Secrets

Capítulo 16 - Uma visita inesperada


Os estrondos da luta chegavam à casa Dupain-Cheng. Todos os membros que estavam dentro dela, se encontravam apreensivos, preocupados com o que estava acontecendo do lado de fora. Especialmente com as duas meninas que estavam à caminho de casa e no momento da confusão se perderam; e os pais de uma delas não a encontrou mais.

Eles estavam incapacitados. Não podiam sair de suas casas. Os heróis de Paris já haviam passado a ordem, de que, assim que houvesse uma confusão generalizada gerada por um akumatizado, todos as pessoas que estiverem na cidade não poderiam sair de suas casas ou estabelecimentos no qual estiverem.

Após cerca de 40 minutos do estrondo que ouviram pelo lado de fora, eles ouviram o som do silêncio. Tudo estava quieto. As três pessoas que se encontravam dentro daquela casa, se entreolharam apreensivas, até que ao longe ouviu-se um grito.

Era um grito cheio de dor.

Espero que não tenha acontecido uma tragédia, pensou Sabine Dupain-Cheng.

Cerca de 10 minutos após o grito, tudo voltara ao normal, aparentemente. Vendo isso a tranquilidade do lado de fora, Sabine, decidira sair para buscar sua filha e Alya que se perderam no meio daquela confusão.

— Querida, elas estão vindo! - gritou Dupain para sua amada.

— Graças ao universo. - a chinesa agradeceu baixinho.

O elemento estranho a casa fora à espreita da janela, e a viu. A azulada estava mancando.

Eu sabia.

Todos da casa estavam ansiosos, esperando a chegada da menina. Os pais da jovem se afastaram, para que a senhora pudesse abrir a porta e dar o tão esperado abraço em sua menina.

— Que saudade que eu estava de você, minha pequenina! - disse a senhora com os olhos marejados e abraçando Marinette de uma forma acalorada.

— Mémé?!¹ - Marinette primeiro se pôs em estado de choque. Havia anos que não via sua avó.

Elizabeth Cheng é mãe de Sabine, que por sua vez, é mãe de Marinette.

Elizabeth, ou Beth, embora tivesse seus 75 anos, parecia mais uma senhora de 50 anos. Além de sua aparência jovial, seu porte físico também indicava que ela havia feito algum esporte durante sua vida. Seus cabelos eram de um preto grisalho, sendo complementado por diversos fios brancos, devido a idade avançada. Havia muito tempo que Beth não visitava a casa da família Dupain-Cheng, na realidade, era a família que visitava a senhora na China, seu país de origem.

Depois da informação chegar ao seu cérebro, ela irrompeu em um choro coberto por soluços e desespero.

A garota abraçava muito forte sua querida avozinha. Enquanto a pequena matava a saudade de sua avó, uma torrente de lembranças invadiram sua memória, o que a confundia acerca do que era e o que não era real.

Tinha lampejos de Scott e o que havia feito com ela, Adrien a rejeitando, Tikki a consolando, o olhar de dor de Chat Noir após a luta do dia de hoje, como ele se mostrara muito leal ao ajudá-la... Tudo se misturou entre lampejos e flashbacks na mente dela.

Marinette ainda nos braços de sua avó, soltou-se de seu abraço e se encolheu. Sua respiração estando irregular.

A menina sabia que precisava ir pro seu quarto. Caso não fosse, poderia desabar ali mesmo. Ela afastou-se de sua avó e subiu as escadas em direção ao quarto em prantos.

Os pais da menina se entreolharam, seus olhares carregados de significados. Somente uma pessoa teria esse efeito dela, eles sabiam disso, já que já tinham presenciado isso antes.

— Scott - disseram em uníssono.

— Como vocês... - Alya se perguntou alto - desculpe a minha intromissão. - se desculpando rapidamente ao ver que falara alto.

— Minha querida, conhecemos notre trésor² como a palma de nossas mãos. - Sabine pegou as mãos de Alya. - Alya, você poderia nos explicar o que houve?! - A responsável virou-se para a avó. - Mamãe, você poderia, por favor, tentar conversar com a Marinette? Acho que ela precisa de você neste momento. Não se preocupe, ela vai lhe explicar quem é Scott e o porquê isso a afeta tanto.

