No cativeiro, Lanie continuava presa na cama, seu pulso já estava vermelho por causa da algema.


Ela descansava em sono leve, afinal com tudo o que estava acontecendo, quem seria capaz de dormir tranquilamente?


Lanie teve seu leve sono interrompido por um barulho que vinha da sala, era alguém abrindo a porta.


- Carl? - Ela chamou. - É você?


Ninguém respondeu, porém ela insistiu mais uma vez.


- Carl, por favor... eu preciso ir ao banheiro.


Ela pode ouvir uns passos se aproximando da porta do quarto.


- Você é médica, não é? - Ele perguntou da porta.
- Sou médica legista, por que?
- Você vai me ajudar. - Ele se retirou para a sala mas logo voltou com uma sacola, a qual ele jogou em cima da cama.
- O que aconteceu? - Ela perguntou quando o viu pressionando seu ombro esquerdo, o qual sangrava muito, com sua mão direita.
- Sem perguntas, eu só preciso que você feche a ferida.
- Por que eu faria isso? - Ela questionou. - Você está me mantendo presa aqui, você me sequestrou... por que eu iria te ajudar?
- Porque se você não fizer, coisas muito ruins vão acontecer com seu namoradinho. - Ele disse se aproximando dela. - Saiba que eu tenho pessoas de olho nele...
- Deixe ele em paz! - Ela gritou.
- Então faça o que eu mando. Se você fizer, nada vai acontecer com ele... nem com você.
- Tudo bem. - Ela respondeu ainda contrariada. - Mas como é que você quer que eu dê pontos na sua ferida se eu estou presa aqui?


Ele hesitou por um momento, mas ela estava certa, não teria como fazer o que ele queria apenas com uma mão, então ele puxou a chave da algema do bolso.


- Eu vou soltar você, mas não tente nenhuma gracinha, ou as consequências não serão nada boas. - Ele ameaçou enquanto a soltava.


Ela se levantou e pegou o saco que ele havia jogado em cima da cama.


- Não tem como fazer o que você quer apenas com isso. - Ela disse olhando o que havia dentro do saco. - Aqui só tem agulha e linha... de costura ainda por cima.
- Faça servir! - Ele gritou.
- Deixe eu olhar essa ferida. - Ela se aproximou dele, que agora estava sentado na cama no lugar dela. - É um buraco de bala, o que aconteceu?
- Não te interessa! Eu pedi a você para fechar, não para fazer interrogatórios, que eu saiba o detetive é seu namoradinho e não você.
- Tudo bem, mas não tem ferimento de saída, a bala ainda está ai dentro, não posso fechar sem retirá-la.
- Então retire!
- Mas eu não tenho material aqui pra isso, você tem que ir para um hospital.
- Eu não vou para hospital nenhum, se não tem as ferramentas, improvise! - Ele exclamou. - Do que você precisa?
- De uma tesoura e uma pinça.
- Tem uma tesoura no armário da pia da cozinha, primeira gaveta. A pinça você vai encontrar no armário do banheiro.
- Tudo bem. -Ela disse se retirando.
- Mas olha só, é melhor você não tentar nenhuma gracinha! - Ele gritou do quarto para que ela pudesse ouvir.


Essa era a grande chance de Lanie, ela tinha que tentar escapar. O problema é que ela sabia que ele ainda tinha forças para ir atrás dela se ela tentasse fugir, e ela não gostaria nem de imaginar o que ele faria com Esposito se ela tentasse fugir.


Ela precisava pensar com mais cautela, ela precisava de mais tempo para planejar e tentar fazer alguma coisa.


"Nenhum ser humano aguentaria um procedimento cirúrgico como este sem anestesia."


Esse foi o pensamento que a "salvou".


- Por que você está demorando tanto? -Ele gritou do quarto.


É isso, estava decidido.


Ela faria a cirurgia nele, quando ele desmaiasse ela teria tempo para pensar no que fazer.


Ela abriu a gaveta do armário da cozinha e pegou a tesoura, logo seguiu para o banheiro onde pegou a pinça, lavou-a assim como a tesoura e suas mãos.


Quando voltou para o quarto, o lençol da cama já estava muito sujo de sangue, o que significaria que ele já estava ficando fraco. Ela poderia deixa-lo morrer ali, mas ela não tinha um coração tão frio assim.


