Sem Clichês

Capítulo Único


Sem clichês

Essa é uma história de amor. Mas não é o clichê que eles se odeiam, fazem um trabalho juntos e se amam. Também não é sobre o pegador que mudou pela nerd. Não é sobre a menina “diferente das outras” que fez com que o popular se apaixonasse.

Na verdade, é tão fora de todos os clichês que chega a ser um.

Ela não tinha uma história comovente da miséria até o sucesso, mas tinha suas vitórias pessoais. Não era popular mas tinha suas amizades. Não cortava todo mundo, mas sabia responder. Era inteligente mas não passava a vida estudando. Apenas sabia a hora de prestar atenção e a hora de conversar. Gostava fácil de meninos, mas nunca se apaixonava. Apenas tinha umas quedinhas, que, por não serem muito profundas, nunca deram em nada, nem beijo nem namoro. Não tinha um estilo skatista, mas não era muito graciosa. Usava tanto vestidos quanto calças. Não era feia, mas não era a mais bela de todas. Achava horrível usar saltos e maquiagens e amava seus moletons. Tentava ajudar todos, mas não se sacrificava por quem não se importasse.

No geral, a menina era vista como a nerd meio sociável da sala, ou seja, tinha amigos mas estudava.

Ele era o pateta da classe. Fazia piadinhas sem graça e com certeza seria o tio do pavê. Zoava seus amigos, mas sempre na brincadeira, sem intenção de magoar. Também não tinha nada extraordinário em seu passado, mas sempre se esforçava para alcançar suas metas. Conversava e jogava no celular durante a aula, mas passava de ano. Sempre desligado, às vezes um pouco lesado. Era bom de esportes, mas não vivia jogando. Não usava camisa de futebol, mas também não usava polo ou camisetas de bandas. Achava exagero a arrumação das meninas. Nunca havia ficado com nenhuma, mas não se importava. Conversava com todos, embora tivesse poucos amigos verdadeiros.

No geral, o menino que era o pateta e só conversavam por educação. Era visto como o lesado que faz palhaçada o tempo todo.

Os dois sempre foram amigos. Conversavam como conversavam com todos os outros. Às vezes faziam trabalhos juntos, mas não foi isso que fez com que se amassem.

Ele era um pouco desligado e sempre esquecia de anotar a lição. Como sentavam perto, vivia perguntando “ Teve lição hoje?”

Ela era a única com paciência para responder. Ele perguntava todos os dias, então essa passou a ser principal conversa dos dois. Ela sempre respondia, decorava a lição na cabeça apesar da agenda.

Com o passar do tempo, isso virou a piada entre eles, só deles. Ele se acostumou a anotar, mas ainda perguntava só pra tirar sarro. Ela sabia disso e respondia coisas aleatórias, como lição de educação física.

Pode parecer bem tosco, mas foi isso que os aproximou. Foram ficando mais amigos, conversando mais, eram como irmãos. Se ajudavam e se divertiam.

Realmente não havia malícia.

E foi assim até ela se perceber apaixonada por ele. Não era uma quedinha como das outras vezes. Realmente estava apaixonada pelo menino que não sabia nem a lição. Se sentiu mal, pois eles se tratavam como irmãos e ela não queria estragar essa amizade.

Então ela resolveu escrever uma história com indiretas. Sabia que ele era um pouco lesado e dificilmente entenderia. Mas ela não tinha coragem de falar pessoalmente ou por uma carta. A história era um meio mais sutil de falar. E também poderia servir como redação de português.

Ana?- perguntou Thiago

Ah, oi Thi! Tudo bem?- ela respondeu, escondendo a história

To bem. O que você está escondendo aí?- ele questionou, olhando pra folha atrás de Ana

Ah, nada não, só a redação de português. Vamos dar uma volta?- ela disse, tentando mudar de assunto.

Para de mudar de assunto, Ana! Você não me engana. O que é?

Você não vai desistir mesmo, né?

Não.

Então vem pegar!- ela disse, saindo correndo.

Ah, você vai ver- ele disse, indo atrás dela. Rapidamente alcançou- a e começou a fazer cócegas

Pp... par... Para Thi!- ela tentou falar enquanto o menino fazia cócegas.

Só se você me der a folha

Tabom, tá aqui.- ela entregou a história para Thiago, que começou a ler

Nossa, não sabia que você escrevia tão bem, parece a Mili!- como ela esperava, a lerdeza em pessoa não entendeu a indireta.

Valeu.- ela disse, um pouco decepcionada

O que foi? Você tá com uma carinha...

Nada, eu que sou trouxa mesmo.- a menina disse triste

Você não é trouxa. É a menina mais inteligente, paciente, única e bonita que eu conheço.

Valeu. Mas eu não sou tudo isso. - ela falou, pensando que ele só tinha piorado tudo.

Claro que é! Olha só essa redação maravilhosa! De onde você tira essa inspiração toda?

Demorou um pouco para ele entender, mas conseguiu. E para a surpresa dela, ele se declarou. Sempre gostara dela, mas, como achava que não era recíproco, tratava-a como uma irmã. Dessa forma, pelo menos ficava próximo a ela.

Acho que se apaixonaram porque se completavam. Um distraído outra ligada.

Um engraçadinho outra que gosta de palhaçada. Até os defeitos se completavam. Não eram opostos, eram parecidos ao mesmo tempo que eram diferentes.

Não vou falar que viveram felizes para sempre porque é mentira. Para sempre, não. Mas ficaram juntos por muito tempo. Às vezes brigavam, mas isso não os impedia de serem felizes.

No fim das contas, viveram um clichê. Mas era o clichê deles,e nada mais importava.

“Eu possa me dizer do amor (que tive)

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.