Seguir em frente não é o mesmo que desistir

Morra como herói, ou viva o bastante para se tornar o anti-herói.


Entorpecido e confuso. É assim que Hiro se sente enquanto anda pela Mansão de Fred.

Ele não liga para as excentricidades ou esquisitices que encontra pelo caminho, o que só demostra o quão fundo ele estava dentro da própria mente.

Tudo só … não fazia sentido. Simplesmente não fazia. Sua mente estava em um ciclo sem fim em que poderia ter se passado 5 minutos … ou meia hora… ou 3 dias.

Ele não conseguia processar. Tadashi… Tadashi nunca… Mas ele não era realmente Tadashi… ou era?

Sua mente não tinha aceitado a possibilidade de uma viagem atravez de realidades alternativas tão bem quanto ele deixou transparecer. Sim, fazia sentido, e ele não se considerava um dos muitos cientistas de mente fechada que taxam tudo que ainda não foi provado de ficção científica. Mas tudo ainda parecia tão surreal. Ele ainda precisava de mais provas. Só mais algumas. E ele não era o único: os outros ainda pareciam incertos e cautelosos em torno dele.

Foi necessário que Baymax, em um momento de surpreendente sensibilidade, confirmasse as suspeitas da gangue de que ele era de fato um Hiro Hamada, agora com !7 anos, para eles o deixarem pelo menos vagar pela propriedade. Baymax também confirmou que a gangue não era, exatamente, como os amigos que Hiro tinha deixado para trás. Mesmo que, em um primeiro momento, eles parecessem iguais, existiam pequenas diferenças que mostravam que a gangue tinha passado por … outras experiências nos últimos anos. Como se todo o incidente anterior já não tivesse deixado isso claro para ele.

Hiro não conseguia sentir. Ele sabia que deveria, mas era como se ele estivesse em um sonho. Um sonho em que ele só conseguia ver, mas não interagir, como se tudo acontecesse bem longe dele. Era todo um filme rodado na sua cabeça, e ele não tinha nenhum controle, ele estava somente seguindo o fluxo… como tudo poderia ser verdade? E o que ele supostamente deveria fazer agora? O que ele queria fazer? E o que ele poderia fazer?! Ele não era daqui, ele não deveria mexer, mais ainda, com uma realidade alternativa. Ele deveria achar um caminho para casa.

Não tinha nada para ele aqui. Esse mundo não era dele para intervir. Mas ainda assim… Tadashi. Tadashi estava aqui. Vivo, e bem. Bom… talvez não tão bem.

Ele ouviu a voz de Gogo na cabeça dele outra vez, a história já contada se repetindo:

“Você… três anos atrás, o nosso Hiro tinha acabado de conseguir a vaga no Instituto de Tecnologia onde… bem, onde você apareceu de repente. Cass convidou todos para o Café, para comemorar. Mas o Tadashi pediu para irmos na frente…”

Essa parte parecia igual… enquanto ela falava, Hiro se perguntou o porque da sua contraparte dessa realidade ter corrido para um prédio em chamas em vez do Tadashi… duvidava muito que era para salvar a pele do professor Callaghan. Hiro não ligava muito para salvar pessoas naquela época. Essa sempre foi mais a característica do Tadashi… altruísmo.

“Nós quatro e Cass ficamos conversando no estacionamento, esperando vocês… Esperando Tadashi e Hiro voltarem. Eu... lembro que todos estavam tão animados por ter dado tudo certo, agora teríamos mais um colega de laboratório e… Tadashi iria finalmente calar a boca sobre o brilhante irmãozinho dele, que estava se metendo em problemas em alguma canto inóspito da cidade, enquanto ele não podia ficar de olho… quando Tadashi voltou sozinho.”

Gogo franziu a testa. Ela parecia ter se arrependido de começar a falar.

Silêncio reinou por um tempo, até que Honey limpou a garganta, lançando uma olhada nervosa na direção de Gogo antes de continuar a história, com calma:

“Tadashi revirou os olhos quando perguntamos onde você… ah, onde o nosso Hiro estava… mas ele estava sorrindo quando respondeu que… o ‘cabeção’… tinha esquecido o neuro transmissor e os microbots do lado palco, e tinha voltado para buscá-los, antes que alguém como o… senhor Krei, pegasse eles.

Em algum momento depois, um alarme alto começou a tocar… Tadashi disparou para entrada do prédio, e todos seguimos logo atrás, apressados.

