Sem Necessidade de Mega Sagas.

Capítulo 3: Sem necessidade de desejos não realizados


Os pingos de chuva batem na janela. Um jovem dos seus vinte e dois anos olha o mau tempo lá fora. "Como é bom estar aqui, dentro de minha casa protegido da chuva e com as pessoas que amo. Espero que tudo dê certo." Pensa o jovem que veste um casaco marrom e calça Jeans. O seu cabelo negro e longo é preso por uma espécie de anel.

- Tenchi! - diz alguém. Eu estou muito orgulhoso de você.

O jovem vira-se sorrindo.

- Eu também, pai. Pensei que nunca iria chegar ver este dia.

- Que bobagem, filho! Eu também fiquei assim quando você veio ao mundo. Sua mãe me deu o melhor presente que eu merecia receber. Sou um homem de muita sorte.

- Daqui a pouco você irá ouvir os sons de seu neto, ou neta, gritando pela casa: "Vovô! Vovô!" Será que terá a personalidade da mãe?

- Depende... Já imaginou se aquelas meninas malucas estivessem aqui?

Tenchi fica em silêncio.

- Vejo que você ainda sente saudades delas, não é?

- Não tem como não sentir, pai.

- E a Washu? Tem notícias dela?

- Soube que a academia de ciências a aceitaram como mestra. Faz muito tempo que não dá notícias.

- E Kiyone e Mihoshi?

- Elas foram separadas. Kiyone atualmente é a mais jovem comissária de setor da polícia galáctica. Acredite, é uns dos mais altos postos da instituição. Já Mihoshi saiu da polícia e casou com um graduado do PG. Ela vive me mandando postais de vários lugares da galáxia. Uma eterna lua-de-mel.

- E Sasami?

- Ela voltou para Jurai e entrou para uma ordem religiosa, ou algo assim. Pela sua última carta, dizia que estava tentando ligar-se nas "fontes primais de Jurai". Diz também que a mãe dela é de uma felicidade só.

- E Ayeka?

- Ora pai...

Súbito, alguém entra na sala.

- Senhor Masaki, a sua filha acaba de nascer. Ela é linda! - diz uma enfermeira.

Os dois homens correm ao quarto e encontram o médico em pé, sorrindo.

- Ela é perfeita! - diz o médico. Por que não a vê?

- Posso mesmo!?! - pergunta Tenchi transbordando felicidade.

Um gesto afirmativo faz o rapaz entrar no quarto a toda velocidade. No seu interior, ele vê a sua esposa segurando o seu filho e os olhos de ambos lagrimejam.

Os passos pesados e lentos do rapaz caminham em direção do seu bebe.

- Pode vir, seu bobo! - diz sua esposa. Sua menina não vai te morder.

Tenchi consegue, com muito esforço, chegar a sua cama e segurar a sua linda menina. As lágrimas não param de cair de seus olhos e sorriso de pai orgulhoso faz Tenchi Masaki o homem mais realizado da Terra.

- É linda! - diz ele com cara de bobo. Qual nome está pensando dar para esta bela princesa?

- Estava pensando em Mayuka... Que tal?

- Tudo vindo de você é perfeito. Sim! O seu nome será Mayuka!

Um sorriso dá destaque em seu rosto coberto parcialmente coberto pelas sombras, pois um raio, inesperadamente, deixou a casa as escuras.

- Eu não entendo... - diz a mulher. Por que no dia mais importante da minha vida, está um tempo tão ruim?

O rapaz abraça a sua esposa e responde:

- É como um aviso. Apesar das dificuldades, juntos, superaremos tudo.

Ao dizer isto, a luz retorna ao lar da família Masaki e revelando o rosto da esposa de Tenchi.

- Eu não disse, Sakuya! Juntos, nada nos separará!

Ela abraça o seu marido com força.

Tenchi está feliz.

* * *

Uma nave corta o espaço. Esta nave chama-se Ryo-ohki e no seu interior está a mais procurada pirata do espaço. O seu nome é Ryoko. Ela diz a sua parceira que irá a nave principal e ela chama-se Yagami.

