Segredos de Guerra
Capítulo 03 - Eu te acompanho
Marguerite e o oficial mais adiante mantinham os olhares fixos, um sob o outro, como se aguardassem um movimento em falso, algo como ataque e defesa, era o que ela pensava dentro de si, que não permitiria que aquele homem machucasse a sua família, estava disposta a pagar o preço. A herdeira tocou levemente o ombro do marido, que se posicionava a sua frente.
M - John, eu acho que sei o que fazem aqui.
Roxton a olhou surpreso, ainda tentado compreender a situação, se perguntando como ela poderia saber que são e quem eram.
J - Sabe?
Não houve tempo suficiente para que Marguerite formulasse a resposta, quando pensou em fazer, o mesmo homem que a encarava minutos atrás, agora um tanto impaciente, interrompeu a conversa do casal.
Thorne - Ora, ora, Lord John Richard Roxton nos reencontramos novamente, não se recorda de mim?
... Não, creio que não, deixe eu refrescar suas lembranças, Bartolomeu Thorne, a serviço do exército britânico de vossa alteza, da última vez que nos vimos você ainda era Major, senão me engano.
... Parece que muitas coisas mudaram desde então, não é mesmo Baronesa?
John não foi capaz de cumprimentar o homem que manteve a mão estendida a sua frente, era verdade que quando aconteceu o roubo do Irídio foi ele quem se voluntariou para o sacrífico, mais ainda em tempos de guerra, o caçador tinha ciência de que foi Thorne o responsável pelas investigações do mesmo, de certo modo ele quem o enviou para prisão e arruinou qualquer possibilidade de seguir com a sua carreira militar.
Além disto, ele não era e nunca foi um exemplo de oficial, havia escutado histórias a seu respeito, de como cresceu dentro das dependências do exército britânico no interior do Canadá, o homem hoje possuía a patente de tenente-coronel, considerada uma das posições mais bem gloriadas, seu poder e voz de comando podia ser considerado “ilimitado”.
Anos atrás foi Marguerite a responsável por sua transferência de base, ela cumpriu com a promessa de enviá-lo para o interior de outro país, já na época o achou intrometido demais, como um potencial risco a operação, no entanto, sempre soube que ele não aceitou muito bem o fato, sem falar na desconfiança que carregava acerca do sumiço do irídio, mas como tudo não passou de “especulações”, ele não tinha provas e nem meios o bastante, nunca representou uma preocupação, principalmente depois de tantos anos.
J - Eu não esqueço um mau caráter quando vejo um.
... E você não me respondeu, o que deseja na propriedade da minha família?
Thorne - Você não sabe ainda, nunca usou muito a cabeça não é mesmo? ... Simples, eu tenho uma ordem de prisão direcionada a Senhora Marguerite Blanc Krux Roxton, ou devo chama-la de Lady, ou será que este é só mais um dos seus disfarces?
... Espero que esteja pronta para finalmente responder por seus atos.
Marguerite sentiu-se nervosa e inquieta, não compreendia ao certo do porquê de ser levada a corte somente agora, se passaram mais de 10 anos que a grande guerra havia dado por acabada, e depois que retornaram do platô, ela sequer voltou a se envolver no mundo da espionagem, será que a enxergavam com uma ameaça, ou havia mais coisas por trás disso tudo, que ainda não tinha conhecimento.
M - Me prender?
... Você só pode estar brincando, eu não vou te acompanhar, não sem ao menos saber qual a acusação. Perdeu o juízo Thorne, os anos que esteve no Canadá não te ensinaram absolutamente nada.
John assumiu a defensiva, deixando Marguerite atrás de si, a “cobrindo” e a deixando o mais próximo da porta, caso precisasse pensar em fuga de emergência, não permitiria que ninguém a levasse, independente de justificativa ou não, ele já era um exonerado do exército, sabia que era loucura, mas preferia a sua “cabeça” sendo levada a julgamento, do que a dela.
Elizabeth vendo toda a situação, também não se sentia confortável com a postura daqueles homens, Thorne a incomodava profundamente, os olhares dele eram maldosos e maliciosos, havia algo muito além do que dizia ser.
L.R - Senhor Bartolomeu, eu não sei o que representa e não sei se quero saber, mas está é uma propriedade privada da minha família, aqui o senhor é apenas um mero convidado, embora eu não tenha enviado o convite.
... Portanto, eu exijo no mínimo uma explicação, está em minha casa, essa é a minha família e eu não gosto de seus modos, explique-se ou serei forçada a chamar os meus empregados e colocá-lo para fora.
Ele voltou a sua atenção a mulher mais velha, tinha um sorriso estampado, entregando em suas mãos o mandado de busca e apreensão devidamente assinado pela corte, que lhe dava permissão para livre entrada a propriedade Roxton, e em anexo a ordem de prisão de Marguerite, com as devidas acusações.
Thorne - Lady Roxton, eu serei o mais objetivo possível.
