"Algo tão pequeno como o vôo de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo."

(Efeito Borboleta - Teoria do Caos)

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"Tolos... Vocês não podem me vencer!" Simmons usou seus tentáculos para sufocar Mei, enquanto rebatia sua cauda de serpente contra os outros três indivíduos, tentando os derrubar e fazendo a própria plataforma começar a balançar sob eles.

Toda a estrutura dali, já estava bastante danificada por conta da mistura entre o fogo causado por Simmons e o próprio ácido que continuava a sair pelos poros de Mei, que no final passou a se misturar no meio da própria água do mar a qual lentamente começa a inundar o local.

"É o fim da linha, minha cara!" Simmons novamente zombou com puro sadismo apreciando toda aquela situação horrenda. Seus tentáculos agora se dividiram entre o pescoço, o quadril e as pernas de Mei, como se quisesse reparti-la ao meio. E a mulher se sentia realmente assim, como se seu corpo estivesse sendo esticado muito além de suas forças, quase prestes a ser dividido cruelmente em vários pedaços. Sua blindagem já havia sido danificada, após ter sido exposta ao calor incessante do fogo expelido pela Quimera, o que a tornou tão vulnerável ao ataque brutal daquele monstro.

"Desgraçado! Solte ela!" Ada gritou horrorizada chamando a atenção dele. Leon aproveitou a distração da criatura e corre na direção dele, dando um salto mortal sobre as costas da Quimera. Simmons se desequilibra por um momento e joga o corpo de Mei de forma violenta de um extremo para o outro da plataforma, até que ele mesmo retorne a seu estado humano, largando a sua presa. Sherry também se une a Leon e ambos passam a atacar o homem tentando dar um fim aquela batalha.

Enquanto isso, Ada corre até o corpo de sua irmã e tenta tocá-la, mas Mei mesmo debilitada, recua com medo de machucar a sua irmã.

"Mei vai ficar tudo bem." Ada tenta mais uma vez se aproximar e de novo sua irmã a rejeita.

"Eu disse... que... não!" Mei olhou para a dupla que enfrentava Simmons sentindo a plataforma prestes a ceder. Eles não teriam muito tempo. "Acabe com... com ele..." Sua voz estridente estava perdendo a sua força. "Faça isso... por nós!" As duas se olham com lágrimas nos olhos.

"Eu o farei, irmã!" Ada se levanta e apertar seus punhos furiosa.

Voltando ao calor da batalha, Derek consegue agarrar Sherry e joga-la contra uma coluna de aço, ao mesmo tempo em que empurra Leon para fora da plataforma, forçando este a ter que se segurar com muita dificuldade na beirada para não cair.

"Quer viver?" Derek se aproxima da beirada e pisa na mão de Leon. "Então, implore pela sua vida!" O belo agente americano que lutava arduamente pela sua sobrevivência, mesmo em completa desvantagem já tinha uma resposta na ponta da língua, mas Ada decidiu ser mais rápida e resolver a situação do seu jeito típico.

"Nem sempre é possível conseguir o que quer, Simmons!" A espiã rosna chamando a atenção de Derek para si, ela salta furiosamente na direção dele lhe dando uma punhalada nas costas e depois um chute mortal, o jogando para fora da plataforma.

"Adaaaaaa!" Simmons grita uma última vez, antes de seu corpo cair a vários metros de altura e se chocar contra uma grande barra de aço retorcida e pontiaguda, em seguida seu corpo se parte ao meio deixando todo o sangue escorrer para o chão.

"Espero que você tenha amigos no além, porque aqui ninguém sentirá a sua falta." Dizia Leon depois do sufoco de conseguir vencer a morte enquanto assistia a queda completa do chefe da Organização A Família.

Olhando de cima, você poderia vislumbrar o vermelho cor de sangue de Derek Simmons formando o símbolo da Umbrella bem no centro da grande sala redonda.

"O nome pode ter mudado, mas o símbolo continua o mesmo." Sherry sibila carrancuda olhando aquela cena mórbida. Não há tempo para recuperarem o fôlego, pois o mar furiosamente começa a inundar vários setores do complexo.

