Segure minha mão

Capítulo 15


Capítulo 15 — Chega! Cansei.

Luiza

Quando cheguei em casa da praia fui para o meu quarto, tomei banho e depois fui dormir, eu estava exausta. Meu domingo foi normal, saí com as meninas e a gente foi no shopping, depois encontramos o Kauã e o Pietro e ficamos com eles a tarde toda. Não vi nem o Bruno nem o Gabriel... De tarde fomos para minha casa, tomamos banho de piscina e como sempre passamos falando besteira. Mas, apesar de divertido, senti falta de ouvir as merdas que o Gabi fala.

De noite o pessoal foi embora, e eu fui tomar banho, já era bem tarde e eu estava deitada na minha cama, ouvi a dona Iara gritando o nome do Gabriel, me levantei rápido e olhei pela janela do meu quarto, não vi ele, só um vulto passando do outro lado da rua bem rápido, provavelmente era ele, mas onde ele estava indo aquela hora? Deitei novamente na cama e demorei para dormir, ele não saía da minha cabeça. Será que ele... não... ele não pode ser tão idiota assim... ele não pode ter se drogado de novo! Mas amanhã eu descubro isso, ah se descubro! Acabei dormindo atordoada.

Segunda. Levantei, me arrumei para a escola e desci, tomei meu café e saí devagar esperando encontrar o Gabi saindo também, mas não vi ele, continuei meu caminho e logo cheguei na casa da Vic. Ela veio rápido.

— Olá! — Ela piscou animada. — Como vai fedida?

— Que fedida o que, eu sou é muito cheirosa! — falei rindo.

— É? Deixa eu ver? — Ela veio pulando em mim e me cheirando.

— Para retardada!

— Retardada é?! Essa foi lá no fundo... Estou magoada agora. — fez cara de triste.

— Mas é minha retardada favorita!

— Oba, sou a favorita! — ela riu.

Fomos para a escola e acabei esquecendo um pouco o Gabi, já estávamos começando a falar da formatura, dos nossos vestidos e tal. Detalhe, ainda não tinham se passado nem as férias de inverno!

— Cara, eu nem acredito, último ano! — falei.

— Pois é! Já sabe que vestido vai usar, que cor, que sapato, como vai arrumar o cabelo e principalmente: com quem você vai? — ela piscou.

— Credo, virou interrogatório agora?

— Interrogatório? Essas sãos as perguntas básicas minha filha... se você quiser eu comece o interrogatório...

— Não. Não... Eu fico com as básicas... bom, não sei que vestido usar, nem a cor, muito menos o sapato, cabelo? Putz... com quem eu vou... é... sem pretendentes no momento... o que eu gostaria que me levasse só sabe dar mancada... — fiz uma cara de triste lembrando da cena que vi ontem a noite.

— Amiga... você ainda está com o Gabi na cabeça?

— Sim.

— Você precisar tirar ele daí!

— Eu posso até tirar ele da minha cabeça mas como vou tirá-lo do meu coração? — Nossa conversa morreu ali, chegamos no portão da escola e vimos o Gabriel e o Kauã parados lá. Fomos até eles.

— Oi minha namorada! — Kauã disse abraçando Vic fortemente e a beijando.

— Oi meu namorado! — Ela correspondeu.

— Oi, Lu! — Kauã sorriu.

— Oi.

— Olá. — Gabriel disse com um sorriso para mim.

— Oi. — Sorri um pouco.

Kauã e Vic entraram abraçados na nossa frente e eu e o Gabi fomos andando juntos atrás deles, ele falou baixinho para mim:

— Que foi, Lu? Está braba comigo?

— Eu braba? Por quê? Eu deveria? — falei tentando descobrir se minhas suspeitas eram verdadeiras.

— Não... não tem motivos... — ele disse e sorriu disfarçado.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Quantas quiser!

— Você saiu ontem e deixou sua mãe gritando seu nome na porta de casa?

— Eu... eu... — ele se atrapalhou todo — Eu fui para a casa do Kauã... — ele falou finalmente.

— Na casa do Kauã? — eu estranhei, então ele não...? Ou...

— É, eu dormi por lá ontem...

— Hum... — eu falei não acreditando muito.

— Vic priminha, morra de inveja, dormi com seu homem ontem! — Gabi disse brincando com a Vic.

— Oi? Como assim?! — ela virou olhando de Gabi para Kauã com a sobrancelha levantada.

