Bom, mas vamos aos acontecimentos desde o início. Para isso, temos que voltar no tempo há exatos quatro anos atrás. Ivy estava com vinte de idade nessa época. Ela morava na Irlanda, país do qual nasceu, junto com seus pais, numa fazenda humilde, localizada zona rural da cidade de Dublin.

Sua mãe, Mirella, era costureira e seu pai, Liam, trabalhava numa indústria da cidade, transportando mercadorias nas redondezas da cidade. Como o que ambos ganhavam, eles não conseguiam pagar todas as contas da casa, e por isso, Ivy também ajudava no orçamento da família. Ela era garçonete num resort de luxo na beira da praia de Killiney Beach.

E foi através desse emprego, que ela conheceu o milionário Adam Mayvic, de 41 anos. Ele se hospedava no local, pois estava no país à negócios. Sua empresa tem filiais espalhadas pelo mundo todo.

Sentado em um dos quiosques, de frente para o mar, aguardava ser atendido. Até que ela apareceu.

— Pois não, senhor? Em que posso ajudá-lo?

Ao virar seus olhos para encará-la, ele ficou admirado com tamanha beleza. Ivy é alta, magra, olhos azuis e cabelos negros. Além de, é claro, possuir um sorriso encantador.

— Uma dose de Glenfarclas 1955, - diz, com um sotaque inglês. - por favor senhorita... – olha o nome em seu crachá. – Ivy Louise. – sorri e ela retribui.

— Pois não! – sai em seguida.

Adam acompanha com os olhos ela ir até o balcão pegar o pedido. E foi a partir desse momento, que ele ficou encantado com a moça. Para todo lado que ela ia, não conseguia desviar o olhar um segundo sequer.

— Aqui está, senhor...

— Adam, Adam Mayvic. Muito prazer. – estendeu a mão e ela o cumprimentou, sorrindo.

— Deseja mais alguma coisa?

— Por enquanto não, obrigado.

— Com licença.

Ele ficou no local por mais algum tempo, até que pagou a conta e foi até o balcão, procurar o gerente do bar. Ele queria saber tudo sobre a moça. Quem ela era, onde morava... Todas as referências possíveis. E lógico, para agradar um milionário, o gerente disse tudo.

A partir daí, ele desmarcou seus compromissos e passou a seguir os seus passos. Descobriu onde ela morava, a profissão de seus pais e toda a vida humilde que levava com a família em Dublin. Ficou no resort por mais alguns dias, sempre sentando na mesma mesa, para ser atendido por Ivy e tentar se aproximar dela cada vez mais...

Passou a ficar obcecado. Queria que ela fosse sua de qualquer jeito e começou a investir. Dava gorjetas altas a ela e mandava flores e presentes caros em sua casa, praticamente todos os dias, até que a chamou para sair... A garçonete começou a ficar sem jeito com as atitudes do empresário.

— Ivy! Por favor. – ele a chamou até a mesa.

— Pois não? – ela chegou, pronta para atendê-lo.

— Queria saber se aceita meu pedido, que lhe enviei hoje de manhã junto com as flores...

— Senhor Adam, eu queria lhe agradecer... Mas eu saio muito tarde do resort e ainda preciso ajudar minha mãe em casa e...

— Não tem importância, eu espero. – a corta. - Minhas intenções com você são as melhores possíveis, Ivy... Pode ter certeza disso.

— Eu sei, o senhor sempre foi muito gentil e generoso comigo... É que... – ela diz sem o olhar. – Eu não quero lhe dar falsas esperanças. Me desculpe, mas não posso aceitar. Inclusive preciso devolver os presentes que me deu.

— Não, eles são seus. Não aceito devolução...

— Mas eu... - Ela ouve o chamado de uma mesa. – Preciso atendê-los, com licença. – sai em seguida.

Ivy não queria se envolver com ele. Era um cara bonito, mas não fazia seu perfil. Além do mais, ele vivia num mudo que ela sabia que jamais se encaixaria. Queria se relacionar com alguém por amor e não por pura pressão, como ele estava fazendo.

Adam continuou investindo por mais um tempo, sem sucesso, até que foi embora da Irlanda.

***

Três meses depois, Ivy estava na cozinha do restaurante do resort, quando Rian, um colega de trabalho, chega perto dela.

— Ivy, telefone para você. – a entrega. – É do hospital.

— Hospital? – pergunta e põe o aparelho no ouvido. - Alô?

— Ivy Louise?

— Sim, sou eu. Em que posso ajudar?

— Por favor, venha até o hospital St. Patrick. Seu pai sofreu um acidente.

— O que? – ela se desespera. - Meu Deus! Estou indo agora mesmo! – desliga o telefone e vai até o gerente, pedir para sair.

