Sempre Foi Você

Capítulo 30 - Passado


All innocence is long gone

I pledge allegiance to a world of disbelief

Where I belong

A walking disaster

(Walking Disaster – Sum 41)

Quando acordei, ao ver o quarto escuro soube que Lucas tinha me carregado, sorri sozinha. Perdi-me em pensamentos...

Agora eu vou estudar com o Lucas, o que me lembra da Vanessa, aí meu Deus! Eu vou ter que me controlar muito para não voar no pescoço daquela garota. Acho que quem vê minha vida de fora, nunca nem imagina o que eu já sofri.

Flashback ON

- Dia das Crianças de 2007 –

Meu pai é o da família dele de melhor condição financeira, até aí tudo bem. Minha tia, a irmã do meio dele, sempre teve problemas para engravidar, chegou a fazer tratamento e tal... Em dois mil e sete ela descobriu que tinha ficado grávida, foi uma festa só, eu e o Pedro começamos a ser deixados de lado por essa parte da família, eu era pequena, mas entendia que ela tinha sido muito esperada e depois de vários problemas tinha conseguido, mas acontece que fomos esquecidos da família. Chegou o dia das crianças, eu tinha apenas dez anos, na hora de ganhar os presentes, minha avó falou.

- Bru, meu amor – Ela chegou docemente.

- Oi vó – Respondi animada.

- Minha querida, você sabe que eu não tenho muitas condições, não é? – Assenti positivamente. – Então... Não deu para comprar o seu presente.

- Não tem problema, eu entendo – Sorri tristemente.

Passou-se alguns minutos e eu resolvi ir ao banheiro, a porta do quarto ao lado estava aberta e eu escuto vozes baixas.

- Filha, eu comprei um presente para a minha netinha querida – Sim, minha avó estava diante da minha tia, entregando presente para alguém que nem sequer tinha nascido e para mim não tinha condições.

Flashback OFF

Eu tinha várias lembranças desse gênero. Eu já tinha ouvido minha avó dizer que eu só gostava da minha avó materna, porque ela de vez em quando me dava dinheiro, o que é uma total mentira. Eu amo ela porque ela se lembra de que eu existo... Quando a minha avó paterna, saí com a gente ela não consegue falar de outra coisa a não ser da sua neta querida, e isso irrita sabe... Parece que você nem existe. Eu me sentia como um nada.

Aos poucos eu só sorria ou até mesmo falava com ela em respeito ao meu pai, ela quando passa uns tempos na nossa casa, quando ele está perto ela é um amor de pessoa comigo, quando ele está longe ela só sabia mandar e reclamar comigo. Pois é, minha vida não é um mar de rosas que eu queria. Para eu confiar plenamente na Lu e no Gus, eu já quebrei muito a minha cara com amizades falsas.

Sequei rapidamente uma lágrima solitária, não é fácil lembrar-me de tudo isso. Mas eu já chorei muito por essa parte da família, hoje em dia eu apenas os ignoro o máximo que posso. Ou falo com eles apenas por respeito que ainda resta dentro de mim.

Ouço batidas na porta e dou uma “arrumada” no rosto e na bagunça que se encontra o meu cabelo, depois de acordar.

Lucas coloca a cabeça para dentro e sinalizo para ele entrar. Ele rapidamente vem ao meu encontro e embala-me nos seus braços.

- Está tudo bem princesa? – Ele pergunta visivelmente preocupado.

- Está tudo bem, não se preocupa meu amor – Falo com um sorriso fraco nos lábios.

- Eu vejo no seu olho que não está pequena – Ele diz sussurrando. – Vem comigo!

Entrelaçamos nossos dedos e sorrimos um para o outro e despedimo-nos dos que estavam presentes na sala. Fomos em direção contrária a praia, tinha uma praça, bem mais calma e bonita do que aquela que nós encontramos o pessoal, quando eu vi a Vanessa pela primeira vez, arght!

Balancei minha cabeça tentando me livrar de certas imagens...

Quando percebi estávamos parados em meio a várias flores, sentamos e ficamos conversando sobre tudo até sobre o colégio.

- Como são as coisas por lá? – Pergunto-o. Ele me puxa parar aninhar-me ao seu peito.

- São... Complicadas (?) – Ele afirma meio em tom de pergunta e depois ri.

- Como assim? – Pergunto não entendo nada.

- Têm os grupinhos, mimadas, pegadores, jogadores, patricinhas, os normais, as que dão para todo mundo, os rockeiros, os nerds, os idiotas e os marotos – Ele explica sorrindo com o último grupo.

- Me deixa adivinhar, você, o Peter, o Gui e o Leo são os marotos, certo? – Pergunto-o rindo.

- Como você sabe? – Ele leva a mão ao peito e estica os dedos, como se fizesse sinal de que não acreditava e depois começou a rir.

- Sei lá, acho que é o grupo que você se encaixa se não forem os jogadores ou pegadores – Digo dando de ombros.

- Hm... Mas sim, somos os marotos – Ele diz sorrindo.

- O que vocês fazem para receber esse nome? – Pergunto curiosa.

- Nós somos os palhaços da sala, somos bons jogadores e sem querer me achar – Ele leva a mão direita ao ombro esquerdo e como se tivesse tentando tirar alguma sujeira – Somos os mais desejados do oitava série, agora primeiro.

- Nossa, desculpa aí senhor eu sou o top da balada – Levanto minhas mãos em sinal de rendição.

- Mas isso é sério, eu só to pensando em que grupo você, o Gus, e a Lu vão entrar – Ele diz com uma expressão de pensamento.

- O Gus provavelmente entra para o dos pegadores, a Lu é meio doidinha e eu... Bom não sei, então provavelmente como não vamos nos separar vamos criar um novo grupo – Eu digo dando de ombro. Antigamente era nós três contra o mundo. Sem querer me achar ou nada, mas o Gus era sempre o mais desejado da escola, algumas meninas vinham atrás de mim e da Lu para pedir ajuda e com ele era assim também.

- Depois eu que sou o top, vai chegar lá e já vai formar o grupo – Ele diz rindo.

- Acho que está na hora do almoço – Digo pensando.

- Vamos voltar então – Ele dá de ombros.

Fomos seguindo o caminho sempre de mãos entrelaçadas, eu preciso falar que estava me sentindo meio sei lá, insegura? Eu já entendi que ele é o top do colégio, então quantas meninas vem estar ao pé dele?

Eu só sei que eu não vou deixar que qualquer besteirinha acabe com nós.

Mas eu sei que vai ser difícil, ainda mais com a Vanessa que é do grupo dos populares e só na festa deu pra perceber que todos fazem exatamente qualquer coisa que ela mandar.

Chegamos a casa, almoçamos, tivemos uma tarde agradável, eu, Lucas e Biel fomos para a praia, parecíamos uma família, eu segurava Biel no colo e Lucas nos envolvia num abraço protetor, não havia sensação melhor. Passamos a tarde toda na praia, fomos tomar banho, fazer todas as higienes e jantar, mais piadinhas e não é que nossos pais e Pedro tiraram onda, que o Biel tinha sobrevivido há um dia na praia já poderíamos casas e ter filhos. Coramos violentamente e eles começaram a rir de nós.

Fomos dormir, dei um selinho no Lucas e sussurrei em seu ouvido.

- Obrigada meu príncipe, obrigada por tudo – Falei com um sorriso bobo.

Entrei no meu quarto, coloquei o pijama e fiz minhas higienes, deitei na cama e foquei meu olhar no teto, pensamentos rondavam minha cabeça, em quatro dias tudo isso acaba e o inferno, que também atende por escola começa.