No interior de nave principal, Ryoko caminha com segurança e tranqüilidade típica de uma mulher que tem tudo que quer e terá o que deseja. Atrás dela, o seu Cabbit corre com rapidez e dando os seus gemidos característicos. Nos corredores da nave, a pirata encontra duas velhas conhecidas...

- Você é uma desgraça, Mihoshi! Como pode botar tanto detergente no chão? Ele é usado para lavar louças e não para o piso.

- Desculpa, Kiyone! Gostei tanto do cheiro que achei podia usar em todo lugar...

Com raiva e exclamando aos céus. A mulher brada:

- Deus! O que fiz para merecer isto? A minha carreira foi para o espaço por causa dela! As tentativas de emprego foram arruinadas por causa dela! Sou escrava de uma pirata espacial por causa dela!

- Mas Kiyone, estamos juntas é isso que importa.

- Eu vou dizer o que me importa...

Quando a ex-policial ia completar a frase, um pigarro corta o corredor e ela vira-se e vê a mais famosa e temida pirata espacial do Universo, a sensual Ryoko.

- O que te importa, Kiyone? - pergunta em tom de ameaça.

- Em servi-la, senhora. - diz submissa.

- Muito bem. - diz sorridente. Gosto que os membros de minha tripulação me sirvam, principalmente, ex-policiais. Sabe, a maioria dos meus tripulantes são criminosos e você sabe muito bem o que eles fazem com ex- policiais.

O olhar de terror da bela mulher de cabelos longos é a sua resposta.

- E aí, Mihoshi? - pergunta Ryoko. A sua parceira está te tratando bem?

- Claro! Somos grandes amigas! - diz sorridente.

- Que bom! Cuidem bem da limpeza da nave, senhoras.

A pirata parte do local flutuando e acompanhado por Ryo-ohki, o seu animal de estimação. Ainda, mesmo um pouco afastado, dava para ouvir os gritos de desespero de Kiyone.

A sala de controle da nave, Ryoko senta, displicentemente, na poltrona de navegação, aperta uns botões e surge uma tela retangular. Um rosto surge na tela.

- Como está às salas das maquinas, Washu?

- Precisamos de combustível. Estamos quase no zero, mas se quiser eu posso inventar um...

- Esqueça! Na última vez que fez isto, quase paramos no interior de um buraco negro. Vou mandar um grupo para roubar todo combustível que precisa.

Desapontada, Washu responde:

- Faça o que achar melhor. Desligo.

Ryoko fica um pouco contrariada pelo fato que a cientista tenha desligado o monitor na cara dela, mas conhecendo como ela é pouco importa. Em seguida, a pirata liga para a cozinha e vê o rosto de uma menina de traças imensas.

- O que temos para comer, Sasami?

- É uma surpresa, Ryoko! Garanto que irá gostar. - diz sorridente.

- Confio em suas habilidades. - diz lambendo os beiços. Até breve!

- Até! - e desliga.

Cansada, Ryoko recolhe a tela comunicadora e ajeita-se na poltrona. Súbito, a porta de entrada é aberta e a pirata vê a sua maior alegria. Os seus olhos brilham de satisfação.

- Ayeka... - diz a pirata.

- Oh! Senhora... - é a resposta.

O visual de princesa de Jurai é lastimável. Roupas esfarrapadas, o longo cabelo em desalinho, um olhar cansado, com olheiras e carregando um balde e uma escova de dente.

- Sabe o que quero, querida? Sabe aquele canto que apontei para você? Continua imundo! Quero limpo, se não...

- Mas eu já limpei, senhora...

- Está me chamando de mentirosa?

- Não, senhora.

- Então, faça! E dessa vez com a língua!

Um olhar de terror surge no rosto da princesa de Jurai.

- Senhora, isto é desumano! Sou a primeira princesa de Jurai e tenho direitos mesmo sendo escrava!

- E quem vai importar como uma princesa de um império que acabou? Aceite a realidade, você é a minha escrava e eu te comprei. Eu faço o que quiser contigo. Agora, vai lá e limpe com a língua! - e dá risada.