— Ah, é amor... o Gabi dormiu comigo ontem, já que você não quis me fazer companhia... — ele disse concordando com o Gabi. Então é verdade?

— Vic, amiga... eu acho que você está namorando um cara gay!— falei brincando.

— Ih, está me estranhando?! Eu não sou gay não! — Gabi falou se defendendo.

— Você que fica dizendo que dormiu com o Kauã... não sei não. — falei rindo.

— Mas eu quis dizer que pousei na casa dele.

— É, mas disse que dormiu com ele... Para mim homem que dorme com homem é gay. — Eu disse provocando ele. Já estávamos no corredor da nossa sala de aula.

— Eu não sou gay e você sabe... — ele disse me fazendo parar de andar.

— Eu sei? Eu não sei de nada... Tenho minhas duvidas... — me fiz de desentendida.

— É? Eu te provo que não sou então.

Ele me prendeu contra a parede do corredor, Vic e Kauã já estavam dentro da sala, eu sentia a respiração dele perto da minha boca, eu sentia seu cheiro, seu desejo, nossos corpos foram se aproximando mais, ele foi me colando contra a parede, eu estava entre seus braços, nossos olhos se fecharam e nossas bocas se tocaram, ele raspou seus lábios nos meus com carinho e eu fui sentindo seu respirar, iniciamos um beijo diferente, calmo, Gabi tirou as mãos da parede e colocou-as no meu corpo. Eu não resistiria a ele, segurei seus cabelos e fui acariciando sua nuca, o beijo continuava calmo, o corredor estava em silêncio, só nós dois ali no momento. Era bom estar entrelaçada em seus braços, sentindo aquele calor, aquele desejo e mesmo assim levitando lentamente. Fomos parando aos poucos, até nossos lábios se desgrudarem, ficamos nos encarando breves segundos e o pessoal começou a aparecer, entramos na sala como se nada tivesse acontecido, mas bastou a Vic me olhar que ela sabia. Eu tinha beijado ele. Sentei ao lado dela.

— Luiza... — ela falou me repreendendo.

— Ah, amiga... o que é que tem? Eu gosto tanto dele, poxa...

— Eu sei cara, e eu torceria muito por vocês, mas o Gabi... enquanto ele não sair desse mundo cara... esquece Lu... você só vai se machucar!

— Mas ele está saindo!

— Tem certeza? Se ele está saindo porque o Kauã precisou tirar ele do beco ontem?

— O que? — Eu disse bem alto e todos que já estavam na sala, inclusive o Gabriel ficaram me olhando.

— Cala boca e senta aí! — Ela me fez sentar e ficar quieta, eu não acreditava naquilo!

— Mas... mas... Vic... ele... — Suspirei. — Que merda mesmo! — falei irritada.

— Ei, calma, eu vou te contar tudo que o Kauã me falou, vamos no banheiro.

Nós nos levantamos, Vic avisou Kauã que iriamos ao banheiro e a gente foi.

— Eu pedi para o Kauã me falar o porquê do Gabi ter dormido na casa dele, ele não queria me dizer, mas eu insisti, afinal ele é meu namorado agora...

— Tá e aí?

— E aí que o Kauã me contou que quando estava voltando da minha casa para a casa dele ele ouviu uns barulhos ali no beco e passou olhando, quando ele viu era o Gabriel batendo num tal de Sam lá... só sei que o Kauã me falou que tirou ele de lá e levou para casa... Aí o Gabriel acabou dormindo lá porque tinha brigado com a mãe dele e tal...

— Ai amiga... — Eu falei sentindo meu coração doer. — Porque eu tinha que me apaixonar por ele? Podia ser qualquer outro!

— Ei, não vai chorar, ele não merece uma lágrima sua! Você tentou tanto, sempre pediu, fez de tudo e ele não dá valor a isso, eu não sei por quê!

— Eu cansei, chega! Eu estou cansada de sofrer por isso, de dedicar todas as horas do meu dia pensando nele e no beijo dele, no jeito dele me olhar, no jeito dele brincar comigo. — Eu já estava começando a lembrar de vários momentos bons que passei com ele.

— Ei! Para!

— É, chega.

— Olha Lu, eu entendo o Gabi, assim como você entende, drogas é um negócio sério e todo mundo está careca de saber que é um mundo quase sem volta, e o Gabriel... se ele quiser eu sei que ele pode sair dessa, mas ele precisa querer se ajudar também, essas recaídas, isso é normal, mas se ele quiser ele consegue, só que eu estou cansada de te ver assim, triste, chorando por aí por causa dele.