O prédio estava todo em chamas… as pessoas saiam tossindo e correndo para todos os lados, era um caos, mas não conseguíamos ver … Hiro, em lugar nenhum. Procuramos, perguntamos as pessoas que viam em nossa direção, e… Cass, ela parecia estar a beira das lágrimas enquanto tentava procurar um bombeiro ou algo parecido… e Tadashi… bom, ele tentou correr para o prédio em chamas atrás de… você. ”

Hiro nunca, nem quando Tadashi morreu… tinha visto essa quantidade de emoção na expressão de Honey, enquanto ela olhava pra ele.

“Ele estava enlouquecido, gritando o seu nome tão alto e tantas vezes, que já tinha ficado rouco… todos seguramos ele para impedi-lo de entrar, mas, mesmo assim, só conseguimos detê-lo por um tempo, antes de ele se soltar… mas, quando ele estava chegando perto, o prédio explodiu… lançando ele longe.”

Hiro sentiu as lágrimas quentes escorrendo pelo rosto mais uma vez, ao recordar essa parte da história, e suas próprias memórias do incêndio na sua realidade.

Ele entendeu o que Tadashi sentiu naquele momento, provavelmente melhor que ninguém, porque ele também perdeu um irmão… o desespero corroendo você de dentro pra fora, o sentimento de inutilidade, de impotência, a negação, a dor, o entorpecimento… a sensação de que você nunca mais seria feliz, porque, como? Como poderia sorrir de novo, quando ele nunca mais poderia?! Por que a vida de todos continuava seguindo, quando a dele nunca iria?! Como a vida de alguém poderia mudar tão rápido? Por isso tinha que acontecer com Tadashi?

Ele sabia que, mesmo que o motivo da dor, de perder um irmão, fosse a mesma, seu irmão era diferente dele. Ele ficaria arrasado por outros vários motivos, também.

Seu irmão sempre foi seu melhor amigo, Hiro conhecia Tadashi muito bem.

Tadashi se sentia responsável por ele.

Ele era o irmão mais velho e ele tinha que garantir que tia Cass tivesse o mínimo de estresse possível, ele tinha que dar o exemplo, ele tinha que cuidar do Hiro… tinha que proteger o que restava de sua família. Tadashi levava o seu papel muito a sério. Ele se sacrificava muito para que todos ao seu redor fossem felizes.

Hiro era inteligente. Ele sabia disso tudo, ele sempre soube.

Mas saber o quanto seu irmão se sacrificava por ele não significava ter a maturidade para lidar com isso. Hiro era muito egoísta, muito acostumado com a relação que ele já tinha com o irmão, para dar a ele um descanso.

Tadashi não sentiria só a dor que Hiro sentiu, como ele também se culparia.

Foi ele que convenceu Hiro a tentar entrar na Faculdade.

Foi ele que deixou Hiro voltar sozinho atrás dos microbots.

Foi ele que não conseguiu tirar Hiro do prédio em chamas.

Foi ele que não protegeu o seu irmão.

Ele não se importaria com o fato de que ele só tinha convencido Hiro a ir para a faculdade, porque não queria ver Hiro se machucar nas robô lutas. Ou que Hiro, provavelmente, tivesse insistido que ele poderia pegar os microbots sozinho sem precisar de uma babá. Ou que não daria tempo para Tadashi tirar Hiro do prédio antes da explosão, e ele só acabaria morto também, se tentasse.

Tudo em que ele se concentraria era que, no final, seu irmãozinho morreu, e ele não tinha feito nada.

Por isso, não foi difícil para Hiro acreditar, apesar de lhe partir o coração, no que viria a seguir na história.

“ Eu nunca… nunca o vi daquele jeito antes. Do jeito que ele ficou depois de te perder. Ele parecia tão abandonado. Quando não acharam o seu… quando não acharam você, ou o Professor Callaghan, os Bombeiros falaram que era provável que… os corpos… tivessem sido incinerados na explosão. Mas Tadashi… ele começou a pensar que você não estava mesmo morto. Ele procurava por você em toda a cidade, colocou cartazes de desaparecido, discutia com todos que diziam que você estava morto… incluindo a gente e a Cass.

Ficamos preocupados, é claro, mas … disseram que aquilo era normal, e que tínhamos que dá-lo espaço, deixá-lo aceitar a ideia no tempo dele.

E eu acho que... quanto mais o tempo passava, mais ele via que você não ia voltar.

E mais quieto ele ficava.

Começou a se trancar no quarto, só deitado na cama dele, dia após dia, dando nada mais que respostas monossilábicas para qualquer um.”

A voz de Wasabi assumiu o conto:

“O tempo passou. Até que um dia, ele decidiu sair.