As lágrimas escorrem no rosto da princesa e parte resignada.

- Adoro humilhar essa mulher petulante! - diz Ryoko com satisfação.

- Pare com isso! Sabe que não gosto que faça isto com Ayeka.

A pirata olha em direção da voz masculina que corta a sala de controle.

- Tenchi! AH, TENCHI!!! - exclama e teletransporta-se ao seu lado.

O rapaz segura a mulher nos braços e ela apoiada em seu pescoço.

- Estou tão contente que esteja comigo cruzando o espaço ao meu lado. Sabe que te amo, querido!

- Sei... Prometa que nunca mais vai importunar a Ayeka.

- Prometo! - diz Ryoko cruzando os dedos atrás da cabeça de Tenchi. Serei um doce para ela, quase uma irmã. Você me ama?

- Sim. Eu te amo!

Um beijo cinematográfico surge na sala e provocando a inveja da Ayeka que tenta limpar o tal canto com um pano.

Ryoko está feliz.

* * *

O buque está perfeito. Exatamente como ela queria e combina com o seu vestido de noiva. Os melhores costureiros do império disputaram entre si a honra de vestir a primeira princesa de Jurai. Sua mãe está orgulhosa.

- Ayeka, querida! Estou tão emocionada! Você está linda!

A noiva olha para a sua mãe, com os olhos cheios de lágrimas, e vê uma mulher parecida com Sasami e com as roupas sacerdotais. Atrás dela, está a própria Sasami como dama de honra de sua irmã.

- Obrigada, mamãe! - diz a noiva sorridente.

No quarto real, o imperador de Jurai entra e todas as mulheres o reverenciam.

- Lady Misaki, a sua filha está pronta?

- Está sim, querido! Olhe só a nossa filha!!! Não parece uma visão do paraíso?

O imperador de Jurai parece com aquelas figuras das cartas do baralho, o rei de espadas, só que com a barba e os cabelos escuros e sorridente. Só de olhar para ele que você sente uma aura de respeito e autoridade.

- Sim, está digna para uma princesa de Jurai. Acredito que seja a terceira mais bonita noiva que já vi.

- É mesmo, Lorde Azusa? - pergunta Lady Misaki com veneno. Quais são as outras duas?

- As minhas duas esposas estão empatadas em primeiro lugar em meu coração. - e o imperador de Jurai sorri.

- Eu também quero desejar tudo de bom à noiva, posso?

Todos ali ficam surpresos da presença daquela mulher no quarto real.

- Lady Funaho! - diz Ayeka. Que surpresa! Fico muito contente que a senhora esteja aqui no dia do meu casamento.

- Eu também estou. - diz a imperatriz de Jurai. Saudações, amado marido e Lady Misaki.

O imperador retribui o cumprimento e já a sua colega repete o gesto do marido sem muita afinidade e, talvez, com antipatia.

- A pequena Ayeka já não é mais uma criança, mas uma bela mulher. - diz Lady Funaho. Gostaria que fosse o meu filho, Yosho, que contraísse matrimônio com você, mas o destino quis que nossos laços se unissem de outra forma.

- Sou uma mulher de muita sorte, senhora. - responde Ayeka. O sangue real será preservado e mantido puro nas próximas gerações.

Sasami, um pouco encabulada, pede atenção a todos.

- Desculpe, mas estamos atrasados...

Cornetas imperiais tocam e anunciam a chegada da família real. Todos os convidados levantam-se. O protocolo real é de uma pompa fora do comum, mas as irmãs ainda têm chance de trocar algumas palavras.

- Então, Sasami? Fez o que te pedi?

- Fiz, sim. Mas ainda acho uma crueldade...

- Crueldade?! - a primeira princesa dá a sua famosa risada.

Enquanto isso, num local nos confins do império que é chamado de asteróide - prisão de Waccon, onde estão os piores criminosos e inimigos de Jurai. As cenas do casamento real são vistos por todos os detentos, uma pequena cortesia da primeira princesa e especialmente dada àquela presa em particular.

- Maldita, Ayeka! Ela vai me pagar muito caro por isto! Eu te odeio, sua lesma coroada!

