Segredos de Guerra

Capítulo 1 - Nada


J - E então o grande caçador só pensou em uma coisa naquele momento, salvar a bela donzela em perigo, ele aproximou-se da fera, daquele enorme tiranossauro rex, e começou a chamá-lo:

“Hey grandalhão venha me pegar, estou aqui...”.

W - Mas pulando assim papai, não é?

...Com os braços para cima e sacudindo a sua balastra.

Pulava o garoto sobre a cama, de um canto para o outro, com os braços erguidos, fazendo caretas, como se pudesse imitar o grande caçador, que tanto admirava.

J - Isso mesmo, está fazendo igual eu lhe ensinei.

... Mas continuando, o caçador tentou em vão chamar a atenção da fera, a bela donzela respirava fundo, quase imperceptivelmente chamando por seu nome, bem baixinho para o T-rex não ouvir.

... E ele escutando o seu chamado, como um sussurro de pedido de socorro, atirou uma pedra na fera, à irritando e despertando toda sua irá.

... O caçador correu por quilômetros e quilômetros para desfiar do enorme e feroz t rex, até então um buraco se abrir sobre seus pés, por conta do peso do dinossauro, que pesava toneladas, surpreendendo o caçador, lhe tirando gritos, afinal a queda, era dentro de um rodamoinho.

W - E ele gritou alto não foi papai, pedindo ajuda.

J - Sim e também por ter sido pego desprevenido.

... Quer ver como ele gritou?

W - Sim… no três?

J - No três.

J e W - Um, dois, três e...

... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Gritavam John e William juntos, frente a frente, como se pudessem representar o sentimento de desespero que fingiam sentir.

M - Mas, o que acontecendo aqui?

... O que são todos esses gritos?

W - Mamãe?!

J - Marguerite?!

M - Vamos, estou esperando explicações.

... Porque estão gritando? Devem ter acordado todos os vizinhos, podem ser ouvidos por toda a casa.

... John não estava contando mais uma de suas histórias para ele dormir não é mesmo?

J e W - Não… Nãoooo…

Pai e filho trocavam olhares cúmplices, negando qualquer evidência de que estavam contando e ouvindo histórias do platô.

M - É mesmo, então o que estavam fazendo?

... Não era brincar de estátua, até porque estátua não fala, não grita e muito menos pulam na cama.

J e W - É… bem… Não eram histórias sobre o platô, não, de jeito nenhum. Nenhuma. Nada.

M - Claro que não, percebe-se.

... Will você está com chapéu de seu pai, em pé sobre o seu travesseiro, pulando igual um macaquinho e você John, eu nem preciso falar nada.

W - Vai brigar conosco mamãe?

M - Alexya meu amor fique um pouquinho aqui no chão, a mamãe já já te pega no colo de novo está bem.

A bela mulher, segurava a menina em seus braços, mas presenciando tal situação, optou por colocá-la no chão por alguns instantes e aos poucos, vagarosamente se aproximava do garoto, que agora menos eufórico e mais concentrado na mãe, encontrava os seus olhos.

M - William, o seu pai contou o que o grande caçador recebeu em troca da bela donzela, por ter salvo sua vida?

W - Não mamãe, não deu tempo.

... O que ele recebeu em troca?

... Foi um beijo mamãe, porque se foi, eu não quero saber, eca… beijos são nojentos.

O garoto sem perceber confessava que estava ouvindo as famosas histórias do pai, enquanto fazia caras e bocas de nojo.

M - Não, não foi um beijo.

... Foi algo mais terrível, muito pior William.

... Foram cócegas, muitas cóceguinhas.

W - Hahahaha não mamãe, não, para.

... Isso não é justo, eu fui pego de surpresa igual o grande caçador. ... hahahaha… não… para.

M - Só se você me prometer que está indo dormir, já está passando da hora.

W - Mas eu não… ahhh… estou com sono mamãe.

M - Está sim, e se você não dormir, como um dia será igual o grande caçador?

W - Mas… mas, papai ele precisa dormir também? Ele é tão forte.

J - Ora é claro que precisa William, todos nós precisamos.

... Agora obedeça a sua mãe, hora de dormir.

... Boa noite pequeno caçador e tome cuidado com os dinossauros em baixo da cama, aqueles bem pequenos.

M - John?!

J - O que?

... Ah sim, claro, não tem dinossauros em baixo da cama Will, é só uma mentirinha, talvez. Agora, boa noite.

W - Boa noite papai, boa noite mamãe.

M - Boa noite meu amor, meu pequeno caçador, durma bem.

Desde o retorno do casal havia se passado aproximadamente oito anos, John e Marguerite optaram por viver em Londres ao invés do platô, embora com o Oroboros em mãos sempre que surgia uma oportunidade ou outra, estavam viajando para o platô, para rever a família perdida, Verônica, Malone, a filha do casal (Abigail) e claro, Challenger e Jessie, que a menos de dois anos decidiram se mudar definitivamente para o platô.