... Como vê, eu tenho ordens explicitas para levar a sua nora a julgamento e até lá ela será mantida presa, tendo em vista o risco que representa a nação eu diria, ainda mais quando existe rumores de uma segunda guerra, acho que as forças armadas devem vê-la como uma ameaça, o que é totalmente compreensível, dados os crimes que cometeu no passado.
L.R - E quais seriam estes crimes?
Thorne - Imaginei que perguntaria, eu não posso revelar a todos eles, pois alguns que são sigilosos e cabem somente a suprema corte.
... Mas dentre os principais, nós podemos citar falsificação ideológica inúmeras delas, roubo e furto qualificado em vários países do continente europeu e outros mais também, homicídio doloso de pelo menos quatro homens supostos maridos.
... E como se não bastasse alta traição pelo roubo do bem mais precioso da marinha real, o irídio, como vê Lady Roxton, a sua nora omitiu fatos, matou e roubo, conduziu toda uma operação ilícita, colocando a todos em risco, jogou inescrupulosamente com o destino de toda uma nação, tudo em interesse próprio.
Marguerite tinha ciência dos seus atos e não os negaria se levada a julgamento, mas o modo como ele falava, tinha distorcido e manipulava todos os fatos, a tornando uma criminosa a quem escutasse os relatos, sendo que foi ela quem ajudou o país a vencer a guerra.
M - Você sabe muito bem que está não é verdade Thorne, está ficando louco, o poder subiu a sua cabeça.
... Eu não sei o porquê está fazendo isso ou pra quem está trabalhando, mas você sabe tão bem quanto eu que não foi isso que aconteceu, além disto, que provas você tem.
Thorne - Você deve estar envelhecendo de fato, já foi muito mais esperta do isso, temida por tantos homens. Parece que perdeu o jeito.
... Mas veja, veja por si mesma, nos temos provas de cada passo que deu, o que quer que fez ou onde esteve no seu passado, nos tivemos acesso, a todos os seus registros, desde quando nasceu.
... E sabe como, por meio de um dos seus, um traidor, que você sequer desconfiou, estava tão preocupada com o seu felizes para sempre, que esqueceu que uma vez plebeia, sempre será plebeia.
John quem havia pego a pasta de documentos que Thorne ofereceu, e ainda que não quisesse acreditar, ele estava certo, toda a vida de Marguerite estava ali, exposta, desde sua infância até o último jantar em família na Harrod’s, na semana passada, mesmo ele não queria acreditar no que via, nenhum deles queria.
Thorne - Então eu não tenho provas cabais, não é mesmo.
... Agora vamos, soldado pode levar está senhora até o veículo.
... Finalmente, Parcival, você está presa, e tem o direito de permanecer calada, não queremos que promova mais provas contra si mesma.
... Informo que será julgada e condenada, e até que isso aconteça será mantida em cárcere privado, tendo o regime fechado e estará sobre a minha supervisão. ... Vamos soldado, ande logo com isso.
O homem acatando as ordens de Thorne, seu superior, tinha as algemas consigo, e seguia em direção ao casal, afinal este era o motivo de toda aquela visita inusitada.
J - Não, eu não vou permitir.
Thorne - Lord Roxton facilite às coisas para nós e para a sua esposa, entenda, ela irá conosco por bem ou por mal, isso não é questionável.
John não precisou pensar muito, antes que o soldado se aproximasse do que deveria, ele direcionou um murro no rosto do outro, o fazendo tombar um tanto para trás.
J - Só depois que passar pelo meu cadáver.
Thorne - Como queira, não deve ser tão difícil.
Não demorou e estavam todos envolvidos, o caçador trocava murros e pontapés com o soldado, enquanto Marguerite também discutia com Thorne, tentando o manter ocupado, e Lady Roxton corria para a porta, pensava em buscar ajuda, mas tamanha foi sua surpresa quando percebeu que a mesma estava trancada por fora.
Thorne - Esqueça Lady Roxton, ou eu saio daqui com a sua nora, ou não temos nenhum acordo.
... Achou mesmo Marguerite que eu permitiria escapar novamente?
... Enquanto estávamos conversando, mais alguns dos meus oficiais chegaram e sabe, eles estão nos aguardando do lado de fora, acho bom ser uma boa garota.
John por um descuido, se distraiu para ouvir o que Thorne estava dizendo, de imediato lhe ocorreu que as crianças estavam do lado de fora, e nesse exato momento, o soldado aproveitou-se da situação, o levando ao chão, sacando a arma e a direcionando para sua cabeça.
Marguerite tinha um abajur em mãos, pronta para acertar Thorne, que não parecia nenhum um pouco incomodado, confiante demais ela pensou, mas quando seguiu o seu olhar, pode entender seus motivos.
J - Eu sinto muito Marguerite.
Ambos se sentiam derrotados, mas ainda não estavam prontos para se entregarem, eles sempre conseguiam dar um jeito, sempre havia uma solução, até que algo lhes chamou a atenção.
W e A - Mamãe, papai ... Nos deixe entrar!!!
