- Então... Vai me dizer por que dormiu no chão? – Sussurrou Hadie, durante a aula de Bondade Curativa.

- Já disse Hadie. Não me atormenta. – Sussurrou ela de volta.

- E você acha que eu engoli? – Ele indagou, indignado. - Você não tem sono pesado. Eu fiquei uns cinco minutos batendo na porta e você não apareceu. Precisei que arrombassem a porta para entrar e achar você deitada no chão. Por quê?

- Você não vai deixar pra lá, vai? – Suspirou ela, sentindo que foi derrotada.

- Não. Agora me responde. – Retrucou ele, convencido.

- Tá certo. Na verdade, eu... – Ela ia explicar, quando foi interrompida.

- Heather! Hadie! Eu não vou tolerar conversas paralelas na minha aula. – Fada Madrinha repreendeu os jovens. - Agora, qual dos dois pode me responder qual atitude tomar ao encontrar uma senhora parada ao lado de um semáforo?

- Desculpe diretora. – Pediu Heather. – Você oferece ajuda para atravessar a rua.

- Muito bem. – Ela assentiu, agradecendo. - Prestem atenção, e que eu não tenha que repreendê-los novamente.

Heather fuzilou Hadie com os olhos, e sussurrou “depois” para ele.

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Herkie estava no treino de Torneio. No entanto, ele tinha uma sensação estranha: algo estava errado com alguém. Ele estava com esta sensação desde que acordara no meio da madrugada, e não conseguira mais dormir. Logo pela manhã, ele ligou para toda a sua família. Todos disseram que estava tudo certo e que ele podia ficar tranquilo. No entanto, a sensação desconfortável permanecia intacta. Na primeira aula da manhã, questionou seus amigos, que disseram o mesmo. Ele percebeu que Heather não estava nessa aula. Olhou para Hadie, que tinha um semblante preocupado, o que o fez chegar a conclusão de que algo acontecera a Heather. Decidiu perguntar a ela, assim que a visse, claro. Sua atenção voltou ao jogo quando foi atingido no olho pela bola.

- Herkie! Tudo bem com você? – Indagou Ben, aflito. – No que estava pensando?

- Sim, Ben. Só estou um pouco preocupado. – Respondeu ele, tranquilizando o rei.

- Aqui, você vai precisar disso. – Afirmou uma voz que Herkie reconhecia bem, com uma mão em seu ombro, e a outra segurando um saco de gelo.

- Como sabia que eu estava aqui? E que eu precisava de gelo? – Questionou ele, sobrancelha arqueada.

- Te respondo no caminho da enfermaria. Agora vamos, e deixe seu time terminar o treino. – Respondeu Heather, revirando os olhos. – Até mais Ben. – Cumprimentou ela.

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- Então... Como sabia que eu precisava de gelo? – Começou Herkie.

- Como vou explicar? – Ela ponderou. - Eu não sei. Eu estava na aula, quando alguma coisa me disse que eu tinha que ir até o Campo de Torneio com um saco de gelo. A Fada Madrinha deve querer meu pescoço, porque era a aula dela.

- Uuuh, você estava na aula de Bondade Curativa? Quem sabe não passamos lá? Para ela ver que você saiu da aula para cumprir o que ela ensina em aula. – Sugeriu ele.

- Quer dizer que isso é bondade? – Ela questionou, alarmada. - Eu só levei gelo.

- Sim, para alguém que necessitava dele. Isto se chama boa-ação. – Devolveu ele, rindo da expressão de nojo de Heather. – Olha, ela sente nojinho.

- Não acredito que fiz um ato de bondade. – Falou ela, enojada.

- E agora vou te dizer, não foi o primeiro. Você fez no meio daquele discurso para Audrey, fez na Ilha mesmo, ajudando Ethan. Sim, me lembro dessa história. – Ele acrescentou, ao ver o olhar questionador dela. - Você é boa, Heather. Não justifica, mas eu sei que você fez as crueldades para autodefesa e em favor de defender os indefesos. Antes que negue, eu posso ver essa bondade em seus olhos. Seus belos, brilhantes, determinados olhos. E, o melhor de tudo, eles têm a minha cor favorita... E você é que nem os seus olhos.

