deixa insana, Scorpius.

“Você está decorando para substituir o Professor Binns?”

“Engraçado.” Rolei os olhos.

“Sabe que não faria muita diferença... Talvez você até acabasse como ele.”

Ele estava jogando baixo, como sempre. Nada havia mudado. Como eu era tola em acreditar que ficaríamos bem, que não haveria mais provocações e que viveríamos como se simplesmente tivéssemos amadurecido.

“Melhor do que acabar como sua família... Como é mesmo que o Profeta Diário retratou? Ah, uma desgraça para sociedade bruxa.”

“Não ouse falar de minha família, Weasley.”

“Professora McGonnagal deve ter ficado com pena de você para ter o chamado como Monitor da Slytherin.”

“Dá mesma forma que ficou de você, não foi? Do que adianta ter as melhores notas se não tem amigo algum?”

Eu fechei o livro com força e me sentei de modo que pudemos ficar frente-a-frente.

“Eu tenho amigos.” Disse entre os dentes.

“Seus primos não contam.” Um sorriso surgiu nos lábios dele. Ele estava antecipando sua vitória.

“Eu tenho amigos que não são meus primos.”

“Certo. Se você insisti...” Ele relaxou, inclinando-se para trás. “E quem são eles mesmo?”

“Alice.” Certamente eu precisava pensar em mais nomes.

“Alice?” Ele riu zombeteiro. “Ela nem conta como sua amiga. Ela é a melhor amiga da Lily e, honestamente, só fala com você porque está caindo pelo Albus.”

“Eu não preciso listar nada pra você.”

“Não precisa porque não há uma lista.”

Ele estava certo. Meus amigos eram amigos de meus primos.

“Pelo menos não preciso de uma lista para sobreviver.” Eu não deixaria aquilo barato. “Não é, Scorpius?”

A porta do compartimento se abriu antes que ele pudesse dizer algo a sua defesa.

“Vocês estão se divertindo sem mim?”

“Não estamos nos divertindo.” Nós falamos em uníssono.

“Uh-ok.” Albus levantou as mãos em defensiva, sabendo que nada estava bem entre eu e o Malfoy, como sempre foi.

Então você deve estar exatamente como Albus ficou logo em seguida. Imaginando o que havia acontecido, questionando o que deu errado. Como Scorpius Malfoy tornou-se minha canção de setembro, aquela canção que eu não queria mais ouvir. Voltemos ao inicio da história, bem antes de setembro começar. Bem antes de Scarlett Parkinson entrar em nosso vagão, logo após Albus se sentar, e beijar Scorpius, relembrando-me que ele era uma propriedade dela.