Sem nem ao menos trocar de roupa, foi direto ao local. Chegando lá, deu de cara com sua mãe na recepção, que parecia estar suja de cinzas.

— Mãe, o que houve? Por que a senhora está assim? E o pai?

Nossa casa pegou fogo, Ivy... – ela chora. - Não sei o que aconteceu, os bombeiros suspeitam de um vazamento de gás... Perdemos tudo! Avisaram seu pai, e no caminho até lá, ele sofreu um acidente e agora está na sala de cirurgia...

— Mãe... – a abraça e também começa a chorar. – Isso não pode estar acontecendo...

— Os médicos disseram que ele lesionou a coluna... Temo pela vida do Liam.

— Vai dar tudo certo, tenho certeza! Deus está do nosso lado, como sempre esteve.

Algum tempo depois que as duas aguardavam na recepção, o médico veio dar notícias de como o paciente estava.

— Como ele está, doutor?

— O senhor Liam teve uma lesão grave na coluna com a colisão do acidente e por isso houve uma infecção que causou lombalgia. Será necessário uma cirurgia, caso contrário ele pode ter uma disfunção cardiorrespiratória e pode vir a falecer. O alinhamento da coluna demanda a utilização de parafusos, ganchos, hastes e enxertos ósseos muito específicos, que infelizmente são muito caros...

— Caros quanto?

— No caso dele, que é delicado, pode chegar até a trezentos mil euros, porque as peças são artesanais e para cada osso existe um modelo específico... – ele faz uma pausa. - Vou deixar vocês conversarem. Quando ele acordar, peço a enfermeira para encaminhá-las até o quarto para visitação. Com licença.

— Nós não temos esse dinheiro, Ivy... – Mirella diz, desesperada. – O que faremos?

— Eu não sei... – responde, incrédula com o que acaba de ouvir do médico. – Será que não podemos pedir um empréstimo do banco?

— Com qual garantia? Perdemos a casa e tudo que havia dentro dela no incêndio.

A garçonete ficou desesperada. Estavam sem casa, sem dinheiro e o pior de tudo é que seu pai poderia morrer, caso não fosse submetido à cirurgia. Não sabia o que fazer.

Por sorte, uma vizinha amiga, chegou no hospital e ofereceu hospedagem à ela e sua mãe, já que não tinham para onde ir. Emprestou roupas à dona Mirella, que tomou um banho e foi passar a noite junto com o senhor Liam. Ele teria que ficar internado por mais cinco dias, em observação. Ivy avisou tudo que havia acontecido no seu local de trabalho e foi dispensada por alguns dias, para resolver a situação de sua família.

Dois dias depois, saindo da casa da vizinha para ir até o hospital, ver como seu pai estava, parou no ponto de ônibus, para esperar a condução, que estava atrasada. Até que um carro bonito, que passava na rua, estacionou em frente ao local onde estava. O vidro de trás se abaixou e ela pôde ver a figura conhecida: Adam.

— Posso lhe oferecer uma carona? – ele perguntou.

Como o ônibus demorava, ela resolveu aceitar e entrou no carro e contou onde ia. Ele, curioso, perguntou o que havia acontecido e ela contou tudo. O desespero ainda tomava conta e Ivy não conteve as lágrimas. Vendo isso, o empresário resolveu tomar uma atitude.

— Eu posso ajudar você e sua família, Ivy.

— Ajudar como? Nós não podemos pagá-lo...

— Case-se comigo e em troca eu dou uma residência nova para sua família e custeio todos os tratamentos necessários para que seu pai se recupere.

— Casar? – ela arregala os olhos.

— Sim. Nos casamos e você se mudará comigo para Los Angeles, onde moro.

— Mas eu não posso deixá-los aqui assim, nessa situação...

— Não se preocupe... Farei o possível para que eles tenham uma vida confortável aqui na Irlanda, mandarei dinheiro necessário para isso... E você poderá visita-los sempre que possível.

Ela mal podia acreditar na proposta que acabara de ouvir. Era completamente inesperada e inusitada. Mas ela não havia encontrado nenhuma outra escolha para salvar a vida de seu pai, a não ser essa e no fundo, sabia que não encontraria. E abriria mão de qualquer coisas para o bem dele e de sua mãe. Até de sua própria felicidade...

— E-eu preciso pensar nisso tudo... – disse.

— Será tudo mediado por um contrato, para você ter a certeza que manterei minha palavra. – ele reforça sua fala. – Estou indo embora em três dias, e queria receber uma resposta antes de minha partida, para que possa providenciar tudo o mais rápido possível.

— Tudo bem, antes disso lhe dou um parecer definitivo. Preciso ir...