— Eu sei amiga, eu vou esquecer ele. Eu preciso. E também, eu estou cansada disso, de acreditar que eu posso mudar um cara que é simplesmente O cara. Ele precisa querer.

— Ok, mas então o que você vai fazer?

— Vou parar de falar com ele. Talvez assim ele saia do meu pensamento, talvez assim ele saia do meu coração.

Bateu o sinal e voltamos para a sala o Kauã logo chegou perguntando o porquê da demora, a Vic explicou que me contou tudo e o Kauã olhou para ela com cara feia.

— Amor... você não deveria... — Eu o interrompi.

— Não deveria o que Kauã? Me falar a verdade? Me falar que o Gabriel se drogou de novo? Ela deveria sim, e quer saber, eu cansei. Chega para mim. — eu disse e olhei séria para onde o Gabriel estava sentado.

Durante a aula o Gabi me mandou alguns papeizinhos, mas eu não li nem respondi nenhum deles. O Bruno chegou atrasado e acabou entrando na segunda aula só, ele sentou do meu lado.

— Oi minha linda! — ele disse me dando um beijo no rosto.

— Oi Bruno... — eu disse sem animo.

— Ei, o que houve?

— Nada não...

— Eu te conheço Luiza, pode falar... — ele disse passando a mão no meu rosto.

— Não quero falar sobre esse assunto. Eu estou cansada já...

— De que minha linda?

— De ajudar quem não quer ser ajudado. — Eu falei e olhei para o Gabriel que nos encarava sério, o Bruno me viu olhando para o Gabi e olhou também, percebi faíscas nos olhos dos dois. Bruno voltou a olhar para mim e acariciar meu rosto.

— Lu, você não está assim por causa do drogadinho né? Fala sério...

— Bruno! — eu disse repreendendo ele — Ele não é drogadinho!

— Não? É drogadão então.

— Bruno, quer saber, cansei de ti também! — falei e me levantei indo sentar com a Vic na cadeira dela, era aula de artes e a professora era muito querida.

— O que foi? — ela perguntou confusa.

— Eu estou estressada, só isso.

— Eita! Eu vou ficar na minha então, patada de Luiza? Não quero não, muito obrigada.

— Sua chata eu nem dou patada em ti.

— Não? E aquela vez que eu te perguntei como você andava e você me olhou torto e disse: ''com as pernas''?

— Cara, a gente tinha uns nove anos naquela época, como você lembra disso?

— Eu fiquei traumatizada. — ela colocou a mão no peito.

— Só você mesmo! — balancei a cabeça. — Por isso que eu te amo.

Fiquei ali com a Vic até bater para o intervalo, o Bruno veio falar comigo.

— Lu... desculpa, não queria te irritar antes...

— Não foi nada Bruno, eu que estava irritada e descontei em ti...

— É, perdoo você. — ele sorriu.

— Tá, então já que você me perdoou, compra uma coca e um pastel lá no bar? — fiz uma carinha de pidona para ele.

— Claro minha linda! — ele disse e me deu um beijo no rosto, depois foi para o bar.

Fui indo em direção ao banco onde a gente sempre senta, mas antes o Gabriel me parou no corredor.

— Lu...

— O que? — Perguntei séria encarando ele.

— O que houve? Por que está assim agora?

— Assim como? Magoada e irritada?

Ele olhou para o chão e não disse nada.

— Ou você prefere aborrecida e desapontada? — falei ríspida.

— Desculpa Lu...

— Desculpa pelo que? Por você ter novamente se drogado? Afinal, por que você fez isso?

— Porque eu precisava esfriar a cabeça...

— Ah, então você esfria a cabeça espancando um cara agora?

— Eu não espanquei ele, só me cobrei!

— Se cobrou do que?

— Daquele idiota, ele fica me tirando, ai eu chamei ele para resolver no braço, só que quem levou a pior foi ele.

— E precisava da briga?! — Você podia estar morto agora seu idiota.

— Não, não precisava... — ele suspirou. — Desculpa.

— Quer saber Gabriel, eu cansei de tentar te ajudar, cansei de acreditar em você, cansei de ficar imaginando nó... — parei antes de dizer ''nós dois '' e abaixei a cabeça.

— De ficar imaginando o que? — Ele levantou meu rosto.