- Quer dizer que eu sou bela, brilhante e determinada? – Implicou Heather, arqueando a sobrancelha.

- E também é a minha pessoa favorita. – Respondeu à implicância, com um sorriso de canto.

- Sabe, eu também gosto de encarar esses olhos azuis celestes. Eles exibem coragem, destreza, humildade. E são reconfortantes também. Pode achar estranho, mas azul celeste é a minha cor favorita. – Ela confessou, serenamente perdida na imensidão azul de Herkie.

Eles ficaram um tempo olhando nos olhos um do outro, sem perceber que as aulas daquela hora haviam acabado. Os alunos saíam de suas classes, passavam por eles e os olhavam, uns admirados, outros com inveja e um pequeno grupo com felicidade pelos amigos. O contato olho-no-olho deles fora interrompido.

- Olha só, vocês podem fazer isso lá fora, onde não ficam no caminho de ninguém? – Disse Evie.

Ambos saíram de seu transe, e viram a situação atual, o que os deixou completamente ruborizados.

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- Heather! – Chamou Hadie, caminhando até a mesa em que ela estava no pátio.

- Oh boy... – Murmurou ela, antes de virar para o amigo. – Oi Hadie, o que precisa?

- Saber o que aconteceu de madrugada. Fala, eu não sou idiota. Você não “dormiu no chão”, não é? – Sussurrou ele, em um tom irritado e preocupado.

- Ok Hadie. – Ela bufou, revoltada. - Não, eu não dormi, eu desmaiei. Tá feliz agora?

- Não. Por quê? – Ele insistiu.

- Meu pai “me fez uma visita”. – Ela revelou entredentes.

- Você quer dizer... – Hade hesitou.

- Lembra aquelas visitas mentais que eu recebi quando Carlos danificou o escudo? – Ele assentiu. - Basicamente foi isso, mas aqui é um pouco mais forte.

- E isso quer dizer... – Hadie insistiu, ainda sem entender.

- Aparentemente a minha presença aqui dá um pouco mais de força para ele... – Ela respirou antes de continuar. - Algo sobre o sangue dele correr em minhas veias e blábláblá.

- E agora? O que você vai fazer? – Indagou Hadie, aflito.

- Agora, nós temos que... Eu não sei. – Ela passou a mão pelos cabelos pretos, frustrada. De repente, viu Hadie abrir um sorriso, o que a intrigou. – Hadie? O que vo... – Ela sentiu uma mão cobrir seus olhos. Ela já sabia quem era. Nunca diria em voz alta, mas ela já estava familiarizada com o aroma corporal de Herkie. Inconscientemente, ela abriu um sorriso. – Herkie, eu sei que é você. Por que não descobre os meus olhos? – Ela questionou, se segurando para não rir.

- Está bem. Obrigado por não me entregar Hadie. – Ela o ouviu agradecer, logo ele tirou a mão, permitindo que ela visse uma rosa azul celeste repousando em sua frente, o que a deixou estática e surpresa. – Eu queria te agradecer pela ajuda mais cedo e não sabia como. Então um passarinho me contou que essa é a sua flor favorita. Lembrei-me de um jardim que tinha essa rosa e a colhi. Não se preocupe, o jardineiro é...

- Cala a boca Herkie. – Ela disse antes de puxá-lo pela gola e selar os lábios dele nos dela.

Enquanto o beijo rolava, ainda no pátio tinha muitas bocas abertas, olhando a cena. E certo grupo os olhava, felizes pelos amigos. Hadie literalmente estava pulando de alegria. Inclusive, no momento que eles terminaram o beijo e encostavam as testas, muitos alunos e alguns professores os ovacionavam, o que os surpreendeu.