- Cale-se, Ryoko! - diz a carcereira. Não é todo dia que aqui vemos um casamento real.

Dentro de uma cela minúscula, com um colar que inibe os seus poderes e suas mãos agarradas às grades, Ryoko insulta o seu desafeto.

- Cadela! - grita, tomada pela cólera. Eu vou sair daqui e aí vou me vingar. Você vai ver!!! Eu vou me vingar!!!

Na tela do presídio, a cerimônia continua impecável e a contínua imagem da princesa Ayeka deixa à pirata tendo convulsões tão violentas que foi preciso dardos tranqüilizantes para acalmá-la.

No local da cerimônia, a entrada da noiva no corredor que leva ao altar causa furor nos convidados. O comentário geral é o quando a primeira princesa de Jurai está linda. (Nenhuma novidade.) No altar, estão os pais, o sacerdote, membros da família real e, é claro, o noivo. (Por acaso, meu caro leitor, preciso dizer quem é o noivo?)

Ayeka está feliz.

* * *

As flores caem do céu. Ryo-ohki brinca rolando na grama dos jardins do templo Masaki e jogando as flores é a doce Sasami. Suas longas tranças são usadas, por Ryo-ohki, como um cipó no meio da floresta. A pequena princesa ri e corre em círculos com o animal pendurado em seu cabelo.

Minutos depois, lá está ela deitada na relva a sombra de uma árvore e vendo dos insetos voarem entre as flores. Uma paz e tranqüilidade que dá inveja.

Sasami está feliz.

* * *

São muitas cenouras.

Ryo-ohki está feliz.

* * *

São raios cortando o espaço. Um cruzador espacial atira implacavelmente uma pequena nave, mas esta não é qualquer nave. É a mais temida de todas as viaturas da mais conceituada instituição de todo Universo. A pequena nave vermelha começar a desviar de todos dos tiros com uma sorte fora do comum.

- Rebeldes, Kardarianos! Aqui é a polícia galáctica, rendam-se enquanto podem! - diz uma voz feminina.

Disparos de energia foram à resposta. A pequena nave vermelha consegue fugir dos raios de energia e lança uma espécie de torpedo energético que explode o casco da nave. Pelo buraco, a pequena nave vermelha entra no interior do cruzador e ela faz um belo estrago. São tantos disparos que uma pessoa normal ficaria cega, mas estamos lidando com heróis e isto é um pequeno detalhe.

Em segundos, o local de posto estava "pacificado" e a nave pôde pousar. Quem, em nome de Deus, poderia fazer tamanha loucura e vencer?! No casco exterior, próximo da janela, tem algo escrito num dialeto estranho, mas sabemos muito bem o que significa. O nome dessa nave é Yagami!

Logo depois do pouso, a porta desce e surgem duas mulheres vestidas de preto com duas armas imensas. Os seus óculos escuros dão um chame misterioso e ameaçador à dupla. Os seus nomes são Kiyone e Mihoshi.

- Rebeldes! Esta é a sua última chance! Rendam-se e entreguem as suas armas! - ordena Mihoshi.

Em seguida, um lagarto escamoso, com uma lança e seguido por inúmeros répteis similares a ele, um detalhe, armados. Com uma voz estrondosa, diz para as policiais:

- Eu vim aqui pessoalmente para dizer a vocês que nunca vamos nos render! - diz apontando o dedo para as mulheres. O nosso povo vai continuar a saquear todo o Universo e nunca iremos reconhecer a autoridade da polícia galáctica. E, principalmente, vinda de duas fêmeas mamíferas, ridículas e horrorosas.

Todos os lagartos começam a rir.

- Ei, parceira! - diz Mihoshi. Eles estão rindo da gente...

Com um sorriso discreto nos lábios, Kiyone diz:

- Não se preocupe! Logo vão deixar de rir e vai ser agora mesmo. - e aponta a sua arma. Se vocês têm Deuses, peçam a eles agora!

Os lagartos param de rir e começam a tremer.

- Você não vai atirar na gente, vai? - pergunta o lagarto de lança.

