Dias se passaram após os recentes acontecimentos. Ninguém falava mais em viagens no tempo ou sobre o futuro que os assombrava. Claro, ninguém esqueceu também, mas a vida continuava então eles apenas seguiram em frente.

Stephen voltou para o covil com ótimas notícias, mas percebeu que não chegara em uma hora muito boa. Havia um círculo de pessoas em volta de John e um outro rapaz. Os dois estavam discutindo bravamente. Vez ou outra, Stephen percebeu que Cara estava ajudando John na discussão, mas pelos comentários das pessoas em volta, não conseguia distinguir quem falava o que.

Um pouco mais afastada, estava Irene. Ela estava na ponta dos pés tentando ver a discussão toda e que rumo tomaria. Stephen se aproximou para conseguir informações.

– Hei, Irene.

– Oh! Oi, Stephen. – Falou a moça, sem jeito perto do rapaz.

– O que está acontecendo?

– John está discutindo. – A menina corou quando percebeu que de fato, Stephen estava falando com ela. – Mas você já deve ter notado isso – Stephen sorriu. Certas coisas não mudam nunca – Edward acha que John não deveria ser o nosso líder. Os dois começaram a discutir.

– Só porque John pode matar? Isso é ridículo!

– Na verdade... – Irene suspirou pensando se devia ou não contar à Stephen.

– Começou a falar, agora termina.

– A culpa é sua. Além de considerarem John uma aberração da Ultra, eles acham que você está deixando ele... mole.

– Eles? Não é só esse Edward então?

Irene ficou sem jeito e mais vermelha ainda. Stephen se esforçou para passar na roda de pessoas e ver John e esse tal de Edward.

– Hora de fazermos uma votação. Nós não queremos que você nos lidere, John. Cara tem sido uma líder bem melhor do que você.

– Tenho certeza que Cara tenha sim, sido uma ótima líder. Mas vocês precisam entender que...

– Que você foi para uma lua de mel com a sua vadiazinha? – Edward falou olhando Stephen.

Foram necessárias quatro pessoas para segurar John após o rapaz acertar Edward com tanta força que o jogou no chão.

– Eu fiz o que fiz para proteger todo mundo. – Os quatro soltaram John, que encarava Stephen profundamente – Inclusive você. - John deu de costas e saiu andando. – Cara, eu entrego à você o cargo de líder.

Todos ficaram boquiabertos. John não poderia estar falando sério. Stephen e Cara sabiam que ele estava, mas não ficaram nenhum pouco contentes com isso, pois mesmo com Cara na liderança, as brigas internas com John continuariam.

– Stephen, o que você queria?

– Eu preciso ter um motivo para vir aqui, agora!? Não posso simplesmente ver meu namorado, mais!?

– Claro que pode. Desculpe. Acabei descontando em você.

– Ele faz isso às vezes, Stephen. – Cara e Russell entraram na sala onde os dois estavam.

– Desculpem.

– Isso é sério, John? Você quer realmente que eu seja a líder? – Cara falou cruzando os braços.

– Você viu o que acabou de acontecer. Eu não quero isso, eu lutei muito para que conseguisse a confiança e o respeito de todos.

– E jogou tudo fora quando decidiu esconder de nós seu segredinho. Eu já superei isso, mas fica difícil confiar em quem mentiu pra você mais de uma vez.

– É, você tem razão. E eu sinto muito, mas algo ruim está para acontecer, se nós nos desunirmos...

Cara sorriu sarcasticamente.

– Claro. Você está pensando no que viu no futuro. Por isso você quer que eu seja a líder. A vilã.

– Cara, não...

– Ok, que tal John continuar sendo líder? – Falou Stephen.

Todos olharam para Stephen esperando que o menino continuasse. Ele suspirou e prosseguiu:

– Só temos que provar para eles que John não... amoleceu e que ainda é digno de confiança.

– É? Como você pretende fazer isso, Stephen? – Cara ficava impaciente sempre que falavam sobre a viagem no tempo com Morpheu.

– Não tenho ideia. Só precisamos de mais tempo...

– Tempo? Nós não temos tempo pra mais nada. – John falou impaciente. – Cara, você é a líder. Determinada do jeito que é, talvez seja uma líder bem melhor do que eu. Vou voltar no salão para fazer o anúncio.

John se levantou rapidamente e saiu apressado. Cara foi atrás, mas Stephen e Russell ficaram.

– Nem me deixou terminar. – Reclamou Stephen

– O que você veio fazer aqui?

– Vim dizer à John que eu tenho uma pista quanto ao corpo do meu pai.

– Isso é ótimo, seria uma pena se John não escutasse... não, espera.

– Sem graça – Stephen falou sorrindo.

Mais tarde, John e Cara, mais calmos, ouviram o que Stephen tinha a dizer sobre o pai.

– Nós temos que encontrar um cientista aposentado da Ultra. Li nos arquivos secretos da Ultra sobre Lance, o cientista que ficou responsável pela criogenia do meu pai.

– Criogenia? – Cara se assustou um pouco – Seu pai deveria estar morto e enterrado. – Stephen encarou Cara – Desculpe.