As crianças batiam na porta, pareciam agitados ou em perigo, gritavam, pedindo para entrar, chamando por eles, Marguerite deixou o objeto de lado, sentiu seu coração apertar, desesperada.
M - O que fez com eles? O que fez com meus filhos Thorne?
Thorne - Eu? Nada.
... Mas porque não me acompanha e veja com seus próprios olhos, assim também não teremos o trabalho de um funeral aqui, o que acha?
Marguerite e John trocaram um olhar, que se estendeu por alguns instantes, como se um pudesse compreender o outro, sem palavras, ele suplicava para que ela não fizesse o que ele imaginava, se aquele fosse o seu fim, não se importaria, desde que sua família estivesse à salvo, a herdeira por sua vez, tinha lágrimas em seu rosto, mas ela não seria capaz de agir, não poderia fazer, e nem de escolher sua vida acima da dele ou das crianças.
M - Está bem, eu vou.
... Mas os machuque, nenhum deles, se sabe tudo sobre mim, sabe que meus filhos e John são inocentes, nenhum deles tem nada a ver com isso.
Thorne - Sábia escolhe, solte ele soldado, permita que ao menos se despeça, mas garanta que a sua arma esteja bem posicionada.
Soldado - É claro senhor, não erraria daqui.
John levantou-se e a abraçou forte, o mais forte que podia, como se os seus corpos fossem fundir em um único.
J - Não Marguerite eu não vou deixar, eles vão...
M - Eles não vão fazer nada.
... John tem que confiar em mim, precisa ficar aqui e buscar ajuda, e outra alguém tem que cuidar das crianças, elas vão precisar de você, como eu preciso. Eu vou ficar bem.
Ambos estavam tomados pelo medo e dúvidas, suas feições não mentiam sobre, John carregava raiva em seus olhos, se fossem outras circunstâncias não pensaria em acabar com a raça de Thorne, era o que deveria ter feito anos atrás. Marguerite permitia que algumas lágrimas fossem derramadas, tinha tantas incertezas, se perguntava se seria capaz de sobreviver mais uma vez a prisão do exército, talvez não.
Ela acariciava o rosto dele, mantendo-se abraçada, agarrando-se aos poucos fios de esperança que restava, somente John era capaz de oferecer tamanha segurança, e o amor que ninguém antes deu, se o pior acontecesse, ao menos ela teve a oportunidade de descobrir o que era o amor ao seu lado.
M - Eu vou voltar, prometo.
J - Eu amo Marguerite, amo mais do que a minha própria vida, não posso deixar que tirem você de mim, não posso deixar que a levem.
M - Você pode sim e você vai deixar.
... Eu também amo você John, você me ensinou o que é o amor, você foi a melhor coisa que já me aconteceu, mas ainda temos as crianças, elas também precisam saber o que é o amor, e só me deixar ir, poderemos um dia ensiná-las sobre isso, por favor.
John engoliu seco, abaixou um pouco a cabeça procurando manter toda a concentração que podia, foi preciso pensar mais que uma vez, e mesmo relutante, ele a soltou. Thorne estava próximo, ele quem fez questão de algemar Marguerite, mantinha-se sério, sentia que parte da sua vingança só estava começando.
Thorne - Pedirei para que os meus homens deixem os seus filhos com os empregados na cozinha.
... Não creio que está seja uma cena adequada para as crianças verem, a mãe algemada e o pai com uma arma apontada, melhor prevenir, pode influenciar. Vamos?
Marguerite sentia um ódio crescente de Thorne, a vontade de matá-lo com as próprias mãos gritava dentro de si, quase a sufocando, mas não estava em posição de negociar, ele bateu na porta e deu suas ordens, logo, as crianças foram afastadas, e todos estavam dentro dos veículos, dois deles, ambos com todos os assentos de passageiros ocupados por oficiais bem armados, definitivamente o homem estava preparado.
Lady Roxton e John também não puderem agir, os dois os seguiram até a porta principal, mas apenas assistindo toda aquela cena, um movimento em falso e tudo poderia estar perdido, as armas que os homens carregavam não eram de enfeites.
Do retrovisor traseiro do veiculo, Marguerite os olhava, ela tinha consciência do que estava por vir, e as chances de ser a última vez que os via, eram grandes, o caçador na medida que viu o veiculo tomar distância, se desesperou, não conseguia pensar em mais nada, a não ser no fato de que ele não podia acreditar que a levavam embora, para longe de seu amor, de sua família, se negava a acreditava no que estava acontecendo, e temia o motivo disso tudo.
Em meio a sua dor, medo, insegurança e angústia, ele se viu correndo em sua direção, logo atrás do veículo, que já cruzava os portões de entrada e saída da propriedade, aos prantos e aos gritos.
J - Eu vou te buscar, nós vamos sair dessa, nós sempre conseguimos.
... Eu não vou deixar que nada te aconteça, não vou permitir isso.
... EU TE AMO MARGUERITE!!!!!!!!!
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