— De ficar imaginando histórias impossíveis, de ficar tentando te ajudar a ser o que você era antes. Eu queria tanto conhecer o Gabriel de antes, o mesmo que me deu aquele selinho escondido na varanda da casa da Vic na festa de 15 anos dela. — Olhei para ele lembrando a cena e fazendo ele lembrá-la. Eu me lembrava perfeitamente, todos foram entrando para cantar os parabéns para a Vic, mas antes de eu entrar uma mão me puxou e fez nossos corpos colarem num selinho, depois eu vi que era o Gabi, mas eu nunca tinha falado com ele e ele vinha me dando um selinho, lembro que ele me olhou envergonhado e entrou para a sala, eu ainda fiquei uns segundos ali parada tentando entender aquilo, depois ajudei a terminar de cantar parabéns para a Vic e decidi perguntar a ela sobre o Gabi, ela ia me apresentar para ele, mas ele tinha ido embora, depois daquele dia não encontrei mais com ele, até vi uma e outra vez na escola, mas não tinha vontade de falar com ele, no começo ele parecia sempre sozinho, depois virou o pegador, ai eu desisti de vez... Mas, desde aquele dia, desde o primeiro selinho ele ficou guardado de outra forma dentro de mim e eu não entendia porque, mas agora eu entendo. Talvez isso seja o que as pessoas chamam de amor a primeira vista, ou então grande engano.

— Eu me lembro, pela primeira vez tinha ficado com medo de chegar numa menina, mas vi que aquela era a chance perfeita, — ele suspirou — foi tão bom. Logo depois recebi a pior notícia da minha vida e tudo mudou depois daquele dia. — ele disse lembrando da morte do pai dele.

— Olha Gabriel, eu sei que é duro, que é ruim, mas a gente precisa aprender que nem tudo na vida é perfeito. E que se esconder atrás de umas porcarias que te deixam legalzão por alguns momentos é ser burro! — Falei ainda magoada com ele.

— Eu sei, mas é mais forte que eu.

Quando ele terminou aquela frase ''é mais forte que eu'' ai sim eu me irritei.

— É mais forte que você? Então você realmente é muito fraco! E quer saber, desisto! Chega, cansei! — eu falei e me virei, segui andando e sentei no banco ao lado da galera ainda longe do mundo.

— Aleluia! Sua coca já tá quente! — Bruno falou me entregando a coca e o pastel.

— Obrigada. — Falei sem vontade nenhuma.

— Lu sem fome? Que é isso... — Ele fez cara de espanto.

— Pois é. — tentei sorrir.

O pessoal viu que eu estava triste, a Vic sabia o motivo e tentou me animar de todas as formas, fiquei pior ainda quando vi ele com o Diogo. Como ele consegue dar tanta mancada? Mas chega mesmo, eu desisto dele, desisto de amá-lo. O problema é que ele não sai daqui de dentro.

O sinal tocou me fazendo voltar ao mundo. O pessoal foi indo para a sala e a Vic voltou comigo.

— Ei, não fica assim cara...

— Ah amiga, é tão ruim ver isso, ver que ele está se perdendo de vez, é tão ruim ter que ficar na mesma sala que ele até. Eu não sei se vai dar para aguentar. — eu queria chorar, mas a Vic não deixaria, ela me entende, eu sei, mas não sente o que eu sinto.

— Luiza, agora chega! Esquece ele, não ligue para ele, você vai parar de se importar com o Gabriel! Chega!

Sentei na minha cadeira e o Gabriel entrou logo em seguida rindo com o Diogo e com aquela Sandra idiota atrás dele. Ele veio em minha direção.

— Ainda está estressadinha? — Ah não, ele está zoando comigo, só pode!

— E isso te importa? Te fode, some, morre!

— Quer que eu suma? Eu sumo por você então! — ele falou sério e ao mesmo tempo debochado, ele cheirou, eu via.

— É, me faça esse favor.

— Você quem manda! — ele foi me dar um beijo mas eu dei um tapa na cara dele. — — Eita, para que isso? — ele reclamou do tapa.

— Você acha mesmo que eu vou deixar você me beijar, idiota? — olhei nos olhos dele.

— De manhã você gostou... — ele falou no meu ouvido, confesso aquilo mexeu comigo, mas eu não me renderia.

— De manhã você não estava drogado, cretino! — levantei e ele ficou me olhando com cara de poucos amigos.

