POV BENJAMIN

Eu estava junto de meus amigos, quer dizer, estava me divertindo com meus amigos, não juntos e nem da maneira mais sadia, mas ainda assim nos divertíamos. Eu e meus amigos devíamos andar pela escola e procurar alguma coisa de alguém, falar para o outro o que era e logo depois esconderíamos em qualquer outro lugar da escola, minha nossa essa era a nossa brincadeira insana, se fôssemos pegos já era. Nossa escola era uma cadeia de ensino, não podíamos fazer nada e havia dormitório em quase toda a escola, quatro refeições por dia. Ou seja, era o lar que os nossos pais nos forçaram a aceitar. Por isso decidimos fazer nossa diversão e tornar ele um lugar menos entediante.

— Maya. – chamei minha amiga que estava atrás de mim, para que me avisasse caso aparecesse alguém para nos pegar com a boca na botija. – Por favor. Avise-me com antecedência caso apareça alguém. – Eu disse enquanto tentava destravar a porta da sala do professor Molina com apenas um grampo de cabelo de Maya, a sala de literatura, especificamente.

Assim que a trava da porta deu seu estalo, eu consegui perceber que a sala de literatura não estava vazia como devia, não havia ninguém nela, mas havia uma mala sob uma das mesas e Maya também notou a mala quando entrou.

— De quem será essa mala? – perguntou Maya se aproximando da mala – Será que tem alguém querendo sair hoje da escola? – perguntou mais a fim de saber o motivo daquela mala está lá, justo na sala de literatura.

— Sabe que eu não faço ideia né? – perguntei sarcástico para Maya que me encarou com desdém. – Vamos Maya, pegue alguma coisa aí e vamos embora. – ao dizer isso Maya me encarou como se eu tivesse dito alguma coisa errada.

— Porque eu? – perguntou Maya fazendo uma cara de chantagem.

— Eu destranquei a porta. Agora você rouba alguma coisa, vai rápido Maya. – disse calmo para ela. – Vai lá bandida. – eu disse começando a rir quando ela se encaminhou até a prateleira dos clássicos do professor Evans. Ao olhar pela janela do lado, através da persiana eu consegui ver uma pessoa, aparentemente ele era um rapaz qualquer já que usava um terno preto, mas ele era bizarro se olhar para o rosto dele, ele usava uma máscara branca que parecia uma pessoa morta gritando com um olhar de tristeza – Conhece? – perguntei precisando chamar a atenção de Maya ao meu lado para que ela visse a pessoa mascarada que passava andando lentamente pelo corredor passando os dedos na janela da sala. – Ou faz pelo menos uma ideia de quem seja? – complemento ele.

— Aquele com a máscara escrota... – Maya falou pensativa. – Nem faço ideia. Ah já sei, ele devia estar no baile de halloween do ginásio. – disse ela se voltando para mim

— A gente estava lá ainda pouco e eu nem vi essa... Pessoa estranha. – Maya me encarou nesse mesmo momento comum olhar estranhamente questionador. – O que?

— Tá bom, vamos embora daqui logo. – disse ela se aproximando da porta. – Vamos Ben? – Maya completou virando seu rosto para mim.