— Senhora Cheng - chamou Alya, fazendo Elizabeth virar-se à ela. -, a Marinette lhe ama muito, ela estava ansiosa para sua chegada, até íamos realizar uma festa surpresa em comemoração de sua chegada.

— Eu imagino que sim, minha filha. - dissera a avó, olhando em direção ao quarto de Marinette.

A senhora subiu em direção ao quarto de Marinette e bateu no alçapão antes de entrar.

— Quem é?! - perguntou Marinette com a voz embargada do choro.

— Sou eu, minha filha, posso entrar?

— C-claro que pode, vovó. - respondeu Marinette, enquanto encolhia-se em sua cama, como se pudesse diminuir um pouco da dor que estava sentindo.

— Filha... Vem aqui com a vó. - então Beth abriu os braços, e Marinette correu para seus braços e desatou a chorar novamente.

Entretanto, este choro era uma mistura de tristeza por tudo o que havia acontecido desde que ela brigara com Chat Noir, saudades de sua avó que não via a tantos anos, impotência pelo fato de ter sido afetada pela luta a ponto de desmaiar, felicidade por estar nos braços de sua avó novamente, e também de dor no tórax onde fora acertada em cheio pelo akumatizado.

— Quer me explicar o motivo desse choro? - questionou pegando a mão de sua neta e a acariciando.

— Um garoto... - fungou a azulada - o nome dele é Scott... - e passou a contar quase toda a história.

— E ele ainda é importante para você, não é querida? Porque se não fosse, você não estaria tão afetada. Já parou para pensar se realmente se importa tanto quanto está demonstrando? Eu posso lhe afirmar, com todas as letras, de que você não pode ficar chorando por um cara como ele e mais, você precisa falar com ele, para que te explique o que houve e porque ele mudou de comportamento de maneira tão drástica.

— Vovó, não quero falar com ele, sabe?! E também, confesso que o choro não foi somente por causa disso.

— Você sabe que pode contar o que aflige seu coração pra vovozinha, eu posso ser velhota, mas ainda estou viva, não estou? - Do quarto não se ouvia nada, de repente a azulada que antes estava chorando, rompeu-se em risadas inocentes. - Nalinha, Nalinha, lembra de quando eu te chamava assim?!

— Claro que me lembro, você me dizia que quando perguntaram meu nome eu dizia que era Nalinete, mas como eu sempre fui muito pequenina, vocês disseram que eu fala Nalinha.

— Filha, eu preciso descansar, e você também... Tente dormir, a noite é uma criança e você também. Boa noite, eu te amo.

— Boa noite, eu te amo.

A mais velha saiu do quarto de Marinette, e ao bater a porta, a azulada sentiu um vulto se aproximando dela.

— Marinette, precisamos conversar... - Tikki começou - e dessa vez, sem interrupções, nem devaneios.

— Diga, Tikki... - sibilou a menina, depois limpou a garganta com um pigarro demorado e elevou a voz. - Mas primeiro eu quero te pedir desculpas por não ter ido à casa do Mestre Fu, por não ter te ouvido enquanto você tentou falar... Enfim, eu prometo que agora vamos conversar... E para começar essa conversa eu quero saber o porquê eu estou nesse estado. - A garota levantou a camiseta que vestia e apontou para diversas marcas em um tom de roxo, do mais claro ao mais escuro, variando conforme a data das batalhas que enfrentara como Ladybug. A marca que estivera com um maior tom de roxo é da batalha mais recente.

— Marinette, vou responder suas perguntas, mas eu preciso te contar uma coisa antes... - começou a pequena kwami, em um sussurro. - Está na hora de você saber a verdade. Mas por favor não fique brava comigo.

— Ei, eu não vou ficar brava com você, Tikki. - respondeu a azulada, um pouco insegura, mas tentando ao máximo não demonstrar à pequena.

— Marinette, tudo é energia. Absolutamente tudo. Uma junção de energias traz algo sólido.

"A melhor metáfora ou analogia, como queira chamar, que eu posso fazer é a água. A água em sua forma líquida é visível, em sua forma sólida é visível, mas em sua forma gasosa ela somente é partículas se esvaindo e se juntando ao oxigênio e as outras coisas que estão a nossa volta.

Tudo no universo é energia. E esta energia vibra de uma maneira muito forte, o que faz com que não seja palpável e que não seja visto, mas está lá e esse é o "x" da questão, que, por mais que a sua mão aparente ser sólida, são partículas de partículas que se juntam e a junção dessas, fazem com que as vibrações dessas energias se reduzam, o que faz com que elas aparentem uma forma "sólida"."