Disse que não podia ficar mais tempo em um lugar que lembrava tanto você. Ele ficava fora o dia todo, na maioria das vezes sozinho, vez ou outra com Baymax, e só voltava por umas 4 horas para dormir, antes de sair de novo, segundo a Cass. Aos poucos ele começou a voltar para nós, um por um.

Nós saímos com ele, tentamos distrai-lo, e as vezes parecia funcionar, ele brincaria conosco, discutiríamos assuntos sem importância real, ele sorriria, e por um momento seria como o velho Tadashi uma vez mais. Mas ele sempre acabava com o mesmo olhar perdido e dolorido no rosto, mais vezes do que não.”

Hiro suspirou com força. Demorou bastante para fazê-lo querer começar a viver outra vez.

E mesmo assim, foi preciso muito tempo e paciência. E um homem balão, um Vilão próprio, alguns amigos dispostos a se machucar e a chutar o seu traseiro se necessário e até mesmo gravações de Tadashi, antes disso acontecer.

Ele não conseguia imaginar quanta força Tadashi precisou para se reerguer, quase que por ele mesmo.

“Um dia… acho que estávamos todos nós em uma lanchonete, com Tadashi e Baymax, quando a televisão começou a noticiar de última hora uma… espécie de atentado. Um homem com uma máscara kabuki estava mantendo Alistair Krei refém, enquanto sugava todo o prédio recém-inaugurado de Krei para dentro de um portal… só que ele fazia tudo isso usando os seus microbots, Hiro. Ficamos chocados, nenhum de nós imaginava como ele poderia ter colocado as mãos neles, até onde sabíamos tinham sido todos destruídos no incêndio, mas…

Tadashi ficou… atormentado. Ele encarava a TV, até que ele só saiu agitado, pegou a moto e foi embora.”

Gogo, olhando para um ponto sem ver, interrompeu:

— É obvio que seguimos ele. Não queríamos que ele fizesse alguma bobagem… há! - Ela riu, depreciativa e melancólica.

“Fomos para onde o ataque estava acontecendo. Empurrei e cotovelei uma entrada atravez da multidão para vermos melhor… e chegamos a tempo de ver o cara mascarado jugar o Krei dentro do portal e deixar o portal cair onde antes estava o prédio, deixando o portal em pedaços.

Então, tão rápido quanto deve ter aparecido, o mascarado sumiu.

A polícia tentou persegui-lo, mas… ouvimos mais tarde que ele tinha escapado.

Tadashi ficou muito quieto, pensativo, depois disso. Tentamos falar com a polícia, mas no máximo, só adicionamos a ficha criminal do mascarado mais um roubo e as mortes no incêndio. Eles não estavam nem perto de pegar o mascarado… e o Tadashi sabia disso. Ele foi ficando mais carrancudo e sombrio a cada dia, e eu diria que ele começou a investigar por ele mesmo quase que imediatamente.

Logo Tadashi descobriu uma maneira de identificá-lo, acho que usando o Baymax. Pelo que entendi… Baymax tinha escaneado o sujeito, e poderia identificá-lo se o visse de novo.

Tadashi não parecia querer a nossa ajuda… até brigamos por conta disso, por ele nos deixar de fora… não podíamos deixar ele ir atrás desse cara sozinho. E como ainda tinha o problema de como ele escanearia a cidade inteira sozinho, não demos a ele muita escolha. No final, a gente pegou alguns drones do Instituto para circular em diferentes partes da cidade e atualizamos eles com os dados que o Baymax recolheu. Mas não achamos ele em lugar nenhum… então presumimos que ele não estava na cidade. Em vez de desistir, Tadashi pegou os mapas da região. Tinha algumas ilhas ao redor da cidade, isso sem contar na cidade mais próxima. Mas para verificarmos todos os lugares rápido o bastante para não dar mais tempo para o mascarado sumir de vez, teríamos que nos separar. Não teria jeito. ”

Mas por que passar por todo esse sacrifício, se era só atualizar os próprios sensores do Baymax e levá-lo para o lugar mais alto da cidade? Iam perceber qual ilha que o Callaghan estava se escondendo… isso se ele ainda estivesse lá… a essa altura, ele já poderia ter se mandado. Muito provavelmente teria.

Mas Hiro tinha sido forçado a retornar bruscamente de seus pensamentos pessimistas pelas próximas palavras...

“Fred e Honey foram procura na cidade vizinha, levando um dos drones… o resto foi procurar nas ilhas… com o avião da família do Fred emprestado. Não encontramos nada, até que em uma das ilhas, em que havia uma instalação fechada do governo, finalmente encontramos ele.”