A resposta de Kiyone é um disparo preciso, mas em vez de raios e uma rede energética encobre todos os répteis.

- Vocês estão presos! Mihoshi, leia os direitos deles!

- Claro, parceira! - responde e lê.

Na sede da polícia galáctica, as duas são recebidas como heroínas e o chefe delas diz, empolgado:

- Vocês são as melhores policiais de toda PG. O que eu não entendo é por que vocês não querem as suas merecidas promoções?

A detetive de primeira classe Kiyone responde sem pestanejar:

- Porque somos policiais! Tenho a minha parceira e trazemos justiça em todo o Universo!

O chefe delas chora, emocionado.

- Gostaria ter uma pequena fração do talento e coragem que vocês têm! Que exemplo vocês dão a polícia galáctica!

As duas policiais sorriem e pedem para se retirar. Logo é atendido. No corredor, Kiyone diz a sua parceira:

- Você não é apenas uma parceira, mas a minha melhor amiga.

Uma lágrima escorre no canto do olho da loira.

Mihoshi está feliz.

* * *

Hora do almoço. Grande parte do efetivo administrativo da polícia galáctica está no refeitório e de súbito todos param do que fazem. Os olhares de todos dirigem a uma jovem mulher de cabelos negros e um sorriso nos lábios. Ela vai até onde servem as bandejas, com a sua é claro e por isso os comentários.

- O que é isso? - diz uma policial. A diretora geral vai almoçar conosco? Será que ela não sabe que tem um refeitório exclusivo?

Indiferente aos comentários, a jovem faz a sua refeição e o responsável da cozinha vai a sua mesa. Ela levanta os olhos e dá um sorriso discreto. O cozinheiro pergunta a diretora:

- O almoço está do seu agrado? Se quiser mais alguma coisa?

- Está ótimo! - responde. Vejo que todos aqui são bem servidos. O que temos para sobremesa?

- Está próxima a saída. A senhora pode escolher...

- Que bom. - diz sorrindo. Mais alguma coisa?

- Não, senhora.

- Então, pode ir.

Desconfiado, o homem sai do refeitório e vai rapidamente para a cozinha. A diretora observa que um grupo de garçons troca alguns doces que ficavam próximos da saída. Desapontada, a mulher levanta-se e sai do refeitório e não pega a sobremesa.

- Diretora Kiyone... - diz um policial de alto escalão. Por que foi ao refeitório? Os cozinheiros ficaram apavorados, acharam que era uma inspeção.

- Eu só queria variar um pouco. Não queria causar problemas...

- Entendo... Você subiu muito rápido na hierarquia acadêmica e não é um fato comum. Até ontem, era um detetive de segunda classe...

- Primeira! - corrige.

- Que seja. Suas medalhas de honra ao mérito dão para encher os olhos daqueles que sequer sonhariam tê-las. Sua carreira meteórica é surpreendente e todos ficaram assustados com isso. Tenha paciência com eles.

- Sim, senhor.

- Tem notícias de sua antiga parceira?

A diretora sente um arrepio na espinha.

- Não. Só aquelas que todos sabem. Quando ela deixou a polícia galáctica para casar com um nobre da casa de Jurai. Creio que ela esteja feliz.

- Bem... A mãe dela me disse que Mihoshi adorava trabalhar com você, mas a falta de talento dela estava atrapalhando o seu progresso. Acho que sua ascensão é uma prova disso. Kiyone, minha cara, recebi uma proposta que te dá poderes para fazer uma espécie de grupo de comandos especiais e pergunto, aceita?

Com um sorriso imenso, responde:

- É claro!

- É só falar com a comandante Kuramitsu Mitoto, a mãe da Mihoshi, e apresentar as suas propostas.

Depois da saída do homem, Kiyone pula de alegria, pois é mais um objetivo realizado.

Kiyone está feliz.

* * *

Um palco iluminado e com um apresentador sorridente é o cenário que a mente mais brilhante do Universo está vendo. Nervosa, a pequena mulher aguarda ansiosa, com um belo vestido de gala, a sua vez de ser chamada.

