Secrets

Capítulo 4 - A dor precisa ser sentida


O relógio despertou. Eram 7 da manhã e Marinette só havia dormido 1 hora durante toda a noite. Depois de olhar as estrelas e refletir, seu peito ficou apertado e seu coração se encheu de tristeza, ela sentia que poderia explodir. A tristeza, virou arrependimento que se transformou em angústia em seu peito e se tornou uma onda de dor que percorreu todo o seu corpo.

Ela odiava chorar perto de sua kwami, não queria preocupa-la, porém se não o fizesse correria o risco de desabar na escola e aquilo estava fora de cogitação. Então sem pensar nas consequências, ela se entregou às suas emoções e chorou, chorou quase que a noite toda. Era cerca de 4:30 quando tentou dormir, mas por conta de um pesadelo, ela não conseguiu.

O pesadelo consistia em Hawk Moth libertando seu akuma, enquanto Chat Noir e Ladybug tentavam salvar alguém do ataque do akumatizado. Ela não se lembrava quem era que precisava ser salvo, mas sentia que conhecia essa pessoa. Como se fossem bem próximos. E então os dois não conseguiram salvar ela e tudo se transformou em uma nuvem negra. Ela estava sozinha em um quarto escuro, de repente Chat Noir apareceu com um tom ameaçador: "O que você pensa em fazer agora, pequena joaninha?" Ladybug gritava e clamava por socorro. Aí então apareceu o próprio Hawk Moth e disse "Entregue-me o seu Miraculous ou todos que você ama vão pagar pelo seu erro. E você não quer isso, não é Marinette?" ele sorriu de uma forma ameaçadora e ela viu na pouca luz que havia, a figura de seus pais.

Marinette acordou gritando, ensopada de suor e com lágrimas por todo seu rosto. Sua mãe foi até seu quarto e perguntou se estava tudo bem, ela então disse que sim, que só havia sido um pesadelo horrível, então sua mãe lhe deu um beijo na testa e foi se deitar. Marinette não dormiu depois disso.

Tikki fingia dormir, mas seu coração também estava cheio de dor, e não era só por sua amiga estar chorando ou pela sua briga com o Chat Noir, ela estava guardando um segredo muito profundo que poderia levar na morte da sua amiga humana. Isso a deixava com o coração na mão, pois uma hora seria necessário ela saber a verdade. E quando isso acontecesse sua vida mudaria para sempre.

Mar (apelido carinhoso com que Alya começou a se dirigir a Marinette) se levantou de sua cama e foi fazer suas higienes pessoais. E após isso foi tomar um café preto bem forte, pois só assim poderia sobreviver aos dois períodos de aula do colégio e de quebra ainda teria que entregar o trabalho de história. Ela esperava e rezava que o dia passasse sem um sinal de akuma, pois ela não estaria apta para lidar com isso. Tanto fisica quanto emocionalmente. Não hoje.

Antes de sair de casa para ir à escola, Marinette deu um beijo em seus pais que repararam que ela não havia dormido direito e que não estava muito bem, porém não falaram nada. Marinette conseguiu sair de casa 40 minutos antes das aulas começarem, isso dava uma vantagem de 7 minutos na sala de aula para uma cochilada básica. Chegando na sala, foi recepcionada da melhor forma possível por sua melhor amiga Alya.

— Amiga! - ela exclamou fingindo estar assustada - O que houve contigo mulher?! O caminhão passou por cima de você? - e começou a rir.

— Ha ha ha - Marinette disse de uma maneira monotona. - Engraçadinha.

— Mas agora é sério amiga... - começou Alya, mas parou ao olhar melhor para o rosto de sua amiga - tá tudo bem? - perguntou preocupada.

— Erh... tá... tá tudo bem sim amiga - disse ela controlando a voz para não deixar escapar o desespero que ela sentia. - é só... sono... não consegui dormir direito. - suspirou ela com algumas lágrimas nos olhos. Percebendo isso, ela abaixou a cabeça e a colocou entre os braços cruzados e abaixou a cabeça em sua carteira.

— Tudo bem amiga. - disse Alya. Eu não vou desistir, pensou ela.

Em seguida a ruiva pegou Marinette de qualquer jeito e a abraçou. A garota não conseguiu conter a angústia e o desespero que sentia, a jovem precisava liberar e tirar de sua alma esse peso. Então rompeu em lágrimas e desatou a chorar, logo o choro se transformou em soluços e Marinette ficou ali, agarrada ao lado de sua melhor amiga. No conforto de seu abraço. Até que o momento fofo acabou. O sinal bateu. Ela rapidamente se retirou do abraço de Alya e enxugou as lágrimas, pegou seu espelhinho para saber se estava tudo bem com seu rosto e agiu como se nada tivesse acontecido.

— Você vai ter que me explicar isso mocinha. - disse Alya se referindo ao choro. - Eu sabia que não era sono. - murmurou.