— Vamos. – eu disse me aproximando dela.

~~~**~~~

— Tudo bem, alguém sabe dizer onde tá a Rachel? – perguntou Claire andando de um lado para o outro. – Ela disse para nos encontrarmos aqui. Esse é o corredor do laboratório de biologia né?

— Se não fosse, estaríamos todos aqui? – questionou Mike sarcasticamente.

— Te acalma aí Mike. – disse Noah tentando defender Claire. – Mike, o que foi que a Rachell te falou por mensagem mesmo? – perguntou Noah se virando para Mike.

— Ela disse que estaria nos esperando aqui, tecnicamente ela seria a primeira a chegar aqui. – disse Mike segurando seu celular e verificando o horário. – Até pensei que ela podia estar pensando em fazer a gente roubar coisas por aí de graça. Sem ela fazer isso, sacaram?

– Mais ou menos. – disse Maya querendo irritar Mike.

Mike Collins detestava que alguém o contrariasse ou no mínimo não entendesse uma explicação dele. Mike era o típico nerd descolado que pelo fato de saber mais, acaba amando ter que explicar coisas para as pessoas e fazer piadas que ninguém entendia... Mas o esforço dele para nos explicar nos fazia pra caramba.

A sedutora e deslumbrante Claire Blake, era garota mais elegante de toda a escola, foi à primeira garota a se tornar popular do nosso grupo, Claire tem a mania de ser uma cretina maldosa com as pessoas, mas no fundo ela é a mais louca de todos e possui um coração incomparável.

— Acho que a gente devia ligar para Rachel. – disse Noah.

E claro. O metido a galã da escola, Noah Strauss é um dos mais vadios entre todos, mas para minha surpresa nos tornamos melhores amigos, ele me defende e eu o defendo.

— Eu ligo. – disse Maya pegando seu celular e o levando até sua orelha. – Que estranho.

— O que? – perguntei me aproximando de Maya.

— Está chamando, mas ninguém atende. – respondeu Maya.

— Parece até meu pai. – disse Claire e todos começaram a rir. – O que? – disse ela percebendo que todos tinham rido. – É serio. Meu pai nunca me atende, e olha que tem vezes que ele pede pra secretária dele dizer que ele não está. – disse ela para nos convencer de que era verdade, e sinceramente era mesmo.

De repente ouvimos o som do celular de Rachel ecoar pelo corredor. Era um toque inconfundível de som de trovões junto de sinos. Apesar de não combinar nada com ela, Rachel disse que essa era a forma que ela tinha para nos dizer quando estava por perto, porque ela mesma era “uma mistura divina de trovões e sinos doces” e talvez fosse mesmo.

— De onde vem o som? – perguntou Noah confuso.

— Acho que vem de lá. – disse Maya apontando para porta do laboratório de biologia.

— Acho que não. – questionou Mike. – O laboratório possui uma porta muito grossa e densa para sair qualquer ruído que seja. – explicou ele. – O som do celular ficaria abafado e possivelmente o celular poderia até ficar com dificuldades de receber sinal.

Por um segundo o toque parou. O que nos deixou assustados.

— Ela atendeu? – perguntou Claire?

— Não. – respondeu Maya. – É como se tivessem rejeitado a chamada. – disse Maya tentando ligar mais uma vez. – Mas que droga foi essa? – resmungou Maya e desligando o celular quase que estando desesperada.

— O que aconteceu? – perguntei confuso com a reação de Maya.

— Ela encaminhou minha ligação para o número do reitor. – disse ela nos encarando.

— O que? – perguntou Mike assustado com a notícia. – Desde quando ela tem o número do reitor? – perguntou Mike confuso ao pensar na noticia estranha.

— Eu ligo. – disse Claire pegando seu celular. – Vamos está começando a chamar... – disse Claire.

Mais uma vez o toque do celular de Rachel se fez presente no longo corredor. E todos nos viramos para ver o que nenhum de nós havia visto antes, havia um corredor quase que imperceptível que dobrava para direita ao lado da porta do laboratório de biologia.

— E aquele corredor? – perguntou Mike apontando com o dedo para o corredor que dava curva ao nosso corredor.

— Acabei de notar isso. – respondeu Maya. Então eu e os demais encaramos Maya. – Quer dizer, nós notamos isso. – corrigiu-se Maya.

— Tá ok. Vamos logo ver esse corredor. – disse Claire começando a andar em direção ao corredor escondido no canto.

Em questão de segundo começamos a correr em direção ao corredor, Maya foi a primeira a chegar. De frente para o corredor Maya gritou pondo suas mãos sobre a própria boca. Todos pararam e ficaram assustados com o grito de Maya que correu em nossa direção e veio ao meu encontro e envolveu meu corpo em um abraço apertado e começou a chorar com a cabeça acolhida em meu peito.

De um em um, todos nós fomos ver o que Maya havia encontrado e como o último a ir, eu vi o que ninguém queria ter visto. Rachel estava no chão, caída como um verdadeiro cadáver e então eu vi o sangue que escorria de sua cabeça, o sangue em sua roupa e um revolver jogado no chão ao lado de seu corpo. Essa era a pior noite de nossas vidas. Isso nos marcaria para sempre.

~~~**~~~

POV MAYA

Eu e Claire estávamos esperando por Ben, Mike e Noah no corredor ao lado da porta do laboratório de biologia, eu ainda não conseguia acreditar que íamos fazer isso, enterrar o corpo de nossa melhor amiga era mais que crime, se é que existe algo pior que um crime. Os garotos haviam ido atrás de pás e lanternas. Podíamos não ter matado Rachel, mas ainda assim eu sentia que todos nós éramos assassinos em certo ponto dessa história.