Hiro não estava aguentando todo aquele suspense na hora, mas alguma coisa o impediu de mostrar sua impaciência. Talvez fosse a atmosfera de tensão, os rostos sombrios, e o próprio receio de descobrir o que tinha acontecido para aquelas pessoas ficarem daquele jeito que combatia a curiosidade e a necessidade de descobrir mais sobre Tadashi.

Mas as próximas palavras dela não se encaixavam… não fazia sentido. Ele supostamente era um gênio, seu cérebro não deveria ter problema nenhum complementar a história, mas, aquilo… Tadashi não poderia ter… poderia?

“Uau… desesperado, nessa idade?! Tão triste …” A voz levemente sarcástica e bem-humorada de Tadashi surgiu em algum canto de sua mente. Essa lembrança só o deixou pior. Lembrar como seu irmão era antes… só deixava tudo ainda mais surreal, enquanto o final desse conto, tão inconcebível como era, começou a retornar a sua mente:

“Aquele cheiro de pele queimada… nenhum de nós vai conseguir apagar da mente. Tadashi, ele… Quando encontramos o Mascarado, ele já estava esperando por nós… nem tivemos chance, ele nos derrubou com os microbots sem nem pestanejar.

Mas Tadashi tinha refeito o seu neurotransmissor, e começou a lutar mentalmente pelo controle dos microbots com o sujeito. Ainda estávamos presos, mas cada vez mais microbots iam para cima do Mascarado, tentando tirar aquela máscara… mas quando ela finalmente caiu...”

— Isso é o suficiente.- Wasabi colocou a mão no ombro de Gogo, parando-a, lágrimas agora escorrendo pelas bochechas dela.

— O que?! Não! Vocês falaram que iam me contar o que tinha acontecido com Tadashi! Não podem fazer esse suspense todo pra parar agora! - Hiro reclamou.

Honey suspirou.

— A verdade é que não sabemos todos os detalhes…- Ela começou, mas foi interrompida por Gogo:

— Sabemos muito bem o que ele fez!- Sua raiva voltou, mas a amargura nunca saiu da voz dela.

— Mas não sabemos o porquê! Estávamos todos muito machucados, distantes ou inconscientes naqueles momentos antes dele… -

— Até parece que não sabemos o porque! A razão está sentada bem na nossa frente! - Gogo apontou pra ele sem nem olhar - E nada do que pode ter acontecido naqueles momentos justificaria tacar fogo em uma pessoa!-

Silêncio e tensão cobriram o ambiente, e qualquer arrepio não era devido ao ar-condicionado.

— … O que? - Hiro percebeu tardiamente que era ele que tinha falado dessa vez. Tudo que ele sabia era que sua cabeça estava pulsando.

Wasabi foi o que suspirou agora. Ele se virou para o Hiro e falou pesadamente:

— Olha garoto, eu sei que não é isso que você quer ouvir agora, mas vou ser curto e grosso: Tadashi não é mais a pessoa que você se lembra. Ele machucou muito aquele cara… acho que ele ainda está em coma induzido no hospital por causa das queimaduras.

Tadashi já não é visto a bastante tempo. Sério. Nada de bom vai vir perseguindo essa história. Você vai ganhar mais, mantendo a memória do seu próprio irmão intacta e voltando para o… sua próprio lugar.

Há. Como se ele fosse aceitar isso assim, sem mais nem menos.

Mas a gangue parecia realmente acreditar que sim, Tadashi tinha machucado Callaghan.

Gravemente.

Eles até lhe deram os restos do chip de saúde do Baymax dessa realidade como prova.

Hiro parou de andar sem rumo pela Mansão e deu uma olhada pela janela. O clima lá fora era ensolarado e alegre, nem um pouco combinando com os sentimentos conflitantes que tentavam atravessar o véu de entorpecimento e deixá-lo louco.

Ele olhou os restos do Chip na sua mão. O que ele deveria que fazer agora? O que ele poderia fazer?

Hum… talvez ele conseguisse reparar o chip… provavelmente não o suficiente pra trazer o Baymax daquela realidade de volta, mas o suficiente para ver com os próprios olhos (e os de Baymax) o que tinha acontecido. Ótimo, um plano. Dava para ocupar a sua mente por um tempo. Hiro pode não saber muito sobre toda essa situação, mas ele sabia que não fazer nada não ia ajudar ninguém.

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Foi mais fácil do que deviria, sair da mansão sem ser detectado. Mas Hiro conseguiu o que queria, então ele quase não ficou preocupado com a rede de segurança da mansão. Quase. Ele tentou se animar pensando que deve ser mais difícil entrar do que sair… Ele não pretendia demorar, Baymax ainda estava la dentro, então ele poderia checaria os sistemas de segurança mais tarde.