Eles também viajavam para vários outros lugares do mundo que tivessem vontade de conhecer, principalmente quando estavam de férias. Como às pendências e às dívidas tinham sido quitadas e a família Roxton havia aumentado, foi a escolha mais sensata que viram como uma "saída", até porque Marguerite acreditava que não seria capaz de criar os filhos no meio da selva, ainda mais duas crianças ao invés de uma, sendo ambas gestações inesperada.

William, o mais velho, com um pouco mais que oito anos, um garotinho ativo, inteligente, esperto e muito sapeca, carregava os traços físicos de ambos os pais, embora em termos de personalidade tivesse mais características da família paterna do que materna, mesmo nas suas brincadeiras demonstravam que com os anos se tornava uma cópia do John, com pitadas do sarcasmo da Marguerite, sem falar que adorava se vestir como o grande caçador, que tanto ouvia nas histórias de dormir.

Enquanto Alexya, tinha apenas cinco anos, era a mocinha da casa, uma perfeita bonequinha de porcelana, a cópia fiel da mãe, tanto em aparência, como temperamento, às vezes era mais esperta que o irmão mais velho, o dobrando em suas artes e o culpando-o quase sempre, ainda que pequenina carregava consigo uma obstinação sem igual quando desejava algo ou alguma coisa, e não gostava de receber ordens, nenhuma.

Os dois irmãos ainda que brigassem às vezes, eram quase que inseparáveis, juntos e aprontando, amarravam os cadarços dos sapatos dos empregados, escondiam às joias de Marguerite, pegavam o chapéu de John e saíam correndo ou então escondiam os documentos das empresas, se escondiam até que alguém os encontrasse ou até que perdessem o interesse em seus jogos, e como senão fosse o suficiente quando percebiam que os pais não estavam bem, quando por algum motivo um deles sentia ciúmes do outro (o que acontecia com maior frequência com John) os trancavam no quarto ou no banheiro pelo lado de fora até que fizessem as pazes, contudo duas ou três vezes as crianças os esqueceram lá até a hora de dormir ou o café da manhã do dia seguinte.

Sempre estavam assustando a pobre da Anne e quando visitavam a casa da árvore, deixavam Challenger louco, reviravam todo o seu laboratório, sendo que uma vez conseguiram explodir uma bomba mal cheirosa, o que os fez permanecer por quase uma semana no platô, até conseguirem tirar todo o mal cheiro. Ainda que Marguerite e John fossem pais cuidadosos e presentes, às crianças sabiam muito bem como surpreendê-los.

A herdeira depois da chegada de William descobriu dentro de si o instinto maternal que antes julgava adormecido ou que pensava sequer não existir, mas acabou se tornando uma mãe carinhosa, dedicada a dar a melhor educação aos filhos, os mantendo-os ao seu lado mesmo no ambiente de profissional, cuidando e ensinando tudo o que podia e sabia, mas não deixava de ser rígida quando necessário, era normalmente ela quem elaborava às regras, instruindo a cada um deles que tudo tinha hora certa, hora para estudar, para brincar, para se alimenta ou dormir, entre outras atividades.

O caçador também não ficou para trás, tornou-se um pai brincalhão, amoroso, que cuidava não só das crianças, mas continuava a zelar pela segurança de Marguerite, se algo estava errado com um dos três, ele era o primeiro a se preocupar, eram suas prioridades, acima até de si mesmo. Sendo inclusive, ele quem percebeu a segunda gestação da herdeira, antes dela mesmo, por conta de seus desejos estranhos e noturnos, como a madrugada que o fez acordar e preparar chá e não café como era o seu habitual, na manhã seguinte, a levava até hospital, e descobriam que agora seriam quatro.

Os negócios da família expandiram, tendo agora unidades em vários outros países da Europa, se anteriormente a fortuna "Roxton" já era um valor elevado, agora, considerada imensurável. Era impressionante como os dois juntos tinham formado uma parceria no mínimo invejável. Além disto, a união deles nunca passou por nenhuma crise, tinham sim suas discussões costumeiras, mas tudo para não perderem o hábito.

Eles não possuíam uma rotina certa, mas se tinha algo que John e Marguerite procuravam manter, era que quando fosse a hora de dormir, revessariam, uma noite John que contava às histórias e na outra era Marguerite, quanto a qual dos filhos primeiro, geralmente aquele que estava com mais sono.

Naquela noite o primeiro tinha sido o pequeno William, assim que Marguerite depositou um beijo em sua têmpora e John apagou a luz do abajur, já ambos saindo do quarto, ele dormia calmamente. Enquanto Alexya que Marguerite havia deixado na porta há poucos minutos havia sumido.