— Maya? – ouvi Claire me chamar. – Sabe que essa era a nossa única saída não é? – Claire ainda tentava me convencer disso, mas eu sabia a verdade.

— Não sei de nada, Claire! – eu disse enfurecida.

— Maya, se alguém soubesse disso, nos seriamos presos por sermos os únicos aqui. – disse Claire, com palavras de outra pessoa. – Então para ninguém saber nos vamos precisar...

— Precisar? – questionei a encarando. – Ninguém precisa fazer isso, vocês não precisam fazer isso, vocês querem fazer isso... Pra piorar por egoísmo. – eu disse me virando de costas para ela. – Mas deixa essa merda pra lá. Cansei de ser contrariada por vocês, afinal eu fui voto vencido. – completei sem olhar para Claire.

— Não se trata de nós querermos fazer isso. Trata-se de nós não querermos ser presos por algo que não fizemos. – Claire continuava falando. – Nem todos nós temos um pai e uma mãe advogados pra tirar a gente da cadeia.

— Cala a boca! – gritei para ela, que acabou ficando assustada comigo e se sentando no chão.

Logo os garotos haviam chegado ao corredor e em seguida estavam juntos de nós duas. Ben carregava duas pás e uma fita no braço, Mike segurava um lençol branco com uma pá em outra mão e Noah trazia as lanternas.

— Pra que é esse lençol? – perguntou Claire para os garotos, eu já estava começando a me assustar com isso tudo.

— Vamos enrolar ele na Rachel, assim a gente não precisa encarar ela enquanto a gente... Vocês sabem. – respondeu Noah, Ben o encarava com um olhar incrédulo.

— Isso é ridículo. – disse eu diretamente para o Noah.

— Tudo bem gênio, me fala se teve alguma ideia melhor! – Noah me desafiou assim que eu tinha exposto minha opinião.

— Se enterramos ela com esse lençol vai ser prova de crime caso em algum momento encontrarem ela, e a polícia vai querer saber de onde veio esse lençol. – disse eu.

— E vai chegar até você, seu dormitório estará com falta de lençol. – Benjamin terminou de completar minha lógica de raciocínio.

— Maya e Benjamin estão certos. – disse Mike. Ele disse apenas isso.

— Sem uma explicação mais trabalhada Sr. Collins? – Claire perguntou com sarcasmo.

— Não estou no clima, Claire. – respondeu Mike com um semblante sério.

— Vamos logo fazer isso antes que eu pegue a droga do meu celular e ligue pra polícia. – disse Ben atraindo o olhar sério e intrigado de Claire, Noah e Mike.

Bem assim como eu não queria enterrar Rachel, mas sim chamar a emergência e a polícia. Mas também, assim como eu ele teve seu voto vencido. A única coisa que nós dois tínhamos conseguido fazer era levantar uma votação, mas que no fim deu em nada.

Claire e eu estávamos segurando as lanternas para iluminar o local que o corredor podia nos levar. Era um jardim escuro e com a grama por fazer, era o local perfeito para esconder o corpo. Ninguém iria lá e provavelmente ninguém ia encontrar o corpo de Rachel, mas eu queria que fosse o contrário.

Logo Noah tinha pulado o portão que estava trancado com um cadeado bastante velho e sem utilidades. Noah ajudou Claire a pular o portão e depois eu, enquanto nós duas iluminávamos para que ele e os meninos pudessem enxergar. Os garotos passaram o corpo de Rachel por debaixo do portão que por sorte era um pouco mal colocado e acabou saindo mais alto do que devia ser.

Em apenas alguns minutos nós duas já estávamos no meio de um capim alto iluminando um buraco que estava sendo cavado pelos garotos. O buraco era mais ou menos fundo e logo eles jogaram o corpo de Rachel na cova dela. Isso era errado e eu sabia, mas tinha dado minha palavra de não falar nada. Amigos sempre se apoiavam... Eu acho.

— Minha pulseira! – gritou Claire ao meu lado dentro da cova. – Minha pulseira caiu em algum lugar por aqui. – lamentou Claire. Só então eu notei que Claire havia trocado de lugar com Mike que estava segurando a lanterna, talvez ele tenha ficado com medo de ser assombrado de noite pela Rachel.

— O que? – eu disse ao entender o erro que a Claire havia cometido. – Esquece, a gente tem que ir embora.

— Mas é a minha pulseira favorita, é a de pingentes brancos e rosas! – Claire parecia esperar por clemência. – Minha avó me deu ela de presente antes de falecer. Eu preciso dela! – Claire estava a um ponto de chorar.