- Eu preciso que você me ajude. - Ela disse quando voltou para o quarto. - Vai ser algo bem simples, porém doloroso.
- Eu não me importo, apenas faça isso logo!
- Tudo bem.- Ela concordou.


Enfim ela começou a fazer o procedimento, com a falta dos materias adequados, ela usou a tesoura como uma espécie de alargador. Ela enfiou a ponta da tesoura cuidadosamente dentro da feria e começou a abri-la devagar.


Os gritos de Carl ecoavam por toda a casa.


Ela conseguiu enxergar a bala, o buraco não era tão profundo, mas ela precisaria abrir mais a tesoura para que pudesse "pescá-la" com a pinça.


- Eu preciso que você me ajude. - Ela disse pegando a mão direita dele. - Eu preciso que você segure a tesoura nesta posição, sem mexe-la nem um centimetro, entendeu?
- Tá, anda logo.-Ele disse segurando a tesoura.


Ela pegou a pinça e a enfiou no ferimento, começou a fazer movimentos leves para abrir mais a ferida para poder chegar até o ponto exato de onde estava a bala, quando ela estava quase a alcançando, Carl largou a tesoura.


Era isso, essa era sua grande chance, ele já havia perdido muito sangue e acabou desmaiando.


Ela precisou pensar com cautela sobre o que faria a seguir.


Ela poderia procurar a chave da casa e tentar fugir, mas ela sabia que deveriam haver "guardas" vigiando a casa, foi então que se lembrou de seu telefone.


"Eu não posso fazer nada errado, não posso perder essa chance."


Ela sabia que esse desmaio de Carl não levaria muito tempo para terminar e logo ele acordaria, então para que ele não desconfiasse de nada quando acordasse ela resolveu terminar a pequena cirurgia.


Ela enfiou a pinça de qualquer maneira, ele já estava desmaiado, não sentiria a dor, "pescou" a bala e a puxou de uma vez. Com a bala finalmente fora do ferimento, ela pode dar os pontos, pontos nos quais ela deu rapidamente e de qualquer jeito, ela precisava aproveitar o tempo que ainda tinha para procurar o telefone e pedir por socorro.
Só por garantia, antes de começar sua "caça ao tesouro" Lanie o algemou na cama.


Após algema-lo o primeiro local que Lanie procurou foi nos bolsos de sua calça, porém fora uma busca sem sucesso.


Ela partiu para sala, onde no velho móvel de madeira haviam várias gavetas, gavetas as quais poderiam estar escondendo seu telefone, porém, a busca também foi sem sucesso.


Após essas duas tentativas fracassadas Lanie procurou por toda a casa, retirou todas as almofadas do sofá, revirou todas as gavetas que haviam na casa e seus respectivos armários, porém nada havia encontrado. Até que finalmente lembrou-se de uma mensagem que Carl havia lhe enviado durante o período das ameaças:


"Você se lembra quando ficamos noivos? A primeira coisa que compramos foi uma mesa de madeira, eu nunca joguei aquela mesa fora, toda vez que olho para ela me lembro de você. Faça a escolha correta, Lanie. Pense na minha proposta."


Só podia ser isso, a mesa. Onde mais ele guardaria algo dela?


Ela correu para a sala onde havia uma grande mesa de madeira, porém aquela não era a mesa que eles haviam comprado, ela precisaria se lembrar com precisão de cada detalhe daquele dia.


Foi ai que começou a fazer uma linha do tempo em sua cabeça, linha do tempo a qual a ajudou a se lembrar de uma floricultura que os dois haviam ido depois de comprar a mesa.


"Floricultura de Sant'Anna."


Era isso, só poderia ter algo a ver com a floricultura. Ela precisava pensar com calma, de que maneira a floricultura faria conexão com tudo isso, ela se sentou no sofá e começou a pensar.


Depois de alguns minutos cansada de pensar, ela se levantou para continuar a busca, ela não sabia mais o que fazer, não conseguia imaginar qualquer outra possibilidade... foi quando se virou e viu um quadro com a imagem de Santa Anna pendurado na parede.


Ela correu e retirou o quadro da parede.


Essa era a única relação que havia com aquele dia.


Quando retirou o quadro da parede, percebeu que na parte de trás do quadro havia uma espécie de "fundo falso", o quadro tinha um compartimento escondido, o qual ela abriu sem pestanejar.