"Cuidado, vamos cair!" Não demora muita para a plataforma ceder com a força das águas e começar a cair numa velocidade assustadora. Eles caem dolorosamente contra o último andar, com duas irmãs sendo arrastadas quase para dentro de um precipício. O mesmo precipício cheio de resíduo tóxico que estava ali para receber qualquer material descartável. O poço sem fundo que estava ali para engolir todas as esperanças de um futuro entre Ada e Mei.

"Não, não, não!" Ada praticamente briga com a irmã, ainda lutando para não solta-la. Mei havia caído pra fora da plaforma e a única coisa que ainda a segurava viva ali, era a mão persistente de sua irmã.

"Está tudo... bem... Li, você tem que me deixar! Deixe-me... ser livre!" Elas trocam um último olhar melancólico.

"Chega de lágrimas!" Ada sussurrou decidida a também aceitar a morte ao lado da sua irmã. Entretanto, a mão que Ada segurarava Mei estava molhada e escorregadia, logo, a espiã não conseguia mais segura-la. Suas mãos deslizam e, então, Elise Mei vai de encontro com aquele abismo.

Melancolicamente, Ada entendeu que sua irmã estava certa. A morte não era o fim, era apenas uma forma de liberdade. Uma liberdade que ambas desejavam.

***/ /***

No meio da escuridão se pode ouvir um estrondo que fez tremer o chão e por último um grito horrível vindo de onde Radames deveria estar antes do apagão. Chris aponta o seu fuzil na direção dos barulhos e, logo, descobre o que havia acontecido.

Ustanak parecendo ainda mais monstruoso e aterrorizante, estava ali com a Radames quase sendo rasgada ao meio pela carcaça do que era antes o seu braço mecânico. O capitão e o jovem mercenário começam a atirar nele, forçando-o a jogar o corpo quase sem vida da mulher sobre o chão. Ela se encontrava com dor, sangrando muito e com uma grande dificuldade para respirar, mas acima de tudo estava desnorteada ao ter sido atacada pelo seu soldado mais fiel.

O que Radames não sabia era que Ustanak havia sofrido muitos danos ao ter ficado encalhado na lama ácida criada por Mei, entre os vários danos, estava o seu braço mecânico que acabou tendo a sua estrutura de aço derretida, deixando apenas um pedaço enferrujado de metal que a própria criatura retorceu para transforma-lo num grande gancho bastante mortal. Todo o seu corpo agora estava em carne viva e a cada passo que dava ele perdia um pedaço de pele.

"Droga! Ele é perda de tempo." Reclamava Chris. Ele decide pegar duas granadas incendiárias e jogar na direção da BOW, deixando-a pegar fogo. Isso ainda não parece o suficiente. Nada parece o suficiente para matar aquele monstro.

Enquanto o confronto continua, Piers que estava ali sem conseguir ajudá-los começa a lutar uma batalha pessoal contra si mesmo, pois as veias do seu braço voltam a pulsar de forma anormal e ele começa a sentir como se sua pele estivesse rasgando ao meio. Em segundos, uma nova mutação estava prestes a acontecer.

"Oh merda! Piers, não deixe isso te controlar!" Ordena Chris desnorteado, vendo o seu soldado se transformar num novo J'avo com um braço mutante, capaz de disparar raios de energia bio-elétrica. Ele parecia pronto para a ataca-lo. "Vamos lá cara, apenas lute contra isso!"

"Saiam da frente!" O caminho fica livre para que Piers usando o seu braço mutante revida perfurando a coluna vertebral de Ustanak e fazendo-o perder a sua sustentação. Mesmo não conseguindo mais ficar em pé o monstrengo continua a se arrastar ferozmente pelo chão, isso é a deixa que Jake precisava para explodir a cabeça do monstrengo.

"Sinto muito... Capi... tão..." Dizia Piers exausto e apavorado, notando que havia se tornado tudo aquilo que mais lutou contra... "Sou uma arma biológica, senhor!"

"Não, não é! Você é um grande herói." Chris murmurou se aproximando do seu soldado. "E você salvou as nossas vidas." Chris apertou o seu ombro enquanto tentava segurar a sua própria emoção.

"Ei Redfield, sinto muito interromper o momento, mas..." Jake desajeitadamente fez um sinal na direção da mulher que agonizava no chão no canto próximo do casulo.