— A gente não tem tempo pra isso Claire. Sinto muito. – disse Benjamin com tristeza em seu olhar, ele parecia sentir a dor dela. – Vamos terminar isso. Logo.

— Ben tem razão. – concordou Noah.

Quando Ben e Noah começaram a jogar a areia por cima do cadáver de Rachel, um barulho de galho seco sendo quebrado se fez presente naquele silêncio que era quebrado apenas por nossas vozes.

— O que foi isso? – perguntou Mike assustado. – Será que foi alguém? – perguntou ele alarmando todos nós.

— Aonde você vai? – ouvi alguém dizer.

Quando me dei conta eu estava dando a volta em uma árvore com a lanterna em minha mão, assim iluminando o escuro. Eu estava vendo várias sombras, entre elas de árvores, plantas, alguns arbustos que não eram podados provavelmente quase uma vida. E o mais assustador, era a sombra enorme que eu vi na parede de um velho depósito, a sombra era de uma mão magra e quase esquelética. Ela era formada por galho secos de uma árvore seca e quase morta.

Então alguém que vinha por trás me segurou pelo braço, eu me virei e o atingi com minha lanterna em ato de defesa.

— Mas que droga Maya! – gritou Benjamin com sua mão na testa. – Valeu por essa! – ele gritou de novo.

— Ai minha nossa! – eu disse assustada ao perceber quem era. – Me desculpa, de verdade. Pensei que fosse outra pessoa! – eu disse com muita adrenalina em minhas veias.

— Tá ok. – disse ele me olhando com o olhar que eu entendia quando ele tinha me perdoado por qualquer coisa que fosse. – Vamos voltar. É melhor assim. – disse ele como se tivesse procurando alguma coisa atrás de mim. E então voltamos para onde o Noah tentava terminar de enterrar o corpo de Rachel e os outros nos esperavam.

— Chega com essa enrolação! – disse Noah. – Vamos Ben! Vamos fazer isso antes que apareça alguém de verdade.

Eles terminaram de jogar toda a areia em cima do belo corpo já cadaverizado de Rachel. Noah cravou a pá no chão e encarou todos nós.

— Nunca. Nunca em toda nossa vida a gente vai falar disso que fizemos para outra pessoa. – Noah disse calmo, mas ainda assim muito sério. – Esse é o nosso segredo que levaremos para nossos túmulos. E isso é o nosso pacto. – fiquei assustada pela maneira que ele falava com a gente, parecíamos um bando de sociopatas. – Vocês prometem? – perguntou ele. Que logo teve a aceitação de Mike e Claire. Benjamin tentava evitar contato visual, e eu o encarava.

— Ben! – Noah chamou a atenção de Ben que estava calado ainda. – Benjamin! BENJAMIN WINTERS! – ele chamou já estressado.

Ben me encarou com um pedido de clemência em seus olhos tristes. Eu apertei sua mão. Nós éramos melhores amigos há muitos anos, ele me apoiava e eu sempre o apoiava. Eu balancei minha cabeça para ele e logo Ben entendeu.

— Sim. Eu aceito o pacto. É nosso segredo mortal a partir de hoje. – as últimas palavras de Ben fizeram com que Claire engolisse de nervosismo a própria saliva.

— Maya? – Noah me chamou e eu o encarei muito rápido. – Eu aceito... – ele estava me passando uma introdução do que ele queria que eu dissesse, mas de maneira séria e sem nenhuma espécie de suavidade.

— Eu aceito essa droga de pacto que você propõe. – eu disse dura como aço e sem cerimônia.

— Bom... – começou Ben. – Nos vemos na cadeia...

— Ou no purgatório. – eu cortei Benjamin com minha reflexão em voz alta.

— Exatamente. – respondeu Ben para que todos ouvissem. – Vamos Maya disse ele se virando e logo eu o segui sem discordar de suas palavras.

~~~**~~~

Nós saímos de lá e assim ele me deixou em meu dormitório e apenas me encarou com uma olhar amargurado.

— Boa noite, Maya. – ele disse se virando e indo pelo corredor.

— Ben! – eu o chamei da porta do meu quarto. Ele se virou e me olhou triste. – Você não teve culpa.

— Vou tentar me lembrar disso durante a noite. Durma bem. – ele disse apenas isso, se virou e foi embora deixando um pouco de areia onde pisava.

Eu entrei, fechei a porta do meu quarto e ainda com minha roupa da festa de halloween eu deitei. E assim dormi.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.