A herdeira olhou para Roxton que a retribuiu com o mesmo olhar de interrogação e de preocupação, estava tudo quieto demais e isso nunca era um bom sinal.

M - Ótimo, onde que ela está agora?

J - Fazendo alguma arte, não tenha dúvidas.

... Melhor nos dividirmos, eu vou olhar o quarto dela e você olha o nosso.

M - Quem achar primeiro, irá colocar para dormir.

J - Ótimo, tomará que seja você.

M - Ora… eu. Hoje pelo que sei é a sua vez Lord Roxton.

J - Hahaha não se você achar primeiro, você mesma quem disse.

M - Eu e minha boca grande.

A herdeira olhava cada canto de seu quarto, em baixo da cama, dentro do guarda roupa, atrás da cortina, varanda, a suíte e nada, nenhum vestígio da menina, Roxton no outro quarto também não teve sorte, os dois saíram no corredor, não haviam a encontrado.

J - Nada, e você?

M - Nada.

... Mas que droga.

J - Na cozinha talvez?

M - Não sei, ela pode estar em qualquer lugar da casa nesse momento.

J - Bem, vamos descer então, ver se a encontramos na sala, ou que seja.

... Em algum lugar ela deve estar.

O casal caminhava lado a lado pelo corredor, até às escadas, na medida que foram se aproximando da sala, puderam ouvir os risos de Alexya e para sua surpresa ela tentava ensinar Leopold a dançar.

A - Não Eopold, não é assim.

... Eu já vi a mamãe e o papai dançando, o papai sempre fala que a… a… valsa, isso a valsa é uma dança pópia, a mamãe diz que é só pra deixar ela bem do ladinho do papai.

M - Não é pópia minha Alexya é própria, e sobre o nome de Leopold, já conversamos sobre isso também.

A - Mamãe? Papai? Vocês já deviam tá mimindo, não é Eopold?

Leopold - Pequenina creio que esteja equivocada, não acho que sejam seus pais que deveriam estar dormindo, mas sim você.

A - Eu? Mas… mas eu vim te ensinar a dançar. Estava…

John já com a menina em seu colo, não era segredo que Alexya às vezes fugia na hora de dormir, tudo para não perder tempo e brincar mais, nunca se cansava de correr para Leopold ou Anne, vez que eram eles que costumavam lhe dar cobertura, pareciam até avós das crianças, sempre os ajudavam.

J - E então você veio ensinar Leopold a dançar?!

... Sabe que isso herdou de seu pai, modesto a parte minha querida, seu pai é um pé de valsa.

Alexya com os olhos bem abertos, olhando para o rosto do pai e para os pés dele também como se procurando algo, algo que não parecia compreender muito bem.

A - Pés de valsa?!

... Mas papai não tem nenhum disco no seu pé.

... A valsa fica no disco, não fica. Como pode ter valsa nos pés?

Marguerite não se conteve, foi a primeira a gargalhar, assim como Leopold e John, os três adultos riam, a pergunta que a menina havia feito, e o modo como o caçador havia ficado sem reação, encabulado, somente ela e a própria Marguerite eram capazes conseguir tal “façanha”. A herdeira aproximou-se de Alexya, arrumando os cachos que estavam caídos no rosto, soltando o seu próprio para cabelo, para ajeitar ao da filha.

M - Pés de valsa Alexya quer dizer alguém que saiba dançar, que dança muito bem e seu pai é assim. Não significa que ele tenha algum disco no pé, é só uma expressão, um modo de falar.

A - Ahhhhh… mas mamãe, tem mais uma coisa, bem pequenininha que eu queria perguntar. Porque o papai te deixa sem ar quando dança?

J - Bem, é.... chega, chega de perguntas por hoje.

... Vamos dormir que alguém aqui já passou do horário de estar na cama e não me refiro só a você minha Alexya.

Marguerite estava ao lado, também bocejando de sono, afinal já era tarde.

A - Mamãe também?

M - É mamãe também, vamos.

A - Senão amanhã você acorda de mau humor mamãe?

J - Hahaha não Alexya, sua mãe só fica assim se não tiver café, mas nada que seu pai não saiba cuidar.

A - Eu gosto de café também papai, mas já sei que não posso, só chá, que é sem gaça.

M - Não mesmo e nem tão cedo.

... Você gostava de chá quando morava na barriga da mamãe.

... Além disto, você já é elétrica sem café, quase não damos conta de cuidar de você sendo assim, imagina com café então?! Não, não e não.

... Agora chega mocinha, hora de dormir, amanhã vamos visitar a sua avó Liz, e sairemos cedo.

J - Isso mesmo, sua mãe está certa.

... Hora de dormir, todos nós.