– Espera, se eram arquivos secretos, como você conseguiu acesso a eles? – John sabia que se era para que ninguém soubesse eles apagavam.

– Eu sou melhor do que vocês esperavam.

– Acho suspeito, assim como John. Não seria tão fácil assim achar um registro, ainda mais sobre o seu pai.

– Pelo menos achamos alguma coisa. E isso é melhor do que nada. Eu vou atrás do Lance, se vocês não estiverem interessados, ótimo. Eu vou sozinho.

– Espera, Stephen... Não precisa exagerar...

– Não, John. Stephen está certo. Não podemos nos envolver nisso. Roger está morto, você o matou.

– O Limbo é real, Cara. – John falou sério.

– É? Você já esteve lá?

– Eu vou com Stephen.

– Claro que você vai. Bom, como eu não vou. Melhor eu monitorar vocês daqui, Tim pode ficar de olho via satélite.

– Obrigado. – Falou Stephen aliviado – Eu vou atrás dele hoje à noite, porque não tenho que prestar serviços na Ultra.

– Não? – Estranhou John.

– Jedikiah me deu o dia de folga.

– Stephen, você esteve fora uma semana inteira. Jedikiah não tem motivos para te dar folga.

– Eu estava pensando em passar o dia com você e ir atrás do Lance à noite, porque é menor o movimento na Ultra, mas como você só quer saber de trabalho - Stephen pegou a jaqueta e ia se levantando – Eu vou embora. Aproveite a sua não-liderança.

– Stephen, espera... – John o abraçou, o beijou e os dois se teleportaram.

Cara revirou os olhos.

À noite, John e Stephen foram a um beco escuro e deserto. John olhava atentamente para todos os lados e Stephen para os números nas portas das casas na vizinhança.

– Qual o número? – Perguntou John

– 53.

“Alguma coisa da Ultra, Cara?”

“Nada. John, e pode relaxar, eu vou te avisar. Posso não gostar disso, mas vocês são meus amigos.”

– Achei. É aquela ali.

Stephen correu para uma casa relativamente pequena e tocou a campainha. Não esperaram muito e a porta se abriu, mas que os atendeu foi o Fundador.

“John, sai daí. Jedikiah e alguns agentes da Ultra apareceram na esquina.”

“Nós temos problemas maiores.”

Cara entrou na mente de John e viu o que ele viu: O Fundador. A menina deu de costas e ia até lá para ajudar John e Stephen, mas foi repreendida por Russell.

– Eu vou, Cara.

– Eu vou. Stephen e John precisam da minha ajuda.

– Isso é exatamente como eles viram no futuro. Já está acontecendo.

Cara deu uma última feia olhada em Russell e se teleportou.

Apareceu tentando acertar um soco no Fundador, mas ele se defendeu sem nem mover uma mão, apenas com a telecinese e então Cara fora jogada para trás.

– Cara, não é? – O Fundador arrumou a gravata. Estava de terno, apesar de não estar trabalhando – Você é bem imprudente. Corajosa, tenho que admitir, mas imprudente.

Stephen queria se abaixar para ver se Cara não havia se machucado, mas achou que seria, como disse o Fundador, mais prudente encará-lo.

– O que você está fazendo aqui? – Perguntou Stephen.

– Eu moro aqui. – Stephen e John ficaram boquiabertos – Brincadeira. Eu vim ver Lance. Ele é um antigo funcionário da Ultra, ficamos amigos até ele ter umas ideias diferentes. Eu fiquei na Ultra e ele se aliou aos rebeldes. Isso me faz lembrar a sua relação com John, não é John?

Jedikiah e os outros agentes viraram a esquina e se aproximaram armados até os dentes enquanto Cara se levantava limpando o sangue que escorreu um pouco próximo ao olho.

– Ativem os D-chips. – Falou o Fundador. Provavelmente estava com algum tipo de “escuta”.

John puxou Stephen e segurou o braço de Cara e pulou tentando se teleportar, mas não conseguiu.

O trio começou a correr para a direção oposta à de Jedikiah, mas um outro grupo de agentes com poderes apareceu ali.

Russell apareceu atrás do Fundador e chutou, fazendo-o cair no chão. John aproveitou a oportunidade e deu-lhe socos para que o mesmo apagasse.

– Obrigado Russell, mas não podemos sair daqui. Os D-chips acabaram de ser ativados. – Disse Cara.

– Podemos ao menos nos esconder.

Os tiros começaram. Os agentes estavam próximos e um deles quase acertou Stephen.

– Para a casa. – Ordenou John.

Os quatro correram para dentro da casa sendo seguidos pelos agentes que vinham liderados por Jedikiah.

Procuraram por alguém, pelo menos vivo dentro da casa e não encontraram ninguém, enquanto os agentes tentavam arrombar a porta. A essa altura o Fundador estava de pé novamente.

– Podem desativar os D-chips. Eu cuido deles.

John foi até a cozinha e abriu o gás do fogão e pegou uma caixa de fósforos que estava em cima da mesa.

– Uau! Isso é ser rude! – Disse Russell.