"Isso ainda... não... não acabou." A mulher mesmo a beira da morte faz um gesto com uma das mãos na direção do gigante cásulo que estava pulsando como um coração humano. "O mesmo sangue que... que... cura... é o mesmo sangue que... mata..." Radames usa as suas últimas forças parar revelar tudo sobre a Haos. O tempo estava se esgotando e uma escolha precisaria ser feita.

***/ /***

"Ei, vai ficar tudo bem!" Leon conseguiu puxar Ada para longe daquele abismo a segurando de volta em seus braços, como se quisesse dizer a espiã que aquele não era para ser o seu fim. "Eu sinto muito. Mas a gente tem que continuar."

"Eu... Eu não sei se consigo." Ela dizia tão pessimista.

"Eu sei que consegue." Ele continuou segurando os seus ombros, obrigando-a a encara-lo. "Você tinha razão. Ela não era uma arma biológica. Ela era a sua irmã que salvou as nossas vidas e se sacrificou por você. Não seria justo nem para você e nem para Mei, que você desistisse agora." As palavras de Leon ficavam remoendo a sua mente. Eles se olharam por alguns instantes. Foram segundos que pesavam tanto sobre eles.

Sherry apenas os observava com seus azuis curiosos. A loira já estava prestes a interrompê-los, quando o PDA de Leon tocou chamando a atenção deles para se focar no real motivo de estarem ali.

"Chris!" Leon dizia franzindo a testa em preocupação.

"Leon, escuta! Consegui encontrar Jake, mas estamos presos no laboratório." Chris soltou um suspiro nervoso. "Radames está morta."

"Ah, pelo menos uma notícia boa." Falou Sherry mais aliviada.

"Mas temos um problema bem pior pela frente." Chris dizia lendo rapidamente alguns arquivos da Neo-Umbrella. "Antes de morrer ela disse que se o complexo inteiro for inundado pelo mar, acontecerá um novo terror cem vezes mais catastrófico que os últimos atentados bioterroristas."

Enquanto, Leon e Chris conversavam, Ada e Sherry pararam olhando para a placa de aviso na parede próximo ao corredor dos laboratórios. Depois seus olhares se voltaram para o fundo do precipício, onde a água do mar começava a subir, prestes a revelar o que se escondia nas profundezas daquele abismo.

"Droga! Se esse lixo cheio de restos do C-Vírus vazar pelo mar..." Continuou Leon desnorteado. "Então, teremos uma contaminação impossível de ser controlada. Temos que avisar Trent e a BSAA. Toda a cidade e as regiões mais próximas precisam ser evacuadas."

"Mesmo assim Leon, o risco de contaminação biológica já estará se espalhando. Não teremos tempo pra evacuar todo mundo."

"Você por acaso tem uma ideia melhor?" Leon rugiu frustrado.

"Há uma forma de talvez salvarmos muitas vidas." Quando Chris disse isso, Ada já sabia do que se tratava. "Talvez, seja a nossa única..." Mas antes que o capitão terminasse a sua frase, abruptamente, a ligação entre eles acaba sendo interrompida.

"Nós temos que sair daqui, agora!" Chiava a espiã. Os três seguem para a porta do laboratório e começam a tentar abri-la a força.

"Vocês precisam abrir essa porta!" Gritava Sherry, enquanto a água continuava a inundar o corredor.

Mesmo sendo imune ao vírus, Ada podia sentir o quanto a contaminação pelo C-Virus na água já parecia se impregnar em sua própria pele, fazendo com que a sua cabeça latejasse como se fosse explodir.

"Ahhhhh... Está aumentando... 60 porcento..." A dor de cabeça havia se tornado mais forte, mostrando que o T-Veronica em seu organismo ainda podia rastrear qualquer ameaça biológica e seus olhos carmesins brilhavam sentindo a ameaça se tornar mais real e descontrolável. Uma sensação que jamais havia sentido. "65... 70... 71..." Ela continuava a contagem se encostando na parede a procura de apoio.

"Leon, o que está acontecendo com ela?" Sherry parou confusa e meio assustada com o estado da outra mulher.

"Ada... Ada, fala comigo!" Leon começou a segurar o rosto da mulher entre suas mãos tentando fazê-la reagir ao seu chamado. "Ada me diz o que está acontecendo? O que significa essa contagem?"