- Senhoras e senhores, temos a honra de premiar e reconhecer a maior cientista de todo Universo. Tenho o prazer de chamar aqui, no palco, a mente mais genial do Universo, Doutora Washu! Aplausos para esta grande cientista!

A pequena mulher de cabelos vermelhos sobe ao palco com um sorriso imenso e é ovacionada por centenas de pessoas. O Universo está vendo a sua vitória depois de tanta luta e inúmeros inventos que ajudaram o desenvolvimento de todas as formas de vida que existem no Cosmo.

Uma lágrima escorre na sua face quando chega aos microfones e começa o seu discurso.

- Estou muito feliz por ter sido indicada para este prêmio e ganha-lo. Sou uma mulher de muita sorte. Minha mente está aqui para servir às todas formas de vida de todo Universo. Este prêmio é nada comparado com os seus olhos emocionados, em agradecimento, que minhas invenções fazem por vocês. Tudo que faço é para todos e este é o meu objetivo. Obrigada!

Os aplausos duram uns dez minutos e Washu vê, na primeira fila, os seus amigos do planeta Terra. Tenchi e as meninas aplaudindo com vibração e alegria.

Todos estavam de pé e alguns jogavam flores aos pés de nossa adorável cientista. Confetes e serpentinas caem do céu e parecem as estrelas brilhantes das galáxias que todos os cientistas do Universo estudaram por todas as suas existências. Todos os holofotes estão em sua direção. O seu sonho foi realizado.

Washu está feliz.

* * *

A residência da família Masaki está linda naquele verão. As reformas que tanto imaginava foram feitas e o jardim que sua esposa tinha idealizado está perfeito. O arquiteto Nobuyuki Masaki e sua bela esposa Achika estão abraçados diante a longa mão de obra.

- Querido esposo, é tão bonito o nosso trabalho.

- Somos pessoas de muita sorte. A nossa casa, o nosso filho e suas estranhas namoradas...

- Nobuyuki... Pare de implicar com as meninas. Todas são umas graças.

- Por acaso, está dizendo que Ryoko, Mihoshi e Washu são umas graças? As três seriam capazes de destruir o Universo...

- Ah, é? O que o seu filho querido faz com todas elas é o que?

Com um sorriso no rosto diz:

- O garoto é hiper - ativo. Só isso.

- É um tarado, isso sim. Ele não dá sossego para nenhuma delas. Sabia que já está olhando para a Sasami? Se ele ousar alisar um fio de cabelo dela, mesmo sendo o meu filho, o ponho na cadeia.

- Ele é guloso, mas não é um monstro. Creio eu...

De repente, Ryo-ohki passa correndo e Tenchi, com os olhos vermelhos, atras e a sua mãe segura o garoto pela camisa.

- Eu não acredito! Até a Ryo-ohki! Tenchi, vou levá-lo ao médico... Só pode ser doença, é única explicação...

- Mãe, me larga! - grita Tenchi. A Ryo-ohki está levando a chave do quarto da gostosa da Kiyone. Hoje é o dia dela.

- Mas filho, você não conhece o sentido da palavra descanso. Deixa-a em paz...

Apesar dos queixumes do garoto, a sua mãe não o larga e o seu pai dá um leve sorriso quando repara que a barriga de sua esposa está saliente e roliça. Já não era sem tempo que o garoto precisa de companhia e a casa, mais uma nova reforma.

Nobuyuki está feliz.

* * *

A grama está seca. Como sempre foi nesta época do ano em Jurai. Ele nunca pensou que um dia voltaria ao seu planeta e veria as árvores sagradas de Jurai. O lugar onde todos os seus antepassados estão enterrados e, em breve, será o seu lugar de descanso.

Katsuhiro Masaki, ou como é conhecido em Jurai, Lorde Yosho caminha em direção de sua árvore sagrada e o seu olhar cansado diz que é o fim da jornada. Quando era jovem, disse a si mesmo, que o dia que voltasse a este lugar seria no momento de sua vida que realizaria todos os seus objetivos e morreria junto com os seus antepassados. E é este o momento.