— Nossa Tikki, mas o que isso pode ter a ver comigo? Ou com tudo o que está acontecendo?

— Mari, eu preciso te explicar isso primeiro, para que entenda o que virá a seguir. Por isso seu encontro com o Mestre Fu é tão importante, por isso precisamos do livro... Este livro tem muito mais coisas do que imagina, e as proporções disso podem afetar diretamente o mundo como o conhecemos hoje.

"Essa energia é o que nos move. A energia do nosso corpo tem vários aspectos, vou te mostrar apenas um deles e o mais importantes para lhe explicar exatamente o que está havendo.

Assim como todo polo, seja ele magnético ou não, se divide em dois, inclusive nosso corpo. Os polos geralmente são o positivo e o negativo, o ideal são eles caminharem juntos, mas sabemos que os polos não conseguem estar sintonizados na mesma vibração todo o tempo, e isso ocasiona o que vimos hoje.

Mari, tudo aquilo que aconteceu na luta, foi afetado diretamente por suas emoções... Não que elas estivessem negativas a ponto do Hawk Moth se apossar de você, mas estavam negativas o suficiente para que esse equilíbrio ou a sintonia das vibrações de suas energias estivessem mais para o polo negativo do que para o positivo e isso te atrapalhou na sua luta. Você realmente precisa se equilibrar Marinette, seu corpo e sua mente precisam trabalhar juntos e sua energia precisa ser equilibrada e canalizada."

— Tudo bem, Tikki, estou entendendo... Mas... O que eu não consigo entender são estas marcas. - disse ela confusa e apontando para as marcas que ela havia mostrado anteriormente. - Isso tem algo a ver com... - então ela parou quando sua kwami se afastou dela e começou a se encolher e a sacudir os ombros como se estivesse chorando. - Tikki? - sondou ela lentamente, enquanto se levantava e ia até a pequenina. - Tikki, o que houve? Porque está chorando? Ei, está tudo bem. Não precisa chorar... Me explique, eu prometo que não vai acontecer nada...

— Marinette, e-eu deveria t-ter te contado a-antes... E-eu n-não achava que o Hawk Moth pudesse ficar mais p-poderoso ag-gora, sabe? Me desculpe, Marinette... Eu sabia disso o tempo todo e não te contei.

— Tikki, você está me fazendo ficar preocupada, por favor, se acalme e me diga o que é.

— Está bem, mas por favor, eu só estava tentando te proteger.

"Como você já deve imaginar, Hawk Moth ficou mais forte... E isso não significa que seus poderes estão mais fracos, mas há um problema nesta elevação de poderes do Hawk Moth, uma vez que ele nunca teve tanto poder em suas mãos antes. Você não reparava, por que os poderes dele aumentavam de forma gradativa, mas sua energia vital está sendo sugada.

A energia vital, que é a mesma que eu estava falando dos polos, é extremamente importante para o físico e emocional, e como eu disse, se os polos não estiverem equilibrados, podem acontecer coisas horríveis e você pode acabar por perder as forças. Por isso, cada vez que você neutraliza um akuma do mal, sua energia é canalizada com ele, ou seja, ao mesmo tempo que você o neutraliza, você precisa utilizar-se de sua energia e a dispor para isso."

— Mas... Tikki, eu não entendo, porque isso me afeta enquanto Marinette?! Eu achava que os poderes da Ladybug que neutralizavam o akuma e a energia do miraculous que era utilizada para tal...

— Não Mari... Não é bem assim que acontece... Os miraculous dão os poderes especiais aos portadores, mas toda a carga de neutralização de akumas fica a encargo do próprio portador, no caso, você. Por isso na luta de hoje você desmaiou e passou mal, porque você estava fraca e vulnerável, tanto fisica quanto emocionalmente... Por isso você está com todos esses hematomas no corpo.

Toda vez que você dispõe sua energia em prol da neutralização de um akuma do mal, uma parte de sua energia se esvai... E..."

— E um dia eu posso acabar morrendo em uma luta... - A garota não precisava olhar para sua pequena amiguinha para ter a confirmação do medo que sentia. - Então isso quer dizer que eu terei de achar o Hawk Moth antes que isso me aconteça.