"A contaminação é muito alta. Você não pode sentir, mas tá aumentando... tão... tão rápido."

De repente um novo alarme começou a tocar avisando que o lugar deveria ser imediatamente evacuado e uma contagem regressiva começava. O nível de contaminação do lugar estava aumentando exponencialmente.

"Redfield, você tem que fazer alguma coisa! Nós não podemos deixa-los morrer lá." Dentro do laboratório Jake estava desesperado para ajudar, principalmente, a pequena loira. Mas era tarde demais.

"O que você quer que eu faça, não tem como abri-la!" Chris grunhiu frustrado e se sentindo tão culpado. "Eu sinto muito." Ele lamentou trocando um olhar entre Piers e Jake. "Não tem como eles entrarem e nem como nós sairmos daqui. Tudo o que eu sei é que a única forma de sairmos daqui vivos, é se aquele enorme casulo eclodir."

"Mas, seria Haos a cura, ou uma nova ameaça? Toda a responsabilidade de tentar salvar a todos, ou pelo menos impedir um mal maior era tão assustador, mas que escolha ele tinha?" Todavia, enquanto Chris havia ficado distraído com seus próprios pensamentos, Piers havia se adiantado e decidido selar o seu próprio destino. O jovem soldado se encheu de coragem e, mesmo com dificuldade seguiu até a porta do laboratório.

"Piers o que você está fazendo?"

"Estou fazendo o que tem que ser feito... Capitão, você não vai morrer aqui. Eu não vou deixar!" Ele gritou enquanto usava o seu braço mutante para explodir o mecanismo da porta.

De repente tudo o que estava do lado de fora, passa a entrar pela sala, sendo arrastado pela água do mar e traz consigo três corpos exaustos e quase sem fôlego. Em seguida, Piers com a ajuda de Chris fecham a porta como podem, tentando conter um pouco da água que continuaria a forçar a entrada. Consequentemente, a sala não seria segura por muito tempo.

"Sherry, você está bem?" Jake correu até a jovem loira, ajudando ela a se levantar.

"Eu acho que estamos bem."

"E vocês dois?" Chris se obriga a se aproximar de Leon e da espiã que ainda precisa do auxílio do agente para se levantar. A espiã se surpreende ao ver Piers transformado num J'avo.

"Piers o que aconteceu com você?" Sherry perguntou meio cautelosa na presença de seu ex-parceiro de equipe que parecia com uma aparência bastante doente e também perigosa.

"Não é comigo que vocês têm que estar preocupados." Os três que haviam acabado de entrar ali, pararam olhando para o grande cásulo.

"O que é isso?" Perguntou Leon.

"Radames falou a verdade..." Se adiantou a espiã. "A criatura está limpa. Limpa da infecção do C-virus." Ela deu alguns passos pra frente no intuito de se aproximar do tal cásulo, até que sua perna bateu em alguma coisa no chão, era o cadáver de Carla Radames confirmando a morte dela.

Ada fechou os olhos, por um instante, na tentativa de controlar seus próprios demônios. Ela estava nervosa e sentindo uma certa crise de ansiedade crescer dentro dela, mesmo não querendo admitir. E quando reabriu os seus olhos, deu de cara com Chris parado na sua frente.

"O que você vai fazer?" Ele questionou carrancudo.

"Eu sei o que Radames disse pra você. Eu sei o que você estava pretendendo fazer. E isso é loucura!" Ada Wong lhe enfrentou sem se deixar se intimidar com a atitude autoritária do capitão.

Ele sabia que isso era uma loucura, mas se aquela criatura dentro daquela crisálida fosse a última esperança de salvação, então, ele iria correr o risco, não apenas pela população mundial, mas para salvar seus amigos e, sobretudo, o seu soldado mais leal. Piers era um homem bom, um pai presente e um marido amoroso e fiel. Ele era parte da sua família imperfeita. Ele tinha que voltar para casa. Ele tinha que estar lá com Claire.

"Isso será suicídio." Gritou Piers já muito abatido.

"Prefiro pensar que será um sacrifício para salvar muitas outras vidas." O capitão ignorou Piers para continuar a desafiar aquele olhar carmesim que parecia muito obstinado parado em sua frente.