— Aqui está meu cartão. – lhe entrega. - Me ligue e conversamos.

Ela pega e sai do carro, entrando direto no hospital. Ao vê-la, Mirella vem correndo em sua direção e a abraça.

— Como papai está?

— O médico acabou de me dizer que não há mais tempo, ele precisa fazer a cirurgia urgente. Eu já não sei mais o que fazer filha, tentei conseguir o dinheiro com o patrão do seu pai, mas ele disse que não podia emprestar uma quantia alta dessas....

— Mãe... Eu encontrei a solução.

As duas se sentam no café do hospital e Ivy conta tudo para a mãe sobre a proposta que recebeu de Adam. Era a única opção que elas tinham diante de toda a situação. Mirella ficou apreensiva pela filha, que abriria mão de viver sua vida, para se casar com alguém que não amava e mal conhecia.

— Não precisa se sacrificar assim por nós, minha filha! Daremos um outro jeito!

— Não há outro jeito, mamãe. Já estou decidida. Papai terá o tratamento necessário e poderei dar a vocês uma vida digna e muito melhor do que levávamos antes do incêndio.

E foi o que aconteceu. Ivy aceitou a proposta de Adam, que providenciou tudo o que havia prometido e os dois partiram rumo à Los Angeles.

***

No caminho rumo aos Estados Unidos, Adam explicou que os dois se casariam apenas no civil e que o motivo da união deveria ser obrigatoriamente mantido em sigilo por ambos, para que isso não comprometessem seus negócios e nem sua reputação.

O contrato foi assinado e os dois se casaram.

Ivy passou a se portar da maneira que Adam desejava, para que tudo corresse como planejado. Ela começou a ter aulas de etiqueta, e de idiomas. Deveria andar sempre bem vestida e com uma aparência impecável.

E foi a partir daí, senhoras e senhores, que euzinho, Ludovico, entrei na vida dessa mulher!

Eu trabalhava na época com produção de moda e catálogo de fotos. Como também vim de uma família pobre, eu aprendi a fazer várias coisas para chegar até aqui. Comecei sendo faxineiro de um salão de beleza, onde aprendi e aprimorei todos os dotes de manicure, cabeleireiro e maquiador que tenho hoje. Meu trabalho fez tanto sucesso que fui contratado por uma agência publicitária para produzir as campanhas. E, coincidentemente, a agência ia iria fazer uma sessão de fotos de Adam, na Mayvic Enterprises, como era chamada sua empresa, para uma revista dos Estados Unidos. E eu, estava dentre os nomes escalados para essa missão.

Durante as fotos, percebi que Adam não parava de me notar. Até achei que ele fosse gay também... Imagina só, um bonitão milionário desse dando moral para uma bicha pão-com-ovo que nem eu, seria meu sonho sim ou claro? Mas mantive meu profissionalismo, como bom e ótimo funcionário que sempre fui.

No fim da sessão, ele veio até mim. Eu estremeci com tanta beleza tão perto do meu corpinho e até parei o que estava fazendo...

— Seu nome é? – ele perguntou, sem rodeios.

— Ludovico Bertollini. – respondi prontamente, com um sorriso largo.

— Venha até minha sala em dez minutos. Preciso falar com você. – ele intima. Meu Jesus! O que será que esse home quer comigo?

E foi o que eu fiz. Fui me tremendo todo até a sala do todo poderoso, entrei e sentei-me na poltrona.

— Senhor Ludovico, pois bem... Te chamei aqui parar lhe fazer uma proposta. Eu me casei há seis meses... – ele começa. Meu coração despedaçou no momento que eu o ouvir dizer que era casado. – E a minha esposa fica muito sozinha. Queria saber se está interessado em trabalhar com exclusividade para mim... Você fará companhia para ela, lhe ajudará a se arrumar e a se produzir da forma como eu desejo em todas as ocasiões necessárias. Para isso lhe pagarei o triplo que a agência, com carteira assinada e com todos os direitos de um trabalhador, é claro. O que acha?

O TRIPLO? É ISSO MESMO QUE EU OUVI, SANTA DA PURPURINA?

— B-bom...

— Garanto que não irá se arrepender. Ela é uma pessoa adorável.

— Preciso informar primeiro minha saída da agência.

— Faça isso hoje ainda e volte aqui na empresa para te admitirmos, pois você começará amanhã. Passarei todas as instruções necessárias.

Eu aceitei e fiz tudo que ele pediu. Três vezes mais, é dinheiro que eu nunca pensei que ganharia! Nem trabalhando com a diva Madonna em três reencarnações seguidas, monamour! E só para acompanhar uma moça rica... Que trabalho eu teria melhor que esse? NENHUM!

É Ludo, você finalmente venceu na vida!