— Marinette! Não! - exclamou assustada com a reação de sua amiga humana.

— Tikki, eu não posso ficar aqui de braços cruzados, sabendo que eu posso morrer e que eu não sei nem se poderei completar a minha missão de salvar Paris antes. - virou-se finalmente para sua amiga e completou. - Tikki, o dia foi muito cheio, eu preciso dormir, assimilar tudo isso... Boa noite, Tikki.

— Boa noite, Marinette.

Era pouco mais de 2:50 da manhã em Paris. Não havia mais ninguém nas ruas. Os comércios estavam fechados. A cidade das luzes estava escurecida, tomada pelo negro, exceto pelas luzes das próprias lamparinas publicas.

Nessa cidade, havia uma garota, que depois de sofrer tantas emoções e ouvir tantas coisas em um dia, não conseguia dormir. Tinha pesadelos. Alguns envolviam o encontro com seu maior inimigo, Hawk Moth. Outros envolviam seus amigos, seus pais, a sua própria morte.

Após sonhar que Chat Noir morria em uma batalha para tentar salvá-la de cair no abismo, a jovem cansou-se de tentar dormir e foi à varanda para observar a Torre Eiffel em sua forma mais pura e bela, sem as luzes diretas do Sol e sem toda aquelas pessoas em cima dela.

Será que eu tomei a decisão certa em ser a Ladybug? Será que sou a Ladybug que todos esperam? Será que morrerei em apenas mais uma batalha ou na própria guerra? Dispersa em seus pensamentos, Marinette tampouco reparou quando um vulto preto passou e pousou suavemente no parapeito da varanda.

— Hey...

— Marinette estava tão absorta em seus pensamentos, que não estava prestando atenção no que ocorria ao redor. Ao ouvir o gato, a garota tomou um belo susto.

— Ai! - Exclamou Marinette ao dar um pulo e colocar uma das mãos instintivamente em seu peito, na região do coração. - Que susto, Chat Noir. O que faz aqui?

— Você estava chorando, não estava? - ignorou a pergunta da azulada, erguendo seu braço e tocando o rosto da menina com o polegar para secar as lágrimas da garota que tampouco havia percebido que havia derramado.

— Porque você veio? - Questionou com uma voz mais pesada, carregada, como se tivesse um muro entre o gatuno e ela.

— Eu estava esperando a Ladybug para fazermos a ronda noturna, mas ela não apareceu. Então eu vi uma iluminação muito forte vindo daqui, e como sou um super-herói e ao considerar que são quase três e meia da madrugada, eu deduzi que poderia ter uma purrrrrrrrincesa precisando de ajuda.

— Só você mesmo, Chat Noir, para me fazer rir em uma hora dessas. - Marinette estava corada, enquanto ria timidamente, ela lembrou-se do porquê estava naquela varanda e seu semblante descontraído de antes, pôs-se ao lugar uma feição dura, para logo em seguida, voltar à tristeza anterior.

— Marinette, não é? - O gato preto levantou os olhos e olhou para a menina, a mesma assentiu. - Olha... O que houve com você? Você não me parece o tipo de pessoa que se abala por qualquer coisa, acho que para deixar uma garota como você nesse estado é necessário muita maldade e crueldade... - Então, com um movimento rápido, Chat Noir pegou o rosto de Marinette e o aproximou ao dele. Estavam tão próximos que poderiam sentir a respiração um do outro.

Marinette estava estática. Não conseguia mover um musculo de seu corpo. A proximidade com que estava daquele gato preto, a fez querer recuar por puro instinto. E foi o que ela fez.

— D-desculp-pe Marinette, e-eu não sei o que deu em mim... - Chat Noir estava mesmo arrependido.

— Chat Noir, eu realmente preciso dormir. Hoje o dia foi... Intenso... Para dizer o mínimo. E eu tenho aula amanhã cedo. - A garota das marias-chiquinhas virou-se e adentrou a claraboia em silêncio, deixando o gato ao relento.

Chat Noir estava nervoso. Não fora a intenção dele fazer isso. Não sabia o que havia acontecido e por quê havia acontecido. Agora não era mais tempo de procurar por respostas ou se arrepender do que havia passado ali.

Faltavam poucas horas para o amanhecer.

E como ela dissera, amanhã eles precisavam ir à aula.