"Eu sei porque você quer fazer isso. Você está tentando salvar o seu soldado, só que é tarde demais. E Piers também sabe disso." Continuou a espiã confrontando Chris.

"Capitão... nós dois sabemos que isso é verdade." Dizia Piers arrastando dolorosamente seu braço mutante pela água que continuava a entrar pela fresta da porta e parou ao lado de seu capitão. "Só um de nós... poderá voltar pra casa. E esse alguém... será você." Ele dizia com a voz embargada.

"Afinal, o que significa tudo isso?" Leon indagou confuso e assustado com o modo como a conversa prosseguia.

"Chegamos a 80% porcento de contaminação." Dizia Ada meio fora de órbita. "Quando chegar a 100... estaremos todos perdidos." Como Chris havia recuado deixando o caminho livre para Ada chegar até o casulo com a Haos, agora só faltava a espiã tomar coragem para seguir com o plano, no lugar dele. "Todo esse lugar se tornou uma verdadeira arma biológica e nós estamos dentro dessa arma. Cinco pessoas que estão nessa sala são imunes ao C-virus, com exceção de Piers. Uma dessas cinco pessoas aqui, possui a cura para o C-virus." Todos olharam para Jake. "Ele será o nosso plano B, caso o plano A não dê certo." Ada continuava como se tivesse no piloto automático.

"Espera, se eu sou o plano B. Qual é o plano A?" Jake questionou intrigado com aquela mulher que se parecia com Ada Wong, mas ao mesmo tempo, era tão diferente da mulher que o havia capturado na Edonia. Antes de lhe responder, Ada se virou para o casulo e o tocou, sentindo que a sua dor horrível de cabeça lentamente parecia diminuir.

Do lado do casulo, Leon encontrou algumas instruções básicas de como um corpo humano saudável deveria se fundir a ele, dando início a todo o processo seguinte. E foi aí que o norte-americana percebeu qual era o plano.

"Eu e aquilo que está lá dentro, seremos o plano A." A espiã argumentava penetrando os seus dedos dentro da crisalida, mas de repente ela é parada por Leon que puxa um dos seus braços bruscamente.

"Não! Você não vai fazer essa loucura!" Leon tentou a repreender.

"A decisão não é sua!" Então, a mulher furiosa e sem paciência decidiu revelar tudo o que estava em jogo. "Isso não é sobre eu, ou você, ou eles." Ela fazia um gesto com as mãos indicando todos ali naquela sala. "Isso é sobre as milhares de vidas que estão lá fora... Pessoas, plantas, animais... Todo o ecossistema da Terra... A contaminação é tão grande que o mundo que conhecemos hoje, amanhã poderá não existir mais. E o futuro que você deseja construir com o SEU FILHO..." Ela enfatizou de propósito, só para deixa-lo mais perturbado. "Poderá nunca acontecer. É isso que você quer?" Leon desviou o olhar, absorvendo as suas palavras e sentindo um sentimento tão agoniante e avassalador. Mas ele não era o único a sentir isso, os outros também começaram a sentir o peso da realidade daquela situação.

A espiã sabia que era a pessoa certa pra fazer isso, porque era a única que não tinha planos para o futuro, ou um motivo para voltar para casa. Aliás, a ex-mercenaria não tinha nem uma casa para chamar de lar e a única família real que havia lhe sobrado era um pai que ela nem conseguia chamar de Pai, pois ainda guardava muito ressentimento por ele. E, acima de tudo, Ada Wong era apenas uma identidade falsa, uma sombra e uma ameaça para muitos. Uma ameaça que há três dias foi dada como morta. E, era assim que deveria permancer... Morta!

"Assim como Piers, eu estou definhando, Leon. Não há como parar isso, porque não há cura para o meu mal. E eu só quero que essa dor pare. Então, quando toquei o casulo, a dor diminuiu. Você consegue entender isso?" Para ela era cansativo confrontar os olhos azuis inquisidores dele. "São muitos anos de constantes dores de cabeça e de desmaios. Meu cérebro não aguenta mais... Daryl e Trent sabiam disso. Era questão de tempo para essa bomba explodir."