- Não que eu não tenha gostado, mas por que você me beijou? – Perguntou Herkie, sorrindo.

- Honestamente? Eu não sei. – Ela provocou, dando de ombros. - Alguma coisa me disse que era isso que eu tinha que fazer.

- É mesmo? E o que seria essa “coisa”? – Implicou ele.

- Meu coração. – E, desta vez, ele a puxou para um beijo.

- HÁ! VOCÊS ME DEVEM 50 PRATAS! – Gritou Hadie para os amigos. Ele só não contava que o casal ia ouvir.

- Você apostou na gente? – Questionou Herkie.

- Todos nós apostamos. A aposta era quem ia dar o beijo primeiro. Todos apostaram em você. Eu apostei na minha maninha. – Respondeu Hadie, convencido.

- Você criou uma aposta? Hadie... Aproveita que eu estou boazinha e vou te dar três segundos para correr. Um... – Começou Heather.

- Claro que está. Acabou de beijar Herkie. – Disse ele, implicante.

- Dois... – Ela continuou a contagem, dando um passo em direção a ele.

- Herkie! Segura ela! – Implorou Hadie, enquanto corria.

Antes de dizer o três, Heather sentiu Herkie segurá-la.

- Herkie! Me solta, eu vou acabar com aquele miser... – Ela demandava, enquanto tentava se desvencilhar.

- Deixa ele. Primeiro porque ele não é o único nessa aposta, e segundo porque ele não fez por mal. – Herkie retrucou, calmo.

- Caramba, você é forte. Ao menos está fazendo força para me segurar? – Ela inquiriu, curiosa.

- Não. Estou usando um braço só. O outro estou usando para comer uma maçã. – Ele respondeu, mordendo a fruta em seguida.

Ouvindo o que ele dissera, ela parou de lutar para se soltar, ficando com os pés suspensos. Porque sim, ele não era musculoso, mas era beeeem mais alto que eu. (A.N.: Heather, como você é exagerada.).

- Ah, está bem. – Ela suspirou, se rendendo. - Mas, pelo menos, me deixa terminar meu almoço.

- Claro. – Ele afirmou, porém, não a soltou.

- Hã... Herkie... Vo-você ainda está me segurando. – Ela alertou, sentindo seu rosto queimar.

- Eu sei. – Ele disse, sorrindo.

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- Heatheeer... – Cantarolou Mal, se aproximando da mesa de almoço. – Precisamos conversar.

- Como você pôde? – Indagou Jay, dramaticamente.

- Jay, já disse centenas de vezes... Eu e você não temos nada. – Respondeu Heather, rindo.

- Em compensação... Você e o Garoto-Maravilha... – Comentou Evie, entrando na zoação.

- Garoto-Maravilha? Esse não é o Ben? – Heath interpelou, surpresa.

- Ha ha, muito engraçado. – Comentou Ben, sarcasticamente, mas rindo também. – Não, as tietes o conhecem por Garoto-Maravilha.

- Esse apelido soa familiar... – Pontuou Carlos. – Por acaso não era o apelido do...

- Todo Poderoso semideus Hércules. Ele mesmo. Era mais que natural que o herdeiro dele tivesse o mesmo apelido. – Concluiu Jane, rapidamente.

Logo que ouviu a afirmação, Heather se afogou com o refrigerante.

- O que você disse? – Perguntou, ofegante, após se recuperar.

- Você não sabia disso? – Questionou Mal.

- Claro, até porque a primeira coisa que faço ao conhecer alguém é dizer: “Nossa, você é lindo. Por acaso é filho de Hércules?”! Na verdade... Isso explica muita coisa. – Afirmou, com uma expressão pensativa, o que fez seus amigos rir.

Não muito longe, temos uma garota loira, observando o grupo de amigos de longe, e uma expressão revoltada no rosto.

“Não sei que feitiço você usou em Herkie, VK. Mas ele vai ser meu.”