La estava, o Café da tia Cass. Ele imaginou entrar pela porta da frente, mas sua cabeça ainda estavam doendo por causa da contusão, não precisava que a Tia Cass desse mundo acertasse a cabeça dele com uma frigideira também… sem falar que ela provavelmente teria um ataque cardíaco antes ou depois do incidente com a frigideira.

Hum… garagem. Seus equipamentos ainda devem estar la.

Arrombar também não foi tão difícil como deveria ser. Ele estava ficando seriamente preocupado.

Mas Hiro se distraiu ao encontrar um monte de caixas. Empacotaram todas as suas ferramentas? Bom, ele supos que fazia sentido. Não tinha sobrado ninguém para usar.

Balançando os pensamentos obscuros da cabeça, ele começou a procurar os equipamentos que ele precisaria naquelas caixas.

Ele perdeu a noção do tempo outra vez, enquanto trabalhava na reparação do Chip. Provavelmente passou algumas horas, antes dele conseguir recuperar alguns pedaços da filmagem. Mas é claro, com a sorte dele, que o Chip tinha que explodir logo depois.

Hiro ficou paralisado, quase que sem respirar, olhado para a porta, esperando Tia Cass passar pela porta a qualquer momento… mas depois de algum tempo, ficou obvio que ela não viria. Uma mistura de alívio e decepção percorreu o seu corpo, antes de ser substituído por antecipação, e ele se virou para os vídeos. A maioria deles não eram grandes o suficiente para conseguir perceber alguma coisa, mas quando Hiro estava prestes a desistir, frustrado, o último deles começou a rodar.

Infelizmente a tela estava riscando tanto que quase parecia uma imagem de ultrassom, só o áudio funcionava, mais ou menos:

—Tadashi. Você está machucando o professor Callaghan. - Essa era a voz robótica de Baymax, embora parecesse um pouco tensa.

— É exatamente isso o que eu quero fazer, Baymax. - a voz cansada e ofegante de Tadashi criou vida.

— Violência não é a maneira mais apropriada para solucionar problemas. Conversas e discussões tendem a ser o método mais indicado para a … -

— Nenhuma conversa vai trazer o meu irmão de volta, Baymax. - a voz de Tadashi parecia dolorida.

— Machucar Callaghan irá? -

— … Não. Mas vai me fazer sentir muito melhor. - Raiva começou a transparecer na voz.

— … por que? -

— Porque… eu quero que ele sinta toda a dor que ele causou… e já que a única coisa com que ele se importa agora é ele mesmo, como ele mesmo disse, esse é o único jeito que eu posso fazer ele pagar. E garantir que ele nunca mais faça nada parecido. -

— Tadashi, não acho qu… -

— Baymax, seus serviços como ajudante de saúde não serão mais necessários. Mas não se preocupe… você ainda ajudará muitas pessoas… -

—Tadashi…!-

—Estou me sentindo melhor. -

E esse foi o fim do vídeo.

Hiro se sentiu afundando na própria mente, mais uma vez.

Não. Isso estava tão errado.

Seu irmão nunca machucaria outro ser vivo. Ele era tipo… tipo Gandhi. Ele se mataria pelas pessoas que amava, mas ele nunca machucaria ninguém de verdade. Não fazia parte de quem ele era. Não o seu irmão. E arrancar o chip do Baymax, depois de tudo… Ele não era o seu irmão.

A voz de Tadashi, daquele dia, antes de tudo virar um inferno, voltou a assombrá-lo:

“Bem-vindo ao meu mundo… nerd”

Sua própria resposta ecoou na cabeça com força:

“Olha, sem… o seu apoio, eu não teria conseguido. Então… valeu por confiar sempre em mim.”

Ele fechou a mão, apertando com força os restos queimados do chip na palma até doer.

Tadashi nunca desistiu dele. Nem mesmo quando deveria.

Não importa se esse Tadashi era ou não o irmão que ele se lembrava, ele era um Tadashi Hamada, um Tadashi que perdeu tudo, até a si mesmo. Um Tadashi que ainda estava vivo e que podia ser ajudado. Ele podia ser ajudado? Hiro não conseguia só virar e ir embora sem tentar. Depois de tudo que Tadashi já fez por ele, como ele poderia desistir dele agora?!

Dando meia volta, Hiro saiu da garagem, indo de volta para a gangue, decidido.

Tudo o que ele precisava fazer nesse instante era olhar para um novo ângulo. Conseguir mais informações enquanto procurava uma forma de voltar pra casa. Um novo plano começou a se formar em sua mente… mas antes ele precisava convencer a turma a ajudá-lo.

Segundo round, aqui vamos nós.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.