"Mas você continuou voltando! Você sobreviveu mais uma vez." Leon continuou tentando convence-la. "Parece que o destino tem outros planos pra você. E morrer não me parece ser um deles."

"Talvez, o destino me manteve viva até agora por esse motivo. Talvez, esse era para ser... o meu destino final."

Ela sobreviveu a Raccoon City. Sobreviveu a explosão de um porta-aviões. Sobreviveu a uma batalha contra Simmons. E agora vai morrer assim? Para Leon, isso não parecia justo.

"Eu sempre chego tarde demais." Ele murmurou pra si mesmo. "Parece que não importa o quanto eu tente... eu nunca consigo salvar você."

"É porque a sua missão nunca foi me salvar!" Ela parecia saber quais argumentos usar para convencê-lo. "A sua missão é ser um sobrevivente que deve retornar aos Estados Unidos para limpar o seu nome e fazer justiça. O mundo precisa saber da verdade, e quem melhor do que Leon Scott Kennedy para fazer isso." Silenciosamente, todo mundo concordava com as palavras da espiã. "Eu estou lhe dando a chance de você voltar pra casa vivo Leon... Para você estar lá quando o seu filho nascer e pra você poder construir a família que sempre quis."

Eles estavam correndo contra o tempo, mas eles tinham que fazer alguma coisa. Assim como Leon que tinha seu próprio objetivo, Chris também tinha o seu, bem como Ada. Todos estavam travando uma batalha que parecia levar ao mesmo fim, nem que isso lhes custassem suas vidas.

"Já está em 95 porcento de infecção. O tempo está se esgotando." Ada recuou vendo o nível da água subir e vir com uma força tão indomável, que começou a arrastar tudo e todos de um lado para o outro, forçando-os a lutar mais uma vez por suas próprias vidas.

"Ada..." Leon grita ofegante e desesperado, tentando lutar contra a força das águas, enquanto também tenta chegar até a mulher chinesa. "Adaaaaa!" Mas era tarde demais, Leon só podia ficar lá, apenas assistindo o corpo da espiã ser engolido para dentro da gigantesca crisálida. Em seguida, o cásulo se fecha e outra contagem regressiva começa.

Foram 60 segundos para a eclosão ser concluída. 60 segundos para decidir o futuro da humanidade. 60 segundos que separariam, definitivamente Leon e Ada. 60 segundos e, então, o cásulo se abre revelando aos poucos uma gigantesca borboleta colorida. A enorme criatura começa a bater as suas asas, fazendo várias pequenas borboletas serem liberadas, dominando tudo.

Ao ver aquilo, quatro sobreviventes se preparam novamente para contra-atacar se fosse preciso, mas para a surpresa de todos, os pequenos insetos passam por eles indo diretamente atacar Radames. Rapidamente, elas vão se multiplicando por cada canto e o zumbi em que Carla havia acabado de se transformar, volta a ser um mero cadáver boiando sobre a água.

Não havia necessidade de gastar munição ou perder mais tempo ali, Haos e suas milhares de borboletas estavam fazendo todo o trabalho sujo. Obviamente, aquilo era apenas o começo, pois a missão delas estava apenas começando. E é aí que outra situação acontece, quando as mesmas borboletas passam a atacar Piers.

"Pierssss... Não!" Chris chega a sacar o seu fuzil, na vã tentativa de salvar o seu parceiro de guerra.

"Capitão foi uma honra... lutar ao seu lado." Murmurou Piers trocando um último olhar com o seu capitão. "Fiz isso pela BSAA... Fiz isso pela... minha... família." E, assim, o corpo do jovem soldado volta a sua forma humana, mas morre nos braços de Chris.

Haos começa a subir para o topo e com a força de suas asas e o peso do seu próprio corpo, ela consegue quebrar o teto e fugir para a superfície. Assim, as borboletas que saem dela vão sendo liberadas pelo céu e passa a se espalhar por toda a cidade.

Leon parou olhando para cima, tentando vislumbrar algum sinal humano de Ada ali, mas infelizmente não conseguiu ver nada. Ainda assim, ele desejou que ela tenha encontrado um lugar cheio de paz e que a alma dela tivesse encontrado a liberdade que a espiã tanto almejava ao longo da sua vida.