— O que tem? A vida é minha, se eu quiser eu morro me chapando! Ninguém se importa mesmo! — ele disse segurando meu braço. Eu virei para ele e olhei em seus olhos.

— É, ninguém se importa, nem sua prima, nem o Kauã, nem o Pietro, as meninas, sua mãe, ninguém se importa se você morrer, nem eu né Gabriel?! — Falei aquilo mas eu não conseguia mais segurar, as lágrimas queriam cair, me soltei dele e fui rápido para fora da sala, o professor estava chegando e viu as lágrimas em meu rosto.

— Luiza! O que houve?! — ele disse preocupado.

— Nada professor, não estou bem, posso ir até a secretaria?

— Pode, vá lá.

— Obrigada.

Subi e fui para a quadra, eu não iria para a secretaria, eu precisava ficar sozinha. Sentei na arquibancada e fiquei vendo o pessoal dos primeiros anos jogar bola. Alguém sentou ao meu lado.

— Lu... o que aconteceu? — Bruno perguntou se aproximando.

— Bruno? Que susto... está fazendo o que aqui?

— Vim te procurar né, você saiu da sala quase chorando depois de falar com aquele... — ele parou antes de terminar a frase.

— Não... sou eu que estou meio mal... — eu menti.

— Luiza, eu te conheço, não precisa mentir... é ele né?

— Ele o que? Quem?

— O Gabriel, ele mexe contigo. — ele disse triste.

— Não! Ele não mexe comigo, Bruno! Não mexe mesmo! — eu disse decisiva e pensando para mim, não mexe mais.

— Então, fica comigo? Deixa eu te fazer feliz? — ele disse pegando no meu rosto.

— Bru... — Não terminei a frase.

Ele iniciou um beijo calmo, como se estivesse me levando para outro mundo, onde meus pensamentos se perdiam do Gabriel. Aceitei o beijo e retribui, eu me sentia carente e queria alguém me confortando. Depois do beijo ele me abraçou e eu fiquei deitada em seu peito até o sinal bater para o último período, voltamos para a sala eu e ele e o Gabriel estava com uma cara muito feia, não liguei, sentei na minha cadeira e ele veio falar comigo.

— Estava com aquele idiota então?

— Estava sim, por quê?

— Bom saber que fica por aí matando aula com homens...

— Olha aqui seu idiota, ele é meu amigo e eu mato aula com quem eu quiser, para falar a verdade, eu faço o que eu quiser e com quem eu quiser!

— É? Então vai lá e dá para ele.

— Sabe, você até tem razão! — eu falei pra provocá-lo, mas claro que eu não ia fazer aquela merda, eu acho.

— É como todas mesmo. — Ele riu com desdém.

— O que? Cara, se toca, vai cuidar da sua vida e deixa a minha para mim! Estou de saco cheio, você não se importa com ninguém mesmo, só com seu rabo, vai lá, se chapa e depois vem querer tirar satisfação da minha vida! Tá achando que é quem?!

Ele não respondeu o professor entrou na sala e ele saiu.

— Gabriel! Onde você pensa que vai?!

— Interessa, porra?

— Olha a boca garoto!

— Se foda!

— Já para a secretaria!

O Gabriel nem ouviu saiu da sala sem dar bola para o professor, eu não reconhecia mais ele. A aula passou mas eu não prestei atenção em nada, bateu e fomos saindo da escola, eu, Vic, Kauã e Bruno, vi o Gabriel entrando no carro do Diogo e logo depois a Sandra e mais uma menina. Senti ódio dentro de mim.

Mas também, que se foda. O Bruno percebeu que eu estava olhando para o carro do Diogo e me abraçou na hora, depois começou a me beijar, eu retribui, queria mais que o Gabriel se fodesse com aquela Sandra, idiota.

Fomos embora e a semana foi passando, não falei mais com o Gabriel, passei a ignorá-lo. Eu via ele me olhar as vezes e ele até tentou vir falar comigo, mas eu decidi que iria esquecê-lo, cansei de me machucar. Eu fiquei com o Bruno mais algumas vezes e até era legal, por alguns momentos me fazia esquecer o Gabi, mas eu ainda pensava muito nele. Vi ele chegar várias vezes em casa, daquele jeito que me fazia chorar todas as noites. Tudo tinha voltado a ser como era antes, eu tentava não reparar mais nele na escola, e isso até estava funcionando, com a ajuda do Bruno. Uma semana se passou e eu não tinha mais falado com o Gabriel.