Dentro deste compartimento, haviam documentos, cheques, um canivete e um celular. O celular não era o dela, mas de certa forma, já seria alguma coisa.


A felicidade dela por ter achado um telefone, era inexplicável, mas talvez fosse um pouco tarde demais, ela já conseguia ouvir barulhos vindo do quarto, ela precisava se apressar para arrumar toda a bagunça que tinha feito.


Ela escondeu o celular no meio de suas roupas e colocou o quadro no lugar, não só o quadro mas também todas as outras coisas que ela havia retirado.


Quando terminou de arrumar as coisas, correu para o quarto, pegou a chave da algema no bolso de Carl de maneira que ele não acordasse, destrancou a algema e a colocou novamente em seu bolso.


Ele continuava desmaiado, ela poderia aproveitar aquele momento para tentar contato com alguém.


Ela voltou para a sala, retirou o celular de meio das suas roupas e tentou ligar para Esposito, porém não conseguiu falar com ele, quando se preparou para discar o número de Beckett ouviu o barulho de Carl acordando e se levantando, ela rapidamente escondeu o telefone no meio de suas roupas novamente.


- Lanie?! - Ouviu-se uma voz raivosa vindo do quarto. - Cadê você?!
- Estou na sala. - Ela respondeu.
- Você é muito inteligente, doutora. - Ele disse indo para sala e se sentando do lado dela. - Não tentou fazer nada estúpido... muito bem.
- Eu não quero que você machuque o Javi. - Ela disse secamente, sem dar muita confiança a ele.
- Não vou fazer nada contra ele se você continuar se comportando direitinho. - Ele disse colocando sua mão no rosto dela.
- Eu vou ao banheiro. -Ela disse empurrando a mão dele com força e se levantando.
- Vá e quando voltar vá direto para o quarto, não pense que eu esqueci da sua algema.


Ela o olhou com vontade de vomitar e se dirigiu até o banheiro.


Quando chegou no banheiro, seu estômago embrulhou e ela vomitou. Não sabia se era por causa da gravidez, ou do nojo por ele ter encostado nela.


"Tudo vai ficar bem, nós vamos ficar bem..." Ela pensou enquanto acariciava sua barriga que ainda era pequena, quase não se percebia.
Ela lavou o rosto e se retirou para o quarto.


- Você vomitou? - Ele perguntou quando a viu passar. - O que está acontecendo?
- Eu estou fraca, não como nada durante muito tempo... isso sempre acontece quando fico muito tempo sem comer. - Ela mentiu, ele não podia nem desconfiar que ela estava grávida.
- Vamos... - Ele se levantou e foi em direção e ela. - Entre.
Eles entraram no quarto, mais uma vez ele a algemou.
- Eu tenho que ir resolver umas coisas, quando eu voltar trago algo para você comer.


Ela apenas o fitou por um momento, com raiva nos olhos, ela não acreditava que ele estava fazendo isso com ela, há alguns anos atrás ela não seria capaz de acreditar que ele era capaz de fazer algo como isto.


- O que foi? - Ele a encarou. - Quer um beijo de despedida? - Disse sarcástico e se aproximando dela para beijá-la.
- Não! - Ela virou a cara. - Por que você está fazendo isso comigo?
- Adoraria falar sobre isso, mas já estou atrasado para meu compromisso. - Ele apontou para o pulso como se tivesse um relógio ali. - Até mais tarde. - Disse se retirando.


Lanie esperou apenas o barulho do bater da porta da sala e o motor do carro ligando para pegar o telefone.


Com um pouco de dificuldade, e uma mão só Lanie conseguiu alcançar o telefone, a bateria já estava no vermelho, se ela fizesse uma ligação, caíria antes que fosse possível rastrear o número, sua única chance era mandar uma mensagem, era a única coisa que a bateria TALVEZ aguentasse.


Ela resolveu escrever apenas coisas que ajudariam a localizá-la.


"Carl Gonzáles/ Sítio da família / Presa / Socorro"


Direcionou a mensagem para o número de Javi e apertou "enviar", o telefone desligou quando ainda aparecia no visor escrito "enviando mensagem", não deu tempo de ver se a mensagem havia sido enviada, só restava cruzar os dedos e torcer para que sim.