Lá fora o processo de Higienização de Lanshiang começava, sendo auxiliada por uma chuva severa que continuava a cair pela cidade.

ALGUNS DIAS DEPOIS...

"Leon, você está bem?" Pergunta Sherry sentada na poltrona ao seu lado fazendo-o despertar de um pesadelo horrível. Ele estava ofegante, com o coração batendo acelerado e com a mente conturbada. Desde seu retorno de Lanshiang, Leon tem tido pesadelos constantes e perturbadores.

"Aposto que estava sonhando com ELA outra vez." Suas palavras fazem ele ficar constrangido, sabendo a quem Sherry se referia. "Ela era mais que uma amiga, não é?" A pequena loira cochichava cheia de curiosidade. "Você... tinha sentimentos por ela." Parecia uma afirmação que o deixou frustrado.

"Eu..." Ele hesita sentindo palpitações. "Só estava sonhando com o enterro de Piers." Sua tentativa de trocar de assunto faz ele se sentir mal ao ver o semblante desanimado de Chris, que fecha os olhos ao se lembrar da discussão terrível que teve com a irmã mais cedo naquele dia.

"Eu acho que temos problemas maiores para se preocupar." Chris lhes advertiu de forma dura, enquanto o jatinho particular continuava o seu trajeto direto para Washington D.C. "Temos que saber o que vamos dizer diante do vice-presidente e dos representantes da ONU." Ele fez um gesto para os outros dois se aproximarem mais dele, enquanto sussurrava. "A história tem que se manter perfeita."

"O senhor Redfield tem razão." Hunnigan apareceu segurando seu notebook, sentando ao lado do capitão da BSAA e de frente para Leon, enquanto explicava alguns detalhes sobre a reunião que os aguardava na Casa Branca. "Essa é a sua chance Leon de limpar o seu nome e apresentar os verdadeiros culpados. E Sherry e Chris serão suas testemunhas, bem como o diplomata britânico, Philip Trent Blanchett."

"Certo. Estamos aqui para trazer a verdade à tona." Leon dizia com confiança. "O mundo precisa saber o que Simmons fez."

"Mas você também está pronto para arcar com as consequências dessa revelação?" Hunnigan continua a lhe pressionar, sabendo que quando a bomba for solta, nem mesmo o governo dos Estados Unidos sairá ileso disso e era justamente aí que as coisas poderiam se complicar.

"Sim. Estou pronto para contar ao mundo a verdade."

"Até mesmo sobre... Ada Wong?" Dessa vez era Chris quem lhe questionou, sabendo que aquilo era um assunto delicado para o agente da DSO.

"Nada mudou, Chris." Os dois homens se encaram com uma atitude um pouco hostil. "Para todos os defeitos... Ada Wong foi uma das responsáveis pelos atentados. Ela morreu na explosão de um porta-aviões da Neo-Umbrella, da qual VOCÊ foi a principal testemunha." Ele dizia enfrentando o capitão, mesmo sabendo que aquilo não era exatamente toda a verdade.

"Mas Leon, isso não é justo." Dizia uma Sherry chocada com a atitude do seu amigo. "Você sabe que essa não é a verdade. Ela se sacrificou por nós e..."

"Não, Sherry! Ele tá certo." O capitão murmurou percebendo que eles não tinham muita escolha, senão ter que esconder uma parte da verdade e substituí-la por uma mentira. "Nós precisamos fazer isso, pra proteger a Haos. Ela é o trunfo que temos nas mãos para vencer o bioterrorismo e para manter um certo controle sobre o governo americano. Caso contrário... todo o sacrifício daquela mulher terá sido em vão."

"Será melhor assim." Era difícil admitir isso, mas para Leon estava realmente na hora de deixar Ada Wong partir e enterra-la o mais longe possível do seu coração.

Então, uma parte da verdade será enterrada junto com aquela espiã chinesa, num lugar solitário, obscuro e triste, onde ninguém saberá a real verdade dos fatos.

Durante muito tempo, ela foi usada como arma para manipular e assassinar pessoas. Porém, pela primeira vez, Ada Wong havia se tornado uma arma para salvar vidas. Infelizmente, o mundo nunca saberá que a verdadeira Ada Wong era genuinamente a principal heroína dessa história.