— Depois... tá bem? - cochicou Mari, reprimindo um soluço. Passado um tempo depois que a professora havia chegado, 15 mimutos para ser exata, o jovem Adrien Agreste adentrou a sala. Contudo ele não estava como sempre, ele estava com os cabelos bagunçados, os olhos cheios de olheiras e o rosto inchado como se tivesse chorado a noite toda - assim como ela.


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Eram 4:20 da manhã, quando Adrien estava cansado de ficar em casa. Precisava afastar os pensamentos que o atormentavam, por isso acordou Plagg. O kwami olhou sabendo o que o jovem iria fazer, mas não fez qualquer objeção e então o garoto proferiu as palavras "Plagg, mostrar as garras" sem nenhuma emoção na voz. Enquanto seu corpo ficava cheio da energia e poder do seu Miraculous, Adrien agora era Chat Noir. Saiu de seu quarto. Sem rumo, Chat só queria fugir e ter a sensação do vento em seu rosto e da corrida que o deixava mais tranquilo. Ao chegar à Torre Eiffel, ele subiu ao ponto mais alto e ficou olhando tudo lá de cima.

— Como tudo é pequeno aqui de cima - pensou alto. - eu poderia ficar aqui para sempre... - continuou ele satisfeito, sentindo a brisa da noite quando algo o interrompeu. Um bipe. Cinco minutos para se transformar de volta. - Eu preciso ir, não é? - perguntou sussurando para o nada. Então fez seu caminho de volta pra casa.

Ao chegar em seu quarto, seu tempo havia acabado e Plagg automaticamente se pôs a dormir. Eram 5:50 da manhã. E Adrien não conseguiu dormir. Seus sentimentos estavam a flor da pele, ele precisava liberá-los e o único jeito era se entregando. E foi isso que ele fez e começou a chorar.

No início foi apenas um chorinho, mas ao passar do tempo, ele foi se lembrando de tudo o que havia acontecido nos últimos tempos. Sua mãe desaparecida. O afastamento de seu pai. A solidão em que ele estava preso. Agora a briga com Ladybug, que o fez perder mais uma pessoa. Isso o deixou abalado demais, o que ocasionou em uma piora no seu estado de depressão. E nesta noite, ele estava tendo uma recaída. Sabia disso. Mas como poderia evitar?!

Seu relógio despertara. Nele marcavam 7:30 da manhã e ele não havia pregado o olho. Ele levantou da cama e ao fazê-lo olhou para Plagg que ainda estava dormindo - ou ele achava que estava. O kwami também não pregou o olho, pois estava preocupado com as perguntas do menino e principalmente com as respostas dessas perguntas. O louro suspirou e foi ao banheiro fazer suas necessidades pessoais, na esperança de que quando tudo estiver terminado, ele pudesse conversar um pouco com seu amigo, Plagg. Ao terminar, ele avistou seu amigo em cima da cama, acordado, mas não completamente. Como se ele não tivesse dormido a noite toda também.

— Plagg? - chamou Adrien meio receoso.

— Fala menino, mas quero meu queijo primeiro. - disse ele dando um pequeno sorriso que era encorajador e dizia que estava tudo bem com os dois.

— Plagg... vamos falar um poquinho sério agora, tá bem? - começou ele e acrescentou um pedido - E não me interrompa por favor, ok? - e ao ver que o kwami assentiu, ele continuou - Plagg, eu queria te pedir desculpas por ontem. Eu estava muito chateado e cansado disso tudo, as vezes tem coisas que apesar do tempo que passam, nós não conseguimos superar... e ontem eu estava assim, estava cansado, triste, sozinho, abandonado, eu sei que eu poderia ter falado com você. Eu sei que você me ama, do seu jeito, mas me ama; mas o problema é que eu não poderia te preocupar e deixar isso me afetar como Chat Noir. E peço desculpas por hoje de madrugada também, eu sei que não poderia abusar dos meus poderes... mas se eu não o fizesse, poderia explodir. Enquanto eu estava vagando pelas ruas de Paris, eu estava pensando... pensando no quanto nossa relação amadureceu nesse tempo, sabe. Eu não te vejo mais como um kwami, Plagg, te vejo como um amigo, um amigo que eu amo muito. Então... o que eu quero dizer é: me desculpa. Por tudo. - disse ele abaixando a cabeça.

— Tudo bem, cara - disse Plagg voando em direção a ele, afagando seu ombro - eu também preciso pedir desculpas... ontem eu fiquei pasmo quando você desejou que um akuma assolasse a cidade. Isso não é certo, mas eu te entendo. Adrien, eu também gosto muito de você, mas tu precisa entender que precisa estar inteiro. Adrien, você sabe que eu te amo, eu demonstro do meu jeito e sinto muito se não é um dos mais legais possíveis, mas é que... - Plagg perdeu a fala.

— Tá tudo bem, Plagg. - disse Adrien dando um abraço meio desajeitado em Plagg. - Agora vamos que precisamos chegar à escola.