Nas suas memórias estão todos os seus sonhos realizados, mas não no seu intimo. Por que é tão difícil aceitar a idéia que todos os seus sonhos foram realizados que na realidade é impossível isto acontecer? Por que estou aqui, se eu não estou em paz em meu coração? Por que Tenchi não está aqui?

De repente, o velho sábio escuta a voz de seu neto o chamando.

Por que escuto a voz de meu neto, se ele não veio comigo?

A voz cessa.

Por que este lugar tenta, de todas as maneiras, realizarem os meus sonhos?

Katsuhiro Masaki não está feliz.

* * *

Na residência dos Masaki, todos os membros da família flutuam em torno de uma coluna de cristal e, na altura de suas cabeças, pequenos cristais vermelhos emana uma estranha energia que atinge o cérebro.

- Parecem felizes, Yugui. O que fez com eles?

- Dei a eles o que desejavam, Mattori. Quis mostrar a Sasami o que seria o meu mundo. Paz, beleza e perfeição. Não é tudo que todos os humanos desejam?

- Pode ser... Porém os humanos e juraianos são conhecidos por suas eternas insatisfações. Será que um mundo perfeito seria capaz de aplacar os seus anseios?

- Não sei. Depende deles.

A mutante aproxima-se de sua pequena amiga e alisa o seu rosto feliz.

- Ah, Sasami... Por que não quis ficar em meu mundo? Tudo lá é tão perfeito... A nossa pequena casa é perto de um rio. Todos os dias seriam pescarias maravilhosas e estaria numa eterna bela manhã de Sol. Por que não aceitou a minha oferta?

- Vai ver que tem medo de ser feliz? - conclui Mattori.

- Quem sabe?

- O que vai fazer com eles? Deixa-los ai?

- É uma idéia. Quem sabe que eles morram de inanição. - e ri.

- Senhora, e sua amizade com eles?

- Amizade é algo muito relativo. Foi isso que Sasami me ensinou, porém para matar alguém teria que ter um motivo muito mais forte que este. Talvez a razão desta punição esteja no fato que me senti usada por eles. Ou, simplesmente, não fizeram a sua parte do trato. Mattori... Está decidido! Vou deixá-los neste estado para sempre. Acho que seja uma punição justa, não acha?

- Bem... É a senhora que dá as cartas.

- O poder dos cristais dará a energia necessária para que vivam, mas ficarão inertes em quanto os seus corpos agüentarem, ou seja, atrofiarem. - Yugui dá a sua risada doentia.

- O que fará com este planeta?

- Vou embora. Este mundo me trás más recordações.

Neste momento, a mutante lembra-se da melodia da pequena caixa de música que selou amizade dela com Sasami. E sem que sua serva veja, uma lágrima escorre no seu rosto.

Na saída da casa do clã Masaki, Yugui e seus servos encontram dois entes que bloqueiam no seu caminho. A pequena demônio dá um sorriso de desdém e diz:

- Asaka e Kamidake. Que surpresa!

- Traidora! - diz Asaka. Todos os membros do clã Masaki a abrigaram durante o seu estado de hibernação.

- Os seus atos serão punidos com rigor. - diz heroicamente Kamidake. Nós iremos libertar os nossos amigos.

- Punir-me?! - questiona Yugui. Escutem, suas toras flutuantes. Ninguém tem a capacidade de me julgar e, principalmente, aqueles que... Ahn! Por que vou perder o meu tempo argumentando com robôs?

Num único gesto, os robôs caem no chão e a mutante passa por cima deles.

- Patéticos! - diz a criança.

Em seguida, Yugui cria uma nave de cristal e entra nela. Os seus servos transformam-se em cristais e acoplam na nave. Segundos depois, a nave parte rumo ao espaço infinito e no seu interior uma criança chora a sua amizade perdida.

São passados cinco dias e nada mudou. Os nossos heróis estão em estado de letargia e a poeira e as folhas entram na casa. Não há mudanças em todos os membros do clã Masaki, exceto o avô de Tenchi que o seu cristal tem uma leve rachadura...

Fim do terceiro capítulo.