– Vão para outro lugar, achem uma porta dos fundos ou saiam por alguma janela, não sei... Só saiam daqui. Eu vou atrasá-los.

De repente o Fundador apareceu na cozinha tomando, por telecinese, os fósforos da mão de John. Quando ele e Russell perceberam que poderiam usar os poderes novamente tentaram se teleportar, mas o Fundador apontou uma mão para os dois e então os meninos caíram no chão e pela expressão em seus rostos pareciam estar sentindo dor.

– Vocês não vão a lugar nenhum.

Cara apareceu na sala e encarou o Fundador pelo corredor. Ele não parecia tê-la notado.

“Stephen, o Fundador está aqui. Acho que ele não me notou ainda e pelo visto, podemos usar os poderes de novo.”

“Ele deve ter desativado os chips para lutar com a gente. Se isso é uma armadilha, a gente não pode enfrenta-lo. Temos que sair daqui. Onde está John e Russell?”

“Enfrentaram o Fundador.”

Stephen se teleportou para a sala, onde estava Cara.

– Ele vai te ouvir se você ficar fazendo barulho. – Alertou Cara.

– Na verdade, eu já ouvi. – O Fundador estava atrás dos dois.

Ele levantou as mãos e tocou em Cara e Stephen e se teleportaram para fora da casa outra vez. Os dois se encontraram com John e Russell, que estavam cercados por agentes.

– Agora... Podemos parar com essa perseguição sem sentido?

O Fundador estava com um sorriso de orelha à orelha e ao seu lado estava Jedikiah, inexpressivo, olhando fixamente para Stephen.

– Sinto muito, Stephen.

– Eu não. – Começou o Fundador antes que Jedikiah e Stephen começassem uma conversa. – Foi graças à Stephen que conseguimos pegá-los. Era para pegar apenas John, mas fico feliz pelos bônus. A pista falsa sobre Lance se mostrou melhor do que o esperado.

Os agentes colocaram as pulseiras nos quatro de modo a impedir de usarem seus poderes novamente e um agente se encarregou de leva-los separadamente, só por precaução.

Stephen sentia muito idiota, não só por leva-los à uma armadilha, mas por ter ignorado os alertas de John e Cara. Além disso, isso era obviamente o que viram na mente de John no futuro. Não, aquilo não podia estar acontecendo. O único lado bom de toda essa situação era que Stephen sabia exatamente (ou quase) o que viria a seguir: O Fundador iria obriga-lo a escolher entre John e Cara e ele escolheria John, deixando Cara ser levada para a Ultra e fazerem experimentos na menina. Ok, era só esperar o Fundador manda-lo escolher. Só esperar.

Mas ele não conseguia esperar. Sentia que precisava fazer algo. Pensou em parar o tempo, mas isso era inútil. Nem podendo usar os poderes ele conseguia parar o tempo conscientemente, sem os poderes é que não podia. Mas então, como ele se teleportou dentro da Ultra quando se revelou e seus novos amigos foram busca-lo? Seu pai era poderoso, talvez ele fosse também, mas poderoso ou não, ainda estava com a pulseira. Estava andando em círculos em seus próprios pensamentos.

Por fim, apenas se concentrou. Se podia se teleportar na Ultra poderia fazê-lo em qualquer lugar. Mas se ele se teleportasse dali, o que faria a seguir? Não podia liderar os Seres Do Amanhã contra a Ultra. Ele podia ter John ao lado, ou mesmo dando ordens, mas ele estava preso. Cara também, agora era a líder dos Seres Do Amanhã, poderia ajuda-lo a ir contra a Ultra e resgatarem John. Infelizmente as duas opções estavam fora de cogitação. Mesmo Russell não conseguiria lidera-los.

Continuou se concentrando. Então era isso. O Fundador não ia manda-lo escolher. Ele escolheria por si próprio. É claro que ele escolheria John, precisava de suporte, não só no calor da batalha, mas emocionalmente. Por outro lado, se ele salvasse Cara, a vontade de salvar John seria tão grande que isso acabasse resultando no sucesso da missão e talvez até conseguissem impedir o futuro destruidor que os assombravam.

Stephen sentiu a mão formigar. Estava dando certo. Se concentrasse mais, iria conseguir usar os poderes uma vez.

A única coisa que segurava Stephen de escolher salvar Cara, era o fato de saber que John seria torturado. Sabia que o sofrimento do namorado seria tão grande que não conseguia encontrar palavras em sua mente que pudesse usar para expressá-la. Não que ele quisesse que Cara sofresse, mas ele amava John. Não queria vê-lo machucado. Nem mesmo pelo bem maior.

Sem perceber, um campo de força telecinético expandiu-se em sua mão, quebrando o dispositivo que o impedia de usar seus poderes. E então tomou sua decisão. Sabia que deveria escolher entre John e Cara, então, se teleportou antes que algum agente reagisse.

John e Cara foram libertos e os agentes começaram a atirar para todos os lados. Alguns deles caíram com dor de cabeça por não poderem matar e, quase, darem tiros em um deles. O Fundador apareceu de imediato próximo à Russell, mas não conseguiu segurar John e Cara.